terça-feira, 23 de junho de 2009

Irã: A mentira das "eleições roubadas"


"Mudança para os pobres significa comida e empregos, não um código de vestuário descontraído ou recreações diversas... A política no Irão é muito mais sobre guerra de classe do que sobre religião". Editorial do Financial Times, 15/Junho/2009 - Por James Petra-

Introdução

Dificilmente haverá qualquer eleição, na qual a Casa Branca tenha um interesse significativo, em que a derrota eleitoral do candidato pró EUA não seja denunciada como ilegítima por todos os políticos e mass media da elite. Nos últimos tempos, a Casa Branca e os seguidores gritaram infracção após as livres (e monitoradas) eleições na Venezuela e em Gaza, enquanto alegremente fabricaram um "êxito eleitoral" no Líbano apesar do facto de a coligação liderada pelo Hezbollah ter recebido mais de 53% dos votos.

As eleições concluídas a 12 de Junho de 2009 no Irão são um caso clássico. O candidato à reeleição, o nacionalista-populista presidente Mahmoud Ahmadinejad (MA) recebeu 63,3% da votação (ou 24,5 milhões de votos), ao passo que o principal candidato da oposição liberal, apoiado pelo Ocidente, Hossein Mousavi (HM) recebeu 34,2% (ou 13,2 milhões de votos).

A eleição presidencial iraniana atraiu um comparecimento recorde de mais de 80% do eleitorado, incluindo uma votação sem precedentes 234.812 do estrangeiro, na qual HM obteve 111.792 e MA 78.300. A oposição liderada por HM não aceitou a sua derrota e organizou uma série de manifestações de massa que se tornaram violentas, resultando na queima e destruição de automóveis, bancos, edifícios públicos e confrontações armadas com a polícia e outras autoridades. Quase todo o espectro de fazedores de opinião ocidentais, incluindo todos os grandes media electrónicos e impressos, os principais sítios web liberais, radicais, libertários e conservadores, reflectiram a queixa da oposição de fraude eleitoral desenfreada. Neo-conservadores, conservadores libertários e trotsquistas juntaram-se aos sionistas louvando os protestários da oposição como a guarda avançada de uma revolução democrática. Democratas e republicanos condenaram o regime, recusaram-se a reconhecer o resultado da votação e louvaram os esforços dos manifestantes para subverter o resultado eleitoral. O New York Times, a CNN, o Washington Post, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel e toda a liderança dos presidentes das principais organizações judias americanas clamaram por sanções mais duras contra o Irão e anunciaram o proposto diálogo de Obama com o Irã como esforço inútil.

A mentira da fraude eleitoral

Os líderes ocidentais rejeitaram os resultados porque "sabiam" que o seu candidato reformista não podia perder... Durante meses publicaram entrevistas diárias, editoriais e reportagens de campo "pormenorizando" os fracassos da administração de Ahmadinejad. Mencionaram o apoio de clérigos, antigos oficiais, comerciantes do bazar e acima de tudo mulheres e jovens de cidades fluentes em inglês para provar que Mousavi estava destinado a uma vitória esmagadora. Uma vitória de Mousavi foi descrita como uma vitória das "vozes moderadas", pelo menos na versão da Casa Branca daquele vago cliché. Eminentes académicos liberais deduziram que a contagem de votos fora fraudulenta porque o candidato da oposição, Mousavi, perdeu no seu próprio enclave étnico entre os azeris. Outros académicos afirmaram que o voto da juventude" – baseado nas suas entrevistas com estudantes universitários da alta e média classe média das vizinhanças do Norte de Teerão eram esmagadoramente a favor do candidato "reformista".

O que é espantoso acerca da condenação universal do Ocidente do resultado eleitoral como fraudulento é que nem uma única partícula de evidência, tanto na forma escrita como de observação, foi apresentada tanto antes como uma semana após a contagem de votos. Durante toda a campanha eleitoral, nenhuma acusação crível (ou mesmo dúbia) de interferência junto aos eleitores foi levantada. Como os media ocidentais acreditaram na sua própria propaganda de uma vitória intrínseca do seu candidato, o processo eleitoral foi descrito como altamente competitivo, com debates públicos candentes e níveis sem precedentes de actividade pública e desembaraçada pelos prosélitos dos candidatos. A crença numa eleição livre e aberta era tão forte que os líderes ocidentais e os mass media acreditaram que o seu candidato favorito venceria.

Os media ocidentais confiaram nos seus repórteres que cobriam a manifestações de massa dos apoiantes da oposição, ignorando e subestimando o enorme comparecimento a favor de Ahmadinejad. Pior ainda, os media ocidentais ignoraram a composição de classe das manifestações competidoras – o facto de que o candidato à reeleição estava a ter o apoio da muito mais numerosa classe trabalhadora pobre, camponeses, artesões e empregados de sectores públicos ao passo que o grosso dos manifestantes da oposição provinha de estudantes da classe alta e média, da classe dos negócios e dos profissionais.Além disso, a maior parte dos líderes de opinião e repórteres ocidentais baseados em Teerão extrapolou as suas projecções a partir das suas observações na capital – poucos aventuraram-se nas províncias, cidades e aldeias de pequena e média dimensão, onde Ahmadinejad tem a sua base de massa de apoio. Além do mais, os apoiantes da oposição eram uma minoria activista de estudantes facilmente mobilizada para actividades de rua, ao passo que o apoio de Ahmadinejad provinha da maioria da juventude trabalhadora e donas de casa que exprimiriam o seu ponto de vista na urna eleitoral mas tinham pouco tempo ou inclinação para empenhar-se em política de rua.





Um certo número de sabichões dos jornais, incluindo Gideon Rachmn do Financial Times, apresenta como evidência de fraude eleitoral o facto de Ahmadinejad ter ganho 63% dos votos numa província de língua azeri contra o seu oponente, Mousavi, de etnia azeri. A suposição simplista é que a identidade étnica ou a pertença a um grupo linguístico é a única explicação possível do comportamento eleitoral, ao invés de outros interesses sociais ou de classe.
Um olhar mais atento ao padrão de votação na região Leste-Azerbaijão do Irão revela que Mousavi venceu apenas na cidade de Shabestar entre as classes alta e média (e apenas por uma pequena margem), dado que foi completamente derrotado nas áreas rurais mais vastas, onde as políticas redistributivas do governo Ahmadinejad ajudaram os de etnia azeri a cancelarem dividas, obterem créditos baratos e empréstimos fáceis para os agricultores. Mousavi venceu na região do Azerbaijão Ocidental utilizando suas ligações étnicas para ganhar os eleitores urbanos. Na altamente populosa província de Teerão, Mousavi bateu Ahmadinejad nos centros urbanos de Teerão e Shemiranat ao ganhar o voto dos distritos da classe média e alta, ainda que tenha perdido duramente nos subúrbios adjacentes da classe trabalhadoras, pequenas cidades e áreas rurais.
A ênfase descuidada e distorcida sobre "votação étnica" citada por redactores do Financial Times e do New York Times a fim de apresentar a vitória de Ahmadinejda como uma "eleição roubada" é acompanhada pela obstinada e deliberada vontade dos media de recusarem um rigoroso inquérito de opinião à escala nacional efectuado por dois peritos dos EUA apenas três semanas antes da votação, o qual mostrava Ahmadinejad a liderar por uma margem de 2 para 1 – ainda maior do que a sua vitória eleitoral de 12 de Junho. Este inquérito revelava que entre os de etnia azeri Ahmadinejad era favorecido por uma margem de 2 para 1 em relação a Mousavi, demonstrando como os interesses de classe representados por um candidato podem ultrapassar a identidade étnica do outro candidato ( Washington Post, 15/Junho/2009). O inquérito também demonstrava como as questões de classe, dentro de grupos etários, eram mais influentes na moldagem de preferências políticas do que o "estilo de vida geracional". De acordo com este inquérito, mais de dois terços da juventude iraniana era demasiado pobre para ter acesso a um computador e aqueles com idade dos 18 aos 24 anos "incluíram o bloco eleitoral mais forte a favor de Ahmadinejad entre todos os outros grupos" ( Washington Post, 15/Junho/2009).
O único grupo de apoiou fortemente Mousavi foi o dos estudantes universitários e dos licenciados, donos de negócios e classe média alta. O "voto da juventude", o qual os media ocidentais louvou como "pró reformista", era uma clara minora de menos de 30% mas veio de um grupo altamente privilegiado, eloquente e que em grande parte falava inglês, com um monopólio sobre os media ocidentais. A sua presença esmagadora nas reportagens ocidentais criou o que foi mencionado como o "Síndroma de Teerão Norte", o confortável enclave da classe alta do qual provieram muitos destes estudantes. Se bem que eles pudessem ser articulados, bem vestidos e fluentes em inglês, no segredo da urna eleitoral foram profundamente derrotados.
Na generalidade, Ahmadinejad saiu-se muito bem nas províncias produtoras de petróleo e petroquímica. Isto pode ter sido um reflexo da oposição dos trabalhadores do petróleo ao programa "reformista", o qual incluía propostas para "privatizar" empresas públicas. Da mesma forma, o presidente em exercício saiu-se muito bem junto às províncias fronteiriças devido à sua ênfase no fortalecimento da segurança nacional em relação às ameaças estado-unidenses e israelenses depois de uma escalada de ataques terroristas transfronteiriços patrocinados pelos EUA a partir do Paquistão e de incursões apoiadas por Israel a partir do Curdistão iraquiano, as quais mataram grande número de cidadãos iranianos. O patrocínio e o financiamento maciço dos grupos por trás destes ataques é uma política oficial dos EUA desde a administração Bush, a qual não foi repudiada pelo presidente Obama. De facto, ele escalou-a como preparação para as eleições.
O que os comentadores ocidentais e os seus protegidos iranianos ignoraram é o impacto poderoso que as devastadoras guerras dos EUA e a sua ocupação do Iraque e do Afeganistão têm sobre a opinião pública iraniana: a posição forte de Ahmadinejad em matéria de defesa contrastou com a postura pró ocidental e fraca de muitos dos propagandistas da campanha da oposição.
A grande maioria dos eleitores favoráveis ao presidente em exercício provavelmente sentiu que os interesses da segurança nacional, da integridade do pais e do sistema de previdência social, com todas as suas falhas, podiam ser melhor defendidos e melhorados com Ahmadinejad do que com os tecnocratas das classe alta apoiados pela juventude privilegiada orientada para o ocidente que aprecia mais os estilos de vida individualistas do que os valores da comunidade e solidariedade.
A demografia dos votos revela uma polarização de classe real contrapondo capitalistas individualistas de alto rendimento e orientados para o mercado livre à classe trabalhadora, de baixo rendimento, apoiantes de uma "economia moral" baseada na comunidade na qual a usura e a especulação são limitadas por preceitos religiosos. Os ataques abertos de economistas da oposição às despesas do governo com a previdência, com o crédito fácil e com os pesados subsídios a alimentos básicos não os favoreceram junto à maioria dos iranianos beneficiários daqueles programas. O Estado era encarado como o protector e benfeitor dos trabalhadores pobres contra o "mercado", o qual representava riqueza, poder, privilégio e corrupção. O ataque da oposição à "intransigência" da política externa do regime e a posições "isolando" o Ocidente só tinha eco junto a estudantes liberais da universidade e grupos de negócios do import-export. Para muitos iranianos, o fortalecimento militar do regime foi vista como tendo impedido um ataque dos EUA ou de Israel.
A escala do défice eleitoral da oposição deveria contar-nos quão fora de sintonia ela está em relação às preocupações vitais do seu próprio povo. Deveria recordar-nos que ao mover-se para mais perto da opinião ocidental, ela removeu-se dos interesses quotidianos da segurança, habitação, emprego e preços subsidiados dos alimentos que tornam a vida tolerável para aqueles que vivem abaixo da classe média e do lado de fora dos portões privilegiados da Universidade de Teerão.
O êxito eleitoral de Ahmadinejad, visto na perspectiva do contexto histórico, não deveria surpreender. Em competições eleitorais semelhantes entre nacionalistas-populistas contra liberais pró ocidentais, os populistas ganharam. Os exemplos passados incluem Perón na Argentina e, mais recentemente, Chávez da Venezuela, Evo Morales na Bolívia e mesmo Lula da Silva no Brasil, todos eles tendo demonstrado uma capacidade para assegurar margens próximas ou mesmo superiores a 60% em eleições livres. As maiorias votantes nestes países preferem a previdência social em relação a mercados sem restrições, a segurança nacional e não alinhamentos com impérios militares.
As consequências da vitória eleitoral de Ahmadinejad estão abertas a debate. Os EUA podem concluir que continuar a apoiar uma minoria barulhenta, mas pesadamente derrotada, tem poucas perspectivas de assegurar concessões sobre o enriquecimento nuclear e um abandono do apoio do Irão ao Hesbollah e ao Hamas. Uma abordagem realista seria abrir uma discussão ampla com o Irão e reconhecer, como o senador Kerry destacou recentemente, que o enriquecimento de urânio não é uma ameaça existencial para ninguém. Esta abordagem diferiria agudamente daquela dos sionistas americanos, incorporada no regime Obama, que segue a orientação de Israel de pressionar por uma guerra antecipativa com o Irão e que utiliza o argumento especiosos de que nenhuma negociação é possível com um governo "ilegítimo" em Teerão que "roubou uma eleição".
Acontecimentos recentes sugerem que líderes políticos na Europa, e mesmo alguns em Washington, não aceitam a linha dos mass media sionistas de "eleições roubadas". A Casa Branca não suspendeu a sua oferta de negociações com o governo recém-eleitos mas centrou-se ao invés na repressão dos protestatários da oposição (e não na contagem de votos). Da mesma forma, os 27 países da União Europeia exprimiram "séria preocupação acerca da violência" e apelaram a que "as aspirações do povo iraniano sejam alcançadas através de meios pacíficos e que a liberdade de expressão seja respeitada" ( Financial Times, 16/Junho/2009, p.4). Excepto quanto a Sarkozy da França, nenhum líder da UE questionou o resultado da votação.
A interrogação na sequência das eleições é a resposta israelense. Netanyahu assinalou aos seus seguidores sionistas americanos que eles deveriam utilizar o ardil da "fraude eleitoral" para exercer a máxima pressão sobre o regime Obama no sentido de acabar com todos os planos para encontrar-se com o novamente reeleito Ahmadinejad.
Paradoxalmente, comentaristas estado-unidenses (da esquerda, direita e centro) que "compraram" a mentira da fraude eleitoral estão de forma não intencional a proporcionar a Netanyahu e seus seguidores americanos argumentos e falsificações: Onde eles vêm guerras religiosas, nós vemos guerras de classe; onde eles vêem fraude eleitoral, nós vemos desestabilização imperial.
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© Copyright James Petras, Global Research, 2009
O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=14018 Este artigo encontra-se em http://resistir.info/petras/petras_18jun09.html .


quinta-feira, 11 de junho de 2009

Toda gurizada lá


Jobim, ministro da Defesa, foge dos militares

Jobim se acovardou diante dos subordinados
Amigo navegante telefona e chama a atenção para nota na pág. A2 de O Globo:


“Jobim pisa em ovos – Na comemoração dos dez anos do Ministério da Defesa, ontem, o Ministro (serrista (*) – PHA) Nelson Jobim pulou trecho do discurso escrito para não melindrar os militares. Essa parte falava da submissão militar ao Governo civil: ‘Sua existência (do Ministério da Defesa) afirma o conceito de que as instituições militares devem se subordinar ao governo civil constitucionalmente eleito, além de sustentar o país e o Estado …”

É o que se chama de “covardia moral”, diz o amigo navegante.
Que saudades do Waldyr Pires, que chamava a ditadura de ditadura.

(*) Nelson Jobim é aquele que produziu uma “babá eletrônica” com a qual o presidente que tem medo, o presidente Lula, enforcou o inclito delegado Paulo Lacerda, aquele que deu início à prisão do passador de bola, Daniel Dantas.
Nelson Jobim é o que janta no Antiquarius, no Leblon, no Rio, com o sócio de Daniel Dantas, o “doutor” Carlinhos Rodemburgo.
Nelson Jobim é aquele que achou pedaços do avião da Air France e a Aeronáutica fez ele de bobo.
Nelson Jobim é aquele que, ao ser convidado pelo presidente Lula para Ministro, a primeira coisa que fez foi ligar para o José Serra, que ligou para a coluna Painel da Folha (**) para dar o furo.
Nelson Jobim é aquele que confessou ao Estadão ter incluído artigo não votado na Constituição de 88.
Nelson Jobim foi quem ajudar a nomear para o Supremo Gilmar Dantas (***), Ellen Gracie e Carlos Alberto Direito.
Nelson Jobim foi Ministro da Justiça de Fernando Henrique, que o nomeou para o Supremo.
Nelson Jobim, Gilmar Dantas (***), Fernando Henrique e José Serra já disseram que são contra a revisão da Lei da Anistia para prender o Coronel Ustra.
Nelson Jobim é o que sempre foi.
E o Presidente Lula o nomeou …
(**) Folha é aquele jornal da “ditabranda”, do câncer do Fidel, da ficha falsa da Dilma, de Aécio vice de Serra, e que nos anos militares emprestava os carros de reportagem aos torturadores.
(***) Preste atenção à forma de o inigualável jornalista Ricardo Noblat referir-se a Ele

leia mais no Coversa Afiada

Lula vai emprestar ao FMI. Da série “Agora FHC corta os pulsos”


O Brasil emprestará US$ 10 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI). É a primeira vez que isso ocorre, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O financiamento será feito através da aquisição do bônus do FMI. Os títulos estão sendo preparados e serão expressos em Direito Especial de Saque (DES), uma espécie de moeda do Fundo.
“Assim que o fundo terminar de produzir esses bônus, estaremos fazendo esse aporte de US$ 10 bilhões. Na verdade, é uma aplicação que o Brasil está fazendo de suas reservas e dando uma disponibilidade financeira para o FMI”, disse Guido Mantega, ao fazer o anúncio da operação. O governo brasileiro tem atualmente US$ 204 bilhões nas reservas internacionais do país.

Segundo a Bloomberg, Brasil e Rússia compram cada um US$ 10 bilhões de moeda do FMI para se livrar dos títulos do Tesouro americano.
Ainda segundo a Bloomberg, a China lidera esse movimento dos BRICs de reduzir a dependência aos títulos americanos.
O Farol de Alexandria quebrou o Brasil três vezes e visitou o FMI mais do que foi à casa da sogra.
Agora ele corta os pulsos.

terça-feira, 9 de junho de 2009

RS regride a olhos vistos


Déficit zero: Estado tem os piores índices de educação infantil do Brasil

O Rio Grande do Sul é o 19o Estado do Brasil no ranking que aponta os investimentos em Educação Infantil. Com base no Censo Escolar do ano passado, o levantamento foi elaborado pelo Tribunal de Contas do Estado e mostra que a taxa de crianças atendidas pela Educação Infantil no Estado é de 28,18%, enquanto no Brasil a taxa é superior á 34%.

Para piorar, a taxa de atendimento pré-escolar é de 48,49%, sendo o pior índice do País. A informação é da Agência Chasque.

A governadora se chama Yeda Rorato Crusius, filiada ao PSDB, e apoiada por uma coligação de direita formada pelo PMDB, PP, PPS, PTB, etc., bem como por deputados oportunistas e aproveitadores de outras legendas partidárias do conservadorismo guasca.

Foto: governadora Yeda com o empresário e articulador político de bastidores, Jorge Gerdau Johannpeter.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Teoria e história do marxismo



No livro "Marxismo e filosofia", Karl Korsch aborda o lugar do marxismo na história da filosofia e o papel da filosofia na gênese e estrutura da obra de Marx e Engels. Seu ponto de partida consiste na observação de que o marxismo era ignorado ou pouco mencionado nos livros de história da filosofia. O artigo de Ricardo Musse, professor do Departamento de Sociologia da USP, inaugura a parceria firmada entre a Carta Maior e o Jornal de Resenhas.
Ricardo Musse - Jornal de Resenhas

"Marxismo e filosofia" foi publicado em 1923. Antes de adquirir a forma de livro, saiu no periódico editado por Carl Grünberg, o “Arquivo de história do socialismo e do movimento dos trabalhadores”, que se tornou no ano seguinte o órgão oficial do recém instalado Instituto de Pesquisas Sociais da Universidade de Frankfurt.

Nesse mesmo ano, Georg Lukács publicou História e consciência de classe. A afinidade de temas e propósitos entre os dois autores – patente na condenação em bloco de ambos no V Congresso da Terceira Internacional – permitiu que, décadas depois, esses livros fossem considerados os marcos de fundação do marxismo ocidental (ao lado de Cadernos do cárcere, de Antonio Gramsci, cuja redação é posterior).


Como o título indica, Karl Korsch debruça-se sobre a questão, até então praticamente ignorada, da relação entre marxismo e filosofia. Seu pioneirismo na escolha e desenvolvimento do tema permite que se vislumbre a dimensão do impacto, direto e indireto, do livro. Afinal, a partir de então, a discussão teórica do marxismo – e não só entre marxistas ocidentais – tornou-se inseparável da reflexão filosófica, mesmo no âmbito de disciplinas como a economia ou a história.


Korsch aborda os dois lados da questão, o lugar do marxismo na história da filosofia e o papel da filosofia na gênese e estrutura da obra de Marx e Engels. Seu ponto de partida consiste na observação de que o marxismo era ignorado ou pouco mencionado nos livros de história da filosofia. Havia uma lacuna no período entre a morte de Hegel (1831) e as correntes filosóficas posteriores a 1850. Os jovens hegelianos, e Marx entre eles, eram no máximo designados como exemplos da desintegração do sistema de Hegel.


Korsch atribui isso a uma insuficiência metodológica e ideológica. A historiografia das idéias não percebe o vínculo entre pensamento e práxis social. Trata-se de um retrocesso, concomitante ao recuo da burguesia diante da transformação social, frente às teorias do Idealismo Alemão que procuravam ressaltar a ligação entre filosofia e revolução. Desse raciocínio ele extrai uma conclusão que marcará época: “o sistema marxista, expressão teórica do movimento revolucionário do proletariado, deve manter com os sistemas da filosofia idealista alemã, no plano ideológico, as mesmas relações que o movimento revolucionário do proletariado mantém, no plano da práxis social e política, com o movimento revolucionário burguês”.


Por meio dessa comparação, Korsch ensaia uma explicação para a relação entre a doutrina de Marx e o Idealismo Alemão. Este movimento filosófico foi apresentado por Kautsky e Lênin – nas pegadas do último Engels – como uma das três fontes do marxismo. Mas nenhum deles chegou a desenvolver uma teoria sistemática da posição de Marx perante Hegel, cumprindo a exigência de revitalizar a dialética como método e de assinalar a diferença entre a sua versão idealista e a materialista.


A complexidade do problema – pauta ainda hoje de polêmicas e teses nos meios universitários – impõe uma questão adicional: a determinação da posição de Marx ante seus companheiros de geração, os jovens hegelianos, o que pode significar, dependendo do caminho escolhido, um atalho ou uma estrada sem fim. É notável a acuidade de Korsch ao tratar desses tópicos, principalmente quando se considera que em 1923 ainda permaneciam inéditos os Manuscritos de 1844 e os cadernos de A ideologia alemã, nos quais Marx, conforme suas próprias palavras, promoveu “um acerto de contas com sua antiga consciência filosófica”.


Sem acesso a esses textos, Korsch escapa do risco de naufragar em detalhes e nuances, e vai direto ao ponto. O esclarecimento da relação de Marx com os filósofos alemães é imprescindível, mas ao mesmo tempo incompreensível sem que se estabeleça antes o lugar da filosofia na doutrina marxista.


Essa determinação não pode ser conduzida separadamente da elucidação do estatuto teórico do marxismo, ou seja, da compreensão do que Marx entende por ciência. A definição de Engels sintetizada no slogan “socialismo científico” apenas inverteu mecanicamente os pesos da hierarquia hegeliana entre ciência e filosofia. Korsch destaca que enquanto Hegel procura elevar as ciências particulares ao patamar de reflexão filosófica, Engels reduz a filosofia a uma ciência particular, encarregada do estudo da lógica formal e da dialética.


Korsch, no entanto, não considera que a definição da dimensão teórica do marxismo seja passível de discussão. Ela constitui um dos marcos de identidade do marxismo, um dos pilares da estrutura que permite concebê-lo como uma unidade que se desenvolve ao longo do tempo. Mas como é possível localizar aí uma essência se historicamente o marxismo apresentou-se em figurinos teóricos e práticos diversos e até mesmo contraditórios?


A solução proposta por Korsch é simples, mas engenhosa. Primeiro, ele escolhe e adota como padrão um momento determinado, o Manifesto do partido comunista (1848), no qual Marx apresenta sua doutrina como “expressão teórica de uma prática revolucionária”. Em seguida, reconstitui a trajetória do marxismo como um relato das variações a que foi submetida essa fórmula.


A novidade do livro assenta-se, portanto, no ato de associar o desvio político da diretriz revolucionária às alterações na delimitação do estatuto “científico” do marxismo. Desdobra assim um tópico rotineiro do arsenal retórico das correntes contrárias ao reformismo da social-democracia, substituindo, no entanto, a usual condenação moral e voluntarista por uma explicação teórica e histórica.


No Manifesto, a esfera teórica, concebida como “teoria da revolução social”, organiza-se como uma “totalidade viva”, impossível de ser compartimentada em disciplinas específicas como a história, a economia, a política, os estudos de cultura etc. Na obra de maturidade de Marx, os elementos desse todo adquirem certa autonomia, sejam as diversas ciências uma em relação às outras, seja a teoria perante a práxis social.


Nos epígonos, no entanto, ocorreu a fragmentação da “teoria unitária da revolução” em “uma soma de conhecimentos puramente científicos sem nenhuma relação imediata – política ou outra – com a práxis da luta de classes”. Um desdobramento simultâneo à prevalência do reformismo, expressão das reivindicações econômicas dos sindicatos e da linha política da Segunda Internacional. Essa situação, supõe Korsch, seria remediada por um movimento de retorno à obra de Marx, capitaneado por Lênin e Rosa Luxemburg, ao qual Marxismo e filosofia propõe apenas aduzir alguns novos elementos.


A dimensão teórica da “teoria da revolução” manifesta-se, portanto, como uma determinação que concebe o “marxismo como totalidade”. Com isso, Korsch apresenta uma explicação convincente para o lugar da filosofia na doutrina marxista. Ela não só constitui um dos elementos mobilizados no conhecimento da totalidade, mas a própria conjugação das diversas ciências específicas exige a superação da divisão intelectual do trabalho, algo próximo da modalidade de filosofia que se praticava nos anos 1920, antes desse saber seguir o augúrio de Engels e se reduzir a ciência especializada.


partir de uma nova interpretação da “XI tese sobre Feurbach” e do lema jovem-hegeliano “não podeis superar a filosofia sem realizá-la”, Korsch reabilita a crítica filosófica – para além de seu papel na gênese da doutrina de Marx – como momento decisivo da luta de classes. Considera imprescindível ampliar o combate econômico e político pela via da incorporação da dimensão cultural. Trata-se de um dos muitos pontos em comum entre Korsch, Lukács e Gramsci.


O marxismo ocidental surgiu em meio a um vigoroso movimento de transformação social, reapresentando a doutrina de Marx como uma “teoria da revolução”. Paradoxalmente, a explicitação da dimensão teórica dessa concepção, em particular a revalorização da crítica da ideologia, transmutada a partir de História e consciência de classe em crítica da reificação, possibilitou involuntariamente que seus procedimentos se mostrassem os mais adequados por ocasião da estabilização do capitalismo e da integração do proletariado.


Ricardo Musse é professor no departamento de sociologia da USP.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Um terceiro mandato, pelamordedeus!

Por que FHC defendeu Fujimori, hoje, condenado ?

A imprensa brasileira não vai descansar enquanto não arrancar do presidente Lula, ou de algum ministro de Estado, uma declaração favorável ao terceiro mandato. A insistência com que a mídia tem tratado do tema, em ondas ciclotímicas cada vez mais curtas, revela aquele tipo de interesse que nada tem a ver com os fatos ou, no limite, com demandas jornalísticas. Trata-se de uma campanha infernal para colar na imagem de Lula a pecha de “ditador chavista” às vésperas de um ano eleitoral, como se fosse possível, a essa altura do campeonato, estabelecer semelhanças ideológicas e de ação governamental entre o presidente brasileiro e seu colega, Hugo Chávez, da Venezuela. Há mais de dois anos, escrevi uma matéria na CartaCapital (“Eterno factóide”) a respeito do assunto, quando a onda do terceiro mandato tinha como objetivo contaminar as bases eleitorais do governo, com vistas às eleições municipais de 2008, quando ainda rescendiam brasas sobre os escombros do chamado “mensalão”. Lá, pelas tantas, escrevi:

“O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, além de ter sido beneficiado com a manobra da reeleição, colocada em prática via mudança da Constituição, foi um dos avalistas internacionais do terceiro mandato de Alberto Fujimori, do Peru. Tanto, e de tal forma, que Fujimori, atualmente às vésperas de ser julgado por crime de corrupção, tráfico de armas e genocídio pela Justiça peruana, arrolou FHC como testemunha”.

Incrível, né? Fernando Henrique Cardoso alterou a Constituição Federal, à custa de um escândalo de compra de votos no Congresso Nacional, para emendar um segundo mandato, com apoio irrestrito da mídia nacional. Em outro front, dava apoio político e diplomático a Fujimori, conhecido bandoleiro internacional, dado a censurar jornalistas e assassinar opositores, para que “El Chino” conseguisse um terceiro mandato no Peru. Sobre o que estamos falando mesmo? Ah, sobre o terceiro mandato, idéia rejeitada, sistematicamente, pelo supostamente (vocábulo adorado dos jornais, nos últimos tempos) principal interessado, a saber, o presidente Lula.

A insistência sobre o tema, ainda tocado em clima de factóide, é tão óbvia que chega a ser cansativo dissertar sobre ela. Estancado em níveis de popularidade jamais alcançados por outros presidentes na história deste país, Lula vive em franca liberdade de movimento para emplacar seu sucessor, no caso, sucessora, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef. Feliz, gordo e corado, Luiz Inácio conseguiu estabelecer com o eleitorado uma ponte de comunicação praticamente imune aos ruídos da mídia, de qualquer mídia. A este povo sem mídia, e sobre o qual a mídia nada entende ou atinge, Lula fala a língua da distribuição de renda, da segurança alimentar e da identidade nacional. De certa forma, conseguiu converter em ganho eleitoral todos os males a ele atribuídos pela zelosa elite intelectual e econômica brasileira, da falta de educação formal à aparência física.

Quisesse mesmo se empenhar na luta pelo terceiro mandato, Lula teria todas as condições, dentro e fora do Congresso, para conseguir sucesso no intento, sem a necessidade de comprar votos, pelo menos no sentido literal do expediente utilizado na Era FHC. Foi-se o tempo, no entanto, em que o presidente se cercava de assessores que o incitavam a atitudes insanas, como a de querer expulsar o correspondente do New York Times do país, por quem foi acusado de ser cachaceiro militante. Agora, a cada investida da mídia, Lula desmancha-se em desencanto: é contra, diz, o terceiro mandato. Ainda assim, como quem oferece crack a um viciado, o Datafolha gastou tempo e dinheiro na tentação de divulgar uma pesquisa na qual mostra um “país dividido”, 47% a favor, 49% contra o terceiro mandato.

A mensagem é clara: então, porque não arriscar, presidente? A resposta também: porque Lula não é bobo.

Para uma oposição perdida e enterrada num pré-sal de indefinições, nada seria mais providencial do que o surgimento de um Lula ditatorial, finalmente revelado em toda a sua essência autoritária e aparelhadora, um Chávez tropicalizado e, melhor ainda, a tempo de ser trabalhado em infinitas edições de domingo. Viriam especialistas, cientistas políticos, blogueiros de repetição, colunistas, deputados e senadores a denunciar a quebra das regras democráticas, a incutir pânico na classe média, a convocar as senhoras de Santana a marchar sobre a Paulista, o horror, o horror!

De qualquer maneira, não custa deixar essa pauta na gaveta. Quem sabe ela não emplaca no ano que vem?