quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O Bolsa Família e os gastadores de gente


Hoje são 14 milhões de famílias beneficiadas em todo o país pelo Programa Bolsa Família com direito a uma transferência média de US$ 35 por mês.

por: Saul Leblon





‘Aos olhos das nossas classes dominantes, antigas e modernas, o povo é o que há de mais réles. Seu destino e suas aspirações não lhes interessa, porque o povo, a gente comum, os trabalhadores, são tidos como uma mera força de trabalho - um carvão humano- a ser desgastada na produção. É preciso ter coragem de ver este fato porque só a partir dele, podemos romper nossa condenação ao atraso e à pobreza, decorrentes de um subdesenvolvimento de caráter autoperpetuante ...”(Darcy Ribeiro;1986)

Em janeiro de 2003, quando o programa Fome Zero foi lançado como primeiro ato do primeiro dia útil do governo Lula, havia um clima de terceiro turno no país.
Inconsolável com a derrota de seu eterno candidato José Serra, a mídia conservadora mostrava as garras.

O objetivo do cerco era acuar a gestão petista numa crise de desgoverno para, ato contínuo, retificar o deslize das urnas de forma saneadora.

Da universidade não faltavam contribuições obsequiosas.

Intelectuais de bico longo e ideias curtas pontificavam o despropósito de um programa de combate à fome num país onde, dizia-se de forma derrisória, esse era um problema menor.

O Fome Zero era o nome fantasia de uma ampla política de segurança alimentar.

Incluía duas dezenas de políticas e ações, entre as quais a recuperação do poder de compra do salário mínimo e sua extensão aos aposentados, a expansão e o fortalecimento da merenda escolar, o fomento e o crédito à agricultura familiar, estratégias de convivência com a seca no semi-árido, reforma agrária e transferências condicionadas de renda aos excluídos.

O Bolsa Família foi um pedaço de vertebra que ganhou vida própria e assumiu a linha de frente do guarda-chuva mais geral.

Supostamente filiado ao focalismo do Banco Mundial –gastar estritamente com os miseráveis e por tempo curto— desfrutou de um espaço maior de tolerância, o que favoreceria a sua fulminante implantação.

Hoje são 14 milhões de famílias beneficiadas em todo país com direito a uma transferência média de US$ 35 por mês.

Ninguém mais mexe nesse vespeiro vigiado de perto por zelosas abelhas rainhas.

As mulheres detém a titularidade de 94% dos cartões de acesso aos saques.

Gerem, portanto, um benefício que contempla uma fatia da população equivalente a 52 milhões de brasileiros: 25% do país.

Quem são essas mulheres?

O que pensam? O que pretendem do novo ciclo de crescimento brasileiro? Que papel poderiam desempenhar na construção democrática de alternativas à encruzilhada econômica atual?

São perguntas que não deveriam mais ser ignoradas depois de dez anos.

O governo, com razão, substituiu o ‘clientelismo’ potencial em qualquer programa social por relações impessoais no caso do Bolsa Família.

A tecnologia do cartão magnético estabeleceu uma relação sanitária direta entre o detentor do benefício e a política pública de Estado.
O cuidado é louvável, mas não deveria interditar o potencial participativo do programa.

Quando foi criado o Fome Zero incluía um canal de aperfeiçoamento e engajamento de seus participantes, rapidamente demonizado pelo conservadorismo.

Os Comitês Gestores do Fome Zero eram compostos majoritariamente por representantes das famílias beneficiadas, aglutinadas em núcleos municipais.

A virulenta oposição de prefeitos e coronéis à emergência do novo poder local levaria rapidamente à extinção desse braço participativo.

Se o êxito do programa dá razão ao recuo pragmático feito há dez anos, hoje a ausência de um fórum democrático para as 14 milhões de famílias soa como uma aberração política.

O destino dessas famílias está no centro das escolhas do desenvolvimento brasileiro.

E vice versa.
Não apenas isso.
Esse entrelaçamento é a pedra mais incômoda no sapato da agenda conservadora nos dias que correm.

O desafio é adequar o invólucro ao novo conteúdo que empurra a velha embalagem com os cotovelos em alça.
A opção do conservadorismo é devolver a pasta de dente ao tubo com a alavanca de um arrocho disfarçado de responsabilidade fiscal.

A tentativa progressista até agora consiste em esticar ao máximo as linhas de passagem, dando tempo ao tempo para acomodação da crise mundial e a materialização de investimentos e retornos, como os do PAC e os do pré-sal.

Não há receita pronta.

Quem dá coerência macroeconômica ao desenvolvimento é a correlação de forças da sociedade em cada época.

Quanto pode avançar a arrecadação fiscal sobre o estoque da riqueza para acelerar o calendário dos investimentos requeridos pelo país?
Qual a chance de se fixar uma taxa de câmbio favorável às exportações, sem anular o poder de compra popular com uma guinada devastadora nos preços relativos?

Estados fragilizados por privatizações, déficits externos asfixiantes, obsolescência industrial, atrofia fiscal , dispersão de interesses e de energia política são ingredientes incompatíveis com um ciclo de investimentos à altura do novo mercado interno brasileiro.

A hegemonia capaz de acomodar esse conjunto requer um misto de força e consentimento ancorado em um projeto crível de futuro.

Isso não se faz sem sujeito histórico correspondente, dotado de organização mínima que institucionalize seus interesses.
A ninguém ocorre fazer de 14 milhões de famílias do Bolsa Família uma correia de transmissão de conveniências de governos. Sejam eles quais forem. 
A construção do Estado social brasileiro, porém, não avançará muito mais se menosprezar os interesses catalisados pelas políticas populares dos últimos dez anos.

Dificilmente os comitês gestores do Fome Zero serão ressuscitados.

Mas a meta original de dar voz e espaço na condução do programa aos seus principais interessados pode e deve ser recuperada.

Uma Conferência Nacional das mulheres que fazem do Brasil a referência mundial na luta contra a fome e a miséria, por certo adicionaria avanços não apenas ao programa.

Mas também à hegemonia social de que o Brasil necessita para distanciar cada vez mais a sua agenda de desenvolvimento da lógica regressiva dos ‘gastadores de gente’, de que falava o desassombro do saudoso Darcy Ribeiro.


Leia mais na Carta Maior

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Por que a camisa que eu visto é outra?


Esse é um texto ao qual dedico um tempo que eu não tinha. Mas que dedico esse tempo por entender ser um texto necessário, não apenas para ressaltar uma posição mas também para dialogar com bons companheiros que defendem outra abordagem.

Quero explicar aqui os motivos pelos quais não me engajei na campanha do Sindicato dos Jornalistas do RS, "Sem jornalista não tem informação".

Em primeiro lugar, discordo da frase fundamental da campanha. O que é jornalista? Quem reproduz as informações a partir de determinada técnica? Mas que técnica é essa através da qual as palavras são usadas para atacar movimentos sociais, para manter a organização social injusta, para defender o opressor? É a mesma técnica que uso para fazer o oposto? Não pode ser. Não sei se o jornalismo acabou, mas algo sem dúvida está mudando com a internet, mesmo que a estrutura midiática brasileira siga inalterada. Quando essa estrutura for mexida, bom, aí sim o questionamento sobre o que é o jornalista será não só presente, mas básico. Todos somos jornalistas. Com ou sem diploma, com ou sem emprego de jornalista. Todos produzimos informação, de acordo com nossos próprios óculos, nossas próprias técnicas, nossa próprias limitações pessoais e/ou impostas pelo meio. Cada vez mais, ou todos somos jornalistas ou ninguém mais é. 

Com a produção de informação democratizada - e é isso o que busco - "o bailan todos o no baila nadie".
Nesse sentido, toda informação disponibilizada se coloca em disputa com as outras. Disputa por destaque, por um lado, mas, fundamentalmente, disputa ideológica. É "invasão" ou "ocupação"? Isso não está dado. Está em disputa.

Me considero, sim, um jornalista. Mas, antes disso, sou um ser humano. A "ética do jornalista não é diferente da ética do marceneiro". E, no meio do caminho entre ser um ser humano e ser um jornalista, sou um militante social. Quer dizer, atuo politicamente de forma consciente em busca de um fim. Sou um jornalista na medida em que a forma pela qual atuo politicamente é, fundamentalmente, a transmissão de informações.
Os jornalistas que trabalham nos conglomerados de comunicação, de uma forma ou de outra estão do outro lado. Conscientes ou não do papel que desempenham, estão a serviço do aparelho ideológico das elites. Os que lá se infiltram tentando "mudar por dentro" estão tentando, estão, de certa forma, do meu lado, mas escolheram uma trincheira que, no fim das contas, nos coloca em posições frontais. Os outros se dividem em dois: os que estão lá achando que o que fazem as empresas para as quais trabalham é neutro, imparcial, informação pura, e todo o resto é publicidade; e os que sabem muito bem que tudo isso é uma grande bobagem, que a visão sobre o mundo está em constante disputa entre os "de baixo" e os "de cima", e que não é possível escolher não estar em nenhum dos lados.

Não vejo o jornalismo como uma simples transmissão de informações brutas. As informações são preparadas e transmitidas a partir do viés de quem a prepara e transmite, e esse viés é construído pelo indivíduo e por todo o meio que está em sua volta. Conscientemente ou não, o que se dá é uma disputa, inserida na dinâmica da luta de classes, em que a mídia empresarial é o aparelho ideológico dos dominantes, e a mídia alternativa precisa ser o aparelho ideológico dos dominados.

Não posso, enquanto militante social, defender aumento de salário ou melhores condições de trabalho para quem trabalha para o outro lado. Seria como soldados entrarem em greve por melhores condições para os soldados adversários. Não faz qualquer sentido. Ao mesmo tempo, não poderia ser coerente enquanto militante socialista se defendesse aumento do piso para jornalistas enquanto o salário mínimo não chega à metade desse piso. Lamento se não compreendi algo no caminho, mas não posso defender melhores condições de trabalho para quem atua - ou trabalha para uma empresa que atua - sistematicamente contra os trabalhadores.

Por tudo isso, a camisa e o boné que visto são outros, com todo o respeito aos bons companheiros que estão à frente ou participando dessa campanha. Não visto a mesma camisa que vestem os cães de guarda dos barões da mídia, ainda que, por diversas razões, jornalistas "do lado de cá" o façam.

Antes de ser jornalista, sou um militante. Não tenho "colegas", tenho companheiros de luta.

O texto é do Jornalista Alexandre Haubrich Editor do JornalismoB




sábado, 19 de outubro de 2013

Libra não é só petróleo





Em todo o mundo o discurso conservador subsiste em estado comatoso desde o colapso da ordem neoliberal, em 2008. O empenho é para injetar sobrevida ao defunto, resistir e desgastar o anseio de mudança. Até que se generalize o descrédito nos partidos, na luta pelo desenvolvimento e no aprofundamento da democracia política e econômica, como instrumento de emancipação histórica e social.


A ascensão da Frente Nacional Fascista na França é um sintoma (leia a reportagem de Eduardo Febbro; nesta pág). Outro, o poder de uma falange, como o Tea Party, de empurrar até perto do abismo fiscal a nação mais poderosa da terra. São manifestações mórbidas recorrentes. Que afrontam o anseio da mudança instalado no coração da sociedade pela maior crise capitalista desde 1929.


Quando o extraordinário acontece, as lentes da rotina já não conseguem explicar a vida. A ‘redescoberta’ de Marx, analisada por Emir Sader nesta pág (leia o blog do Emir), é um sintoma do anseio por um novo foco. É mais que uma redescoberta intelectual. Essa é a hora em que o preconceito histórico inoculado contra o socialismo perde força. Até nos EUA.


Uma pesquisa feita pela Pew Research, no final de 2011, tentou medir esse ponto de mutação. Os resultados foram significativos:


a) na faixa etária entre 19 e 28 anos a menção ao ‘socialismo’ encontra receptividade favorável entre 49% dos jovens norte-americanos (entre 43% ela é negativa).

b) entre a população negra – açoitada pela crise - os dados são ainda mais expressivos: respectivamente 55% de aprovação ; 36%, rejeição.


c) a mesma medição, agora para ‘capitalismo’, obteve os seguintes percentuais nos grupos mencionados: 46% e 47%, entre os jovens; e 41% favorável e 51% negativo, entre os negros.


A informação consta de um artigo de Michelle Goldberg, cuja íntegra será publicada nesta página. A liquefação da agenda neoliberal e do preconceito anti-socialista não amenizam a responsabilidade de se erguer linhas de passagem críveis ao passo seguinte da história. No caso brasileiro, a operação envolve agravantes de singularidade e circunstância.


Em primeiro lugar, a responsabilidade de ser governo. Portanto, mais que nunca, de erguer pontes que partam da correlação de força existente para superá-las, sem risco de regressão.


Em segundo lugar, os sinais de desgaste na confortável pista incremental, pela qual o país tem transitado para responder a desafios seculares com avanços específicos .


Um terceiro agravante: o crepúsculo de um ciclo internacional de alta da liquidez e dos preços das commodities. A inflexão externa adiciona percalços à renovação do motor do desenvolvimento brasileiro.


Quarto, os capitais e os grandes oligopólios não estão parados. O colapso financeiro acelerou a descentralização produtiva que define a nova morfologia da industrialização no mundo. Travada pelo câmbio desfavorável, a manufatura brasileira ficou de fora do novo arranjo global das cadeias de tecnologia e suprimento.


O país não resgatará sua competitividade sem recuperar o terreno perdido nessa área. A flacidez industrial rebaixa a produtividade sistêmica da sua economia. Com efeitos regressivos na geração dos excedentes indispensáveis à convergência da riqueza . É nesse horizonte de mutações e desafios que deve ser analisado um acontecimentos que divide o campo progressista brasileiro. O leilão de Libra.


A mega-reserva do pré-sal, capaz de conter acumulações equivalentes a até 13 bilhões de barris de petróleo e gás, deve ser leiloada na próxima 2ª feira (21). Democratas e nacionalistas sinceros divergem. Petroleiros vão à greve.

Defende-se que a Petrobrás assuma sozinha a tarefa de extrair uma riqueza guardada no fundo do oceano que pode conter até 100 bilhões de barris.

A Petrobras tem o domínio da tecnologia para fazê-lo. É quem foi mais longe nessa expertise em todo o mundo.

Mas não dispõe dos recursos financeiros para acionar esse trunfo na escala e no tempo imperativo. Paradoxalmente, em boa parte, porque cumpriu seu papel de estatal na luta pelo desenvolvimento. Os preços dos combustíveis no Brasil foram congelados pelo governo como instrumento de controle da inflação. Durante anos. Sob protesto da república dos acionistas , cuja pátria é o dividendo. E nada mais.


Secundariamente, o leilão será feito porque o governo necessita também de recursos para mitigar a conta fiscal de 2013. Ademais do peso dos juros no orçamento federal – exaustivamente criticado por Carta Maior - o Estado, de fato, realizou pesados dispêndios este ano e nos anteriores.


Em ações contracíclicas para impedir a internalização da crise mundial no Brasil. O conservadorismo reprova acidamente essas escolhas. Solertes entreguistas, súbito, pintam-se de verde-amarelo em defesa da estatal criada por Vargas. A emissão conservadora alveja o que chama de ‘ uso político da Petrobras e da receita pública’ para financiar ‘ações populistas’ , que não corrigem as questões estruturais do país. A alternativa martelada é a ‘purga’ saneadora.


Contra a inflação, choque de juros (muito superior ao que se assiste). Contra o desequilíbrio fiscal, cortes impiedosos na ‘gastança’. Qual? Qualquer gasto público destinado a fomentar o desenvolvimento, financiar a demanda, reduzir a pobreza e combater a desigualdade. O ponto é: sem agir a contrapelo dos interditos conservadores, desde 2008, o Brasil teria hoje um governo progressista?
Subsistiria ao cerco de 2010 contra Lula e Dilma? Ou da terra ‘semeada’ pela recessão e o desemprego emergiria a colheita devastadora? José Serra, que, ato contínuo, reverteria a regulação soberana do pré-sal, como, aliás, prometera à Chevron. O governo fez a escolha oposta. O resto é a história dos dias que correm.


Ao decidir pelo leilão de Libra está dobrando a aposta. Qual seja: mais importante que adiar Libra para um futuro de hipotética autossuficiência exploratória, é aceitar a participação de terceiros, mas preservar e colher, antes, o essencial. O essencial são os impulsos industrializantes embutidos na regulação soberana das maiores reservas descobertas neste século em todo o planeta.

Um exemplo resume todos os demais. O Brasil hospeda a maior concentração de plataformas submarinas do mundo. Uma em cada cinco unidades existentes está a serviço da Petrobrás. Em dez anos, essa proporção vai dobrar. Assim como dobra a produção prevista de petróleo em sete anos: dos atuais 2 milhões de barris/dia para 4,5 milhões b/d.


Entre uma ponta e outra repousa a chance de a industrialização brasileira engatar um salto tecnológico e de escala, ancorado nas encomendas e encadeamentos do pré-sal. Emprego, produtividade, salários e direitos sociais estão em jogo nesse salto. A convergência sonhada entre a democracia política, a democracia social e a democracia econômica depende, em parte, do êxito desse aggiornamento industrializante da economia brasileira.


O leilão do dia 21 é um pedaço dessa aposta. Que tem a torcida adversa daqueles que não enxergam nenhuma outra urgência no horizonte do desenvolvimento brasileiro, em plena agonia da ordem neoliberal. Exceto recitar mantras do defunto. Na esperança de ganhar tempo para que o desalento faça o serviço sujo: desmoralizar a política e interceptar o salto histórico do discernimento social brasileiro.


Uma retração econômica redentora cuidaria do resto, injetando disciplina nas contas fiscais e ordem no xadrez político. Para, enfim, providenciar aquilo que as urnas sonegam: devolver a hegemonia do país a quem sabe dar ao ‘progresso’ o sentido excludente e genuflexo que ele sempre teve por aqui.






Por Saul Leblon na Carta Maior

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A inclusão e as funções públicas de Estado




O “Programa Bolsa Família” sempre gerou infindáveis discussões, desde as distorções sobre a paternidade, até mesmo quanto ao seu mérito. Muito se ouviu sobre “clientelismo ou assitencialismos”, bradado por setores conservadores da sociedade, da oposição e até mesmo da imprensa.

Entretanto, o prêmio que o governo brasileiro recebeu da Associação Internacional de Seguridade Social (ISSA) e que foi vencedor do I Prêmio Award for Outstanding Achievement in Social Security em reconhecimento ao sucesso do “Bolsa Família” no combate à pobreza e na promoção dos direitos sociais da população mais vulnerável do Brasil, parecer por um fim a este tipo de discussão. Para o bem do Brasil, a verdade estrondosa e que sepulta qualquer equivoco,é que o “Bolsa Família” está legitimado como política social consagradora de direitos, inclusiva e economicamente viável.

Pra além do prêmio recebido, considerado o “Nobel Social”, é necessário ater-se aos números e gráficos divulgados durante a coletiva do presidente do Ipea e ministro da SAE, Marcelo Neri, e a ministra Tereza Campello. Alguns dados são inéditos sobre Bolsa Família. Segundo eles, o Programa Bolsa Família (PBF) foi responsável por 28% da queda da extrema pobreza na última década. Isso é o que aponta o estudo “Efeitos macroeconômicos do Programa Bolsa Família” - uma análise comparativa das transferências sociais.

De acordo com os dados apresentados, entre 2002 e 2012, a proporção de brasileiros vivendo com menos de R$ 70 (a preços de 2011, corrigidos pela inflação ao longo da série) caiu de 8,8% para 3,6%. Sem a renda do PBF, a taxa de extrema pobreza em 2012 seria 4,9%, ou seja, 36% maior que a observada com o programa. De 2001 a 2012, a renda dos 10% mais pobres do país cresceu 120,22%, enquanto, para o décimo mais rico, o ganho foi de 26,4%. O índice de pobreza caiu em 80% dos municípios do país.

Outro aspecto interessante que o estudo do IPEA mostrou é que o impacto sobre a demanda agregada da produção econômica e geração de emprego, levando em conta o efeito multiplicador do Bolsa Família, é 2,4 vezes maior para cada R$ 1 real investido no programa do que mecanismos como o seguro desemprego (1,34) ou a previdência social (0,65). Este R$ 1 real que para alguns era um “custo” ou “esmola,” mostra-se como investimento com retorno social imensurável, mas também econômico, visto que forma uma circulo virtuoso ao ponto de incidir na formação do próprio PIB como nenhum outro investimento financeiro faria.

Por derradeiro e pra sanar qualquer dúvida sobre a eficiência econômica com viés financeiro é a constatação de que a cada R$ 1 transferido pelo Bolsa Família, o consumo final do total da economia aumenta R$ 1,98, enquanto que os efeitos no consumo final das famílias é ainda maior: de R$ 2,40. Portanto, o Bolsa família ganha seu atestado internacional de eficiência por ser inclusivo, socialmente justo por ser emancipador e economicamente viável por ajudar na transferencia de renda e na agregação ao PIB brasileiro.

Portanto, a margem do discurso depreciativo sobre o Bolsa Família, está cada vez menor e em absoluto descredito. Pois quanto menor o espaço para estas visões míopes e distorcidas, maior é a consagração deste grande programa social, que não deve ser visto como mera ação de governo, mas sim como um extraordinário acerto do Estado brasileiro que vislumbra na inclusão o resgate da cidadania de seu povo.

É como disse a presidenta Dilma, “a inclusão é apenas o começo das mudanças e transformações que tanto necessitamos”.




O artigo é de Adão Villaverde

Professor, engenheiro e deputado estadual do PT-RS


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Missão da FAB vai ouvir planos de parceria dos russos sobre caça invisível









Como eu não imaginava que fosse ter tanta repercussão entre os leitores o post sobre a investida dos russos oferecendo tecnologia militar aérea ao Brasil, com a oferta de parceria na construção de um caça de quinta geração, o T-50, invisível ao radar como os F-22 Raptor dos Estados Unidos, publico o que – ao menos, publicamente – do encontro entre os ministros da Defesa do Brasil, Celso Amorim, e da Rússia, Sergei Shoigu.

Pelo que li em diversos sites, Celso Amorim descartou uma reviravolta na compra dos caças do programa FX-2, num processo licitatório que está praticamente concluído mas que só vale até outubro do ano que vem. Mas afirmou que o Brasil está interessado em parcerias fora deste contrato – a Rússia oferece caças SU-35, os mais modernos em operação regular em sua aeronáutica militar – e que o país enviará uma missão militar à Russia detalhar a oferta de cooperação e partilha de tecnologia no T-50.

Amorim e Shogu acertaram a assinatura para a compra de baterias de mísseis antiaéreos, sobre os quais também há interesse brasileiro em internalizar a produção. Em janeiro deste ano, uma missão domada por militares, pela Odebrecht ( que produz mísseis Mectron), a Embraer Defesa (faz radares radares Orbisat) e Avibrás (fabrica mísseis e o principal sistema de artilharia brasileiro, o Astros).

Por: Fernando Brito no Tijolaço

sábado, 12 de outubro de 2013

Lula e a mídia alternativa


Lula se entusiasma com a mídia alternativa. Quem viu seu discurso no Forum de São Paulo – comandado por sua metamorfose ambulante – se deu conta que, entre tantos temas polêmicos e críticos dentro da esquerda, ele fez a exaltação da mídia alternativa. Como se somente agora, depois das manifestações de junho, ele tivesse se dado conta do poder de convocação que essas mídias tem.
Ele é muito bem vindo. Se dizia antes que o acoplamento entre a força popular – naquela época, o movimento operário – e a intelectualidade crítica, geraria um potencial revolucionário insuperável. Hoje, a liderança popular do Lula e o potencial democratizador da mídia.
Já era hora, dado que seu governo e sua própria imagem como liderança política são as principais vítimas do monopólio privado da mídia, em outras palavras, da falta de democratização dos meios de comunicação no Brasil. A transição democrática trouxe de volta a democracia nos seus cânones liberais, sem chegar às estruturas de poder no Brasil.

Não foram democratizados o sistema bancário, a propriedade da terra, as grandes corporações econômicas, os sistemas educacionais e de saúde. O Brasil tornou-se um país democrático, no sentido liberal da palavra, mas não uma democracia nos planos econômico e social.

Os meios de comunicação não apenas não foram democratizados, como se tornaram ainda menos democráticos, mais concentrados. O primeiro ministro de Comunicações depois da ditadura foi Antonio Carlos Magalhães, que representava diretamente a Globo, com órgão oficial da ditadura militar. Ele se encarregou de concluir o processo de distribuição oligárquica das redes de radio e televisão pelo Brasil afora – processo que serviu também para comprar os 5 anos para o governo Sarney.

Os mesmos grupos oligárquicos da época da ditadura seguem dominando os meios de comunicação, as mesmas famílias. Apoiaram a instauração da ditadura e a feroz repressão que se abateu sobre os movimentos populares e a tudo o que havia de democrático no Brasil. Promoveram a transição conservadora para a democracia e se adaptaram perfeitamente bem ao país pós-ditadura, porque seus interesses eram atendidos.

Apoiaram a Collor e a FHC e se opusera ferozmente ao Lula. Mas aí veio a primeira grande surpresa: o candidato da mídia era o Serra, que foi derrotado. Se lançaram ferozmente contra o governo Lula, tornado o inimigo do bloco dominante, de que os grupos da mídia eram parte integrante.

Se sentiram fortes, ao afetarem duramente o governo na crise de 2005 e foram, eles mesmos, vítimas desse sucesso inicial, acreditando que tinham capacidade para derrotar o governo Lula.
O governo subestimou a força da mídia nos seus primeiros anos, mas mesmo quando se deu conta, não teve iniciativas que pudessem mudar a situação. Foi somente nos anos finais do segundo mandato – em particular na campanha presidencial -, que o Lula colocou com força o tema e o governo promoveu um seminário que elaborou uma proposta de democratização da mídia.

Mas essa tendência não teve continuidade no governo Dilma, que retomou uma postura de não avançar na democratização nos meios de comunicação.

O Lula agora passa a uma posição extrema: julga que a internet pode democratizar a formação da opinião publica, sem que necessariamente se toque na propriedade monopolista vigente na mídia tradicional. Como se a internet fosse alternativa à quebra desses monopólios.

Na internet nós tratamos de fazer guerrilha: com dinamismo, inovação, criatividade, mas sobretudo com pontos de vista alternativos, coerentes com os avanços que o Brasil está vivendo. Disputamos agenda, mas com enormes dificuldades, pelo papel de Exército regular que a mídia tradicional continua a ter.

Os jornais vendem cada vez menos e são cada vez menos lidos, mas pautam os rádios e as TVs, que desfrutam de uma presença avassaladora pelo seu caráter monopolista.
Basta ver como essa máquina conseguiu pautar o processo do STF como o tema principal a nível nacional durante meses, em detrimento, por exemplo, do esforço do governo para frear as pressões recessivas sobre a economia, conseguir retomar o crescimento e expandir ainda mais as políticas sociais.

A campanha eleitoral de 2014 será mais um momento de enfrentamento aberto. Diante do fracasso da reforma política por meio do Congresso atual – ele mesmo beneficiário do financiamento privado das campanhas -, Lula recoloca a convocação de uma Assembleia Constituinte para a reforma democrática da política. Nesse marco deve ser inserido o processo de democratização dos meios de comunicação, que tampouco será aprovado por um Congresso que, alem dos lobbies, como diz o próprio Lula, “tem medo da imprensa”.

A convocação da Assembleia Constituinte autônoma tem que ser um passo decisivo no avanço do processo de democratização do Brasil. O governo prioriza seus esforços no maior processo de democratização social que o país já viveu. Agora se trata da democratização política e da dos meios de comunicação.
Por Emir Sader na Carta Maior

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Quem ofende os sentimentos de um povo não ama o povo








Nada foi mais agradável que começar o dia lendo o que eu gostaria de ter escrito e não pude, pela falta de tempo e de condições.


Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, porém, lavou-me a alma com o desagravo feito a memória política de Hugo Chavez e aos sentimentos do povo venezuelano depois que Marina Silva apelou para uma referência ao “chavismo” como forma de criticar o PT.


Se ela quer criticar os petistas, tem todo o direito. Vai criticá-los por outras razões, diferentes dos que aquelas que os nacionalistas e trabalhistas como eu o fazem, mas é seu direito.


O “chavismo”, porém, como o “getulismo” foi há mais de 60 anos, não é uma política, mas um sentimento popular e, nos dois casos, provocado na população por ter visto, pela primeira vez e assombrada, um governante se preocupar com ela. Ao criticá-los, dessa forma, pelo “ismo” que criaram, Marina critica o que de melhor estes sentimentos produziram, que vai além dos homens e sobrevive à sua morte, como sobreviveu aqui e lá: a ideia de que o povo tem direitos e que o governo do país pode e deve ser ocupado por quem se preocupe com eles.


E aqui me permito falar pessoalmente, por isso.


Meu avô era um trabalhador humilde, pintor de paredes. Sabia assinar seu nome e ler os jornais. O suficiente para ser um homem esclarecido, como muitos que habitavam Realengo, um subúrbio operário, nos anos 40 e 50.


Portanto, sabia perfeitamente quem foi o governante que lhe possibilitou sair de uma “casa de cômodos”, como eram conhecidos os cortiços na época, para uma boa casa ali, num conjunto de IAPI, no tempo em que os conjuntos habitacionais não “enlatavam” seus moradores.


Também sabia quem lhe tinha proporcionado, como trabalhador, ter uma carteira que lhe assegurava horário de trabalho, descanso semanal e férias e a aposentadoria, que ele adiou o quanto pôde, para não deixar de ser o que sempre foi: um trabalhador.


Igual tinha consciência de quem começou a massificar a escola pública e que fez com que seus filhos pudessem estudar. Minha mãe – que dorme aqui ao lado, no hospital, lutando para viver – tornou-se uma professora primária e pôde educar-me, aliás também numa escola de Getúlio, a Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca, hoje Cefet.


Somos, ela e eu, filha e neto da escola pública, do acesso do povo aos direitos sociais, e, em última análise, também do governante que inaugurou a ideia de que o povo era titular do país e não, como na república Velha, “um caso de polícia”.


Nem meu avô, nem minha mãe, nem eu somos ingratos ao ponto de usar o nome de alguém assim como ofensa e, sobretudo, para designar os sentimentos que isto provoca no povo como algo pejorativo. Meu avô pode, na sua simplicidade, ensinar-me muitas coisas: como segurar um martelo pela ponta do cabo, como usar corretamente um serrote e como ser um homem de bem só depende de nossas decisões e de nosso respeito ao próximo.


São coisas que me permitiram respeitar o trabalho e as pessoas.


Aliás, as incompreensões sobre Getúlio acabam sendo esclarecidas por duas palavras: país e povo. Quem os ama, acaba entendendo o que ele representou. Quem despreza o Brasil e os brasileiros, acaba por odiá-lo, como fez Fernando Henrique ao dizer que sepultaria a Era Vargas, sem contar que o espírito barbudo – um daqueles que, mesmo sem saber, virou herdeiro dos direitos sociais que Getúlio promoveu – de um operário viria enterrar sua vanglória.


Se Marina quer usar chavismo no lugar de lulismo, para não ficar evidente sua ingratidão com o movimento político que a tirou das brenhas do Acre para lhe dar os holofotes de que dispõe hoje, que o faça diretamente.


E se sujeite a carregar o estigma de Caim.


Posto, abaixo, o artigo de Paulo Nogueira.



Que Marina quis, exatamente, dizer com “chavismo”?


Paulo Nogueira


Bem, coisa boa não foi. Chávez foi usado por ela mais ou menos como Zé Dirceu por Serra num debate com Haddad na disputa pela prefeitura de São Paulo.


“Você é amigo do Dirceu, não é?”, perguntou Serra, uma, duas vezes. Ele parecia achar que o eleitor de São Paulo é um fundamentalista cujo Corão é a Veja. Deu no que deu a estratégia de Serra para derrubar Haddad à base de uma amizade.


Marina demonizar Hugo Chávez é algo que diminui não a ele, que já entrou na história como um homem que não se conformou em ver seu país ser tratado como quintal pelos Estados Unidos e mudou isso com coragem, abnegação, sacrifícios e colossal integridade.


Diminui a ela, porque mostra – se não oportunismo baixo, como foi o caso de Serra – falta de compreensão histórica.


A Venezuela era boa, até Chávez, para uma minúscula elite que vivia em Miami. O petróleo venezuelano acabava fazendo coisas como asfaltar Nova York e inflar a fortuna de uns poucos nativos — pouquíssimos, é mais apropriado.


Os chamados 99% — no caso venezuelano, 99,99% — eram desprezados e mantidos numa pobreza abjeta comparável à das periferias brasileiras.


Chávez acabou com isso.


Colocou os pobres no topo das prioridades quando chegou ao poder, pelas urnas. Os recursos do petróleo passaram a ser canalizados para os próprios venezuelanos, o que valeu a ele um ódio sem limites – e golpista – da parte dos Estados Unidos.


Chávez chegou a ser vítima de um golpe orquestrado pelos americanos e mais a plutocracia contrariada venezuelana, mas dois dias depois voltou ao poder por pressão popular.


Chávez pôs foco na educação e na saúde pública. Deu petróleo a Cuba, e em troca médicos cubanos não apenas foram atender venezuelanos pobres que jamais tinham visto um consultório como também passaram a lecionar em escolas de Medicina.


As urnas consagraram Chávez repetidas vezes. Foi tamanho o impacto de Chávez na Venezuela que Caprilles, o principal líder da oposição, assegurou que manteria os programas sociais chavistas caso vencesse as eleições presidenciais.


No ano passado, uma pesquisa sobre os países mais felizes do mundo colocou os venezuelanos no topo na América do Sul. Chávez elevou a auto-estima de um povo que era invisível para seus governantes.


Um esplêndido documentário mostra o que foi o chavismo: “A revolução não será televisionada”. Recomendo vivamente que seja visto. Ele está no pé deste artigo.


As cenas de devoção e tristeza do povo pobre da Venezuela em sua morte foram extraordinariamente tocantes. Jornalistas de todo o mundo se perguntavam: onde se veria tal comoção na morte de um líder? Na França, na Inglaterra, nos Estados Unidos?


Pausa para rir.


No Brasil, Chávez foi submetido a um linchamento criminoso e incessante por uma mídia que temia acima de tudo que Lula combatesse privilégios – a começar pelos dela, mídia – com a intensidade de Chávez.


O chavismo é um marco fundamental na nova atitude dos líderes sul-americanos diante da predação centenária dos Estados Unidos.


Se Marina não sabe disso, é ignorante. Se sabe, é uma oportunista que está em busca dos afagos da mídia como os políticos dos quais ela diz ser diferente. Fora dessas duas hipóteses, existe a possibilidade de que ela seja uma mistura de ambas as coisas.






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domingo, 6 de outubro de 2013

Escola de Medicina do #GHC. Novo paradigma pra saúde pública

Em visita ao GHC (Grupo Hospitalar Conceição) durante a semana, conhececi as modernas e precisas ferramentas de monitoramento e gestão hospitalar que dispõem o seu Diretor Superintendente Nery Paes e sua diretoria. A “Sala de Apoio a Gestão Estratégica” que me foi apresentada, permite que se acompanhe em tempo real, emergências de hospitais federais em todo o país. Além disso, aqui no GHC é possível ver o nome de quem está esperando atendimento, quanto tempo de espera, tempo de consulta, patologia e o médico que atendeu. A tecnologia empregada na gestão hospitalar é uma aliada pra desmistificar boatos e notícias equivocadas, principalmente dados de atendimento e tempo de espera em emergências. O “Painel Estratégico GHC”, definitivamente é um dos mais avançados instrumentos de monitoramento, gestão e planejamento hospitalar.  Obviamente que não poderia deixar de entrevistar um dos idealizadores da “Escola de Medicina GHC”, confira abaixo a conversa que  tive com o Dr. Carlos Eduardo Ney Paes.  
Eu e Dr. Nery Paes


- Como se deu e o que compreende o novo curso de medicina gestado entre o Conceição e os Ministérios da Saúde e Educação?
Dr. Nery Paes: Desde o ano passado com orientações do Ministro Padilha, começamos esta prática no Instituto Federal Fronteira Sul (IFFS) em Passo Fundo. Via de regra, uma escola de medicina com foco na excelência, capacidade técnica e  do contato cotidiano do aluno com o paciente já no início do curso. Um dos destaques desta modalidade será a composição social dos alunos, todos oriundos da escola pública e 100% do ingresso via ENEM. Da mesma forma pretendemos na Escola de Medicina do GHC. Temos acumulo e estrutura pra isso, não por acaso todos alunos de medicina do RS passam pelo GHC, somos parte deste currículo.

- Existe uma previsão de quando terá inicio o curso e qual a forma de ingresso aqui no GHC?
Dr. Nery Paes: Estamos envidando todos os esforços pra que já em 2015 a Escola GHC de medicina seja realidade. E será. O ingresso será via ENEM, alunos de escola publica e composição social multifacetada, ou seja, todas as cotas serão contempladas.

- Os moldes propostos pelo Curso de Medicina voltado à medicina da família com ênfase no atendimento da rede pública do SUS, é uma forma de reparar a formação de médicos brasileiros que nos últimos anos tem optado por especializações medicas mais "rentáveis e sofisticadas" ?
Dr. Nery Paes: Veja bem; A medicina se tornou mundialmente cara, foi agregado a ela muita tecnologia, equipamentos caríssimos e isso é bem vindo. Entretanto, existe uma massificação de encaminhamentos, por vezes desnecessários pra simplesmente cobrir os custo destes.  Nossa intenção é interferir, não na tecnologia, mas privilegiar os investimentos na atenção básica, construção de novas unidades e atendimento na ponta.  

- Na sua visão, a carência de médicos generalistas os famosos médicos de família contribui para dificuldades de estabelecer uma rede de atendimento mais efetiva que atenda e de conta da atenção básica?
Dr. Nery Paes: Na imensidão do Brasil, existe um universo de 15% dos municípios que não tem um único médico, ou seja 701 municípios . A média de médicos no país é de 1,8 X1000 habitantes, temos um déficit de 180 mil médicos e pretendemos chegar a média de 2,8 médicos por mil habitantes. Pra além destes índices, médicos generalistas no Brasil são em quantidade menores ainda e pra formação completa de generalista, demandaria mais tempo na graduação e residência médica.

O senhor faz parte de um grupo de médicos que apoiam e defendem o #MaisMédicos. Porque existe tanta resistência dos conselhos com relação ao programa?
Dr. Nery Paes: Creio que sejam os interesses corporativos que se impõem, mas principalmente de ordem ideológica. Algumas entidades e conselhos de medicina criaram um fosso entre o médico e a população, apesar de alguns médicos não concordarem com esta prática. Isso expõem uma contradição entre  sindicato médico e os interesses e necessidades reais da população. Outro equívoco é a tentativa de reduzir o programa #MaisMédicos apenas ao número de profissionais, o programa é amplo e pretende mudar o paradigma do atual sistema de saúde do Brasil. É lamentável, mas é uma pauta que vamos superar.
 
 Qual a expectativa depois da formação destes primeiros médicos?
Dr. Nery Paes: Nossa expectativa e meta é atender a todos os brasileiros, com celeridade e acompanhamento familiar. Entretanto, o Programa #MaisMédicos é uma resposta imediata que daremos, primeiramente com médicos brasileiros que se increveram no programa, médicos estrangeiros que estão vindo e ainda o convênio com a OPAS e MS que deverá trazer ao Brasil de 3 à 4 mil médicos cubanos que se juntarão a estes. De imediato estamos construindo mais de 3 mil UBS (unidades Básicas de Saúde) e ampliando e reformando outras 11 mil UBSs além de 618 hospitais .
         
Em que consiste a parte da formação destes médicos no exterior?
Dr. Nery Paes: Esta etapa de graduação destes médicos será similar ao Programa Ciência sem Fronteiras, permitirá o conhecimento de novos métodos de sucesso em países como a Inglaterra, Canadá e principalmente na Espanha, onde o atendimento público é baseado no acompanhamento de ciclos de vida do paciente. A saúde familiar privilegiada, além de ter um período de residência média maior que a nossa.

Durante o processo de implantação do #MaisMédicos estamos acompanhando as manifestações das entidades médicas que dizem que o problema não é a falta de médicos, e sim a falta de estrutura e condições de trabalho, o MS e o próprio ministro Padilha concordaram com parte destas afirmações, como o senhor como médico enxerga este problema de estrutura da rede de saúde pública no Brasil e o que está sendo feito para mudar esta realidade, e o que falta ainda a fazer?
Dr Nery Paes; Como disse anteriormente, os problemas existem de toda ordem, entretanto a falta de médicos é notória, temos déficit e contraditoriamente temos cidades/regiões onde existe muita concentração de médicos em relação a população.  São estes os exemplos distorcidos que são argumentados por quem não admite o #MaisMédicos. De outra monta, estamos recuperando hospitais, construindo novas UBSs e equipamentos.



- Esta experiência deverá se espalhar pelo Brasil ou será específica pra Região Sul?

Dr. Nery Paes: Na verdade o pioneirismo é nosso, mas esta experiência será desenvolvida em todo país, onde houver a necessidade e as condições pra que se estabeleçam Escolas de Medicina nestes moldes. 

PRÍNCIPE SE ACHA COM MORAL PARA JULGAR DIRCEU



Ele defende “domínio do fato” para ferrar o Dirceu. O domínio da Privataria ? Quem teve ?












O livro “A Privataria Tucana”, de Amaury Ribeiro Jr, foi e é um sucesso de vendas.

Vendeu mais do que todos os livros do Príncipe da Privataria, juntos.

Ao Amaury se somou Palmério Dória, autor de “O Principe da Privataria”- a história secreta de como o Brasil perdeu seu patrimônio e Fernando Henrique Cardoso ganhou sua reeleição, na mesma editora, a Geração.

Na capa aparece o “Senhor X”, Narciso Mendes, que mostra a cara e conta tudo sobre a compra da reeleição.

A primeira linha do livro de Dória é:

“Rameira ! Ponha-se daqui para fora!”

Era Fernando Henrique ao se dirigir à jornalista Miriam Dutra Schmidt, da Globo Overseas, que tinha ido ao gabinete do senador avisar que estava grávida dele.

Depois, dois exames de DNA comprovaram que o filho era de outro e, não, dele.

É este Varão de Plutarco que se arroga o direito enforcar o José Dirceu, em nome da “opinião pública”, da “maioria”.

E em nome da Moral e da Ética !

Viva o Brasil !

Neste domingo, o Príncipe da Privataria ocupa páginas nobres de dois exemplares do PiG (*), o Estadão de comatoso estado, e a Globo Overseas, outra defensora da Ética, que prefere não mostrar o DARF …

Diz o Privateiro:

http://oglobo.globo.com/pais/a-responsabilidade-do-stf-10268079

Não cabem dúvidas de que a sensação de impunidade que a maioria das pessoas sente decorre menos das decisões do que da demora no término do processo.

Que maioria ?

O Marcos Coimbra, ao desnudar o Datafalha, mostrou que a maioria não deu a menor bola para o assunto.


houve desvio de dinheiro público.

Não houve.

A Retrato do Brasil, com a ancoragem do Fernando Morais, mostrou com didatismo e precisão que esse é o calcanhar que derruba o Mentirão: o dinheiro da Visanet não é público.

Público foi o dinheiro que o Andrea Matarazzo dava, na SECOM, à Globo, sem a correspondente audiência.

Com BV gordo !

No Governo do Príncipe.



Independentemente da doutrina do domínio do fato, ou seja, quem, sabedor dos atos ilícitos, podia mandar seguir adiante ou interrompê-los, formou-se na opinião pública a convicção de que os mais notórios personagens, por menos rastros que tivessem deixado, foram, sim, responsáveis.

Portanto, ele defende o “domínio do fato”.

Que, cedo ou tarde, a ele e ao Padim Pade Cerra se aplicará na Privataria e na compra da reeleição.

Ou o domínio do fato e o BV foram só para ferrar o PT ?

Como se sabe, além do Thomas Jefferson – única “testemunha”- , do “domínio do fato”, das “provas tênues” e da “verdade é uma quimera”- não há outras provas contra o Dirceu.


A opinião pública passou a clamar por castigo. A decisão de postergar ainda mais a conclusão do processo, graças à aceitação dos “embargos infringentes”, recurso de que só os doutos lembravam e sabiam dizer no que consistia, caiu como ducha de água fria. Por mais que o voto do ministro Celso de Mello tenha sido juridicamente bem fundamentado, ressaltando que o fim dos embargos infringentes no STF foi recusado pela Câmara dos Deputados quando do exame do projeto de lei que suprimiu esses embargos nos demais tribunais, ficou cristalizada na opinião pública a percepção de que se abriu uma chance para diminuir as penas impostas.

Vale a pena ver de novo: ele, o Príncipe da Privataria e seu fiel escudeiro, Gilmar Mentes (**) – a mais conspícua de suas malditas heranças – tentaram acabar com o embargo infringente, mas o Congresso não deixou.

“Ficar cristalizado na opinião pública é um perigo”: e se ficar cristalizado na opinião publica de que ele vendeu as joias da família e endividou a família ?

Que tudo não passou de uma Privataria ?

A indicação de dois novos membros do STF pelo governo, depois de tantos rumores de conversas com candidatos para comprometê-los com um comportamento brando no julgamento do mensalão, e a infausta tentativa do presidente Lula de pedir a um ministro para não votar logo o processo exemplificam a contaminação da pureza jurídica pelas pressões políticas. O último voto sobre os embargos infringentes — sem que esta fosse a intenção do ministro que o proferiu — deu a sensação de que haverá um abrandamento das penas. Sensação que se reforça quando os juízes recém-nomeados dizem que, havendo novo julgamento, poderiam opinar de modo contrário ao da maioria anterior.

Ele se alia ao Ataulfo Merval de Paiva (***), seu colega colega de bancada, na P36, e acredita que Gilmar Mentes (**) foi chantageado pelo Lula.

Embora seu Ministro, dele, FHC, Nelson Johnbim, tivesse dito e repetido que naquele episódio em que só estavam Lula, Johnbim e Mentes, o Mentes mentiu !

E como é que um ministro do Supremo é vulgarmente chantageado e não denunciou o chantagista à Policia ?

Ai, de novo, FHC faz o jogo rasteiro de empurrar no PiG (*) a versão que ele está careca de saber que é a versão mentirosa.

De novo, rasteiro, cerramente (assim mesmo, revisor, por favor, cerramente), ele insinua que a Dilma nomeou ministros para tirar Dirceu da cadeia.

E quem nomeou Gilmar ?

E quem nomeou Ellen Gracie, que se notabilizou pela súmula vinculante do “Dantas não é Dantas, mas Dantas“ ?

O Príncipe tentou montar um Supremo que cobrisse a sua retaguarda, a retaguarda da Privataria.

E conseguiu – até que o presidente Barbosa legitime Satiagraha .

… o tribunal deverá cuidar para decidir com rapidez e evitar a percepção popular de que tudo não passou de um artifício para livrar os poderosos da cadeia.

“Poderosos” ? O Genoino, o João Paulo, o Dirceu, uns pés rapados ?

De que vive o Cerra ?

Quem é sócio numa sorveteria do homem mais rico do país ?

Em Miami, sócia da irmã do Daniel Dantas ?

Quem tem um apartamento de 500 metros quadrados em Higienópolis e outro na Avenue Foche em Paris ?

Como se sabe, Mino Carta promoveu, um dia, na Carta Capital, uma enquete para saber quem era o maior Tartufo do Brasil.

O Príncipe da Privataria venceu disparado.

A farsa, porém, chega a seus atos derradeiros.

O PSDB agora é outro: é o casamento não consumado – veja o tempo de tevê – da Bláblárina com o Dudu Campriles.

A Big House encontrou outra barriga de aluguel.

Fora de São Paulo.

Paulo Henrique Amorim


No Conversa Afiada