Esse é um texto ao qual dedico um tempo que eu não tinha. Mas que dedico esse tempo por entender ser um texto necessário, não apenas para ressaltar uma posição mas também para dialogar com bons companheiros que defendem outra abordagem.
Quero explicar aqui os motivos pelos quais não me engajei na campanha do Sindicato dos Jornalistas do RS, "Sem jornalista não tem informação".
Em primeiro lugar, discordo da frase fundamental da campanha. O que é jornalista? Quem reproduz as informações a partir de determinada técnica? Mas que técnica é essa através da qual as palavras são usadas para atacar movimentos sociais, para manter a organização social injusta, para defender o opressor? É a mesma técnica que uso para fazer o oposto? Não pode ser. Não sei se o jornalismo acabou, mas algo sem dúvida está mudando com a internet, mesmo que a estrutura midiática brasileira siga inalterada. Quando essa estrutura for mexida, bom, aí sim o questionamento sobre o que é o jornalista será não só presente, mas básico. Todos somos jornalistas. Com ou sem diploma, com ou sem emprego de jornalista. Todos produzimos informação, de acordo com nossos próprios óculos, nossas próprias técnicas, nossa próprias limitações pessoais e/ou impostas pelo meio. Cada vez mais, ou todos somos jornalistas ou ninguém mais é.
Com a produção de informação democratizada - e é isso o que busco - "o bailan todos o no baila nadie".
Nesse sentido, toda informação disponibilizada se coloca em disputa com as outras. Disputa por destaque, por um lado, mas, fundamentalmente, disputa ideológica. É "invasão" ou "ocupação"? Isso não está dado. Está em disputa.
Me considero, sim, um jornalista. Mas, antes disso, sou um ser humano. A "ética do jornalista não é diferente da ética do marceneiro". E, no meio do caminho entre ser um ser humano e ser um jornalista, sou um militante social. Quer dizer, atuo politicamente de forma consciente em busca de um fim. Sou um jornalista na medida em que a forma pela qual atuo politicamente é, fundamentalmente, a transmissão de informações.
Os jornalistas que trabalham nos conglomerados de comunicação, de uma forma ou de outra estão do outro lado. Conscientes ou não do papel que desempenham, estão a serviço do aparelho ideológico das elites. Os que lá se infiltram tentando "mudar por dentro" estão tentando, estão, de certa forma, do meu lado, mas escolheram uma trincheira que, no fim das contas, nos coloca em posições frontais. Os outros se dividem em dois: os que estão lá achando que o que fazem as empresas para as quais trabalham é neutro, imparcial, informação pura, e todo o resto é publicidade; e os que sabem muito bem que tudo isso é uma grande bobagem, que a visão sobre o mundo está em constante disputa entre os "de baixo" e os "de cima", e que não é possível escolher não estar em nenhum dos lados.
Não vejo o jornalismo como uma simples transmissão de informações brutas. As informações são preparadas e transmitidas a partir do viés de quem a prepara e transmite, e esse viés é construído pelo indivíduo e por todo o meio que está em sua volta. Conscientemente ou não, o que se dá é uma disputa, inserida na dinâmica da luta de classes, em que a mídia empresarial é o aparelho ideológico dos dominantes, e a mídia alternativa precisa ser o aparelho ideológico dos dominados.
Não posso, enquanto militante social, defender aumento de salário ou melhores condições de trabalho para quem trabalha para o outro lado. Seria como soldados entrarem em greve por melhores condições para os soldados adversários. Não faz qualquer sentido. Ao mesmo tempo, não poderia ser coerente enquanto militante socialista se defendesse aumento do piso para jornalistas enquanto o salário mínimo não chega à metade desse piso. Lamento se não compreendi algo no caminho, mas não posso defender melhores condições de trabalho para quem atua - ou trabalha para uma empresa que atua - sistematicamente contra os trabalhadores.
Por tudo isso, a camisa e o boné que visto são outros, com todo o respeito aos bons companheiros que estão à frente ou participando dessa campanha. Não visto a mesma camisa que vestem os cães de guarda dos barões da mídia, ainda que, por diversas razões, jornalistas "do lado de cá" o façam.
Antes de ser jornalista, sou um militante. Não tenho "colegas", tenho companheiros de luta.
O texto é do Jornalista Alexandre Haubrich Editor do JornalismoB
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