sábado, 23 de julho de 2011

A obsessão e o complexo de vira-lata


Até os jornais brasileiros tiveram de noticiar. Uma força-tarefa criada pelo Conselho de Relações Exteriores, organização estreitamente ligada ao establishment político/intelectual/empresarial dos Estados Unidos, acaba de publicar um relatório exclusivamente dedicado ao Brasil, -pontuado de elogios e manifestações de respeito e consideração. Fizeram parte da força-tarefa um ex-ministro da Energia, um ex-subsecretário de Estado e personalidades destacadas do mundo acadêmico e empresarial, além de integrantes de think tanks, homens e mulheres de alto conceito, muitos dos quais estiveram em governos norte-americanos, tanto democratas quanto republicanos. O texto do relatório abarca cerca de 80 páginas, se descontarmos as notas biográficas dos integrantes da comissão, o índice, agradecimentos etc. Nelas são analisados vários aspectos da economia, da evolução sociopolítica e do relacionamento externo do Brasil, com natural ênfase nas relações com os EUA. Vou ater-me aqui apenas àqueles aspectos que dizem respeito fundamentalmente ao nosso relacionamento internacional.
Logo na introdução, ao justificar a escolha do Brasil como foco do considerável esforço de pesquisa e reflexão colocado no empreendimento, os autores assinalam: “O Brasil é e será uma força integral na evolução de um mundo multipolar”. E segue, no resumo das conclusões, que vêm detalhadas nos capítulos subsequentes: “A Força Tarefa (em maiúscula no original) recomenda que os responsáveis pelas políticas (policy makers) dos Estados Unidos reconheçam a posição do Brasil como um ator global”. Em virtude da ascensão do Brasil, os autores consideram que é preciso que os EUA alterem sua visão da região como um todo e busquem uma relação conosco que seja “mais ampla e mais madura”. Em recomendação dirigida aos dois países, pregam que a cooperação e “as inevitáveis discordâncias sejam tratadas com respeito e tolerância”. Chegam mesmo a dizer, para provável espanto dos nossos “especialistas” – aqueles que são geralmente convocados pela grande mídia para “explicar” os fracassos da política externa brasileira dos últimos anos – que os EUA deverão ajustar-se (sic) a um Brasil mais afirmativo e independente.
Todos esses raciocínios e constatações desembocam em duas recomendações práticas. Por um lado, o relatório sugere que tanto no Departamento de Estado quanto no poderoso Conselho de Segurança Nacional se proceda a reformas institucionais que deem mais foco ao Brasil, distinguindo-o do contexto regional. Por outro (que surpresa para os céticos de plantão!), a força-tarefa “recomenda que a administração Obama endosse plenamente o Brasil como um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. É curioso notar que mesmo aqueles que expressaram uma opinião discordante e defenderam o apoio morno que Obama estendeu ao Brasil durante sua recente visita sentiram necessidade de justificar essa posição de uma forma peculiar. Talvez de modo não totalmente sincero, mas de qualquer forma significativo (a hipocrisia, segundo a lição de La Rochefoucault, é a homenagem que o vício paga à virtude), alegam que seria necessária uma preparação prévia ao anúncio de apoio tanto junto a países da região quanto junto ao Congresso. Esse argumento foi, aliás, demolido por David Rothkopf na versão eletrônica da revista Foreign Policy um dia depois da divulgação do relatório. E o empenho em não parecerem meros espíritos de porco leva essas vozes discordantes a afirmar que “a ausência de uma preparação prévia adequada pode prejudicar o êxito do apoio norte-americano ao pleito do Brasil de um posto permanente (no Conselho de Segurança)”.
Seguem-se, ao longo do texto, comentários detalhados sobre a atuação do Brasil em foros multilaterais, da OMC à Conferência do Clima, passando pela criação da Unasul, com referências bem embasadas sobre o Ibas, o BRICS, iniciativas em relação à África e aos países árabes. Mesmo em relação ao Oriente Médio, questão em que a força dos lobbies se faz sentir mesmo no mais independente dos think tanks, as reservas quanto à atuação do Brasil são apresentadas do ponto de vista de um suposto interesse em evitar diluir nossas credenciais para negociar outros itens da agenda internacional. Também nesse caso houve uma “opinião discordante”, que defendeu maior proatividade do Brasil na conturbada região.
Em resumo, mesmo assinalando algumas diferenças que o relatório recomenda sejam tratadas com respeito e tolerância, que abismo entre a visão dos insuspeitos membros da comissão do conselho norte-americanos- e aquela defendida por parte da nossa elite, que insiste em ver o Brasil como um país pequeno (ou, no máximo, para usar o conceito empregado por alguns especialistas, “médio”), que não deve se atrever a contrariar a superpotência remanescente ou se meter em assuntos que não são de sua alçada ou estão além da sua capacidade. Como se a Paz mundial não fosse do nosso interesse ou nada pudéssemos fazer para ajudar a mantê-la ou obtê-la.

Artigo de Celso Amorim na Carta Capital

Celso Amorim é ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula. Formado em 1965 pelo Instituto Rio Branco, fez pós-graduação em Relações Internacionais na Academia Diplomática de Viena, em 1967. Entre inúmeros outros cargos públicos, Amorim foi ministro das Relações Exteriores no governo Itamar Franco entre 1993 e 1995. Depois, no governo Fernando Henrique, assumiu a Chefia da Missão Permanente do Brasil nas Nações Unidas e em seguida foi o chefe da missão brasileira na Organização Mundial do Comércio. Em 2001, foi embaixador em Londres.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Pérolas dos Nossos Deputados

fiscaisdefiofo:

A gente pensa que já viu de tudo, mas não tem noção das coisas que rolam nos bastidores da Câmara. Os projetos abaixo são todos reais, foram apresentados formalmente e se encontram ou arquivados devido ao artigo 105 do regimento interno da câmara (fim da legislatura, podendo ser desarquivado a pedido) ou foram considerados inconstitucionais. O dinheiro que foi gasto para a elaboração deles no entando, não foi devolvido:

-> PEC 335/2001 do então deputado Paulo Octávio do extinto PFL: DISPONDO SOBRE A BÍBLIA SAGRADA SER ACEITA COMO INSPIRAÇÃO DE DEUS, PODENDO SER USADA PARA O ENSINO E PARA A EDUCAÇÃO NA JUSTIÇA; ALTERANDO A Constituição Federal de 1988

-> PL 2327/2003 do então Deputado Pastor Reinaldo PTB/RS : torna obrigatória a presença de um exemplar da Bíblia em todas as salas de aula do território nacional

-> INC 1884/2008 do então Deputado Walter Brito Neto PRB/PB Sugere ao Ministro da Educação a adoção da Bíblia Sagrada como livro didático na disciplina de história nas escolas de ensino fundamental e de ensino médio.

-> PL 6533/2006 do então Deputado Carlos Nader do PL/RJ Dispõe sobre a obrigatoriedade de manutenção de exemplares da Bíblia Sagrada nos acervos das bibliotecas das unidades escolares públicas em todo o território nacional. (projeto ressucitado pelo Deputado Filipe Pereira PSC/RJ com novo número. Aguarda parecer)

-> INC 5078/2005 do então Deputado Milton Cardia PTB/RS sugere ao ministro da educação a inclusão do criacionismo no currículo das escolas de ensino fundamental e médio (APROVADO e encaminhado ao ministério que felizmente ignorou)

Entre 2007 e 2011 existem 23 requerimentos de sessões solenes em homenagem ou com relação direta à Bíblia.

Esse é o nosso Estado quase Laico


Fonte: Blog Igreja Ateísta

terça-feira, 19 de julho de 2011

Por que a população não sai às ruas contra a corrupção?

O jornal O Globo publicou uma reportagem no domingo para questionar por que os brasileiros não saem às ruas para protestar contra a corrupção.

Para fazer a matéria, os repórteres Jaqueline Falcão e Marcus Vinicius Gomes entrevistaram os organizadores das manifestações de defesa dos direitos dos homossexuais e da legalização da maconha. E a Coordenação Nacional do MST.

A repórter Jaqueline Falcão enviou as perguntas por correio eletrônico, que foram respondidas pela integrante da coordenação do MST, Marina dos Santos, e enviadas na quinta-feira em torno das 18h, dentro do prazo.

A repórter até então interessada não entrou mais em contato. A reportagem saiu só no domingo. E as respostas não foram aproveitadas.
Por que será? (deixe seu comentário no final)

Abaixo, leia as respostas da integrante da Coordenação Nacional do MST, Marina dos Santos, que não saíram em O Globo.
Por que o Brasil não sai às ruas contra a corrupção?

Arrisco uma tentativa de responder essa pergunta ampliando e diversificando o questionamento: por que o Brasil não sai às ruas para as questões políticas que definem os rumos do nosso país? O povo não saiu às ruas para protestar contra as privatizações – privataria – e a corrupção existente no governo FHC. Os casos foram numerosos - tanto é que substituiu-se o Procurador Geral da Republica pela figura do “Engavetador Geral da República”.

Não saiu às ruas quando o governo Lula liberou o plantio de sementes transgênicas, criou facilidades para o comércio de agrotóxicos e deu continuidade a uma política econômica que assegura lucros milionários ao sistema financeiro.

Os que querem que o povo vá as ruas para protestar contra o atual governo federal – ignorando a corrupção que viceja nos ninhos do tucanato - também querem ver o povo nas ruas, praças e campo fazendo política? Estão dispostos a chamar o povo para ir às ruas para exigir Reforma Agrária e Urbana, democratização dos meios de comunicação e a estatização do sistema financeiro?

O povo não é bobo. Não irá às ruas para atender ao chamado de alguns setores das elites porque sabe que a corrupção está entranhada na burguesia brasileira. Basta pedir a apuração e punição dos corruptores do setor privado junto ao estatal para que as vozes que se dizem combater a corrupção diminua, sensivelmente, em quantidade e intensidade.

Por que não vemos indignação contra a corrupção?

Há indignação sim. Mas essa indignação está, praticamente restrita à esfera individual, pessoal, de cada brasileiro. O poderio dos aparatos ideológicos do sistema e as políticas governamentais de cooptação, perseguição e repressão aos movimentos sociais, intensificadas nos governos neoliberais, fragilizaram os setores organizados da sociedade que tinham a capacidade de aglutinar a canalizar para as mobilizações populares as insatisfações que residem na esfera individual.

Esse cenário mudará. E povo voltará a fazer política nas ruas e, inclusive, para combater todas as práticas de corrupção, seja de que governo for. Quando isso ocorrer, alguns que querem ver o povo nas ruas agora assustados usarão seus azedos blogs para exigir que o povo seja tirado das ruas.

As multidões vão às ruas pela marcha da maconha, MST, Parada Gay...e por que não contra a corrupção?

Porque é preciso ter credibilidade junto ao povo para se fazer um chamamento popular. Ter o monopólio da mídia não é suficiente para determinar a vontade e ação do povo. Se fosse assim, os tucanos não perderiam uma eleição, o presidente Hugo Chávez não conseguiria mobilizar a multidão dos pobres em seu país e o governo Lula não terminaria seus dois mandatos com índices superiores a 80% de aprovação popular.

Os conluios de grupos partidários-políticos com a mídia, marcantes na legislação passada de estados importantes - como o de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul - mostraram-se eficazes para sufocar as denúncias de corrupção naqueles governos. Mas foram ineficazes na tentativa de que o povo não tomasse conhecimento da existência da corrupção. Logo, a credibilidade de ambos, mídia e políticos, ficou abalada.

A sensação é de impunidade?

Sim, há uma sensação de impunidade. Alguns bancos já foram condenados devolver milhões de reais porque cobraram ilegalmente taxas dos seus usuários. Isso não é uma espécie de roubo? Além da devolução do dinheiro, os responsáveis não deveriam responder criminalmente? Já pensou se a moda pegar: o assaltante é preso já na saída do banco, e tudo resolve coma devolução do dinheiro roubado...

O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, em recente entrevista à Revista Piauí, disse abertamente: “em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Por que eu saio em 2015. E aí, acabou.(...) Só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional.”

Nada sintetiza melhor o sentimento de impunidade que sentem as elites brasileiras. Não temem e sentem um profundo desrespeito pelas instituições públicas. Teme apenas o poder de outro grupo privado com o qual mantêm estreitos vínculos, necessários para manter o controle sobre o futebol brasileiro.

São fatos como estes, dos bancos e do presidente da CBF – por coincidência, um dos bancos condenados a devolver o dinheiro dos usuários também financia a CBF - que acabam naturalizando a impunidade junto a população.

19 de julho de 2011

sábado, 16 de julho de 2011

Olívio Dutra, o anti-Palocci


O ex-governador gaúcho vive em apartamento modesto e anda de ônibus. Foto: Denison Fagundes
Em um velho prédio numa barulhenta avenida de Porto Alegre, em companhia da mulher, vive há quatro décadas o ex-governador e ex-ministro Olívio Dutra. Em três ocasiões, Dutra abandonou seu apartamento: nas duas vezes em que morou em Brasília, uma como deputado federal e outra como ministro, e nos anos em que ocupou o Palácio do Piratini, sede do governo gaúcho. Apesar dos diversos cargos (também foi prefeito de Porto Alegre), o sindicalista de Bossoroca, nos grotões do Rio Grande, leva uma vida simples, incomum para os padrões atuais da porção petista que se refestela no poder.
No momento em que o PT passa por mais uma crise ética, dessa vez causada pela multiplicação extraordinária dos bens do ex-ministro Antonio Palocci, Dutra completou 70 anos. Diante de mais uma denúncia que mina o resto da credibilidade da legenda, ele faz uma reflexão: “Política não é profissão, mas uma missão transitória que deve ser assumida com responsabilidade”.
De chinelos, o ex-governador me recebe em seu apartamento na manhã da terça-feira 14. Sugeriu que eu me “aprochegasse”. Seu apartamento, que ele diz ter comprado por meio do extinto BNH e levado 20 anos para quitar, tem 64 metros quadrados, provavelmente menor do que a varanda do apê comprado por Palocci em São Paulo por módicos 6,6 milhões de reais-. Além dele, o ex-governador possui a quinta parte de um terreno herdado dos pais em São Luiz Gonzaga, na região das Missões, e o apartamento térreo que está comprando no mesmo prédio em que vive. “A Judite (sua mulher) não pode mais subir esses três lances de escada. Antes eu subia de dois em dois degraus. Hoje, vou de um em um.” E por que nunca mudou de edifício ou de bairro? “A vida foi me fixando aqui. E fui aceitando e gostando.”
Sobre a mesa, o jornal do dia dividia espaço com vários documentos, uma bergamota (tangerina), e um CD de lições de latim. Depois de exercer um papel de destaque na campanha vitoriosa de Tarso Genro ao governo estadual, atualmente ele se dedica, como presidente de honra do PT gaúcho, à agenda do partido pelos diretórios municipais e às aulas de língua latina no Instituto de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “O latim é belíssimo, porque não tem nenhuma palavra na sentença latina que seja gratuita, sem finalidade. É como deveria ser feita a política”, inicia a conversa, enquanto descasca uma banana durante seu improvisado café da manhã.
Antes de se tornar sindicalista, Dutra graduou-se em Letras. A vontade de estudar sempre foi incentivada pela mãe, que aprendeu a ler com os filhos. E, claro, o nível superior e a fluência em uma língua estrangeira poderiam servir para alcançar um cargo maior no banco. Mas o interior gaúcho nunca o abandonou. Uma de suas características marcantes é o forte sotaque campeiro e suas frases encerradas com um “não é?” “Este é o meu tio Olívio, por isso tenho esse nome, não é? Ele saiu cedo lá daquele fundão de campo por conta do autoritarismo de fazendeiro e capataz que ele não quis se submeter, não é?”, relembra, ao exibir outra velha foto emoldurada na parede, em que posam seus tios e o avô materno com indumentárias gaudérias. “É o gaúcho a pé. Aquele que não está montado no cavalo, o empobrecido, que foi preciso ir pra cidade e deixar a vida campeira.”
Na sala, com exceção da tevê de tela plana, todos os móveis são antigos. O sofá, por exemplo, “tem uns 20 anos”. Pelo apartamento de dois quartos acomodam-se livros e CDs, além de  souvenires diversos, presentes de amigos ou lembrança dos tempos em que viajava como ministro das Cidades no primeiro mandato de Lula.
Dutra aposentou-se no Banrisul, o banco estadual, com salário de 3.020 reais-. Somado ao vencimento mensal de 18.127 reais de ex-governador, ele leva uma vida tranquila. “Mas não mudei de padrão por causa desses 18 mil. Além do mais, um porcentual sempre vai para o partido. Nunca deixei de contribuir.”
Foi como presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, em 1975, que iniciou sua trajetória política. Em 1980, participou da fundação do PT e presidiu o partido no Rio Grande do Sul até 1986, quando foi eleito deputado federal constituinte. Em 1987, elegeu-se presidente nacional da sigla, época em que dividiu apartamento em Brasília com Lula e o atual senador Paulo Paim, também do Rio Grande do Sul. “Só a sala daquele já era maior do que todo esse meu apartamento.”
Foi nessa época que Dutra comprou um carro, logo ele que não sabe e nem quer aprender a dirigir. “Meu cunhado, que também era o encarregado da nossa boia, ficava com o carro para me carregar.” Mas ele prefere mesmo é o ônibus. “Essa coisa de cada um ter um automóvel é um despropósito, uma impostura da indústria automobilística, do consumismo.” Por isso, ou anda de carona ou de coletivo, que usa para ir à faculdade duas vezes por semana.
“Só para ir para a universidade, gasto 10,80 reais por dia. Como mais de 16 milhões de brasileiros sobrevivem com 2,30 reais de renda diária? Este país está cheio de desigualdades enraizadas”, avalia, e aproveita a deixa para criticar a administração Lula. “O governo não ajudou a ir fundo nas reformas necessárias. As prioridades não podem ser definidas pela vaidade do governante, pelos interesses de seus amigos e financiadores de campanha. Mas, sim, pelos interesses e necessidades da maioria da população.”
O ex-governador lamenta os deslizes do PT e reconhece que sempre haverá questões delicadas a serem resolvidas. Mas cabe à própria sigla fazer as correções. “Não somos um convento de freiras nem um grupo de varões de Plutarco, mas o partido tem de ter na sua estrutura processos democráticos para evitar que a política seja também um jogo de esperteza.”
Aproveitei a deixa: e o Palocci? “Acho que o Palocci fez tudo dentro da legitimidade e legalidade do status quo. Mas o PT não veio para legitimar esse status quo, em que o sujeito, pelas regras que estão aí e utilizando de espertezas e habilidades, enriquece.”
E o senhor, com toda a sua experiência política, ainda não foi convidado para prestar consultoria? Dutra sorri e, com seu gestual característico, abrindo os braços e gesticulando bastante, responde: “Tem muita gente com menos experiência que ganha muito dinheiro fazendo as tais assessorias. Mas não quero saber disso”.
Mas o senhor nunca recebeu por uma palestra? “Certa vez, palestrei numa empresa, onde me pagaram a condução, o hotel e, depois, perguntaram quanto eu iria cobrar. Eu disse que não cobro por isso. Então me deram de presente uma caneta. E nem era uma caneta fina”, resumiu, antes de soltar uma boa risada.

Por Lucas Azevedo na Carta Capital

Que venga Argentina, arriba celeste

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Lula dá boas-vindas aos internautas

O Instituto Cidadania lançou nesta sexta-feira (15) um site para divulgar as atividades e projetos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Disponível no endereço www.icidadania.org, o site entra no ar com mais de 50 notícias, além de vídeos, fotos e discursos na íntegra. Sediado em São Paulo, o Instituto Cidadania foi onde Lula debateu e elaborou com toda a sociedade propostas de políticas públicas antes de ser eleito presidente em 2002. Hoje, ao sair da presidência, é o espaço onde está sendo criado o Instituto Lula, voltado para causas políticas e sociais no Brasil, África e América Latina.
“O Brasil vive um momento de ouro, continua vivendo um momento extraordinário, e eu espero poder conversar com vocês daqui para frente neste pequeno espaço.”, afirma Lula no vídeo.
Veja, abaixo, uma mensagem do ex-presidente para dar boas-vindas aos internautas:

Assim como o momento atual do instituto, o site é apenas o começo de novas iniciativas políticas e de comunicação.
“[Vamos] tentar trabalhar a questão da integração, tentar trabalhar as experiências de políticas sociais bem-sucedidas. Não que a gente vá querer ensinar aos outros o que eles têm que fazer, porque isso não deu certo em lugar nenhum do mundo. O que queremos é mostrar como fizemos as coisas no Brasil e, quem sabe, adequando à realidade deles, com a vontade cultural deles, com a vontade política deles, isso possa ser aplicado em outros países”, diz o ex-presidente.
Todas as informações divulgadas no site Instituto Cidadania são licenciadas sob Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil, que permite a reprodução do conteúdo desde que seja citada a fonte. São exceções a essa licença apenas as informações reproduzidas de outras fontes.
Acesse o site do Instituto Cidadania:
http://www.icidadania.org

Saiba mais sobre o instituto:
http://www.icidadania.org/historia/

quinta-feira, 14 de julho de 2011

“República, Trabalhadores e Direitos Sociais na América Latina”

Chega às livrarias o novo número da revista Perseu: História, Memória e Política, publicação semestral da Fundação Perseu Abramo (FPA) e do Centro Sérgio Buarque de Holanda (CSBH). Editada pelo historiador e coordenador do CSBH, Dainis Karepovs, a sexta edição do periódico tem como tema “República, Trabalhadores e Direitos Sociais na América Latina”. Em uma época pontuada pela discussão e o redimensionamento do que é a da Democracia Participativa no Brasil e nos país latino-americanos, a escolha do tema traça, por meio de três estudos na seção Dossiê, parte das lutas dos movimentos sociais e dos trabalhadores na construção de políticas significativas no âmbito dos Direitos.  Em “Trabalhismo e história: um percurso nas memórias de Clodesmidt Rian”, Alexandre Peixoto Heleno busca a reflexão sobre a importância do papel do trabalhador durante o período anterior a 1964. O foco recai sobre a adesão à democracia com a luta pelas reformas estruturais e a mobilização de massas com a ação institucional. O segundo texto, assinado por Elisa de Campos Borges, discute a experiência dos Cordones Industriales chilenos na época do governo da Unidade Popular (UP), sob a presidência de Salvador Allende, iluminando novas formas de atuação política dos trabalhadores. Mario Sergio Brum em “Da luta pelo solo urbano à negociação pela urbanização: Associativismo em favelas cariocas na redemocratização” pontua a importância dos movimentos das comunidades urbanas cariocas no processo de redemocratização do Brasil na década de 80. Destaque para “A radicalização da democracia e a questão racial no projeto político do PT da década de 1990”, de Claudete Gomes Soares, importante artigo que visa compreender as transformações políticas propostas pelo Partido dos Trabalhadores, a partir dos anos 80 e início dos anos 90. Programas de governos para os pleitos federais, as resoluções de encontros e congressos do PT, indicam o princípio que define a gênese e a organicidade do partido: a construção de uma sociedade socialista, debatida com os trabalhadores e as classes sociais.  Parte do projeto editorial, a Revista Perseu traz um caderno de imagens históricas, com textos legenda, lista uma bibliografia comentada sobre publicações que tiveram como objeto o PT, referente ao ano 2000. Por fim, os leitores encontram resenhas de quatro obras selecionadas.

Poeminha pós moderno

Por Izaías Almada

Vou-me embora pra Miami
Lá sou amigo da grei
Lá tenho as dicas que eu quero
Dos golpes que aplicarei
Vou-me embora pra Miami
Aqui não sou nada feliz

Lá é que é tudo loucura
Tem gente de tudo que é lado
De Caracas são muitos esquálidos
De Cuba vão muitos gusanos.
De Buenos Aires, São Paulo, La Paz
Tem malandro contumaz

Todos se julgam  de elite
Com inveja da gringolandia
Se amarram num badulaque
Que aqui é o ‘must’ IMPORTADO

Lá não sou branco, nem negro
No passaporte sou ‘outros’
Me olham meio de lado…
Não faz mal, tudo é pecado.

E quando estiver estressado
Dou um pulinho em Orlando
Chamo o Pateta e a Minnie.
Pra que me contem histórias
Do tempo em que eu era menino
E não sabia da vida

Vou-me embora pra Miami
Lá eu encontro de tudo
É outra civilização
Tem celular e i-pad
De última geração
Tem arma, rifle automático
Tem cocaína à vontade
De preço bom e barato
Protegida pela CIA
E por um grande aparato…

Tem garota de programa
Para gente namoricar
E quando estiver com saudade
Triste de dar dor no peito
E no barzinho eu quiser
Falar mal do meu país
Falo e me sinto feliz…

Pois lá sou amigo do Bush
Do Aznar e do Berlusconi
Essa gente à La Corleoni
Com quem no passado aprendi…

Vou-me embora pra Miami
Lá sou amigo da grei
Tenho e dou assessoria.
Pra quem? Jamais contarei.

Izaías Almada é escritor, dramaturgo, autor – entre outros – do livro “Teatro de Arena: uma estética de resistência” (Boitempo) e “Venezuela povo e Forças Armadas” (Caros Amigos).

Leia outros textos de Izaías Almada
Leia outros textos de Reflexões

CARTA A PORTO ALEGRE

 
Porto Alegre enche de orgulho quem aqui nasceu, ou a escolheu para morar, e encanta os visitantes. Sua beleza natural, o charme de suas ruas e esquinas tradicionais, a alegria e a inteligência de sua gente compõem as cores de uma cidade multifacetada pela diversidade. A capital dos gaúchos teve um quê de vanguarda, protagonizou momentos importantes da história brasileira com muitas contribuições à democracia e à cidadania deste país. A edição do Fórum Social Mundial, em Porto alegre, é um exemplo emblemático da importância da nossa gestão na cidade para o mundo. Infelizmente, seus avanços foram paralisados pela inércia das últimas gestões.

Com a participação da população e da Frente Popular, o PT de Porto Alegre teve a honra de ajudar a escrever algumas páginas da trajetória de nossa querida cidade. O PT acumulou, nos 16 anos em que esteve à frente do Paço Municipal, ricas e variadas experiências de gestão e planejamento participativo, além de apostar no controle social sobre o Estado. Num processo de co-gestão da cidade através do Orçamento Participativo, conselhos, movimentos sociais e quatro congressos da cidade foram construídos resultados importantes na melhoria da qualidade de vida e cidadania. 

Tivemos a ousadia de inverter prioridades e de formular políticas públicas capazes de enfrentar grandes temas, como a necessidade de reforma urbana à sustentabilidade ambiental, do crescimento econômico às soluções em mobilidade. Tudo isto com a firme decisão de enfrentar o passivo social existente, combatendo de forma corajosa as desigualdades, promovendo a justiça fiscal, o saneamento ambiental, a infraestrutura, a saúde, a educação e a cultura. Fizemos nossas gestões perseguindo o sentido de que só vale a pena governar se for para transformar.

Neste momento, estamos trabalhando para fazer dar certo nossos governos Dilma e Tarso, além de acompanhar e construir as pautas dos movimentos sociais e organizações da sociedade civil que justamente perseguem uma vida digna e plena de direitos. No entanto, o debate eleitoral de 2012 tem sido antecipado. Na imprensa, existem cogitações sobre a posição do PT no próximo ano, quase sempre sem ouvir o ator principal das especulações: o próprio PT, querendo decidir por nós.  Por isso, reiteramos que não abriremos mão do nosso protagonismo nas eleições 2012. Através desta carta à cidade, afirmamos que nossa preocupação inicial é com a cidade, sua perspectiva de futuro, com a falta de desenvolvimento da nossa capital e com os problemas que só se agravam.

O governo municipal, desde abril do ano passado dirigido por Fortunati, não só manteve a mesma composição dos partidos de centro e direita e personalidades conservadoras do período Fogaça, como optou pela continuidade de toda a herança das crises na saúde, burocratização e clientelismo do OP, sucateamento da máquina pública e descaso com os servidores públicos, serviços prestados e abandono da cidade. 

Queremos retomar na cidade um ambiente com desenvolvimento econômico e social ambientalmente sustentável e de democracia participativa e popular. Conceitos esses, que estiveram expressos e foram vitoriosos em lutas recentes ocorridas na cidade, que combinaram a luta por direito à moradia digna com a preservação da natureza.

O PT e as organizações sindicais, comunitárias, populares e ambientalistas devem trabalhar na constituição de um forte movimento em busca de uma reforma urbana adequada às características de nossa cidade, especialmente prevendo a adequação do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (PDDUA) ao Estatuto da Cidade, e a regularização fundiária, com as demandas dos setores médios pela qualidade ambiental e cultural. Com esta aliança entre o movimento popular e os setores médios é que poderemos recolocar Porto Alegre no patamar de referência internacional de políticas públicas. 

A vitória do PT em Porto Alegre passa por um amplo debate com a militância partidária e com a população na construção de um programa de governo democrático e popular, buscando a constituição de uma política de alianças no campo popular e com os movimentos sociais. Este é um convite às organizações sociais para tratar de alternativas ao desenvolvimento da cidade, que privilegiem as dimensões social e ambiental, além de encontrar caminhos para enfrentar o colapso da mobilidade (vias estruturais e transporte coletivo), recuperar a qualidade dos serviços públicos e das políticas de saúde, educação, segurança, cultura e infraestrutura urbana.
Portanto, a representação política e social do PT leva a afirmação legítima do seu protagonismo nas eleições 2012. A democracia que queremos não se encerra nas eleições, mas vai além, com processos de participação popular, oportunizando o encontro de opiniões, ideias, sonhos de uma vida melhor.  E é por aí que começamos o debate com a sociedade. Vamos a ele! 

Partido dos Trabalhadores de Porto Alegre – Julho de 2011

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Como Dilma fará a transição para o Governo dela


O Oráculo de Delfos não é Aristóteles, mas fundou um Liceu, tantos os discípulos e idólatras.

Este ansioso blogueiro se enquadra em qualquer das categorias e teve esta semana o raro prazer de conversar com outros discípulos e idólatras, na presença do Oráculo.

Não éramos exatamente peripatéticos, porque estávamos sentados.

E nem gregos, porque tomávamos suco de goiaba.

Aqui se reproduzirão alguns conceitos e aforismos ali enunciados, sem que seja possível determinar exatamente quem disse o que: se o Mestre ou os seguidores.

- Como Dilma fará a transição do Governo Lula para o Governo dela ?

- Pode ser a consagração, mas pode dar muito errado.

- O problema não é a transição. É o PT.

- É essa falsa opção entre PT de São Paulo e PSDB de São Paulo.

- O que torna a política nacional uma questãozinha provincial.

- O Alckmin. Você conhece o Alckmin ? Como é simplório.

- É essa a palavra.

- E o Serra ?

- Bem, esse é professor de Deus.

- Isso quando ele se dispõe a dar aula.

- O Fernando Henrique teve a intuição certa: o negócio deles é ir para classe média.

- É, mas só que eles não têm mais como se apresentar à classe média, nem ao povão. Eles ficaram com a cara da elite. E da elite de São Paulo.

- Não há mais liga entre eles e o povão. O Fernando Henrique pode saber onde fica a classe média. Mas a classe média não quer saber onde ele fica.

- Eles não têm biografia para chegar à classe média e dizer: sigam-me se forem brasileiros.

- Me diga aí uma coisa original que o Serra tenha dito em 40 anos de vida pública. Uma !

Silêncio.

Silêncio.

- Bom, tem os genéricos …

- Alto lá, isso foi do Jamil, do Jamil Haddad, do Itamar, que, coitado, morreu sem que reconhecessem o trabalho dele.

- O cara teve 40 milhões de votos, 40 milhões de votos, e não consegue ser presidente do Instituto do Partido dele.

- Dão pro Tasso.

- O Serra tem que se contentar com um Conselho, um diretório acadêmico.

- Mas, quem mandou fazer uma campanha que não tinha uma idéia ? Ele saiu da campanha de bolsa vazia – e cérebro vazio.

- Cérebro, não, esse saiu avariado com a bolinha.

- O problema é o cerco da mídia.

- A mídia é que estimula essa polarização entre PT de São Paulo e PSDB de São Paulo. É bom para ela.

- Só interessa à mídia e ao PT e PSDB de São Paulo. É uma ação entre amigos.

- Qual é a diferença entre o PT de São Paulo e o PSDB de São Paulo ?

- Qual é a diferença entre o Pagot e o Paulo Preto ?

- Não, estou falando em diferença de projeto, do que fazer pelo Brasil.

- Os tucanos de São Paulo não têm uma mísera idéia.

- E o Aécio caiu do cavalo com seis meses de exposição no palco federal.

- Era poeta estadual e a gente não sabia.

- Você sabe que tem político que se deslumbra. Que não pode ver um rico, um jatinho, adora ficar amigo dessa elite de … que tem no Brasil.

- Mas, o pior é que não eles não têm projeto. Não sabem o que fazer do Brasil.

- Estão há oito anos fora do poder e não produziram uma proposta.

- Vão ficar no moralismo da velha UDN.

- É, mas calma, porque o eleitor da Classe C, e o eleitor ainda mais pobre, ele é muito conservador, ele não quer saber de roubalheira, não, nem de impunidade.

- O eleitor cada vez exige mais. Ele está sabido como nunca.

- E não tem mais cabresto.

- Ele vai para onde quiser, vai por onde subir na vida mais rápido.

- Ele é louco por educação. E não é só educação. Ele quer se aprimorar, se aperfeiçoar.

- Tecnologia, meu querido. Dar tecnologia !

- Outra coisa, ele vai ser aliado dos governantes e exigir uma melhoria nos serviços públicos. Ele usa a saúde pública, a escola pública. Ele não tem dinheiro para plano de saúde, para escola particular. Então, meu amigo, trate de melhorar a escola, a saúde do seu município, do seu Estado.

- E não adianta ficar falando mal, dizer que está tudo errado.

- Não, senhor. Ele está vendo o progresso, ele melhorou de vida. Ele quer é ir em frente.

- Mas, e a Dilma, como vai ser a transição para o Governo dela ?

- Ela pode fazer o que quiser. Menos dar a impressão de que brigou com o Lula.

- Víííííxe !

Pano rápido.
Leia mais e ria no Conversa Afiada

domingo, 10 de julho de 2011

Partir


E chega um dia que aquela vida não serve mais, um gesto, um jeito de ser e de se portar, um jeito de gostar e de ser gostada, não serve mais. Não funciona mais a repetição automática de gestos e condutas, as mágoas nos deixam, cansadas de nós, as dores deixam de doer e os nossos sonhos também não são mais os mesmos. Tem um dia que é hora de partir, deixar os amigos que não perceberam as nossas transformações, os trabalhos que não nos gratificam mais e os amores que ficaram pra trás. Tem um dia que é o dia da partida. De arrumar uma mala pequena, onde se possa levar apenas o essencial, muito pouco, porque os começos pedem a leveza para os impulsos. Alguma coisa que já foi inteiramente nossa, não é mais, e não pode, então, partir conosco. No momento da partida pede-se a delicadeza da esperança, a fé no que não se conhece. Na hora da partida temos de saber que estamos indo ao nosso encontro. E com a certeza de que só tem uma vida nova quem entrega, definitivamente, a vida velha.

Da escritora Lélia Almeida em em blog Mujer de Palavras

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O nosso futuro e o casaco de 29 reais

Vivemos tempos interessantes. A acreditar no noticiário, falta dinheiro aos governos.
No entanto, o Rio de Janeiro é um canteiro de obras.
E os estádios sobem.
E o BNDES — sim, eu sei, a BNDESPar — ajuda o Abílio, o Eike e outros pobres milionários.
Não, não há dinheiro para investir nos grandes equalizadores: educação pública e gratuita para todos (com bons salários para os professores) e banda larga realmente larga e universal para todos.
Lá na Coreia do Sul eles deram um jeito. Tudo bem, já entendi, sei que o país, comparado ao Brasil, é pequeno e a densidade demográfica é grande. Custaria mais caro, aqui, fazer o backbone feito lá, através do qual o estado cripto-comunista espalhou as redes de fibra ótica.
Lá foi dinheiro público financiando a iniciativa privada: quem cuidou e cuida da “última milha” são as empresas de telefonia e internet. Mas, ao controlar a infraestrutura, além de garantir a própria soberania na idade da informação, fazendo as ferrovias do século 22, o estado sul coreano ganhou poder de barganha diante das empresas privadas. Ditou as regras com um porrete na mão: lá, segundo a OECD (Organização para a o Desenvolvimento e Cooperação Econômica) 100 mbps pelo equivalente a 60 reais mensais; aqui, 1mbps por 35 reais. Nossa vantagem é que temos a Anatel para garantir que o serviço será de fato prestado nas condições propagandeadas…
[Ao contrário do que vocês imaginam, não apoio a banda larga como ferramenta para combater o PIG. É para impulsionar os pequenos empreendedores e negócios. Para facilitar a produção e disseminação de conteúdo cultural regional. Como forma de aumentar a mobilidade urbana.  Para impulsionar a indústria nacional ligada às tecnologias de informação.Como descobriram os japoneses e os sul coreanos, ter uma banda larga realmente veloz e universal cria uma série de novos "problemas" e a solução para eles exige inventividade e criatividade. Starcraft vicia, mas também cria emprego!]
Aqui, só falta escalar o ministro para vender o combo da Telefonica. Não duvido que em breve surja alguma lei exigindo número de telefone fixo para tirar documento. Aí vai ser possível empurrar dois serviços ruins combinados nas classes C e D. Aliás, o que é do projeto que extinguiria a cobrança da “mensalidade” dos telefones?
Ao contrário do que imaginávamos, vivemos o aprofundamento do sistema pelo qual os lucros são privatizados e os prejuízos, socializados. Taí o resgate de Wall Street para não me deixar mentir. Depois, a Grécia. Agora, privatizaram o Paulo Bernardo.
Como repetiu um milhar de vezes um antigo leitor deste site, hoje sumido, as empresas-casca da telefonia terceirizaram tudo. Ficaram apenas com o financeiro. E remetem os lucros obtidos no Brasil para tapar buraco na matriz. Agora, diz um executivo do banco Santander, eles vão correr atrás da classe C e D no Brasil. Como alertou a Conceição Oliveira, corram!
Ou, como disseram os bancários no Pacaembu, na final da Libertadores:

O fato é que nós, assalariados, já não temos mais representação política.
Quantos governadores ou deputados você viu, recentemente, defendendo os professores grevistas em Minas Gerais? Ou em Santa Catarina?
E os bombeiros que se amotinaram no Rio de Janeiro? Quem é que se arrisca a dar a cara a tapa e dizer que apoia a PEC 300, que aumenta os salários dos policiais?
Vejam bem, caros amigos: os salários são inflacionários! Quem sugere é ministro de um governo do Partido dos Trabalhadores!
Notaram como a falta de dinheiro público é relativa?
Depois de toda a gastança e a gatunagem que precederá a Copa do Mundo no Brasil, lá pelos fins de 2013 ainda vão tentar nos convencer de que precisamos fazer “trabalho voluntário” no evento.
E, às vezes, o que parece uma vantagem imediata pode ter consequências terríveis a longo prazo.
Como não entendo de economia, deixo para vocês os comentários. Apenas conto o causo.
1985. Acabo de desembarcar em Nova York, para trabalhar como correspondente da Rede Manchete. Um dia sim, outro também, um dos jornais importantes publica reportagem sobre um “terrível” problema do Japão: o país é fechado às grandes redes varejistas dos Estados Unidos. Por conta disso, os jornalistas estadunidenses associam os japoneses ao atraso. Os mercadinhos são um horror, os preços são altos, a qualidade é péssima, etc.
Aquele soldado japonês que não sabe que a Segunda Guerra acabou fica no mato por culpa da péssima qualidade das lojinhas “pop e mom” do Japão…
Foi a primeira campanha do PIG internacional que vi de perto, ainda que sem entender direito, na época, o que estava acontecendo.
Mais para a frente, lá pela metade dos anos 90, percebi em retrospectiva o que tinha acontecido: foi quando, nas minhas andanças pelos Estados Unidos (modéstia à parte, em meus vinte anos por lá só não fui à Dakota do Norte) descobri a grande campanha que se organizava contra o Walmart, que existe até hoje e que rendeu até mesmo um documentário, Walmart: O alto custo dos preços baixos.
Só que, se a campanha para “abrir” o Japão tinha ocupado as manchetes da grande mídia americana, a campanha local contra o Walmart mereceu um silêncio ensurdecedor…
O argumento contra o Walmart é de que o conglomerado detona o comércio local e, portanto, compromete a sobrevivência das pequenas cidades. Há um toque saudosista e conservador na campanha, quando se diz que a rede detona “the real America”. Solapa a base fiscal. Substitui centenas de salários médios por dezenas de salários miseráveis. Faz isso contando com o gigantesco poder de barganha diante dos fornecedores e, acima de tudo, com a capacidade de importar imensas quantidades de produtos baratos da China. O Walmart compra cerca de 10% de tudo o que a China exporta para os Estados Unidos!
Ontem, depois de publicar um texto de um leitor manifestando preocupação com a concentração dos supermercados no Brasil, tive a sensação de déjà vu, quando um colega jornalista contou que tinha ido ao Walmart e comprado um casaco made in China por apenas 29 reais.

Ei-lo:


A pergunta que me assalta é: corremos o risco de ver, no Brasil, o mesmo fenômeno que testemunhei nos Estados Unidos?
É possível que o Brasil enfrente ao mesmo tempo dois fenômenos contemporâneos turbinados pelo crescimento da China, a saber: a desindustrialização e o “desvarejo”?
Qual é o risco de a gente, gastando os tubos na Disney – agora que o Disney On Ice no Brasil é bancado com dinheiro público –  descobrir, de repente, que só nos resta produzir alimentos para os porcos asiáticos?
Se eu comprar o casaco de 29 reais, é bom porque combato a inflação ou é ruim porque exporto um emprego para a China?

Por, Luiz Carlos Azenha no Blog Vi o mundo

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Salários crescem 8% ao ano. FHC, parabéns pra você !



Na mesa, Johnbim, Gilmar Dantas (*) e Álvaro Dias. Viva o Brasil !

Saiu no Valor, primeira página:

“Massa salarial ainda (sic) cresce 8% ao ano”

“No período, a renda (descontada a inflação) real cresceu 4,8% e a ocupação, 3%”

Na construção civil, a renda subiu 10%.

(Isso é coisa desse diabólico Minha Casa Minha Vida que, como se sabe, se iniciou na Ilha do Urubu, com o o puxadinho do Preciado no Sul da Bahia.)

Outra informação que vem a calhar nessa celebração apoteótica dos 80 anos do Farol – clique aqui para ler “quem são os ‘idiotas’ do Johnbim” – saiu na pág. B6 do Estadão:

“Vendas de caminhões e ônibus cresceram quase 18% na primeira metade do ano em relação ao mesmo periodo do ano passado”.

A Mercedez amplia produção e contrata – fábrica do ABC abre 950 vagas e inicia terceiro turno em diversos setores para elevar capacidade de 65 mil para 75 mil veículos ao ano”.

Parabéns pra você, nessa data querida !

Leia mais no Conversa Afiada
Paulo Henrique Amorim


(*) Clique aqui para ver como um eminente colonista do Globo se referiu a Ele. E aqui para ver como outra eminente colonista da GloboNews e da CBN se refere a Ele.