terça-feira, 29 de novembro de 2011

Tempestade em Copo D'água?



Vídeo feito por alunos de Engenharia Civil da Unicamp, em resposta ao vídeo do movimento Gota D'Água. Comente, e entre no nosso site para maiores informações!

www.tempestadeemcopodagua.com

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

PT, sem a reforma política, um caminho sem volta

Há nove anos no poder, num regime presidencialista de coalizão que tem o poder de agregar todos os vícios do sistema partidário, e como partido profissionalizado que tem de competir com os demais por financiamento privado de campanha, o PT chegou ao seu limite.

por Maria Inês Nassif, em Carta Maior

O quadro eleitoral pós-ditadura envelheceu rapidamente porque nunca foi novo. Os partidos se rearticularam em torno das mesmas bases eleitorais do bipartidarismo, que por sua vez incorporou as mesmas práticas do quadro partidário que começou a se consolidar a partir de 1946, a redemocratização pós-Getúlio. Fugiu a essa regra, na redemocratização, o Partido dos Trabalhadores (PT).

Há nove anos no poder, num regime presidencialista de coalizão que tem o poder de agregar todos os vícios do sistema partidário, e como partido profissionalizado que tem de competir com os demais por financiamento privado de campanha, o PT chegou ao seu limite. Existe uma linha tênue que ainda difere a frente de esquerdas formada no final da ditadura militar do modelito das demais agremiações brasileiras. Aliás, muito sutil. Para o partido da presidenta Dilma Rousseff, a reforma política é uma chance de evitar a vala comum dos partidos tradicionais brasileiros.

Em 1994, quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente pela primeira vez, o PSDB era um partido pequeno, de quadros e não apenas com uma vocação definida para a negociação, mas em processo de conformação ao neoliberalismo, que se tornava hegemônico globalmente. Ser governo, nadar em direção ao centro, e posteriormente mais à direita, e contar com quadros que deram sustentação ideológica à mudança de rumos do partido que começou social- democrata, facilitaram as alianças necessárias à composição de uma maioria parlamentar sólida.

FHC tinha uma maioria mantida coesa com a ajuda da política tradicional, mas dispunha também de grande convergência de ideias. Fazer um governo do centro à direita , com a característica de unidade ideológica e de similaridade na práticas da política tradicional, foi o achado de estabilidade do governo FHC.

Após a vitória, entretanto, o partido de FHC, com a intenção de amortecer o impacto da aliança com os partidos mais fisiológicos, passou a investir na cooptação de quadros de legendas à sua direita – quadros que não deixaram de ser fisiológicos porque foram para o PSDB, mas, ao contrário, aceleraram a conformação do partido à política tradicional. O PSDB consolidou-se no Norte e no Nordeste graças à ação do “trator” Sérgio Motta que, no comando do partido e do Ministério das Comunicações, fez um trabalho de arregimentação destinado a aumentar rapidamente a bancada e dar maior poder de negociação aos tucanos, na aliança preferencial feita com o então PFL. No Sudeste, o partido comeu o PMDB pelas bordas. No Sul, manteve alguma influência por ter ao seu lado o PMDB.

Era a estratégia de fazer rapidamente um partido grande que, segundo o projeto do grupo original do PSDB, ficaria 20 anos no poder. A porta de entrada era a infidelidade partidária – a possibilidade de mudar de partido sem sofrer punições –, extinta no governo Lula pelo Tribunal Superior Eleitoral, uma decisão ratificada pelo Supremo Tribunal Federal, por provocação dos partidos governistas no governo FHC, que então eram oposicionistas e sofriam o efeito da perda de quadros para a bancada de apoio ao governo petista.
No final de oito anos de mandato, o PSDB havia sido tragado pela política tradicional. Era um partido com quadros nacionais originários do racha do PMDB, em 1988, aos quais se agregaram caciques vindos de outros, em especial no Nordeste. Nos Estados, todavia, estruturou-se absolutamente enquadrado na fórmula de cooptar o chefe político estadual e dar a ele autonomia para arregimentar os donos do poder nos municípios. A política do varejo passou a ser decidida pelos donos do partido nos Estados, a exemplo do que ocorria com o PMDB do qual rachou o tucanato; a política nacional, por “cardeais” que, no governo federal, davam o rumo ideológico do governo, articulavam “por cima” e garantiam a sua base atendendo aos interesses paroquiais de seus líderes estaduais (e nacionais também).

O PT teve um período de consolidação maior antes de chegar ao poder, em 2002, com Lula; e, como foi criado por quadros que militavam fora da política tradicional, sua absorção ocorreu de forma mais lenta. O partido de militância voluntária, no entanto, foi um modelo que começou a ruir nos anos 90; o discurso antiprofissionalização e anti-institucionalização de alguns grupos perdeu ainda mais força a partir de 1995, quando José Dirceu assumiu a presidência nacional, organizou uma burocracia partidária e estruturou profissionalmente o partido para disputar o poder dentro das regras estabelecidas pelas leis, com as devidas adequações às práticas eleitorais e partidárias, inclusive a entrada do PT no mercado de financiamento privado eleitoral, numa realidade em que o custo da disputa pelo voto aumentava de forma geométrica.

Nos dez anos que separaram a posse de Dirceu na presidência do PT do chamado escândalo do “mensalão”, que tirou o seu poder no governo Lula e no PT, o partido viveu um dilema hamletiano: aprendeu a usar o dinheiro e a mensagem publicitária para angariar votos e montou uma estrutura municipal que não apenas capilarizou seus votos, mas ampliou suas fontes de recursos; e de outro lado, submeteu os grupos mais radicais mas ainda os manteve na órbita do partido, “terceirizando” a esses grupos a tarefa de pressionar internamente por decisões de caráter mais programático e orgânico.

O PT completou com Lula oito tumultuados anos de poder, onde assumiu o desgaste pela inserção plena na forma tradicional de financiar partidos, teve de se escorar na popularidade de Lula e completou o ciclo de regionalização. Segundo um parlamentar petista, nos Estados onde o partido tem mais tradição de organização, já está distritalizado – isso quer dizer que, onde tem prefeitos, consegue eleger deputados estaduais e federais. Esse é um indicativo bastante forte de que, do ponto de vista funcional, o partido já opera de forma muito semelhante aos demais.

Proliferam também, Brasil afora, situações onde os grupos do PT mantém-se rachados em relação aos governos estaduais e municipais: dividem-se na escolha dos candidatos, os grupos vencidos se afastam durante a campanha e, na composição com um vitorioso de outro partido, uns grupos ficam, outros vão embora. Isso era impensável no passado, exceto no Rio, onde constantes intervenções da direção nacional mais atrapalharam do que ajudaram a unidade do partido.

Do ponto de vista nacional, existem louváveis tentativas de costurar uma certa organicidade no partido que está há nove anos no poder, mas numa coalizão que vai, a partir dele (com seus setores mais de centro-esquerda e outros à esquerda) até partidos de extrema-direita, convivendo com uma oposição que interrompe o arco de alianças ao tentar situar-se ao centro (embora com muita tendência à direitização). A direção nacional tenta definir uma pauta política do próprio partido, que não esteja atrelada simplesmente às posições de governo, e discute seriamente mudanças na legislação eleitoral e partidária para evitar que quadros ideológicos desapareçam diante da necessidade de fazer caixa de campanha (e portanto atrair o interesse das empresas), e para interromper o processo de favorecimento de lideranças boas de voto e dinheiro, em detrimento dos melhores quadros orgânicos.

Sem a reforma eleitoral e partidária, certamente o PT, como partido de governo num regime presidencialista com as características do nosso, não deixará de crescer. Com uma reforma eleitoral que privilegie o voto distrital, também tem chances de manter um crescimento consistente. Com finaciamento privado de campanha, todavia, deixará de ser em pouco tempo o partido que se diferencia no quadro partidário. Em muito pouco tempo. Está no seu limite.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Um dia volta!

Pré-sal e a “diplomacia da canhoneira”. Ou o canudinho da Chevron


Os Marines em Macaé. Os colonistas do PiG não aparecem na foto
A histórica decisão do Governo brasileiro de suspender as atividades da Chevron do Cerra em águas territoriais brasileiras  – clique aqui para ler “Essa é a Chevron a que o Cerra ia entregar o pré-sal” – remeteu o ansioso blogueiro a considerações em águas mais profundas.

Por exemplo, a recente artigo do New York Times sobre a versão contemporânea da “diplomacia da canhoneira”.

Os Estados Unidos começaram a usar as canhoneiras para fazer diplomacia em 1853, quando o comandante Perry entrou na Baía de Tóquio e obrigou o Japão a abrir os portos – ou seja, o neolibelismo (*) nasce na ponta de uma canhoneira…

A diplomacia da canhoneira de hoje se dá em torno das reservas de petróleo e gás do Mar da China Meridional: 

http://www.nytimes.com/2011/11/13/sunday-review/a-new-era-of-gunboat-diplomacy.html?_r=1&scp=1&sq=a%20new%20era%20of%20gunboat%20diplomacy&st=cse

http://www.nytimes.com/2011/11/20/world/asia/wen-jiabao-chinese-leader-shows-flexibility-after-meeting-obama.html?scp=3&sq=south%20china%20sea%20obama%20hillary&st=cse

Obama announced that 2,500 Marines would be stationed in Australia; opened the door to restored ties with Myanmar, a Chinese ally; and gained support for a regional free-trade bloc that so far omits Beijing.


The announcements appeared to startle Chinese leaders, who issued a series of warnings that claimed the United States was seeking to destabilize the region.


Numa recente viagem de seis dias à Ásia, Obama anunciou que vai estacionar 2.500 fuzileiros navais na Austrália; restabelecer relações diplomáticas com Miamar, um aliado da China; e conseguiu apoio para criar uma ALCA que, por enquanto, omite a China.

(A certa altura do governo de Bush, o filho, os americanos tentaram montar uma ALCA sem o Brasil, para pressionar o Brasil. O Nunca Dantes e seu grande chanceler Celso Amorim conseguiram vencer os Estados Unidos e o PiG (**), e a ALCA deu com os burros n’água.)

Os dirigentes chineses ficaram alarmados e fizeram advertências contra a tentativa americana de desestabilizar a região em torno do Mar da China Meridional.


Clique aqui e aqui para ler.

Ano passado, Hillary Clinton já tinha advertido que se aliaria ao Vietnã – velho rival da China – e às Filipinas para conter a expansão chinesa em cima dessas magníficas reservas de energia.

Diz a reportagem de Mark Lander do New York Times que a China não está sozinha nessa ambição marítima.

A Turquia está em crise com Chipre, Israel e a Grécia por causa dos campos de gás natural que repousam no Mediterrâneo oriental.

A Rússia, os Estados Unidos e o Canadá (onde já se viu o Canadá brigar com os Estados Unidos ?) disputam o controle do Ártico, onde há magníficos depósitos de óleo e gás.

“Isso tudo demonstra que uma crescente parcela de recursos de petróleo está no mar. Quando o petróleo está em terra, todo mundo sabe onde fica. Quando está no mar, a coisa fica mais obscura”.

Essas sábias palavras são de Daniel Yergin, um respeitado especialista em petróleo, citado pelo New York Times.

Hoje, um terço da produção mundial de petróleo vem do mar.

A China passou dos dois destroiers que tinha na era soviética para 13 modernos destroiers, hoje.

A exploração de petróleo no mar significa Marinha forte.

Significa, na opinião deste ansioso blogueiro, uma frota numerosa de submarinos nucleares e, de preferência, acompanhados de bomba atômica.

Bomba atômica.

Não, para usar.

Inglaterra, França, Paquistão, Índia, China, Rússia – todos eles têm bomba atômica e nunca usaram.

Como Israel, que tem mais de 100 artefatos e nunca usou.

É só para não deixar os outros usarem.

Não deixar usar, por exemplo, o canudinho.

Será que a Chevron do Cerra se arrebentou lá embaixo, porque tentava chupar o óleo pré-sal com canudinho ?

A resposta da Presidenta Dilma à Chevron do Cerra foi imediata.

Logo no início, quando o PiG (**) escondia a mancha da Chevron e começava a espalhar culpa pela Petrobrás, a Presidenta usou o Blog do Planalto para avisar:  – Chevron, eu sei que a culpa é sua.

Agora, o risco imediato é a Chevron do Cerra contratar o Sergio Bermudes ou o Marcio Thomaz Bastos – os dois advogados mais poderosos do Brasil – e recorrer ao Supremo para não pagar a multa.

A médio prazo, é o Obama sair do Iraque, do Afeganistão, e estacionar umas canhoneiras em frente a Macaé.

Na praia, com bandeirinhas americanas, os colonistas (***) do PiG a dar boas vindas aos fuzileiros navais.

Leia mais no Conversa Afiada

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O Brasil, os BRICS e a nova arma "hipersônica" dos EUA

O fato de os Estados Unidos, mesmo em crise econômica e política - com milhares de pessoas ocupando as ruas para protestar contra o sistema - terem anunciado o sucesso, há três dias, do vôo de teste, entre o Havaí e as Ilhas Marshall, de uma nova bomba voadora, de velocidade supersônica, capaz de atingir qualquer ponto do globo em menos de uma hora, tem que servir de alerta para o Brasil e para os BRICS.
Enquanto investimos bilhões na compra de equipamento e tecnologia militar obsoleta, como os submarinos Scorpéne e, eventualmente, o Rafale, desenvolvidos há mais de 30 anos, os Estados Unidos não cessam de pesquisar novas armas de destruição em massa, e sistemas de armamento naval como o canhão magnético de munição cinética, anunciado no ano passado, que não depende de combustível para atingir alvos a uma distância de 300 quilômetros.
Isso, apesar de Washington ter um déficit de 7 trilhões de dólares, boa parte dele derivado dos 35 bilhões de dólares que gasta, por semana, para manter seus soldados no Iraque e no Afeganistão, países dos quais já prepara a retirada de suas tropas convencionais - com o rabo entre as pernas - a partir do ano que vem.
A insistência de os Estados Unidos em continuarem se armando, mesmo em uma situação de crise econômica e institucional crescente, aponta para a cristalização de uma perigosa equação, que, do ponto de vista do resto do mundo – excetuando-se a Europa, cada vez mais submissa aos interesses norte-americanos - equivale a um mendigo louco com uma arma na mão na praça de alimentação de um Shopping, ou, à velha metáfora, mais usada antigamente, de um macaco solto em uma loja de louças.
Como a história mostrou nos anos do equilíbrio do terror da Guerra Fria, quando os EUA não ousariam invadir países como o Iraque e o Afeganistão, sem a aquiescência tácita da URSS, de nada adianta construir uma nova ordem multipolar, se o poder no mundo continuar obedecendo a uma situação unipolar do ponto de vista militar.
O BRICS tem se erguido, nos últimos anos, na economia e na diplomacia, justamente para fazer frente à Europa e aos Estados Unidos, porque o mundo não pode continuar refém, como tem acontecido, das decisões que são tomadas em uma Europa e em uma América do Norte cada vez mais frágeis, no âmbito político-institucional, e cada vez mais decadentes, do ponto de vista econômico.
Nada disso funcionará, no entanto, se a projeção do crescente poder do BRICS não se fizer, também, na área militar. Não dá para se pensar em uma estratégia de defesa viável, no futuro, se não juntarmos nossos recursos financeiros e tecnológicos, nosso conhecimento e nossos pesquisadores militares aos da Rússia, da China, da Índia e da África do Sul para o desenvolvimento de uma nova geração de armamentos que vá, como está ocorrendo com os Estados Unidos, um pouco além do armamento convencional hoje existente.
Não se pode confiar nem cooperar com os países ocidentais nessa área. Eles só nos vêem como “parceiros” da hora dos coquetéis de seus adidos militares, ou no quando tem interesse de nos vender material obsoleto para utilizar o lucro no desenvolvimento de novas gerações de armamentos. Quando chega o momento de a onça beber água, eles se aliam entre si, e nos vêem como sempre nos viram, como um bando de subdesenvolvidos. Que o diga a Argentina, que até hoje não esqueceu as lições que aprendeu quando precisou de armamento para reposição na Guerra das Malvinas.

Por Mauro Santayana no seu Blogue

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Chê, um trago y una cancion com Sabalero

Cenas de Livramento, um povoado distante na fronteira com o Uruguai



Foto de J.Cavalheiro/PM no Jornal A Platéia
A foto acima retrata fielmente o modus operandi da política fronteiriça. Nesta interminável novela de desocupação da praça Flores da Cunha, na fronteira entre Livramento/Rivera, o restojo é o sorriso do prefeito e secretários nas paginas do jornal. Em Livramento, desde sempre “políticos” convencionais usam do expediente fiteiro de foto em jornal pra convencer a corte. Pra qualquer desavisado, a foto acima sugere algo bom, resultado de uma política eficiente, conclusiva. Só parece, na verdade o gestor tartufo e seus sorridentes secretários estão cumprindo uma ação judicial e mesmo assim de forma parcial. Não existe nenhum motivo pra sorrisos ou gabolices. Aliás é vergonhoso que depois de tanta luta pela desocupação, restauração e devolução da praça e por um local definitivo e digno pra os trabalhadores, se culmine com esta cena deplorável de barraquinhas de plastico nas paginas de jornais.
Registro também que esta vitória parcial, da comunidade e dos trabalhadores da “Praça dos Cachorros” só foi possível pela luta e engajamento de vários atores, com destaque dos ativistas do Blogue Santana do Livramento Do qual transcrevo o texto abaixo.

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Prefeito Wainer só quer beber a limonada

As notícias sobre Livramento, nos últimos dias, dão conta que houve a retirada dos camelôs da Praça dos Cachorros, bem como o cercamento com tapumes deste espaço público desvirtuado de suas funções urbanas por mais de três décadas. Contudo, essas mesmas notícias trazem uma distorção dos acontecimentos que precisam ser recolocados nos termos da verdade factual.  

O prefeito Wainer Machado está contorcendo a realidade em favor de sua administração inoperante e omissa. Por sete longos anos, o prefeito Machado se omitiu da responsabilidade de cumprir a lei quanto à presença de comércio ambulante em local impróprio e junto à linha de fronteira, desafiando assim a legislação municipal – Código de Posturas e Lei do Plano Diretor – e a própria legislação federal que trata das linhas limítrofes internacionais.  

Depois de uma longa campanha cívica iniciada aqui neste modesto blog, em julho de 2010, depois de um ordenamento judicial que obrigou o prefeito Machado a desocupar a praça e realocar os ambulantes, agora este mesmo prefeito vem discursando a retórica do cinismo e do oportunismo. Quer fazer do limão azedo, uma limonada doce e gelada! Dá entrevistas, fala nas rádios e se manifesta como se fora o protagonista número um do processo de legalização e organização do espaço público na linha de fronteira. Não é. Nunca foi.

As mudanças estão se operando porque houve mobilização popular, porque houve pressão social, institucional e política, porque houve a tomada de consciência de autoridades do Ministério Público e do Poder Judiciário. Esta é a verdade factual.

O prefeito Wainer é agente passivo nesta operação, apenas cumpre ordens do Judiciário, nada mais.

Saibam todos que o prefeito Wainer está cumprindo determinação judicial irrecorrível e intransferível, caso contrário poderia sofrer graves sanções e até perder o cargo de chefe do Poder Executivo do município de Livramento. Para piorar a situação, é preciso informar (já que a imprensa local não o faz como deveria) que o município de Livramento é réu em uma Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público acerca do descaso da Prefeitura para com as irregularidades na linha de fronteira.      
   
O prefeito Wainer está querendo pegar carona numa obra coletiva que não lhe pertence, e ainda assim quer tomar lugar de honra e posar todo pimpão na vitrina dos acontecimentos. Mal conseguindo ocultar a condição de réu, Wainer insiste e teima em fazer proselitismo político-eleitoral, apostando num comportamento espetaculoso e irresponsável.    

Antigamente o nome disso era demagogia, que nos bons dicionários significa “ação ou discurso que simula virtude com objetivos escusos”.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Propaganda grátis da minha cidade Rivera-Livramento

Vai lá gastar os pilas e movimentar a economia fronteiriça, vai brincar de timbeiro. Não haverá truco, mas joga um pocker, bacará. Se preferir joga 23 e 14 na roleta. Se ganhar, vai comer parrilla e beber Zillertal.






Projeto da grande imprensa é varrer a ‘era Lula’

O ponto de partida dessas reflexões é uma obviedade: a crise dos partidos, que no Brasil não é maior nem menor do que a crise dos partidos europeus e norte-americanos. No velho e exausto continente desapareceu a esquerda socialista e os socialdemocratas se confundem com os conservadores, e todos se afundam de braços dados na crise do capitalismo. Nos EUA, o bipartidarismo tacanho é construtor de impasses institucionais, de que é exemplo a negociação do teto da dívida. Em nosso país reproduz-se o esgarçamento ideológico dos partidos de esquerda e é crescente a distância entre a vontade do eleitor e o titular do mandato, construindo a falência do sistema representativo, de que a desmoralização do Legislativo e da vida parlamentar é exemplo acachapante.  Ainda no caso brasileiro, talvez nos separando da crise europeia, identificamos perigoso desdobramento, a saber, a desconstituição da política, com a desmoralização do seu fazer e o anúncio de sua desnecessidade.

Tira-se a política da vida democrática, fica o quê?
Tiram-se os partidos do processo político, fica o que?
Tirem-se os políticos da política, ficará o quê?

'O projeto, agora, é varrer a ‘era Lula’,
preferentemente destruindo o político Lula',
diz Roberto Amaral. Foto: Instituto Lula
De comum, na retórica dos golpistas, a denúncia da corrupção, não como fenômeno em si, mas como doença sistêmica do Estado e, agora, manipulada pelos partidos que ousam ocupar os cargos para os quais seus representantes foram eleitos pela vontade da soberania popular.  Foi igualmente o combate à corrupção que construiu Jânio Quadros (“varre-varre vassourinha, a sujeira desse país”) e Fernando Collor (o ‘caçador de marajás’), com os resultados conhecidos.

Vargas, homem probo, era acusado por Carlos Lacerda de governar sentado sobre um “mar de lama”, que se revelou igual às ‘armas de destruição em massa’ de Saddam.
Não afirmo que esteja em gestação um golpe-de-Estado (como realmente esteve em 2005), mas digo que estão sendo criadas as condições subjetivas que amanhã poderão tornar palatável um ataque ao sistema democrático, como consequência natural da perseguida desmoralização dos políticos, dos partidos, da democracia, da política e do Poder Legislativo.
A quem interessa essa desmoralização da vida pública, afastando o cidadão da política, ao convencê-lo de que a corrupção é elemento intrínseco ao fazer político?

Pode o sistema democrático-representativo conviver com a demonização dos partidos?
Quando a imprensa reduz todos os problemas do país à corrupção, e a apresenta como intrínseca à política – ameaçando a continuidade do processo democrático –, ela está igualmente interditando o debate sobre as questões centrais do país: a desfuncionalidade do regime capitalista.
No Brasil, a crise dos partidos atinge indistintamente esquerda e direita. A esquerda renuncia ao papel finalístico de crítica ao regime econômico, a direita ora se esconde sob o disfarce da socialdemocracia, ora se transforma em porta-voz de uma imprensa sem compromissos com a democracia e os interesses nacionais. É esta imprensa, todavia, que pauta a vida política nacional.

No Brasil, ao invés de os partidos possuírem meios de comunicação ou de utilizá-los em seu processo de vida, isto é, na batalha ideológica, é a imprensa que possui partidos e nessa condição dita-lhes metas, temas, ações e conspirações. Dessa forma a chamada “grande imprensa” articula a oposição. A mesma imprensa que participou das operações de desestabilização do governo Vargas e da preparação do golpe de 1964, por ela sustentado, é a mesma que não consegue assimilar a emergência social e política das parcelas menos aquinhoadas da população. Para essa imprensa preconceituosa, é insuportável as ruas cheias de carros dirigidos por pobres e pobres superlotando os aeroportos. E mais: é insuportável que seja essa gente, a gente do povo, quem esteja decidindo as eleições no Brasil.

Fernando Henrique Cardoso, em um de seus inumeráveis momentos de excepcional infelicidade, anunciou o fim da “era Vargas”, prometendo realizar o que os militares não haviam logrado em 20 anos de ditadura. Também não conseguiu. Mas a direita é renitente. O projeto, agora, é varrer a “era Lula”, preferentemente destruindo o político Lula, ainda que seja ao preço de destruir a democracia, para poder destruir o que ele representa, e representou a frustrada experiência de João Goulart, donde a sentença de morte executada no dia 1º de abril de 1964: a emergência das massas.
Mas, lamentavelmente, não é só isso, pois é inesgotável o poço de preconceitos de nossas elites.

A Presidência da República foi sempre um posto reservado “aos mais iguais”, os marechais, os generais, os grandes fazendeiros ou seus representantes, os doutores. Mas eis que uma disfunção sistêmica permite a eleição de um outsider: um operário, um líder sindical, de sobrenome Silva, sem passagem pela academia, expulso pela seca do rincão mais profundo e pobre do sertão nordestino. E… escandalizam-se os repórteres, um monoglota. Esse intruso, além de eleger-se, se reelege, e, suprema humilhação, elege sua sucessora. Nada obstante toda a resistência que provoca, Lula pode retornar ao poder – este o grande temor da direita brasileira –, se não fisicamente, muito provavelmente mediante um governo que seja a continuidade do seu.

Nesse ponto se dão as mãos o reacionarismo da grande imprensa e a degenerescência cultural de grande parte da classe-média brasileira: ambas desprezam o povo, nosso povo, o homem comum das ruas, mestiço, trabalhador, a quem negam as qualidades de pioneiro e construtor. Por isso, a elite brasileira quer ser branca, fisicamente europeia e culturalmente norte-americana; depois de sonhar com Londres e Paris, construiu como meta de vida passear na Disneylândia. Para essa elite, para essa classe-média, para essa imprensa é insuportável a vitória do homem do povo, de um “Zé da Silva”. Pois foi um Silva, nordestino (ainda mais um nordestino!) expulso de sua terra pela inclemência do clima, que consertou o Brasil e refez a obra, a desastrada obra de desconstituição do País, encetada pelo “príncipe” dos sociólogos brasileiros, professor titular da orgulhosa USP.

É preciso, pois, demolir um sistema político que permite a eleição de um Lula.
O ponto de partida é a destruição da política, depois da desmoralização dos políticos e dos partidos. Como sabemos que é impossível sustentar uma democracia sem políticos e sem partidos políticos…
Esta operação está em curso.
Nem mesmo os néscios de carteirinha supõem que a atual campanha da grande imprensa tem por objeto a defesa dos interesses de nosso povo ou de nosso país. Senão a desmoralização da política

No Brasil, a liberdade de imprensa, que precisa ser a mais ampla possível, limita-se à liberdade, sem
responsabilidade, das grandes empresas de comunicação, que expressam o pensamento único, não apenas em seus editoriais (que ninguém lê), mas agora quase principalmente no noticiário, seja nacional seja internacional (repertório das grandes agências), nas reportagens e no pensamento de seus colunistas e colaboradores. Estes são escolhidos ou por partilharem do pensamento patrão, ou por a ele se haverem adaptado para serem colunistas. E nesta hipótese, serviçais, procuram ser mais realistas do que o próprio rei.
Não sejamos injustos, porém, atribuindo esse discurso único e a cantilena reacionária exclusivamente ao mando dos interesses do baronato da grande imprensa: ela é alimentada, cevada, por uma geração de jornalistas e repórteres fiel a essa forma unilateral de ver o mundo. Para essa gente a defesa dos interesses do país é um arcaísmo, a especulação financeira um sinal de modernismo, a concentração de renda o caminho do desenvolvimento, a política, um entrave, a democracia, um “detalhe”.

Um de seus subprodutos é o denuncismo gratuito, irresponsável, a acusação que primeiro se faz, para depois perquirir a prova. O denunciado é condenado já pela simples denúncia, sem possibilidade de reparação pública. Se amanhã a acusação não se comprova, azar.

Nos recentes tempos da recente ditadura seus opositores eram, primeiro demitidos, presos, torturados e muitas vezes “desaparecidos”, para depois serem processados e em alguns casos até “absolvidos”. Vencido o terrorismo militar, os políticos são expostos à execração da opinião pública, eviscerados em sua intimidade política, e ao fim destruídos eleitoralmente, depois de assassinados moralmente, culpados ou não. A regra é a mesma: primeiro a pena, depois o julgamento.

Se, por um lado, é plenamente respeitada e garantida a liberdade de imprensa, por qualquer de seus meios, falta ao povo a liberdade de informação ou o direito à informação isenta.  Faltam-nos meios de obter outras visões da mesma realidade, de uma análise crítica das questões nacionais e internacionais, e qualquer tentativa de alterar o lamentável quadro vigente é, de forma alarmante, noticiada pelas empresas de comunicação como ameaça à liberdade de imprensa.

Ainda sob os efeitos das vitórias de Lula, alcançadas sob o tiroteio implacável de uma imprensa unanimemente opositora, os partidos de esquerda tendem a subestimar o papel ideologicamente corrosivo exercido pela grande imprensa – rádios AM, televisão, jornais e revistas — exercem sobre as cabeças e mentes dos brasileiros.

Artigo do Roberto Amaral, cientista político, advogado e escritor. No site da Carta Capital

sábado, 12 de novembro de 2011

E agora, como explicar as críticas incoerentes a Cuba?

 
Ignorando fatos concretos, os críticos de Cuba alardeiam que a Ilha vive na miséria. Mas o país tem elevado Índice de Desenvolvimento Humano e excelentes indicadores sociais.
Cuba é um país inviável, no qual a população vive na miséria e passa fome. As cidades cubanas estão caindo aos pedaços, está tudo sucateado. Enfim, tudo em Cuba é ruim e o país é o mais claro exemplo do fracasso do socialismo.
Essa é a imagem de Cuba passada aos brasileiros por jornalistas, articulistas e curiosos que se baseiam em suas convicções ideológicas – principalmente – em fontes internas e externas contrárias ao governo cubano e ao sistema socialista (sempre ouvidas) e em rápidas e superficiais viagens ao país.
Mas então é preciso que esses analistas – que gostam tanto de números – expliquem como é que Cuba está em 51º lugar, entre 187 países, no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU. E como pode ser considerada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) uma nação de “desenvolvimento humano elevado”.
Não é muito coerente que os cubanos vivam na miséria e esfomeados, como se diz, e o país tenha elevado Índice de Desenvolvimento Humano, obtido a partir de indicadores nas áreas de saúde, educação e renda. E esteja entre os 51 países com o maior índice, dos 187.
O mais alto IDH é o da Noruega (0,943), seguido de Austrália, Holanda, Estados Unidos e Nova Zelândia. O primeiro grupo, de 47 países com “desenvolvimento humano muito elevado” termina com Argentina, Croácia e Barbados, esse com índice 0,793. O da Argentina é 0,797. Nesse grupo, só tem outro país latino-americano, o Chile, em 44º lugar com 0,805.
Entre os primeiros países de “desenvolvimento elevado”, estão o Uruguai (em 48º com 0,783) e Cuba, em 51º e índice de 0,776. Nesse grupo de 46 nações estão mais os seguintes latino-americanos: México (57º), Panamá (58º), Costa Rica (69º), Venezuela (73º), Peru (80º), Equador (83º), Brasil (84º) e Colômbia (87º). Os demais estão entre os que têm médio desenvolvimento humano, com exceção do Haiti, que tem baixo IDH.
O que coloca Cuba em 51º lugar e no segundo grupo é o baixo rendimento bruto per capita de sua população, que, ao contrário do que pensam ou querem que pensemos os analistas neoliberais, não significa necessariamente uma qualidade de vida muito menor. Em Cub,a a renda é mesmo muito baixa, quase a metade da brasileira, mas com pouca diferença entre o mais baixo e o mais alto rendimento. Há um sistema de subsídios – que está sendo revisto, mas com compensações – à alimentação, ao transporte, à cultura; a saúde e a educação são gratuitas em todos os níveis, do curativo à quimioterapia, da creche ao doutorado.
O “IDH de não rendimento” de Cuba – ou seja, o IDH sem o indicador de renda – é de 0,904, o que coloca o país em 25º lugar, ultrapassando 26 países que tem o IDH maior por causa da renda. O maior IDH de não rendimento é o da Austrália (0,975), seguido de Nova Zelândia, Noruega, Coreia do Sul, Holanda e Canadá. Os Estados Unidos estão em 13º lugar (0,931). Cuba está na frente, dentre outros, do Reino Unido, da Grécia, de Portugal, de Israel e dos riquíssimos Emirados Árabes Unidos, Brunei e Qatar, sendo que esse último que tem rendimento bruto per capita 20 vezes maior do que a de Cuba.
Os números do PNUD mostram que não há muita diferença entre os indicadores sociais dos países com mais alto IDH e os de Cuba. Ou seja, o baixo rendimento per capita tem baixa influência sobre a educação e a saúde dos cubanos.
Basta comparar alguns índices:
País
Esperança de
vida
Anos de
escolaridade
Escolaridade
esperada
Noruega
81,1
12,6
17,3
Austrália
81,9
12,0
18,0
Holanda
80,7
11,6
16,8
EUA
78,5
12,4
16,0
Nova Zelândia
80,7
12,5
18,0
Canadá
81,2
12,1
16,0
Cuba
79,1
9,9
17,5


A título de curiosidade, uma comparação entre Argentina, Uruguai, Venezuela e Brasil:

País
Esperança de
vida
Anos de
escolaridade
Escolaridade
esperada
Argentina
75,9
9,3
15,8
Uruguai
77,0
8,5
15,5
Venezuela
74,4
7,6
14,2
Brasil
73,5
7,2
13,8


Um indicador bem revelador é o índice de mortalidade infantil da Organização Mundial de Saúde, com base em crianças de menos de um ano de idade mortas entre mil. Dos países citados – os de melhor IDH, de alta renda e alguns sul-americanos –, a classificação é a seguinte:

Noruega
2,8
Holanda
3,6
Austrália
4,1
Coreia do Sul
4,2
Cuba
4,6
Nova Zelândia
4,8
Canadá
5,2
Brunei
5,8
Emirados Árabes Unidos
6,1
Estados Unidos
6,5
Qatar
6,7
Chile
7,7
Uruguai
9,2
Argentina
12,3
Venezuela
13,7
Brasil
17,3


Pode-se gostar ou não gostar do sistema social que vigora em Cuba há 52 anos, pode-se considerar que Raul e Fidel Castro fazem as coisas certas ou as coisas erradas. Cuba tem enormes problemas econômicos, sociais e políticos e há muita coisa que precisa e pode ser mudada. A população tem enormes carências, reconhecidas pelo governo cubano. Mas não há o caos que se pinta e a fome que se alardeia, nem é o país à falência que desejam seus críticos que se guiam pela ideologia, e não pelos fatos.
Pescado do ContextoLivre
Originalmente No Blog Limpinho & Cheiroso

Inflacionando

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

CARF PERDOA 4 BILHÕES DE REAIS EM IMPOSTOS DO SANTANDER

A EBA – European Bank Authority - acaba de anunciar que os bancos espanhóis serão os que mais necessitam de capitalização, na Europa - depois dos gregos -, no combate à crise, e terão que levantar mais de 26 bilhões de euros nos próximos meses.

O Santander será o mais afetado, necessitando de quase 15 bilhões de euros. Enquanto isso, o banco provoca, a cada trimestre, verdadeira sangria na economia brasileira. A matriz na Espanha é responsável por apenas 10% do lucro, enquanto o Santander Brasil aporta mais de 25% dos resultados operacionais do grupo.

Ao mesmo tempo, em nosso país, os membros do CARF – Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, do Ministério da Fazenda - acabam de isentar, em uma decisão inesperadamente unânime - o Santander de pagar cerca de quatro bilhões de reais à Receita Federal.

O banco, como empresa estrangeira e sem estar instalada no Brasil na época, não teria direito a isenção de impostos nesse valor, incidente sobre o montante que pagou de ágio pela compra do Banespa.

E o Brasil que se preocupe com os problemas de balanço de pagamentos, a fim de enviar essa montanha de dinheiro para a Europa, que se soma aos bilhões remetidos pela Vivo – financiada agora com três bilhões de reais para expansão de infra-estrutura pelo BNDES.

A Espanha só entrou no mercado brasileiro nos anos 1990, graças aos recursos a fundo perdido, e aos juros subsidiados da União Européia, além, é claro, da prestimosa ajuda de “colaboradores” nacionais, como Antônio Carlos Valente.

O funcionário do Ministério das Comunicações, envolvido com as privatizações, e – pasmem – ex-conselheiro da ANATEL, ocupa, já há alguns anos, o cargo de Presidente da Vivo no Brasil.

Como recordar é viver, vale a pena dar uma olhada no que se publicou, sobre Valente, em um documento oficial da ANATEL, em 1999:

“Para Valente, a grande vantagem da ampla discussão que se promoveu anteriormente à privatização e à instalação da Anatel, é que o modelo brasileiro herdou as vantagens de sistemas já instalados em outros países, procurando eliminar os erros, na medida do possível, dentro do princípio básico e fundamental de defender o interesse do usuário, fiscalizando intensamente a ação das prestadoras de serviço.”

Prestadoras de serviço da maior das quais ele viria a se tornar Presidente pouquíssimo tempo depois.

O resto do texto, cujo link reproduzo abaixo, é um primor de defesa do modelo implantado pelo Governo Fernando Henrique durante as privatizações:
http://www.anatel.gov.br/Portal/verificaDocumentos/documento.asp?numeroPublicacao=8973&assuntoPublicacao=Conselheiro%20apresenta
Enfim, Valente tratou do processo de privatização da telefonia, integrou a agência criada para fiscalizar o setor, disse que o órgão existia para defender o interesse do usuário e, mais tarde, se tornou o presidente da principal operadora espanhola de telefonia no Brasil, para fazer exatamente o contrário.

As tarifas brasileiras de telefonia celular e de banda larga, segundo a União Internacional de Telecomunicações, são as mais altas do mundo. E o serviço, o pior do planeta, a julgar pelo número de queixas que abarrotam os PROCONS de todo o país, e a própria ANATEL, que continua praticamente impedida de punir as empresas, devido à generosa Lei Geral das Telecomunicações aprovada no governo FHC, que prevê o acúmulo de um enorme número de queixas, antes que se multe uma operadora.

O artigo é do Mauro Santayana em seu Blogue

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Os paraísos fiscais e a hipocrisia do G20


Na cúpula de 2009, o G20 definiu como prioridades a reforma do sistema financeiro e o combate aos paraísos fiscais. De lá para cá o balanço é vergonhoso. Os paraísos fiscais são só estão mais ativos do que nunca, como, sobretudo, seguem funcionando ativamente em países como Suíça e Luxemburgo e em potências mundiais como EUA, Japão e Inglaterra. Cerca de 800 bilhões de euros saem dos países do Sul todos os anos para esses paraísos fiscais. O artigo é de Eduardo Febbro.
Eduardo Febbro - Correspondente da Carta Maior em Paris


Vídeo da campanha francesa Ajudemos o dinheiro a sair dos paraísos fiscais

O sistema financeiro, os paraísos fiscais, os impostos às transações financeiras, o nível de decisão dos países emergentes, os temas que deviam ocupar o centro da cúpula do G20 ficaram na sombra. A crise grega engoliu a sexta cúpula do G20 celebrada na luxuriosa cidade de Cannes, na Costa Azul francesa. A agenda da cúpula foi se modificando sob o peso da crise da dívida. A última versão da reunião dos países ricos e emergentes devia estar consagrada a apresentar uma rota de fuga para tirar do marasmo os 17 países da zona do euro e o passo forçado da economia mundial e ao papel que poderiam desempenhar na retomada econômica do planeta as nações emergentes como o Brasil e a China. Não aconteceu nem uma coisa nem outra. O eixo franco-alemão monopolizou a cúpula mediante uma sólida ofensiva contra o Primeiro Ministro grego Yorgos Papandreu, para obrigá-lo a aceitar o plano de ajuste europeu em troca de um novo pacote de ajuda europeu de 8 bilhões de euros, sem passar por um referendo que, frente à surpresa geral, Papandreu sugeriu antes da cúpula. O espetáculo final mostrou o que os analistas internacionais vem anunciando há anos: o Ocidente se desloca para as suas margens. O vespertino francês Le Monde reumiu muito bem a situação com a manchete de seu editorial de primeira página: "Em Cannes, o festival das novas potências".
Os ricos de antes, EUA e União Europeia, tem os bolsos vazios e nadam em um mar de inoperância disfarçado com um aluvião de boas intenções. Frente a eles, Brasil e China se afirmam como um eixo de sólida responsabilidade. O G20 representa 90% das riquezas mundiais, recorda o Le Monde. O editorial destaca sem concessões que esta cúpula "consagrou como nunca o novo mapa da geoeconomia mundial". A Europa está pendurada no fio grego e os Estados Unidos em seus déficits abismais.Atenas é uma vítima indefesa: a Grécia está de joelhos, com uma crise política interna de grandes proporções que pode conduzir à demissão de Papandreu, bloqueado pelas greves, a um passo de sair do euro e com as caixas vazias. A luta pelo plano de ajuste, os oito bilhões de euros de ajuda à Grécia, o referendo adiantado por Yorgos Papandreu, a zona vermelha em que estão a Itália e a Espanha, dois países por sua vez membros do G20 e da zona do euro, e a extensão da crise da dívida ao conjunto da zona do euro varreram a agenda do G20. Apesar da mudança de rumo forçada pela densidade dos desarranjos mundiais, cabe perguntar-se qual é verdadeiramente a influência real que tem o G2O nas realidades do planeta, em um contexto onde os países emergentes que integram o G20 também se vêem ilhados em suas demandas pela própria dinâmica da crise. A resposta cabe em um exemplo tomado das medidas adotadas pelo G20 há dois anos. Os dois grandes cavalos de batalha do G20 ficaram no nada: a reforma do sistema financeiro mundial e os paraísos fiscais. Este último tema é o mais ilustrativo da inoperância política das grandes potências que compõem o G20. Se o saneamento do sistema financeiro e a idéia de introduzir um imposto sobre as transações financeiras permanecem como meros discursos, o combate contra os paraísos fiscais deu lugar a um pacote de medidas adotadas na cúpula do G20 que se celebrou em Londres em abril de 2009. Desde então até agora, o balanço é vergonhoso. Os paraísos fiscais não só são mais frutíferos que antes mas, sobretudo, na lista dos mais fluídos figuram países ocidentais como a Suíça ou Luxemburgo, e potências mundiais como os Estados Unidos, o Japão, a Alemanha e a Grã Bretanha.
A campanha francesa “Ajudemos o dinheiro a sair dos paraísos fiscais”, lançada antes da cúpula francesa do G20, revela que 800 bilhões de euros saem dos países do sul a cada ano. O território britânico das Ilhas Virgens conta com 23.000 habitantes, mas tem 830.000 empresas registradas através das quais se lava dinheiro, se evita o pagamento de impostos e outras tantas transações ilícitas. A organização internacional Tax Justice Network, TJN (Rede mundial pela justiça fiscal), sintetizou em um informe publicado antes da cúpula de Cannes o fracasso rotundo de todas as disposições adotadas pelo G20 em Londres. A Tax Justice Network analisou 73 jurisdições e sua atuação nos mercados financeiros. As conclusões são veementes: no índice sobre a “opacidade financeira” das 73 jurisdições, a Suíça ocupa o primeiro lugar. A TJN destaca que a Confederação helvética “reúne as condições ótimas para esconder a evasão fiscal internacional, a lavagem de dinheiro e outras transações financeiras ilícitas”. Pior ainda: a TJN esclarece que, na verdade, o primeiro paraíso fiscal do planeta é. . . a Grã Bretanha. De fato, se fosse atualizado o índice sobre a opacidade financeira, incluindo as ilhas britânicas de Jersey e Guernsey, se conclui que “o Reino Unido é o primeiro paraíso fiscal do mundo e se constitui atualmente no ator de maior peso no que se refere ao sigilo bancário”. Separado, o Reino Unido ocupa a décima terceira posição, Jersey a sétima, as ilhas Virgens britânicas a décima primeira e Guernsey aparece na posição número 21. A classificação elaborada pela Rede mundial pela justiça fiscal através de 15 parâmetros apresenta outra surpresa: A Alemanha e os Estados Unidos (dois membros do G20) figuram entre os 10 Estados mais opacos.
Washington está na quinta posição e Berlin na nona. Nessa mesma lista, Luxemburgo figura na terceira posição, Hong Kong na quarta, o Japão na oitava e a Bélgica na décima quinta. A frase pronunciada pelo presidente francês na cúpula de Londres é irreal... e irrealizável: ”a era do sigilo bancário terminou”, tinha dito Nicolas Sarkozy em abril de 2009. Mas a era continua pujante. A investigação da Tax Justice Network põe ao descoberto uma evidência: o intercâmbio de informação mediante centenas de acordos bilaterais subscritos desde 2009 não serviu para nada. Pelo contrário, a maioria dos paraísos fiscais recupera mais dinheiro que antes da famosa missa de 2009. O índice da Tax Justice Network foi elaborado segundo duas medidas: os obstáculos que se colocam diante dos pedidos de informação por parte das autoridades de outros países e a relevância da jurisdição no mercado financeiro global. A investigação depois qualifica de 0 a 100 pontos o comportamento das jurisdições investigadas em uma quinzena de temas que vão desde a publicação de dados, o sigilo bancário até o registro de fundações. As já célebres Ilhas Caimã, Jersey, Belize, Barbados ou Gibraltar estão sendo alcançadas por Luxemburgo, Estados Unidos, Japão ou Alemanha.
 O G20 tinha se proposto a revisar a eficácia de sua política contra os paraísos fiscais na cúpula de Cannes. A crise da zona do euro corre o risco de dilatar a análise. No entanto, os dados proporcionados pela campanha francesa “Ajudemos o dinheiro a sair dos paraísos fiscais” e pela Rede mundial pela justiça fiscal provam que nada mudou, que o mal se incrementou e que aqueles que respaldam medidas contra os paraísos fiscais, no seio do próprio G20, são os mesmos que depois, atrás da porta, contribuem para a sua expansão.


Tradução: Libório Junior.

sábado, 5 de novembro de 2011

IDH: três anos, três métodos.

“Medir, senhora, é comparar”.
O professor Julio Cesar de Mello e Souza, ao encarnar Beremiz Samir, o famoso “Homem que Calculava” usou esta frase para um “início de conversa” sobre matemática.
O Índice de Desenvolvimento Humano, que a nossa imprensa divulgou como sendo um retrato perfeito do nível de desenvolvimento de 187 países é exatamente isso: uma comparação.
E, sendo uma comparação, exige que ela seja feita em bases semelhantes para todos, o mais aproximadamente possível. E nem sempre – ou melhor, nunca, na prática – se conseguem dados colhidos nas mesmas épocas e condições, ainda mais em escala global.
É dever de qualquer autor que promove comparações esclarecer que dados e de quando são os utilizados em algo que, essencialmente, compara países.
Não há nada demais em que sejam usados dados de datas diferentes quando: a) dados mais recentes não estão disponíveis e b) isso seja devidamente ressalvado por quem divulga a comparação.
Quem não participou da divulgação do IDH não pode dizer se foi ou não feito este esclarecimento, embora seja inacreditável que não o tenha sido.
E o que se apontou ontem aqui é o reverso disso.
Mas fere o bom senso que, três anos após uma crise que afundou o mundo desenvolvido, que provocou, segundo organismos da própria ONU, queda de PIB de muitos países – que não se recuperaram delas até agora – perda de renda e emprego, um país que todos apontam como um dos que mais enfrentou e superou este quadro tenha um avanço mais do que modesto nos critérios do IDH.
Não é que o IDH esteja “errado”, mas é preciso que se esclareça o que motivou, por exemplo, a utilização de dados de 2004 (PNAD 2005)no cálculo da desigualdade, quando os de 2008(PNAD 2010), da mesma instituição, o IBGE, estavam disponíveis. Reproduzo a página do próprio site do IDH para que todos confiram.
Toda medida é relativa e ninguém está colocando em dúvida a honestidade do PNUD, que é o órgão da ONU que elabora o IDH. O que está sendo questionado é como se pode medir alguma coisa com mudanças de critérios feitas a todo o momento.
A maneira com que se usa isso para “chegar a conclusões” sobre o desempenho de políticas públicas é lamentável e incoerente.
Reproduzo, aí ao lado, a manchete do G1 de um ano atrás, quando aconteceram mudanças metodológicas em seu cáculo.  Éramos, então, o 73º colocado no ranking, com índice de 0,699, como você vê no título de um ano antes. Agora, com uma nova rodada de “mudanças metodológicas” passamos a um IDH de 0,718 e à posição 84!  Aí se refazem os cálculos e chega-se á conclusão de que estávamos em 85º!E em 2009, veja na ilustração, com outra metodologia “mais antiga”, o Brasil ocupava a 75ª posição no ranking, com IDH de 0,813, um indicador que, mesmo melhorando, nos fazia cair cinco posições em relação a 2008.
Tres metodologias em três anos?
O que aconteceria, por exemplo, se o IBGE mudasse, a cada edição, os critérios de suas medições? O que é estranhável é que não ser esclarecido o que mudou, como mudou, que dados foram utilizados e de quando. Já basta que o IDH coloque no mesmo “saco” países como a China e o Principado de Andorra, com seus 70 mil habitantes, dois quais menos de 30 mil nasceram lá
Mas mudando de metodologia a cada ano e fazendo isso sem advertir quem recebe seus números, índice nenhum pode ter credibilidade.

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