Gigantescas cápsulas de concreto onde convivem a riqueza desmedida e periferias conflagradas, as cidades brasileiras se agigantam como o repositório do que temos de pior em termos de imprevidência pública, desequilíbrio social e desordem ambiental desconcertante. Enlaça-se aí, em contrapartida, uma densa rede de forças e organizações populares. Abrigam-se em suas entrahas universidades, centros de pesquisa e ONGs --a massa crítica intelectual mais vigorosa da sociedade.
Avulta que a qualidade de vida nesse caldeirão está muito aquém do seu potencial para esquadrejar, planejar e construir soluções inovadoras cobradas pelo colapso das formas de viver e de produzir em nosso tempo.
A urbanização brasileira, a exemplo do que ocorre em maior ou menor grau no resto do mundo, foi capturada pela mesma lógica irracional, que terceirizou aos ditos 'livres mercados' os destinos da economia e do desenvolvimento. A supremacia dos interesses financeiros tem nas cidades seu bunker. A terra urbana é seu pasto de engorda mais cobiçado. Com um agravante.
O ciclo neoliberal aqui aguçou o viés excludente imposto pela ditadura militar, que promoveu um dos mais fulminantes êxodos demográficos da história, associado à expropriaçao de direitos politicos e o banimento reopressivo das organizações sociais. No curto espaço de três décadas, dos anos 70 ao final dos anos 90, mais de 30 milhões de brasileiros foram expulsos do campo para cidades sem cidadania.Não por acaso, segundo dados da ONU-Habitat, o Brasil é hoje um dos país países mais urbanizados do mundo (86,6%). Grandes demografias, como os EUA, por exemplo, levaram um século para concluir a transição campo-cidade percorrida em décadas no caso brasileiro.
Urbanização entre nós é quase um compêndio de desequilíbrios e injustiça social.
Equacionar as várias camadas de desafios aí empilhados requer a aglutinação das energias progressistas nascidas nesse processo. Esse é o objetivo da nova Editoria de Cidades que Carta Maior, que estréia em nossa página neste fim de semana.
Ao escolher a arquiteta Maria Ermínia Maricato para dirigi-la, Carta Maior reafirma a natureza distinta do jornalismo que pratica: um jornalismo crítico, a serviço da transformação social.
Não qualquer transformação. Aquela ordenada por uma democracia verdadeira, capaz de destravar o acesso à riqueza e fazer do bem comum o espaço da convivência virtuosa entre as potencialidades de cada um e o bem-estar de todos.
Sem ilusões: isso não se faz à frio, como sinaliza Ermínia Maricato no texto de apresentação da Editoria (leia no especial 'Cidades em Transe'). Diz ela:
"Embora a agenda social tenha mudado nos últimos nove anos favorecendo ex-indigentes, ex-miseráveis ou simplesmente pobres (bolsa família, crédito consignado, aumento do salário mínimo, Prouni), embora as obras urbanas se multipliquem a partir do PAC e do MCMV, ambos por iniciativa do governo federal, as cidades pioram a cada dia.Distribuição de renda não basta para termos cidades mais justas, menos ainda a ampliação do consumo pelo aumento do acesso ao crédito. É preciso “distribuir cidade”, ou seja, distribuir terra urbanizada, melhores localizações urbanas que implicam melhores oportunidades. Enfim, é preciso entender a especificidade das cidades onde moram mais de 80% da população do país e representam algumas das maiores metrópoles do mundo".
Em resumo, ir além da meritória redução da pobreza para promover a redução da desigualdade implica reformas estruturais. A exemplo da reforma urbana, a agenda do novo ciclo que pede para nascer inclui uma reforma agrária pertinente ao século XXI; uma reforma tributária que abranja o estoque da riqueza acumulada; uma reforma política que alforrie partidos e eleitores do cabresto do financiamento privado de campanhas e amplie os canais de consulta à sociedade; uma reforma financeira que subordine o dinheiro ao imperativo de fornecer crédito e investimento à economia.
Contribuir para pactuar a força dos consensos e agendas reclamados pelo desafio urbano é o propósito desta editoria que não por acaso nasce em meio a um processo de renovação das administrações municipais nas eleições de 2012. A escolha é deliberada, ms compromisso mudancista que não se esgota no calendário oficial do voto.
Avulta que a qualidade de vida nesse caldeirão está muito aquém do seu potencial para esquadrejar, planejar e construir soluções inovadoras cobradas pelo colapso das formas de viver e de produzir em nosso tempo.
A urbanização brasileira, a exemplo do que ocorre em maior ou menor grau no resto do mundo, foi capturada pela mesma lógica irracional, que terceirizou aos ditos 'livres mercados' os destinos da economia e do desenvolvimento. A supremacia dos interesses financeiros tem nas cidades seu bunker. A terra urbana é seu pasto de engorda mais cobiçado. Com um agravante.
O ciclo neoliberal aqui aguçou o viés excludente imposto pela ditadura militar, que promoveu um dos mais fulminantes êxodos demográficos da história, associado à expropriaçao de direitos politicos e o banimento reopressivo das organizações sociais. No curto espaço de três décadas, dos anos 70 ao final dos anos 90, mais de 30 milhões de brasileiros foram expulsos do campo para cidades sem cidadania.Não por acaso, segundo dados da ONU-Habitat, o Brasil é hoje um dos país países mais urbanizados do mundo (86,6%). Grandes demografias, como os EUA, por exemplo, levaram um século para concluir a transição campo-cidade percorrida em décadas no caso brasileiro.
Urbanização entre nós é quase um compêndio de desequilíbrios e injustiça social.
Equacionar as várias camadas de desafios aí empilhados requer a aglutinação das energias progressistas nascidas nesse processo. Esse é o objetivo da nova Editoria de Cidades que Carta Maior, que estréia em nossa página neste fim de semana.
Ao escolher a arquiteta Maria Ermínia Maricato para dirigi-la, Carta Maior reafirma a natureza distinta do jornalismo que pratica: um jornalismo crítico, a serviço da transformação social.
Não qualquer transformação. Aquela ordenada por uma democracia verdadeira, capaz de destravar o acesso à riqueza e fazer do bem comum o espaço da convivência virtuosa entre as potencialidades de cada um e o bem-estar de todos.
Sem ilusões: isso não se faz à frio, como sinaliza Ermínia Maricato no texto de apresentação da Editoria (leia no especial 'Cidades em Transe'). Diz ela:
"Embora a agenda social tenha mudado nos últimos nove anos favorecendo ex-indigentes, ex-miseráveis ou simplesmente pobres (bolsa família, crédito consignado, aumento do salário mínimo, Prouni), embora as obras urbanas se multipliquem a partir do PAC e do MCMV, ambos por iniciativa do governo federal, as cidades pioram a cada dia.Distribuição de renda não basta para termos cidades mais justas, menos ainda a ampliação do consumo pelo aumento do acesso ao crédito. É preciso “distribuir cidade”, ou seja, distribuir terra urbanizada, melhores localizações urbanas que implicam melhores oportunidades. Enfim, é preciso entender a especificidade das cidades onde moram mais de 80% da população do país e representam algumas das maiores metrópoles do mundo".
Em resumo, ir além da meritória redução da pobreza para promover a redução da desigualdade implica reformas estruturais. A exemplo da reforma urbana, a agenda do novo ciclo que pede para nascer inclui uma reforma agrária pertinente ao século XXI; uma reforma tributária que abranja o estoque da riqueza acumulada; uma reforma política que alforrie partidos e eleitores do cabresto do financiamento privado de campanhas e amplie os canais de consulta à sociedade; uma reforma financeira que subordine o dinheiro ao imperativo de fornecer crédito e investimento à economia.
Contribuir para pactuar a força dos consensos e agendas reclamados pelo desafio urbano é o propósito desta editoria que não por acaso nasce em meio a um processo de renovação das administrações municipais nas eleições de 2012. A escolha é deliberada, ms compromisso mudancista que não se esgota no calendário oficial do voto.
Por Saul Leblon, no Blog das Frases da Carta Maior
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