terça-feira, 30 de julho de 2013

A hora da tosquidão

Os homens gostam mesmo é de futebol, de filmes de pancadaria e do enlevante momento em que uma BBB lhe esfrega à cara as protuberâncias do derrière


Esses polifacetados sujeitos que constituem o gênero masculino, sempre tão ricos em interesses, de tanta sofisticação no cultivo de sua Weltanschauung e de sua Kunstfertigkeit, não fazem jus ao que se espera deles quando se trata de disputar com a patroa a posse do controle remoto da tevê. É o que indicam mapas de audiência do Ibope em território canarinho neste primeiro semestre de 2013. Aqui, os homens gostam mesmo é de futebol, de filmes de pancadaria e daquele enlevante momento em que uma BBB, uma Fazendeira, uma Paniquete venham a lhes esfregar à cara as protuberâncias do derrière.

Os dados se referem à tevê aberta, mas não é que eu consiga ver nossa virilidade exposta à prova nos canais de assinatura diante dos saraus aristocráticos de uma Downton Abbey, de concertos sinfônicos ou mesmo de debates políticos que obriguem ao uso de mais do que uma centena de neurônios.

Por outro lado, a última coisa que gostaria de fazer é transformar escolhas televisivas num julgamento moral. Pode ser que Vin Diesel não seja um Marlon Brando, mas que futebol na tevê pode ser eletrizante não há dúvida, em especial quando está em campo aquele timão irremediavelmente vencedor (Corinthians X São Paulo, na Recopa, foi a melhor audiência da Globo em julho, perdendo só para Amor à Vida).

O recorte homem-diferente-de-mulher aparece com nitidez nas emissoras a cabo, pagas e por assinatura. O Multishow com Big Brother, a Fox Sports com a Libertadores, o SporTV com clássicos regionais vêm impregnados pelas urgências da testosterona. Mas nada parece tão revelador de possível mudança na audiência quanto a gradual invasão do público másculo no horário em que donas de casa pilotam panelas do jantar. Os xerifes balofos do crepúsculo dão boas-vindas àqueles que, diante da tevê do boteco, babam a ânsia da truculência com a espuma da cerveja choca.

por Nirlando Beirão          Na Carta Capital

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