segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Seminário debaterá democratização da mídia

Mídia, democracia, regulação, liberdade de imprensa e de expressão: estes serão os temas centrais do seminário promovido pela Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (AJURIS), Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores de Comunicação (Altercom) e Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, no dia 3 de novembro, em Porto Alegre. O evento será na Escola Superior da Magistratura (rua Celeste Gobbato, nº 229, bairro Praia de Belas).





  1.  A programação do encontro é a seguinte:

8h30min – credenciamento

9h às 12h – Abertura e 1º Painel

Democracia e Liberdade de imprensa

Presidente de mesa: Leoberto Narciso Brancher – Conselheiro de Comunicação da AJURIS

Participantes:

Claudio Baldino Maciel – Desembargador TJRS

Paulo Henrique Amorim – Jornalista do site Conversa Afiada

Pascual Serrano – Jornalista espanhol

Breno Altmann – Jornalista e Diretor da Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores de Comunicação (Altercom)

Juremir Machado – Jornalista do Correio do Povo e Rádio Guaíba e professor da PUCRS

15h às 18h – 2º Painel e Encerramento

Regulação e Liberdade de expressão

Presidente de Mesa: Ronaldo Adi Barão Castro da Silva – Assessor da Presidência da Ajuris

Participantes:

Eugênio Facchini Neto – Desembargador do TJRS e professor da Escola Superior da Magistratura e da PUCRS

Franklin Martins – Jornalista e Ex-ministro da Comunicação Social do Governo Lula

Venício Lima – Jornalista, Sociólogo e Professor da UNB

Luiza Erundina – Deputada Federal PSB (a confirmar)

Elton Primaz – Jornalista, chefe de Redação do jornal O Sul

Bia Barbosa – Jornalista e integrante do Conselho Diretor do Intervozes Coletivo Brasil de Comunicação Social

As inscrições podem ser feitas neste endereço.

Escravidão no cerne do capitalismo de ponta


Pesquisadora que participou do estudo da OIT
sobre o trabalho escravo afirma que esse modo de produção
 tem ganhado espaço na era da globalização.
Foto: Cícero R. C. Omena

O  trabalho escravo rural no Brasil é uma das peças que constituem o desenvolvimento do capitalismo de ponta no país. Divulgado na terça-feira 26, um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) traçou um perfil dos trabalhadores e empregadores desse processo. Adonia Prado, pesquisadora Grupo de Estudo e Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo da Universidade Federal do Rio de Janeiro e que participou do estudo, alerta que esse tipo de trabalho, abolido em 1888, faz parte da estrutura do capitalismo avançado e da produção de commoditties atuais.
“Ele é funcional a esse modo de produção globalizado altamente concetrador de renda”, explica Prado. Segundo a pesquisadora, essa exploração vem ganhando espaço no mundo todo e existe, em graus diferentes, em quase todos os países. São empreendimentos de ponta, diz ela, que produzem para exportação. Na cidade, o trabalho escravo também está ligado a grandes marcas, como foi o caso recente com a loja Zara, que comprava roupas de confecções ilegais e escravagistas. “Não é resquício de outros tempos”, diz ela.
O estudo da OIT mostrou que a maior parte dos trabalhadores era negra (18,2%) e parda (62%) e veio do nordeste para as regiões norte e centro-oste, onde acabaram “presos” em fazendas escravagistas. O endividamento e falta de localização – as fazendas são afastadas de centros urbanos e pontos de referência e em regiões estranhas aos empregados – são as principais razões para que os trabalhadores não consigam sair dessa condição. Apesar de não ter visto nenhum capataz nas visitas de fiscalização para a produção do estudo, Prado aponta que documentos de seu grupo de estudos constataram a presença dessa figura, que utiliza a violência como forma de coerção para manter a prisão, em outras visitas feitas.
Na maioria dos casos, o trabalhador é obrigado a comprar comida e equipamento do patrão. Ao final do mês, ele deve mais do que ganhou. “Na maioria dos casos o trabalhador pobre tem um senso moral muito aguçado”, comenta Prado. “E fica
com a consciência culpada; acha que deve ao patrão”, diz ela.
“Vale a pena para os empregadores manter essa condição sub-humana”, diz ela. O empregador, cujo perfil é do homem branco e nascido na região sudeste, considera que o custo final do produto é menor que o do trabalhador que tenha seus direitos protegidos. A pesquisadora explica que até hoje nenhum empregador foi para a prisão por ter propriedades com trabalho escravo, apesar de inúmero julgamentos que já ocorreram. “No máximo pegam pena de prestação de seviços comunitários”, conta ela.
Prado indica que há um movimento de rechaçamento deste tipo de prática. O Ministério do Trabalho disponibilizou em sua página uma lista com 245 empregadores que devem ser evitados tanto na hora de pedir emprego quanto pelos compradores de seus produtos. “Essa indicação faz com que esses empredores percam mercado porque muitas empresas inclusive fora do Brasil deixam de se interessar”, diz ela, que aponta para a criação de dificuldades econômicas para os empreendores como uma das maneiras de se erradicar esse modo de produção desumana.

Artigo de Clara Roman no site da Carta Capital

Leia também:
Entrevista com um escravo

A escravidão ainda nos assombra

Maioria é semi-analfabeta e parda

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

PiG não é PiG porque denuncie a corrupção. Por que o PiG é PiG


O sistema político brasileiro por definição é corrupto.

Não mais que o americano, o italiano, o russo ou o mexicano, por exemplo.

Mas, corrupto é.

Nos acima citados sistemas, a Caixa Dois, a sobra de campanha e a sujeição aos interesses dos financiadores são goiabada com queijo.

Uma das formas centrais do sistema político corrupto – como nos acima mencionados – é o acesso à televisão.

Tempo de tevê vale ouro – e voto.

E a manipulação do acesso à tevê é uma das causas do descrédito dos partidos e dos homens públicos nessas grandes democracias.

O noticiário político só faz equiparar a atividade público a reality show de ex-prostitutas.

Outra causa é a notória impunidade.

O sistema judicial torna-se cúmplice e parte de um sistema que se nutre de corrupção.

O financiamento público e uma Ley de Medios podem atenuar a penetração da corrupção no sistema político.

No Brasil, à parte a geneneralizada impunidade – que se acentuará com o fechamento do Conselho Nacional de Justiça  pelo Supremo -, há um fenômeno que não se repete em nenhuma das citadas democracias.

É a concentração do PiG (*).

Três famílias – Marinho, Frias e Mesquita (by proxy) – , dominam a tevê, o rádio, o jornal, as revistas, as agências de notícias e portais na internet.

(A família Civita, expulsa da Argentina, no Brasil explora outro ramo de negócio, que não o jornalismo.)

Três famílias – duas em São Paulo e outra no Rio, a Globo, que, porém, trabalha para o IBOPE de São Paulo – dominam o conteúdo da informação e a agenda de debates de um país de 200 milhões de almas, com uma maravilhosa e suprimida diversidade cultural.

O papel central do PiG é derrubar os Governos trabalhistas, onde, apesar de todo o bom-pracismo dos governantes, os negócios empresariais do PiG enfrentam mais obstáculos.

Quando os Neolibelês (**) estiveram no Governo, o PiG sentava-se à mesa do banquete.

O PiG não é golpista porque denuncie a corrupção.

O PiG é golpista porque SÓ denuncia a corrupção dos trabalhistas.

Para o PiG, a massa cheirosa não rouba.

Nem roubou.

O PiG tem parte, tem lado, obedece a uma linha política, como o Ministro Gilmar Dantas (***): está sempre do lado de lá.

As denúncias de corrupção são apenas uma das faces do golpismo.

Outra é a fixação da agenda.

O PiG e o Congresso acabam por discutir só o que o PiG quiser.

O PiG determina a hierarquia: a ponte de 3,5 km sobre o rio Negro não tem menor importância.

Só teria se ficasse comprovado o esmagamento de um bagre na hora de fincar uma estaca.

Aí, sim, seria um Deus nos acuda.

Vamos sublimar, amigo navegante, a criminosa discriminação que o PiG pratica contra os atos dos governos trabalhistas.

Vamos por à parte o excepcional Governo do Nunca Dantes, aprovado por 80% da população.

Ou do Governo de sua sucessora, que segue a mesma trilha.

Vamos à Argentina.

Agora, com a acachapante vitória da Cristina, só agora se sabe que o maior eleitor foi a bonança econômica.

A Argentina bomba !

E aqui se tinha a impressão de que a Argentina era uma pocilga encravada na caverna do Ali Babá.

As atividades do PiG são, pela ordem, deturpar, omitir, mentir.

As denúncias de corrupção do PiG são bem-vidas, porém.

E devem servir de elemento para coibir o malfeito.

O problema é que no PiG se esvaecem como nuvens as denúncias de corrupção do outro lado: as ambulâncias superfaturadas; o Ricardo Sergio, o Preciado, o Paulo Preto, o Daniel Dantas, o  Robanel dos Tunganos; a concorrência do metrô de São Paulo; o mensalão de Minas; a empresa de arapongagem do Cerra paga pelo contribuinte paulista; os anões do Orçamento da Assembléia tucana de Sao Paulo.

Tudo isso se lava com água e sabão e vai embora pelo ralo.

E a corrupção da empresa privada ?

Os subornadores, os financiadores dos políticos ?

Quem compra os políticos ?

A Madre Superiora ?

Quem ganha todas as concorrências e não perde uma na Justiça ?

Quem são e o que fazem os que a Evita Peron chamava de “oligarcas de mierda ?”

Por que no Brasil não tem empresário ladrão ?

Nem rico na cadeia ?

É por isso que o PiG é golpista.

Porque é cúmplice, beneficiário e arauto dessa máfia do poder, como diz o Mino.

As denúncias de corrupção são a face branda quase pueril do PiG.

Vamos pegar o PiG pelo gancho: vamos fazer uma Ley de Medios.


Paulo Henrique Amorim no Conversa Afiada

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O significado da vitória de Cristina

Todos os que seguem a situação argentina sabiam, desde pelo menos um ano e meio, que o governo de Cristina Kirchner havia recuperado grande apoio popular e teria continuidade, seja na presidência de Nestor, seja na dela. Só poderia ser “surpresa” para os que foram vítimas dos seus próprios clichês, denegrindo a imagem da Argentina e do seu governo. Agora não sabem como explicar uma vitória tão contundente, no primeiro turno, com uma diferença de mais de 8 milhoes de votos para o segundo colocado.

A vitória de Cristina tem o mesmo sentido da vitória de Dilma. Pela primeira vez, nos dois países, uma mesma corrente obtém, pelo voto popular, um terceiro mandato. Vitorias fundadas em políticas econômicasque permitiram a retomada do crescimento da economia – depois das recessões provocadas por governos neoliberais, Menem lá, FHC por aqui – articuladas estruturalmente com políticas sociais de distribuição de renda.

No caso argentino, a crise de 2005 aqui, foi a de 2008 lá, com a reação violenta dos produtores rurais ao projeto de lei de elevação do imposto de exportação. Em aliança com a conservadora classe media de Buenos Aires, fizeram com o que o governo perdesse parte substancial do seu apoio e terminasse derrotado na votação do Congresso. Essa derrota se desdobrou numa derrota eleitoral, quando ja se sentiam os efeitos da crise internacional.

Tal como aqui, a oposição acreditou que havia desferido um golpe mortal nos Kirchner e se preparava já para voltar ao governo, em meio a disputas enormes entre todas as suas tendências, unidas na oposição e na ambição de sucedê-los no governo.

Para surpresa da oposição, o governo reagiu positivamente – como aqui – diante dos efeitos da crise, com políticas anticíclicas e renovando suas políticas sociais. Os reflexos não tardaram a surgir e o governo passou a reconquistar apoio popular, até que, a partir do ano passado, tendo recuperado iniciativa, voltou a aparecer como o grande agente nacional contra a crise.

Dois fatores vieram consolidar essa reação. O primeiro, as comemorações do bicentenário da independência argentina, que despertou grande fervor popular, especialmente em amplos setores da juventude, capitalizados evidentemente pelo peronismo, com sua tradicional marca nacionalista.

O outro, foi a súbita morte de Nestor Kirchner, que alguns previram – lá e cá – que seria um golpe definitivo no kirchnerismo. Nesse momento Cristina se assumiu como estadista à altura daquele momento crucial da historia argentina, dado que Nestor era o candidato à sua sucessão e o maior dirigente político do processo que ele mesmo havia iniciado.

Cristina fez daquela perda um momento de afirmação do processo político protagonizado por Nestor e por ela, no bojo da recuperação do apoio popular, que tinha seu fundamento no sucesso das novas iniciativas de políticas sociais – bolsas para a infância, para a terceira idade, para os desempregados, entre outras iniciativas.

Enquanto isso a oposição se digladiava, conforme via a recuperação do prestígio do governo, na disputa pela sucessão presidencial, em um processo suicida, que veio complementar o cenário politico que foi tornando Cristina cada vez mais favorita para triunfar, até mesmo no primeiro turno.

As prévias eleitorais de agosto, finalmente, cristalizaram todas essas tendências, permitindo prever as melhores perspectivas para Cristina, que se confirmaram plenamente nas eleições de ontem. Cristina teve um triunfo esmagador, além de recuperar a maioria na Camara e aumentar no Senado, e eleger oito dos nove governos estaduais em jogo.

Ela triunfa e a oposição, dividida entre vários candidatos, sofre sua maior derrota, deixando o campo aberto para novos e grandes avanços do governo. Lá como aqui, a segunda década do século XXI estende a vigência de um governo que busca alternativas de superação do neoliberalismo, nas condições da herança pesada que ambos receberam, avançando na direção do posneoliberalismo.

Consolida-se o campo progressista latino-americano, confirmando que essa é a vida das forcas populares para a superação das desigualdades e injustiças, para o fortalecimento da integração regional e para a afirmação de uma América Latina soberana.

Artigo do Emir Sader em seu blog na Carta Maior

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O petróleo e o sangue


Ao que parece, a Terra cobra, em sangue, o petróleo que é retirado de suas entranhas. Mas tem cobrado mal: não são os que os que consomem o óleo alucinadamente os que pagam a dívida para com o planeta, mas sim os que tiveram a maldição de o ter em abundância, como os paises árabes e muçulmanos. Todas as teorias – a defesa dos direitos humanos, da democracia, da civilização ocidental, e, até mesmo, do cristianismo – são ociosas para explicar a sangueira dos tempos modernos. No caso do Oriente Médio, a cobiça pelo petróleo, desde o início do século passado, tem sido a causa de todos os males.

As imagens divulgadas ontem, da prisão, da tortura e da morte do coronel Kadafi são semelhantes às da prisão, da farsa do julgamento, e da execução de Saddam Hussein. Da execução de Osama bin Laden ainda não conhecemos todas as imagens, mas é provável que um dia sejam divulgadas.

A biografia desses três homens é semelhante. Todos eles tiveram, em um tempo ou outro, as melhores relações com os países ocidentais, democráticos e cristãos. Em livro que será publicado nos próximos dias, a Sra. Condoleeza Rice confessou um certo fascínio por Kadafi, que a ela se referia como “minha princesa africana”. Hillary Clinton reagiu com interjeição de alegre surpresa, ao ver as imagens do trucidamento do coronel. Terça-feira, em Trípoli, ela disse claramente que Kadafi devia ser preso ou morto, imediatamente.

Osama bin Laden, como é sabido, foi sócio de Bush pai em negócios de petróleo. No Afeganistão se uniu à CIA e ao Pentágono, no trabalho político junto aos combatentes anti-soviéticos. Essas ligações devem ter influído no ódio de pai e filho ao combatente muçulmano.

O caso de Saddam é ainda mais significativo. O Iraque não podia ser considerado um país obscurantista. Ainda que não fosse democrático – e, segundo os indignados norte-americanos, tampouco há democracia nos Estados Unidos – era um regime tolerante, que dava relativa liberdade às mulheres, autorizadas a freqüentar as universidades e a usar trajes ocidentais, e não exercia perseguição aos não islamitas, tanto assim que o segundo homem do governo, Tariq Aziz, era cristão católico do rito caldeu.

Nessa cruzada disfarçada de conflito de civilizações, as mentiras foram as mais importantes armas dos Estados Unidos. Suspeita-se que todas elas decorram de uma mentira ainda maior: a de que o ataque às Torres Gêmeas de Nova Iorque tenha sido uma operação determinada por bin Laden. Que Saddam Hussein nada tinha a ver com isso, é hoje fora de dúvida.

Para justificar a invasão ao Iraque, os Estados Unidos apresentaram “provas” forjadas, como fotografias de caminhões e de galpões, como sendo de instalações nucleares. Afirmaram ao mundo, por Collin Powell e outros, que Saddam, além de desenvolver seu arsenal atômico, dispunha de outras armas de destruição em massa, como produtos químicos letais. O embaixador brasileiro José Maurício Bustani, então diretor da Organização das Nações Unidas para a Proibição de Armas Químicas, e conhecia a realidade iraquiana, sabia que se tratava de uma mentira, e tentava obter a adesão de Saddam ao tratado internacional contra as armas químicas – o que desmentiria as acusações americanas - foi destituído de seu cargo pelas pressões do governo Bush. Hoje, é o embaixador do Brasil em Paris.

A terceira peça do tabuleiro, a ser eliminada, foi o governante líbio. Ele fora declarado “limpo” pelos governos ocidentais, e privava da intimidade dos líderes norte-americanos e europeus. Caiu na esparrela de acreditar nisso, e enfrentou, ao mesmo tempo, os que o consideravam um renegado e os sedentos de seu petróleo e, por isso mesmo, sedentos de sangue.

Esses três casos são uma forte advertência aos países árabes que têm sido vassalos fiéis de Washington. Os príncipes da Arábia Saudita que se cuidem. O Paquistão, ao que parece, já está com suas barbas no molho.

E as mentiras continuam. Muhamad Jibril, que é o primeiro ministro interino e terá que vencer facções que lhe são contrárias, mentiu descaradamente, ao afirmar que Kadafi fora morto em “fogo cruzado” dos rebeldes com as tropas leais ao dirigente líbio. As imagens, divulgadas no mundo inteiro, mostram Kadafi ainda vivo, caminhando, levantando o braço, até ser derrubado a socos e pontapés, para ser, finalmente, assassinado.

Artido do Mauro Santayana, colunista político do Jornal do Brasil, no site

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A batalha é outra

As dúvidas e os impasses para colocar em prática o piso salarial
são grandes ainda, mas a lei não pode colocar gestores contra professores.
Foto: Silvia Zamboni/Folhapress
Mesmo após a publicação do acórdão do Supremo Tribunal Federal, no fim de agosto, que julgou constitucional a lei do piso salarial nacional do magistério, ainda são muitas as dúvidas e os desacordos sobre como criar uma base de remuneração para professores. Vigência, formato da correção, ampliação da jornada de hora-atividade, adequação e impacto nos planos de carreira são algumas questões que emperram o pretenso processo de consolidação da carreira e resgate da dignidade dos professores da Educação Básica.
Um dos principais impasses são os valores de correção dos salários que não se enquadram na lei do piso, isto é, aqueles que não estão no início da carreira. Explica-se: prefeituras e governos estaduais precisam garantir, neste momento, o pagamento de 1.187 reais para os professores que têm formação em nível médio, estão no início da carreira e trabalham 40 horas semanais. Para outras cargas horárias, o princípio da proporcionalidade deve ser aplicado e a boa e velha regra de três pode indicar os valores.
Reajustar o salário dos que já estão no magistério é uma função de cada plano de carreira e não da lei do piso. A previsão orçamentária e a realidade de arrecadação de cada município e estado devem ser consideradas para essa definição. Daí a necessidade da construção ou adequação dos planos de maneira democrática, sem jamais desconsiderar o impacto da alteração na carreira de cada educador e nas finanças públicas.
Para acabar com os principais dilemas sobre o mecanismo e a data de reajuste do piso, um projeto de lei aguarda para ser votado na Câmara. Se aprovado (já passou pelo Senado), o substitutivo vai garantir o reajuste todos os anos em maio. E mais: o porcentual de correção será definido pelo aumento do valor aluno/ano, no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), das séries iniciais do Ensino Fundamental urbano. Em abril, a cada ano, o ministro da Educação deverá baixar um ato confirmando o porcentual. A aprovação do texto dará concretude ao projeto e evitará polêmicas judiciais.
E onde não há dinheiro suficiente para pagar o piso? A edição da Portaria 213/11 do MEC prevê a ajuda aos entes governamentais para garantir o cumprimento do valor do piso. Os recursos para a complementação vêm do aporte que a União faz ao Fundeb e, portanto, neste momento, somente podem atender os municípios e -estados que recebem complementação ao fundo, que são Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco e Piauí (veja ao lado o que devem cumprir para receber a complementação). A senadora Marinor Brito (PSOL-PA) apresentou um projeto de lei que prevê a extensão da ajuda a todo o País. O projeto tramita a passos lentos. A Portaria 213 prevê seis critérios para o enquadramento dos entes que desejam solicitar a ajuda, bem como estabelece quatro parâmetros para diferenciar o grau de necessidade. Gestores e trabalhadores aguardam o Fundo Nacional de Desenvolvimento a Educação (-FNDE) -regulamentar a portaria para que os municípios possam requerer a ajuda ainda em 2011.
Diante do contexto, a lei do piso não pode estabelecer uma batalha entre gestores e profissionais do magistério. Pelo contrário, deve servir como ponto de partida para um esforço coletivo em torno da discussão do projeto de lei 8035/2010, que cria o Plano Nacional de Educação (PNE). As metas de formação e valorização do magistério poderão se concretizar à medida que o texto do novo PNE garantir novos recursos para a educação e definir claramente as responsabilidades entre os entes federados. E, claro, que determine uma participação financeira maior da União.
Outras demandas
Levantamento realizado em 2008 pela Undime, que representa os secretários municipais de educação, indicou que, na média, os municípios deveriam contratar um número 20% maior de novos professores para atender a ampliação do tempo reservado à hora-atividade. No ano seguinte, a crise financeira mundial fez cair em quase 10% a receita da educação por causa da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), entre outros. Esse fato preocupou os gestores e em poucas redes e sistemas a ampliação foi conquistada.
Agora, diante da demanda de expansão prevista na Emenda Constitucional 59 (de que todas as crianças e jovens de 4 a 17 anos deverão estar matriculados até 2016) e da necessidade de ampliação de investimentos para garantir a efetiva melhoria da qualidade, coerente seria o estabelecimento de uma mesa de negociação envolvendo gestores e trabalhadores em cada município e estado. É evidente a necessidade de uma regra de transição, pois não há condições de elevar de 20% para 33% o tempo reservado para o professor em atividades extraclasse.
Para fortalecer essa iniciativa, o MEC poderia aproveitar a Comissão Intergovernamental que discute o Exame para Ingresso na Carreira do Magistério e inserir essa discussão. Representantes em nível nacional dos gestores estaduais, municipais e dos trabalhadores, ao lado do ministro, conseguiriam diminuir a tensão e avançar nas conquistas em todas as redes e sistemas de educação.

Artigo do Carta na Escola no site da Carta Capital

domingo, 16 de outubro de 2011

Quando se fala demais






Pra que se entenda a charge no Jornal Pagina 12! Tabaré Vasques, então presidente uruguayo confessou que chegou a cogitar "uma guerra" com a Argentina. Tudo por conta da instalção da papeleira Botnia, para tanto, solicitaria apoio dos EUA. Baita cagada do Tabaré que hoje confessa vergonha disso.

sábado, 15 de outubro de 2011

#15opoa #15oct #GlobalChange terá transmissão on-line ao vivo.

No dia 15 de outubro (hoje), pessoas do mundo todo tomarão as ruas e as praças. Do continente americano à Ásia, da Africa à Europa, as pessoas estão se levantando para reclamar os seus direitos e pedir uma autêntica democracia, uma democracia real. Agora é o momento unirmos todos em um protesto não violento em escala global.
Com o mesmo espírito de unidade que construímos o Fórum Social Mundial como referência mundial aqui em Porto Alegre e a rica experiência de democracia direta do orçamento participativo, estamos sintonizad@s com a energia das novas dinâmicas sociais em rede que tem mobilizado milhões de pessoas no mundo todo. Convocamos tod@s @s gaúch@s para ocuparem as praças no próximo sábado dia 15 de outubro.
Nos levantamos também pela volta do Fórum Social Mundial para Porto Alegre.
Nos levantamos contra o atual sistema financeiro global, responsável pela crise que assola o planeta, queremos uma economia a serviço das pessoas. Nos levantamos por mais democracia e por participação popular direta nas decisões dos governos. Nos levantamos contra a corrupção, pelo afastamento e punição dos corruptos e dos corruptores. Reconhecemos os avanços econômicos e sociais que conquistamos no Brasil e nos levantamos para defendê-los e ampliá-los. Nos levantamos pela democratização da comunicação, pela liberdade de expressão e por uma novo marco regulatório para a mídia no Brasil. Nos levantamos por uma internet livre, com neutralidade e na defesa do Marco Civil da Internet. Nos levantamos em apoio as lutas em andamento de tod@s @s categorias profissionais. Nos levantamos pela defesa de um sistema de saúde pública gratuito, de acesso universal e de qualidade. Nos levantamos contra qualquer discriminação, preconceito, racismo, homofobia, sexismo, machismo. Nos levantamos na defesa do meio ambiente, contra a mercantilização da natureza.
Dia 15 de outubro, sábado, nos encontraremos ás 13 horas no Brique da Redenção e caminharemos até a Praça da Matriz para uma marcha pela mudança global que queremos. A manifestação será pacífica, debateremos e nos organizaremos até alcançarmos.
É hora de unir-nos. É hora sermos ouvid@s
Acompanhe a transmissão ao vivo clicando aqui

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A Espiral da Insensatez


Agora não é mais uma bolha que explode. É uma crise sistêmica e planetária do modelo de capitalismo financeirizado que domina o mundo. Ninguém escapa dela.
Tal como grandes animais predadores, as grandes corporações financeiras internacionais estão devastando o tecido social europeu, criando uma zona de crescente instabilidade política e colocando em risco a economia global, mas também estão criando espaços para sua contestação.
Desde meados dos anos 1980 essas grandes corporações financeiras internacionais se fortalecem. Hoje elas controlam os governos e os organismos multilaterais, como o FMI, o Banco Mundial e o Banco Central Europeu. Isso ficou claro na crise de 2007/2008, quando um grupo dos mais importantes executivos, reunido com o FMI, impôs aos governos nacionais que se endividassem para salvar os grandes bancos privados. E os governos se endividaram muito além de sua capacidade.
Esse endividamento golpeou o governo da Irlanda, da Grécia, de Portugal, da Espanha e da Itália, e coloca sob ameaça mesmo a França e a Inglaterra. E para salvar esses países do default(calote) da dívida pública, novos pacotes de volumosos empréstimos foram mobilizados, com uma importante participação das grandes corporações financeiras internacionais, que viram nessas operações, com taxas de juros recordes, a possibilidade de grandes ganhos.
A crise, no entanto, recrudesce. A receita amarga das brutais políticas nacionais de ajuste, isto é, os cortes no orçamento público, nos salários, nas aposentadorias e nas políticas sociais não são suficientes para que esses governos paguem o que devem. E assim vai se desenhando uma espiral descendente cujo horizonte é mais recessão.
Quando esses grandes bancos privados perceberam o novo risco de defaulte viram o valor de suas ações despencar, mobilizaram outra vez os governos e a União Europeia, para garantir não só processos de recapitalização, mas também seus investimentos em bônus do tesouro de vários países. Numa conjuntura tão delicada, os conflitos de interesses no seio da União Europeia estão impedindo até o momento políticas regionais articuladas de enfrentamento da crise. Esse imobilismo faz que os riscos de desastre cresçam.
O que está em questão é o poder dessas grandes corporações financeiras internacionais. Se elas continuarem governando o mundo, a crise só se aprofundará. Abre-se então um novo campo de debate. Como superar essa crise?
O que era inimaginável poucos anos atrás está sendo discutido como uma das opções: a estatização do sistema financeiro privado − algo que a Índia já fez há mais de dez anos.
Aliás, vale lembrar que tanto a Índia como o Brasil (que tem 48% de seu sistema financeiro nas mãos de bancos públicos), pela importância do sistema financeiro público, puderam tomar medidas coordenadas de políticas anticíclicas e assim reduzir o impacto da crise de 2007/2008 sobre sua economia e sociedade.
Uma alternativa em discussão é a proibição da operação com derivativos: trata-se de impedir o sistema financeiro de especular e operar sem o necessário lastro de riqueza. Mas essa é uma política que necessita de coordenação internacional, e os atuais organismos de regulação internacional estão capturados pelos donos do poder.
Também volta como proposta a auditoria das dívidas públicas, as contraídas pelos governos. Experiências recentes, como a do Equador, resultaram em substancial redução de seu valor.
Os novos movimentos sociais impulsionados pela juventude na Espanha, na Grécia e no Chile vão além. Eles também querem a estatização dos bancos privados, mas trazem outras propostas: o fim das heranças e o salário-base de 30 mil euros anuais para todos, empregados e desempregados. No Chile, os estudantes não estão interessados em negociar com o Congresso; querem um plebiscito para definir que educação não pode ser objeto de lucro. Tem de ser pública, universal, gratuita e de qualidade.
Enquanto essas propostas ainda não ganham corpo, os grandes bancos buscam criar soluções para garantir sua própria sobrevivência. Para eles, trata-se de corrigir falhas do sistema, não de questioná-lo.
As propostas vão desde o patético apelo do bilionário Warren Buffet − de que os ricos precisam pagar mais impostos, com o que as grandes corporações discordam plenamente, e o Tea Party, nos Estados Unidos, está igualmente em radical discordância − até a versão da Taxa Tobin para os ricos, uma taxa sobre as transações financeiras, cujos recursos seriam destinados a um fundo europeu de estabilização para a recapitalização de bancos em dificuldades.
É da natureza do bicho. As grandes corporações não olham para o interesse público; elas têm como objetivo o máximo lucro. E, se os governos não foram capazes de impor essa dimensão de regulação pública à sua atuação, é porque foram capturados por ela. Isso compromete o sistema político e a democracia.
Os governos, com as políticas de ajuste, passaram a estar contra as maiorias. E, se o sistema político está controlado, sem condições de ser a arena pública da disputa e dos conflitos, da negociação, então as tensões ganham as ruas. A crise sistêmica é também a crise do sistema político.


Artigo de Silvio Caccia Bava , editor de Le Monde Diplomatique Brasil e coordenador geral do Instituto Pólis.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Não tem uísque grátis, mas, o comercial é de lambuja.



Sempre se brinca com a frase “não existe almoço grátis”, atribuída – parece que indevidamente – ao economista conservador Milton Friedman.
Bom, também – e muito menos – existe uísque grátis.
Quem se surpreendeu com o comercial do uísque Johnnie Walker sobre o Brasil – muito bem feito, aliás e eu o reproduzo aí em cima – talvez não saiba o que está por trás dele.
É que o Brasil se tornou o maior consumidor desta marca, depois dos Estados Unidos. E deve ultrapassar o volume de vendas nos EUA nos próximos anos, segundo o fabricante.
As vendas mundiais cresceram  11%, mas  no mercado brasileiro quase triplicaram este número, aumentando 30%entre junho do ano passado e junho deste ano. O aumento  do mercado brasileiro de uísques, considerando todas as marcas, foi de 22%.
O mercado é tão promissor que a empresa montou uma diretoria para cuidar do produto aqui e a peça publicitária foi desenvolvida em cima desta perspectiva de mercado.
Claro que os publicitários captaram o sentimento de progresso e afirmação do país para vender o seu “peixe” destilado.
É bom notar que isso não está acontecendo por qualquer favor tributário. Um levantamento do Estadão, em agosto, mostra que um uísque desta marca custa 80% mais caro em São Paulo que em Nova York.
Cada vez que o pessoal do “Cansei” brinda mais um recorde do impostômetro,  paga 61% da dose ao Fisco. Devia ser mais.

Pesquei o texto do Tijolaço

Até os gringos admitem o poderío brasileiro, menos a mídia sabuja e golpista.

Reforma política democrática, só com Constituinte

Durante a campanha eleitoral Lula e Dilma falaram de convocar Assembleia Constituinte exclusiva para a reforma política. Os argumentos a favor são claros: um Congresso eleito pelos benefícios das leis atuais, não iria dar tiro no pé e reformar essas leis.

Terminadas as eleições, não se falou mais no tema. Mesmo com Lula definindo a reforma política como uma das prioridades da sua atuação, não se voltou a mencionar mais a Constituinte. Lula mergulhou nas difíceis e trabalhosas negociações da reforma diretamente com os líderes do Congresso atual.

Logo o PMDB e o PSDB apresentaram suas próprias propostas, que têm em distintas versões do voto distrital seu eixo – retrocessos enormes em relação às precárias formas atuais de representação política. Tudo indica que o fazem sem esperança de que sejam aprovadas, mas para se contrapor o primeiro, e negociar o segundo, com o PT, com algo em mão em torno do qual fazer concessões, em troca de outras tantas por parte do PT e de Lula. Para que finalmente nada mude – condição para que o PMDB continue a ter o peso que tem tido até aqui.

Lula, o governo, o PT, a esquerda – entraram no jogo. Se deixaram levar pela solução mais fácil: negociar com o Congresso e com os partidos como eles existem hoje. Resultado: nem sequer o financiamento público de campanha deve ser aprovado. A reforma política está no limite de ser mais uma vez uma frustração e de termos de conviver com o financiamento privado das campanhas e todo o poder do dinheiro sobre elas; com as candidaturas avulsas em cara partido, em que tantos deles se tornam partidos de aluguel; sem fidelidade partidária, para que o mercado dos mandatos possa seguir correndo solto; para que a deformação da representação atual na Câmara siga favorecendo estados menores, que elegem deputados com dez e quinze menos votos que em outros estados.

Em suma, abandonando a ideia da Assembleia Constituinte autônoma, estamos caminhando para uma grande derrota. Não estaremos aproveitando a grande derrota que impusemos à direita nas eleições de 2010, para eleger uma Assembleia Constituinte com uma composição muito melhor, perdendo a possibilidade de promover uma nova geração de políticos jovens, que representem as camadas emergentes e a juventude.

Se não reconsiderarmos o caminho aparentemente sem saída que trilhamos, faremos de uma vitória, uma derrota, estaremos perpetuando um sistema eleitoral deformado, socialmente injusto, economicamente determinado.

Ainda é tempo. Basta Lula e Dilma se recordarem das posições que defenderam durante a campanha e recolocarem a proposta de convocação de uma Assembleia Constituinte Autonoma. Certamente o PT e os outros partidos de esquerda seguirão por esse caminho e o Brasil poderá renovar, de forma mais acelerada e transparente, seu sistema politica e sua democracia.

Por Emir Sader no site da Carta Maior

domingo, 9 de outubro de 2011

"El Comunista" y "Milonga del Alma" - Alfredo Zitarrosa



Está sentado ahí. Todos saben que es comunista, lo respetan, se sabe, es pobre y rico, generoso al convidar, al envidar y hasta para echar el resto. Confirmo, porque todos sospechan, que tiene miles y miles de compañeros almas y más.

De la frágil materia del olvido,
pétalo a pétalo te alcé, ilusoria,
tan hondo para amar, tan resentido,
que vuelvo el rostro a toda mi memoria.

Pero no quiero en esta mala gana,
verte como a una Alicia en el espejo,
inalcanzable mancha de una plana,
cuando era niño, cuando no era viejo.

La memoria es amante que requiere
un tiempo que no puede ser el mío;
no puedo ser el silbo de lo umbrío,
yo soy el cazador, soy el que hiere.

Jacarandoso árbol de la flor,
que pone azul a toda la plazuela
y que te vio guardándote mi amor,
como a fruto robado, una chicuela.

Y yo, que duermo a veces en el seno
de una bebida con calor de madre
–qué digo, no, tan sólo de comadre–,
amo el valor del que cayó en el cieno.

El amor que blasfema,
atado como un perro a dura estaca
y aleja del costado del poema,
una visión pueril de toma y daca.

El alma tan mentida,
el tiempo frívolo de sacrosanto
viernes de pasión vestido;
la irresponsable llama de la vida
en el pábilo negro de mi canto,
y ese señor olvido, que no olvida,
y ese señor espanto.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A nova luta pela independência

Acossada por uma crise econômica gravíssima, a Europa busca reforçar a aliança histórica com os Estados Unidos, a fim de consolidar e ampliar a sua presença na América Latina e na África – mas isso parece improvável.

Todos os movimentos, diplomáticos e militares, nestes últimos meses, dão nitidez a essa percepção, expressa ainda de maneira discreta por alguns analistas internacionais. Trata-se, conforme a velha imagem, do abraço dos afogados.

Ainda agora, Zapatero, que assumiu o governo com grandes esperanças da esquerda, depois da desoladora atuação da direita, com Aznar, leva a Espanha a integrar o famoso escudo antimísseis dos Estados Unidos, permitindo aos ianques que, para isso, utilizem sua base naval em Rota, na Andaluzia. Essa base, construída em 1953, quando Washington estreitou relações com Franco, seu aliado na guerra fria, ocupa uma área estratégica no Atlântico, fora das águas do Mediterrâneo.

O passo humilhante de Zapatero não revela apenas submissão ideológica, mas erro político, mesmo dentro da consciência burguesa de nação. Como apontou, em seu editorial de hoje, sexta-feira, El País, trata-se de uma provocação à Rússia, que deve ser convencida a influir para que o Irã renuncie a seu projeto nuclear bélico. É claro que os russos, que não nasceram ontem, e conhecem a Europa Ocidental desde Ivã, o Terrível, sabem muito bem a que alvo apontam os foguetes norte-americanos. O fortalecimento de seus laços com o Irã e sua estratégia, a prazo maior, de restabelecer sua influência na Eurásia, com a esperada saída dos ianques do Iraque e do Afeganistão, orienta-lhe a postura. Seu veto à ameaça contra a Síria, ao lado da China, no Conselho de Segurança, é mais do que uma cortesia a Assad.

O quadro internacional, se é preocupante por um lado, com a rearticulação dos velhos imperialistas, é, da mesma forma, oportunidade para a consolidação institucional da União Sulamericana, como passo necessário a aliança mais vasta, que compreenda todos os países do continente ao sul da fronteira com os Estados Unidos. Enfim, é hora da definitiva independência de nossos povos, 200 anos depois da enganosa autonomia patrocinada pela Inglaterra e aprovada pelos europeus no Congresso de Viena.

O momento favorece, também, o retorno à esquerda, depois do desastrado recuo da União Soviética, com a traiçoeira capitulação de Gorbatchev. No mundo inteiro, e também no Brasil, houve o esmorecimento dos partidos de esquerda, com a deserção de conhecidos quadros intelectuais, e a permanência de diminutos núcleos de testemunho e resistência ideológica.

Na Europa, a social-democracia foi fazendo seu giro à direita, que atingiu também os partidos comunistas. O primeiro passo desses antigos partidos comunistas foi o abandono da denominação, como se o adjetivo, de origem tão generosa, se tornasse palavrão imoral. Enfim, parecia triunfante, ad-aeternum, o pensamento único, restaurador do fundamentalismo mercantil do século 17.

Passados trinta anos do reaganismo e vinte anos da Queda do Muro, o mundo desperta e, com ele, se restaura a silhueta de Marx. Teremos que voltar à consciência crítica e à filosofia da práxis, a fim de dar idéias ao movimento de massas que acaba de chegar aos Estados Unidos, e se acelere o processo histórico que, sendo necessário, passa a ser possível.

O Brasil, descontado o otimismo exagerado de alguns, terá de exercer resistência clara ao novo colonialismo, na consolidação da aliança continental, a partir dos mecanismos existentes, como o Mercosul, a Unasul, e o sistema de consultas militares entre os vizinhos. Devemos controlar, sem inibições, a atividade dos capitais estrangeiros. É conto da carochinha supor que o Banco Santander – que teve ontem sua nota rebaixada em diversas praças do mundo – esteja interessado no desenvolvimento autônomo do Brasil e em sua ação decisiva nas questões mundiais. O que os espanhóis pretendem é retornar ao domínio da América Latina, aproveitando-se da debilidade dos Estados Unidos. No âmago de sua arrogância, seus dirigentes acreditam que podem voltar aos séculos 16 e 17, ao tempo de Carlos V e de Filipe II, antes do desastre da Invencível Armada.

Convém recordar que a impetuosa invasão econômica da América Latina, com a compra de empresas nacionais, a partir das privatizações determinadas pelo Consenso de Washington e, no Brasil, pela submissão de Fernando Henrique, tem sido financiada com recursos da União Européia – que deveriam ter tido outro destino.

A nossa oportunidade é agora.

Artigo de Mauro Santayana no site da Carta Maior

Toddynho guasca

terça-feira, 4 de outubro de 2011

‘A regulação é indispensável’

Em uma palestra sobre o atual jornalismo brasileiro na Faculdade Cásper Líbero, na segunda-feira 3, o jornalista Mino Carta, diretor de redação de CartaCapital, defendeu a regulamentação da mídia como forma de controlar os interesses dos proprietários de veículos do setor. “Quando se toca neste assunto, a mídia se apressa em dizer que está sendo tolhida. Porém, trabalhei fora do país em um lugar onde patrão não poderia ser diretor de redação por lei. É indispensável estabelecer esse limite”, disse Carta.
Em palestra sobre o atual jornalismo brasileiro,
diretor de redação de CartaCapital diz que a mídia nacional é omissa.
 Foto: Faculdade Cásper Líbero
Aos 77 anos, o jornalista, criador das revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital e do Jornal da Tarde, afirmou a uma platéia lotada, principalmente por estudantes de jornalismo, que a profissão reflete os atrasos políticos e sociais do País. “Não tenho uma boa opinião do jornalismo brasileiro e isso não deve mudar a curto ou médio prazo”, alfinetou.

Porém, essa visão não desanima a estudante de jornalismo Helena Lima. “É uma análise bem realista, mas não chega a assustar”, observou. “Creio que essa análise pessimista é até comum entre os jornalistas de uma forma geral”, concordou a também estudante Carolina Salomão, de 21 anos.
Segundo Carta, “alguns senhores, donos de veículos de mídia, carregam a herança da Casa Grande. Mostram um país que eles gostariam de ver”. Como exemplo deste posicionamento, cita o episódio ocorrido com o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, na França, na última semana.

Na oportunidade, Lula recebeu o seu sétimo título de doutor honoris causa. A premiação era do Instituto de Estudos Políticos de Paris, o Sciences Po, que concedeu a honraria pela primeira vez a um latino-americano. O diretor de redação de CartaCapital destacou que alguns correspondentes brasileiros na coletiva de imprensa “encarnaram seus patrões e manifestam o ódio de classe”. “Questionaram a decisão de uma respeitada instituição que pesou prós e contras, perguntando como era possível alguém que nunca leu um livro receber um título de doutor.”

A estudante de jornalismo Renata Moura, de 21 anos, concordou com as críticas feitas por Carta à mídia nacional, e aos seus correspondentes a “encarnar seus patrões”. “Acredito que é importante debater esse aspecto de casa grande e senzala e os problemas do jornalismo brasileiro, entre eles o fato de que os donos não deveriam ser diretores de redação.”

O criador de CartaCapital também mostrou-se preocupado com fato de alguns veículos de imprensa não se conscientizarem da importância de levar aos leitores uma informação correta. “É preciso sempre manter a fidelidade canina à verdade factual, mas infelizmente o jornalismo brasileiro atual não a respeita e omite fatos quando não lhe convém que algo venha à tona. Isso quando não mente.”

Carta falou também sobre o dever da imprensa em fiscalizar o poder, que nem sempre está na política. “Entendemos sempre que a política é corrupta, mas há uma via de duas mãos, quem corrompe e quem é corrompido. Nessa operação não existe somente políticos, há os senhores do poder, não só deputados, ministros e senadores.” Em seguida, ironizou: “A nossa corrupção é a mais glamurosa do mundo.”

Opinião
Segundo Carta, há espaço para a opinião no jornalismo, desde que seja feita uma apuração apresentando todas as partes envolvidas. “O espírito crítico nos permite saber que estamos vivos, é uma dádiva”, declarou, apontando que o formato de CartaCapital difere das demais revistas semanais do Brasil por ter uma característica de análise.

Sobre sua carreira, ele destacou a liberdade técnica que teve para fundar o Jornal da Tarde, na década de 60. “O jornal saia às 12h no centro de São Paulo. Era corajoso, bem feito e valorizava as grandes reportagens, além do tom literário. Embora tenha que admitir, o jornal cresceu muito após a minha saída em 1968 para dirigir a Veja, tendo o seu ápice até 1973.”
Em relação à semanal que também fundou, Carta é enfático: “Criei um monstro”. Porém, mantém o bom humor ao ser questionado se, como ex-diretor da revista Quatro Rodas, uma publicação sobre carros, sabe dirigir. “Não sei a diferença entre um Fusca e uma Mercedes. Talvez por isso a revista tenha sido um grande sucesso”, brincou.

O jornalista também falou sobre a internet como ferramenta para buscar informações em mídias alternativas aos grandes veículos de imprensa. “É um instrumento excelente, mas depende de quem está usando”, declarou. “Já tive e abandonei um blog porque por trás desse negócio há uma questão moral. Quem escreve não se identifica, ofende e não mostra quem é ou o que quer.”
Uma característica que, segundo Moura, não deve ser encarada de forma negativa. “Se você é um Mino Carta ou Rubens Paiva, vai ser atacado, mas é importante continuar escrevendo, é apenas mais um aspecto desse meio.”

Artigo do Gabriel Bonis na Carta Capital

Pra economistas e iniciados! Dilma massacra Miriam, vale a pena ver de novo




Pescado  do Conversa Afiada

Líbia livre...

domingo, 2 de outubro de 2011

Corvos e urubus


Repararam que tem gente, que se diz de esquerda, mas que só aparece para criticar a gente de esquerda? Nunca contra a direita, o que quer que esta faça. São especialistas em jogar álcool em qualquer foguinho dentro da esquerda.

Nunca reconhecem vitórias, conquistas, avanços. São apenas prenúncios de derrotas, traições, retornos da direita – cuja culpa será sempre denunciada como responsabilidade da esquerda. Adoram as derrotas, quanto maior, melhor, porque a culpa é dos outros, não importa que o povo seja quem pague o preco.

São ótimos para fazer balanços de derrotas, mas nunca sabem propor alternativas e nunca conseguem dirigir processo algum. São sempre críticos. Espécies de urubus, especialistas em carniças. Corvos, que auguram sempre catástrofes.

Não dá para ter respeito por alguém que se diz de esquerda, mas não está em todas as paradas da luta contra a direita. Aí ficam quietos, espreitando para atacar a esquerda, seja porque não é suficientemente radical, seja porque não derrotou de forma radical e definitiva a direita. Eles mesmos, não são capazes de afetar o poder da direita, nem estão centralmente preocupados com isso, lhes importa sobretudo as “traições” da esquerda.

Numa circunstância grave como a da Bolívia atualmente, por exemplo, colocam para fora o rancor com Evo Morales e sua liderança, como antes tiveram essa atitude contra Lula no Brasil. Todos “traíram”, incluídos Hugo Chaves, Rafael Correa, Pepe Mujica, os Kirchner, Fernando Lugo, Mauricio Funes, só eles são puros. Só que o povo não acha isso, de forma que essa gente nunca consegue formar movimentos populares com forte participação do povo, não dirigem nenhum processo, não conseguem citar um caso em que suas ideias levaram a vitórias e a avanços.

Não elogiam a reforma agrária, a nacionalização das minas, a Assembleia Constituinte postas em prática por Evo. Não apoiam as medidas de política externa soberana do Brasil, no reconhecimento da Palestina, na mediação do Irã, no apoio a Cuba. Só denúncias, porque seu universo não é a luta geral do povo, mas o universo restrito da esquerda. Não fazem luta de massas, só luta ideológica. Não constroem força política para que a esquerda avance, sempre tratam de dividir.

Os conflitos na esquerda, no campo popular, tem que ser discutidos e tratados como conflitos entre tendências de esquerda, mais moderadas ou mais radicais, sem desqualificações que caracterizem os outros como fora do campo da esquerda. Esta atitude é o primeiro passo que leva a assimilar outras tendências da esquerda à direita e assumir equidistância em relação a elas.

Numa situação de crise como a da Bolívia atualmente, tudo o que podemos desejar é que se chegue a um acordo político entre o governo e setores do movimento indígena que estão em enfrentamento aberto. Nem o governo é de direita, nem os movimentos indígenas fazem o jogo da direita. É nesse marco que devemos almejar que sejam enfrentados os conflitos.

Como no Brasil, deve-se criticar o governo e o PT no que se diverge, e apoiar nos pontos comuns. Fazer frente única no que há de comum, a começar na luta contra a direita. E criticar naquilo em que ha divergências. Considerando que são diferenças no campo da esquerda e não é possível equidistância entre o governo e a oposição, o PT e a direita.

Texto do Emir Sader no site da Carta Maior

Las buenas cosas del ....RJ-rock y no cantadas