segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Lacerda na atualidade, a imprensa e o golpe




Lendo os grandes portais de notícias, jornais impressos, telejornais, revistas e até mesmo ouvindo rádio, é impossível não se lembrar de Carlos Lacerda, da UDN e dos golpistas orquestrados pela mídia da época e em particular no jornal “Tribuna da Imprensa” (sic) e do sentimento plantado por eles contra o “Getulismo” daquela época e a similaridade do que ocorre diuturnamente na mídia de hoje contra Dilma, Lula e, via de regra,  do anti-petismo implementado a partir dos grandes monopólios de comunicação no Brasil.

Quero me deter nos anos de 1950 e a partir dele. Neste período, o jornalista e político Carlos Lacerda assumiria nacionalmente o papel de um dos principais opositores (se não o maior) a Getúlio Vargas e seus herdeiros políticos.

É importante contextualizar esta história “Lacerdista”, durante a longa e polêmica discussão sobre a exploração e refino do petróleo no Brasil já no governo Dutra, Lacerda foi demitido do jornal Correio da Manhã em maio de 1949 em função a vários artigos agressivos contra Grupo Soares Sampaio, cuja família era amiga íntima de Paulo Bittencourt, proprietário do jornal. Em 27 de dezembro, no mesmo ano, nasce o Jornal Tribuna da Imprensa graças a uma grande mobilização de políticos udenistas, católicos conservadores como Gustavo Corção e de grupos empresariais vinculados ao capital externo ante o nacionalismo que começava a tomar conta de setores do Exército e da própria burguesia industrial, e que conseguiria paralisar a tramitação de um projeto governamental que garantiria participação de investimentos estrangeiros na exploração do petróleo.

Quando da aproximação do pleito presidencial de 1950, havia uma grande movimentação dentro (e fora) da UDN contra a candidatura do então Senador Getulio Vargas. Ataques virulentos viriam, quotidianamente, do jornalista Carlos Lacerda; este se torna - dentro da UDN e fora dela - a encarnação militante do antigetulismo, nada poupando a figura de Getúlio Vargas, a quem se referia em termos bem distantes da tradicional elegância dos bacharéis udenistas: "Esse traidor profissional aí está (...) morrerá algum dia de morte convulsa e tenebrosa. Pois ninguém como ele para morrer de morte indigna, da morte de mãos aduncas em busca do Poder, ó pobre milionário de Poder, ó insigne tratante, ó embusteiro renitente! Ele louva e lisonjeia um povo que, de todo o seu ser, ele despreza. Ele não tem com o povo senão a mesma relação que teve com esse mesmo povo a tuberculose, a febre amarela, a sífilis. É uma doença social, o getulismo". (Tribuna da lmprensa, 12/8/1950).


Através do jornal Lacerda atacava Vargas com ameaças de uma Guerra Civil iminente caso este fosse reeleito, nada diferente do que a mídia monopolista faz com Dilma todos os dias em seus veículos, sejam eles escritos, televisados ou radiofônicos. É imperativo lembrar-se da célebre frase, eternizada pelo Lacerdismo;  “O Sr. Getúlio Vargas senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”.

Quando observo que o cenário é similar quanto ao comportamento da imprensa, observem que também na época o petróleo estava no centro da discussão  e o capital estrangeiro aliado aos conservadores e entreguistas  já faziam a disputa pela Petrobras.


Portanto, não pode haver ingenuidade ao se ler manchetes  e verticalizações destas,  de norte a sul, e achar que são apenas “coincidências” da mídia nacional. São pautas concertadas. Não são coincidências, Temos know-how sobre golpes, direita, conservadores, fascistas e conhecemos a escola da mídia na ditadura. Sejamos, portanto, vigilantes. 

Um comentário:

  1. A análise é muito pertinente. Acredito que a mídia não existe por si só, não é um órgão independente, isolado e dissociado dos conglomerados capitalistas que formam um poder, econômico e político, acima das instituições. É o primeiro poder, portanto, na era da sociedade de informação que vivemos. A mídia é o porta-voz dos grupos que associam os privilegiados.

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