terça-feira, 3 de setembro de 2013

Terceiro trimestre “desastroso” não é previsão econômica. É vontade, só

 
O colunista Paulo Moreira  Leite, da Istoé, comenta a reação dos “analistas de economia” ante o crescimento de 1,5% do PIB brasileiro no segundo trimestre do ano, que só ficou abaixo do chinês.
Ele se impressiona como o “muxoxo” da turma da catástrofe.
Nenhuma surpresa, Paulo.
 
Como você mesmo observa, este não é um jogo de lógica.
 
Não há nenhuma lógica em prever um terceiro trimestre desastroso.
 
Os mercados mundiais estão em aquecimento: China, EUA e Europa. O preço das principais commodities de exportação brasileiras, soja e minério de ferro, está em recuperação, depois de cair durante todo o segundo trimestre. A balança comercial inicia uma recuperação que alivia um pouco o déficit em transações correntes do país, que é um dos principais problemas que o câmbio subvalorizado nos trazia.
 
Também a evidenciação, por mais que a mídia o apregoasse, de que não há nenhum descontrole inflacionário vai ajudar a atividade econômica.
 
O jogo é outro, de expectativas.
 
Que, há tempos, apenas variam entre o caos e o desastre nos jornais brasileiros.
Quando Lula foi à TV no final de 2008, pedir que as pessoas confiassem na economia e seguissem transformando em consumo seus ganhos, jogou o jogo anticatastrofista e foi ridicularizado com a “marolinha”.
Não estamos diante de nenhum boom econômico, mas certamente estamos bem longe de um bum!

 

E o pibinho, hein?

Paulo Moreira Leite
 
Três dias depois da notícia, ainda estou chocado com a resposta de nossos analistas de economia diante da descoberta de que o PIB teve um crescimento espetacular no último trimestre, chegando a 1,5%. 
Se você somar os últimos 12 meses, chega-se a um índice total de 3%, o melhor desde a posse de Dilma. 
 
Este dado torna a previsão de 3% de crescimento anual de 2013 bastante realista. Claro que nada está assegurado nas apostaseconômicas nos dias atuais, quando o cenário externo é um horror e o ambiente interno exibe fissuras e sinais de desconfiança. 
 
Ainda assim, seria razoável imaginar que nossos analistas tivessem disposição para bater no peito e fazer autocrítica de forma clara e absoluta. Ninguém enxergou uma dinâmica que se movia na indústria, no comércio, nos serviços… 
Ninguém precisa chegar às humilhações da escola stalinista, onde se formaram tantos analistas convertidos ao conservadorismo na idade adulta, mas seria razoável admitir que seus termômetros perderam a confiabilidade.
 
Nada disso. A reação padrão é apresentar uma serie de poréns, mases, todavias, contudos, para o futuro.
Um deles chegou a escrever, como se fosse uma professorinha de primário segurando a palmatoria, que “finalmente” a economia cresce.
 
Finalmente? O pessoal passou os últimos meses anunciando que o país estava à beira do abismo e agora estamos no “até que enfim”. 
É certo que esse ritmo de 1,5% não será mantido nos próximos meses. Ninguém imagina isso.
 Mas o esforço para transformar a economia num alvo fácil para o ataque da oposição em 2014 torna-se mais difícil.
 
Ao fazer uma aposta econômica errada, nossos analistas cumprem um papel complicado.
 Num universo em que a confiança cumpre uma função essencial, os maus profetas ajudam a transformar o bom em regular, o regular em ruim, o ruim em péssimo.
 Criam um ambiente de desânimo, de falta de vontade, de descrédito. Isso é ruim para o país.
 
A agenda muda. O sujeito que ia ao banco para fazer um empréstimo para ampliar seu investimento para no meio do caminho. Aquele que iria contratar uma nova leva de funcionários coloca as barbas de molho.
 
Os aumentos de salário ficam mais difíceis, as negociações sindicais se mostram mais difíceis e emperradas.
Este é o problema.
 
Por: Fernando Brito
 

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