Em visita ao GHC (Grupo
Hospitalar Conceição) durante a semana, conhececi as modernas e precisas
ferramentas de monitoramento e gestão hospitalar que dispõem o seu Diretor
Superintendente Nery Paes e sua diretoria. A “Sala de Apoio a Gestão
Estratégica” que me foi apresentada, permite que se acompanhe em tempo real,
emergências de hospitais federais em todo o país. Além disso, aqui no GHC é
possível ver o nome de quem está esperando atendimento, quanto tempo de espera,
tempo de consulta, patologia e o médico que atendeu. A tecnologia empregada na
gestão hospitalar é uma aliada pra desmistificar boatos e notícias equivocadas,
principalmente dados de atendimento e tempo de espera em emergências. O “Painel
Estratégico GHC”, definitivamente é um dos mais avançados instrumentos de
monitoramento, gestão e planejamento hospitalar. Obviamente que não poderia deixar de
entrevistar um dos idealizadores da “Escola de Medicina GHC”, confira abaixo a
conversa que tive com o Dr. Carlos Eduardo Ney
Paes.
Eu e Dr. Nery Paes |
- Como se deu e o que compreende o novo
curso de medicina gestado entre o Conceição e os Ministérios da Saúde e
Educação?
Dr. Nery Paes: Desde o ano passado
com orientações do Ministro Padilha, começamos esta prática no Instituto
Federal Fronteira Sul (IFFS) em Passo Fundo. Via de regra, uma escola de
medicina com foco na excelência, capacidade técnica e do contato cotidiano do aluno com o paciente
já no início do curso. Um dos destaques desta modalidade será a composição
social dos alunos, todos oriundos da escola pública e 100% do ingresso via
ENEM. Da mesma forma pretendemos na Escola de Medicina do GHC. Temos acumulo e
estrutura pra isso, não por acaso todos alunos de medicina do RS passam pelo
GHC, somos parte deste currículo.
- Existe uma previsão de quando terá
inicio o curso e qual a forma de ingresso aqui no GHC?
Dr. Nery Paes:
Estamos envidando todos os esforços pra que já em 2015 a Escola GHC de medicina
seja realidade. E será. O ingresso será via ENEM, alunos de escola publica e
composição social multifacetada, ou seja, todas as cotas serão contempladas.
- Os moldes propostos pelo Curso de
Medicina voltado à medicina da família com ênfase no atendimento da rede
pública do SUS, é uma forma de reparar a formação de médicos brasileiros que
nos últimos anos tem optado por especializações medicas mais "rentáveis e
sofisticadas" ?
Dr. Nery Paes: Veja bem; A medicina
se tornou mundialmente cara, foi agregado a ela muita tecnologia, equipamentos
caríssimos e isso é bem vindo. Entretanto, existe uma massificação de
encaminhamentos, por vezes desnecessários pra simplesmente cobrir os custo
destes. Nossa intenção é interferir, não
na tecnologia, mas privilegiar os investimentos na atenção básica, construção
de novas unidades e atendimento na ponta.
- Na sua visão, a carência de médicos
generalistas os famosos médicos de família contribui para dificuldades de
estabelecer uma rede de atendimento mais efetiva que atenda e de conta da
atenção básica?
Dr. Nery Paes: Na imensidão do
Brasil, existe um universo de 15% dos municípios que não tem um único médico,
ou seja 701 municípios . A média de médicos no país é de 1,8 X1000 habitantes,
temos um déficit de 180 mil médicos e pretendemos chegar a média de 2,8 médicos
por mil habitantes. Pra além destes índices, médicos generalistas no Brasil são
em quantidade menores ainda e pra formação completa de generalista, demandaria
mais tempo na graduação e residência médica.
- O senhor faz parte de um grupo de médicos
que apoiam e defendem o #MaisMédicos. Porque existe tanta resistência dos
conselhos com relação ao programa?
Dr. Nery Paes: Creio que sejam os
interesses corporativos que se impõem, mas principalmente de ordem ideológica.
Algumas entidades e conselhos de medicina criaram um fosso entre o médico e a
população, apesar de alguns médicos não concordarem com esta prática. Isso
expõem uma contradição entre sindicato
médico e os interesses e necessidades reais da população. Outro equívoco é a
tentativa de reduzir o programa #MaisMédicos apenas ao número de profissionais,
o programa é amplo e pretende mudar o paradigma do atual sistema de saúde do
Brasil. É lamentável, mas é uma pauta que vamos superar.
- Qual a expectativa depois da formação destes primeiros médicos?
Dr. Nery Paes: Nossa expectativa e
meta é atender a todos os brasileiros, com celeridade e acompanhamento
familiar. Entretanto, o Programa #MaisMédicos é uma resposta imediata que
daremos, primeiramente com médicos brasileiros que se increveram no programa,
médicos estrangeiros que estão vindo e ainda o convênio com a OPAS e MS que
deverá trazer ao Brasil de 3 à 4 mil médicos cubanos que se juntarão a estes.
De imediato estamos construindo mais de 3 mil UBS (unidades Básicas de Saúde) e
ampliando e reformando outras 11 mil UBSs além de 618 hospitais .
- Em
que consiste a parte da formação destes médicos no exterior?
Dr. Nery Paes: Esta etapa de
graduação destes médicos será similar ao Programa Ciência sem Fronteiras,
permitirá o conhecimento de novos métodos de sucesso em países como a
Inglaterra, Canadá e principalmente na Espanha, onde o atendimento público é
baseado no acompanhamento de ciclos de vida do paciente. A saúde familiar
privilegiada, além de ter um período de residência média maior que a nossa.
- Durante o processo de implantação do
#MaisMédicos estamos acompanhando as manifestações das entidades médicas que
dizem que o problema não é a falta de médicos, e sim a falta de estrutura e
condições de trabalho, o MS e o próprio ministro Padilha concordaram com parte
destas afirmações, como o senhor como médico enxerga este problema de estrutura
da rede de saúde pública no Brasil e o que está sendo feito para mudar esta
realidade, e o que falta ainda a fazer?
Dr Nery Paes; Como disse
anteriormente, os problemas existem de toda ordem, entretanto a falta de
médicos é notória, temos déficit e contraditoriamente temos cidades/regiões
onde existe muita concentração de médicos em relação a população. São estes os exemplos distorcidos que são
argumentados por quem não admite o #MaisMédicos. De outra monta, estamos
recuperando hospitais, construindo novas UBSs e equipamentos.
- Esta experiência deverá se espalhar pelo
Brasil ou será específica pra Região Sul?
Dr. Nery Paes: Na
verdade o pioneirismo é nosso, mas esta experiência será desenvolvida em todo
país, onde houver a necessidade e as condições pra que se estabeleçam Escolas
de Medicina nestes moldes.
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