sexta-feira, 29 de abril de 2011

Aguardem

Buuu

Diálogo urbano, no meio de um engarrafamento. Carro a carro.


- É nisso que deu, oito anos de governo Lula. Este caos. Todo o mundo com carro, e todos os carros na rua ao mesmo tempo. Não tem mais hora de pique, agora é pique o dia inteiro. Foram criar a tal nova classe média e o resultado está aí: ninguém consegue mais se mexer. E não é só o trânsito. As lojas estão cheias. Há filas para comprar em toda parte. E vá tentar viajar de avião. Até para o exterior - tudo lotado. Um inferno. Será que não previram isto? Será que ninguém se deu conta dos efeitos que uma distribuição de renda irresponsável teria sobre a população e a economia? Que botar dinheiro na mão das pessoas só criaria esta confusão? Razão tinha quem dizia que um governo do PT seria um desastre, que era melhor emigrar. Quem pode viver em meio a uma euforia assim? E o pior: a nova classe média não sabe consumir. Não está acostumada a comprar certas coisas. Já vi gente apertando secador de cabelo e lepitopi como e fosse manga na feira. É constrangedor. E as ruas estão cheias de motoristas novatos com seu primeiro carro, com acesso ao seu primeiro acelerador e ao seu primeiro delírio de velocidade. O perigo só não é maior porque o trânsito não anda. É por isso que eu sou contra o Lula, contra o que ele e o PT fizeram com este país. Viver no Brasil ficou insuportável.


- A nova classe média nos descaracterizou?


- Exatamente. Nós não éramos assim. Nós nunca fomos assim. Lula acabou com o que tínhamos de mais nosso, que era a pirâmide social. Uma coisa antiga, sólida, estruturada...


- Buuu para o Lula, então?

- Buuu para o Lula!

- E buuu para o Fernando Henrique?


- Buuu para o... Como, "buuu para o Fernando Henrique"?!

- Não é o que estão dizendo? Que tudo que está aí começou com o Fernando Henrique? Que só o que o Lula fez foi continuar o que já tinha sido começado? Que o governo Lula foi irrelevante?


- Sim. Não. Quer dizer...

- Se você concorda que o governo Lula foi apenas o governo Fernando Henrique de barba, está dizendo que o verdadeiro culpado do caos é o Fernando Henrique.

- Claro que não. Se o responsável fosse o Fernando Henrique eu não chamaria de caos, nem seria contra.

- Por quê?

- Porque um é um e o outro é outro, e eu prefiro o outro.

- Então você não acha que Lula foi irrelevante e só continuou o que o Fernando Henrique começou, como dizem os que defendem o Fernando Henrique?

- Acho, mas...

Nesse momento o trânsito começou a andar e o diálogo acabou.
 
 
Por Luis Fernando Verissimo - O Estado de S.Paulo

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Dilma e os direitos humanos em Guantánamo


Por Altamiro Borges

O Wikileaks divulgou na noite de domingo (24) uma série de documentos secretos do Pentágono que confirmam que o governo dos EUA usou a prisão de Guantánamo ilegalmente para obter informações dos detidos. Diante a revelação bombástica, Barack Obama, o falsário que prometeu fechar Guantánamo, saiu na defesa dos abusos cometidos e criticou o Wikileaks.

“Motoristas, agricultores e cozinheiros”

“As milhares de páginas dos mais de 700 documentos do Pentágono divulgados revelam que ao menos 150 dos presos em Guantánamo eram afegãos e paquistaneses inocentes, incluindo motoristas, agricultores e cozinheiros, que foram detidos durante operações de inteligência em zonas de guerra. Muitos destes permaneceram presos durante anos devido a confusões de identidade ou simplesmente por terem estado no lugar errado na hora errada”, relata a Folha online.

Segundo os documentos vazados, os EUA criaram na prisão de Guantánamo “um sistema policial e penal sem garantias no qual só importavam duas questões: quanta informação se obteria dos presos, embora fossem inocentes, e eles se podiam ser perigosos no futuro”. Um terço dos 600 detidos sob a presidência do terrorista George W. Bush, vários dos quais foram transferidos para países aliados, foram catálogados como “de alto risco”, antes de serem postos em liberdade ou entregues a outros governos.

Uso político dos direitos humanos

A nova revelação do Wikileaks deveria servir de alerta ao Itamaraty, agora sob a direção do embaixador Antonio Patriota. No mês passado, o governo Dilma Rousseff condenou a violação dos direitos humanos no Irã – o que foi saudado pelo governo dos EUA e pela mídia colonizada. Os editoriais dos jornalões elogiaram a “mudança na política externa brasileira, distante do governo Lula”.

Na ocasião, o ex-ministro Celso Amorim, satanizado pela mídia, criticou a hipocrisia das potências capitalistas no uso oportunista da questão dos direitos humanos. Disse que concordava com as críticas ao Irã, desde que o governo também condenasse a violação dos direitos humanos dos presos em Guantánamo e dos imigrantes na Europa.

Será que Antonio Patriota emitirá agora uma nota dura contra os abusos cometidos pelos EUA? Será que a ONU condenará o império? Será que a mídia colonizada divulgará amplamente os documentos vazados pelo Wikileaks?
Leia mais no Blog do Miro

Pimenta aciona MPF contra programa da MTV Brasil

O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) ingressou, nesta segunda-feira (25), com uma representação no Ministério Público Federal para que sejam tomadas providências com relação a um quadro do Programa Comédia MTV, chamado “Casa dos Autistas”. Na sketch, que busca ser uma sátira do Casa dos Artistas do SBT, o dia-a-dia as pessoas com disfunção global do desenvolvimento é retratado, a partir de uma visão particular dos humoristas do canal musical.
No documento, o deputado classifica o “Casa dos Autistas” como um programa discriminatório que explora de maneira preconceituosa a imagem das pessoas com transtornos globais do desenvolvimento. “Essa paródia de péssimo gosto e conteúdo nada tem de humor, pelo contrário, dissemina uma cultura condenável, que é a da tentativa de inferiorização das pessoas pela diferença. Reforça a idéia segregadora de um modelo único de sociedade, em que aqueles que não se enquadram no rótulo de normais devem ser motivo de piadas e discriminação”, afirma o parlamentar.
A representação do deputado Pimenta está baseada na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da qual o Brasil é signatário. O texto da Declaração diz que “os Estados Partes proibirão qualquer discriminação baseada na deficiência e garantirão as pessoas com deficiência igual e efetiva proteção legal contra a discriminação por qualquer motivo.
Clique na imagem para ampliar ou acesse a íntegra da representação do deputado Pimenta
Assista ao vídeo e entenda os motivos da representação do deputado Pimenta e do repúdio da sociedade brasileira ao "Casa dos Autistas" da MTV.
Clique no Link pra assistir, pois o sistema de compartilhamento no Youtube foi desativado.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Os adoradores do caos

As três manchetes da montagem aí ao lado bem poderiam ser tema de uma discussão sobre jornalismo comparado, para os jornalistas que, condescendentemente, lêem este blog escrito por um leigo.
A Agência Reuters está muito longe de ser dilmista ou esquerdista. Ao contrário, fala para o mundo dos negócios, que precisa ficar bem informado. Já os patrióticos O Globo e Folha, embora defendam também os interesses do “mercado” – eu um dia ainda vou ter uma epifania e ver este ser incorpóreo -, cumprem a penosa missão de serem máquinas de propaganda para classe média.
Para eles, portanto, é preciso anunciar que o caos nos espreita ali na esquina, que o dragão da inflação prepara suas labaredas e o fantasma do desemprego ronda os lares, inquieto.
E aí, de burros, não conseguem dar o recado que a turma do “mercado” quer. Isto é, dizer aos diretores do Banco Central: a economia está aquecida, podem subir os juros sem risco de recessão.
Vejam só:
“(…) como o mercado de trabalho segue forte, a demanda por crédito pode continuar forte e ofuscar parte do efeito das medidas do governo, disse o Barclays Capital, em relatório.”
“Acreditamos que os últimos dados sobre o mercado de trabalho reforçam a necessidade de o Banco Central de elevar a taxa Selic por 50 pontos na quarta-feira, disse o HSBC, em relatório.”
Ora, um estudante de economia de segundo ano saberia que, diante de uma retração deste nível (ou do nível que as manchetes querem fazer crer), de 65%, a medida correta seria afrouxar os juros, não subi-los.
Quem escreveu isso faltou à aula sobre o New Deal de Roosevelt e jamais ouviu falar sobre Keynes e suas políticas econômicas anticíclicas.
E também não leu o Estadão de domingo, que trouxe uma matéria sobre a pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral – não, não é um órgão comunista, mas da conservadoríssima Universidade Católica de Minas - que diz, literalmente:
“Se no passado era o trabalhador que corria atrás das empresas para conseguir um bom emprego, hoje são as empresas que fazem qualquer negócio para contratar ou manter um funcionário. De acordo com pesquisa feita pela Fundação Dom Cabral com 130 companhias, responsáveis por 22% do Produto Interno Bruto (PIB), 92% das empresas estão com dificuldade para contratar profissionais.”
Mas, certamente, este pessoal levou a sério o artigo de Fernando Henrique Cardoso e sua aula de marketing:é preciso persistir, repetir a crítica, ao estilo do “beba Coca Cola” dos publicitários.”
Como era mesmo aquela frase do Goebbels? Ah, sim: “Uma mentira muitas vezes repetida, torna-se verdade”.

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sexta-feira, 15 de abril de 2011

Erradicação da miséria: Dilma lança em maio seu maior programa

A presidenta Dilma Rousseff vai lançar em maio aquele que deve ser o maior programa de seu governo, o plano de erradicação da miséria, uma promessa de campanha que ela pretende que se transforme na maior marca de seu mandato.


O objetivo é tirar 15 milhões de pessoas que vivem hoje em condições de absoluta miséria no País, com inclusão nos serviços básicos que o Estado oferece à população e com a capacitação para o mercado de trabalho.

O programa não tem um caráter meramente assistencialista. Dilma quer habilitar e integrar essa camada da população à sociedade.

Dilma quer beneficiar não só a população que vive em condições subumanas na área rural, assim como também o viciado em crack isolado na periferia da cidade. São famílias que não conseguem uma renda mínima para a subsistência.

Uma das grandes dificuldades identificadas pela equipe que está debruçada no programa é de possibilitar à essa camada da sociedade o acesso às informações, já que eles não tem qualquer contato com os meios de comunicação seja TV, internet, rádio ou jornal.

O governo está montando uma força-tarefa para chegar a todos esses lugares para expor e oferecer os benefícios do programa.

O plano foi uma das promessas da campanha de Dilma à presidência e sua formulação envolveu todos os ministérios.

Nas últimas semanas, Dilma também integrou a equipe econômica às discussões.

Dilma quer fazer da erradicação da miséria sua grande bandeira, assim como ocorreu com o governo Lula, com a ascensão de 28 milhões de pessoas a classes sociais acima da linha da pobreza.

A coordenação do programa está a cargo do Ministério do Desenvolvimento Social, comandado por Tereza Campelo, que será responsável também por conduzir o programa.

O programa está dividido em três linhas de atuação: benefícios sociais; inclusão produtiva e na extensão dos serviços que o Estado oferece a esta camada da população.

No caso dos benefícios, o governo estuda, além da extensão do Bolsa Família para quem ainda não é atendido pelo programa, em um reajuste para as famílias que possuem muitos filhos. Hoje, o teto do benefício é R$ 242 por família.

Já a extensão dos serviços básicos do Estado, como saúde, alimentação e educação, está baseada em explicar e auxiliar os cidadãos que estão abaixo da linha da pobreza sobre seus direitos estabelecidos por lei. A pouca adesão ao Programa de Aquisição de Alimentos é vista como um exemplo disto pelo governo.
O programa de erradicação da miséria utiliza como base os dados do Censo 2010, elaborado pelo IBGE.
A ação para erradicar a miséria terá ainda cuidado especial com viciados em drogas, sobretudo o crack. A preocupação do governo é de como oferecer condições para a reabilitação dos usuários.

Fonte: Vermelho

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Os desafios para a construção de outra comunicação

Nesta semana ocorreram ao mesmo tempo, na mesma cidade (Porto Alegre) e com temas que dialogam irremediavelmente, dois encontros opostos. O Fórum da Liberdade, organizado e participado pela nata da direita brasileira, e o Fórum da Igualdade, que nasceu este ano exatamente como contraponto ao primeiro, sendo organizado pela CUT-RS e pela Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS). Este post não pretende discutir a existência dos dois fóruns, mas posicionar o Jornalismo B nos debates travados em cada um deles: “Liberdade na era digital”, no FL, “Uma outra comunicação é necessária”, no FI.

Uma outra comunicação é absolutamente imprescindível, e passa necessariamente pela liberdade digital. Não essa liberdade defendida há 24 anos pelos participantes do Fórum da Liberdade, essa liberdade seletiva, que só torna livre as elites financeiras. Liberdade para todos, liberdade com igualdade. São setores da própria direita que, através do AI-5 digital do senador Eduardo Azeredo querem destruir a liberdade na internet. São setores dessa mesma direita que patrocina, apóia e cobre o Fórum da Liberdade que, através de processos recorrentes, tenta calar diversos blogueiros críticos ao status quo e às práticas levadas a cabo pela velha mídia. Exemplos não faltam. É preciso uma regulação da internet, mas sobre marcos democráticos. Essa regulação, além de coibir os excessos que sempre acabam acontecendo, impediria que qualquer juizeco determinasse, a seu bel prazer, medidas de censura, como tem ocorrido de forma constante.
Mas a necessidade de uma outra comunicação não passa apenas pela liberdade na internet. Passa também pela verdadeira liberdade em todas as formas de comunicação, que só pode ser alcançada através da democratização radical da mídia:
- Fiscalização independente e séria das leis já existentes para a comunicação;
- Regulamentação dos itens da Constituição que versam sobre comunicação;
- Fim das concessões de rádio e TV para políticos e seus apadrinhados;
- Revisão de todas as concessões de rádio e TV;
- Distribuição equitativa das verbas publicitárias;
- Descriminalização das rádios comunitárias e aceleração dos processos de legalização;
- Criação de mecanismos de controle social sobre o que é veiculado nas concessões públicas;
- Aprofundamento obrigatório da pluralização e diversificação social da programação das concessionárias;
- Proteção aos comunicadores acossados pelos grandes veículos de comunicação;
- Fim imediato da propriedade cruzada (disfarçada ou não).
Esses são apenas alguns dos itens necessários para construirmos a necessária “outra comunicação”. Esse caminho passa também por ações diretas dos próprios comunicadores, através da pressão sobre o governo para que este apóie e também construa essas mudanças, mas também através de um novo entendimento sobre o seu papel como jornalista. A mídia independente ainda precisa se qualificar muito, especialmente na internet. Precisa despartidarizar-se e entender que falar apenas para os próprios ouvidos adianta muito pouco. Precisa entender seu papel de agente social imprescindível para o avanço democrático e, a partir desse entendimento, reduzir, ao menos no exercício jornalístico, seu papel de agente partidário.
Mas essas são apenas decisões a serem tomadas. O grande desafio é o que tenta fugir ao nosso alcance: a produção de conteúdo desvinculada das pautas impostas pela grande mídia. Abordar pautas tradicionalmente ignoradas ou inverter a lógica do que é tratado costumeiramente é a mais pura subversão jornalística. Mas, com as dificuldades financeiras enfrentadas pela quase totalidade da mídia contra-hegemônica, a produção de conteúdo primário informativo torna-se complicada. O trabalho coletivo é, nesse sentido, uma alternativa interessante, mas ainda pouco amadurecida entre esses comunicadores, e, especialmente, entravado por vinculações partidárias. Se queremos outra comunicação, é preciso outra atitude. É preciso repensar esses caminhos e repensar prioridades

Texto do jornalista  Alexandre Haubrich

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Conversa Fiada ou trololó?


Olá amigos(as)!

Como diz o título da postagem, isto realmente é conversa. Mas, não tão fiada assim. Na correria que o dia a dia nos impõem, as vezes se torna impossível sentar aqui na frente da máquina e esmiuçar isto em postagens. Sei que já fui muito mais leal a esta tarefa. Hoje "traiciono los mios", com uma amante sedutora, pequena e rápida. Me penitencio por isso. Poderia  chamar de "ejaculação precoce", "Rapidinha" ou simplesmente preguiçosa. Na verdade, ela se chama "exploradora", amante cruel e infiel. Esta amante irresistível se chama @gilmardarosa. Ela me explora o dia todo, me esgota o pensamento, faz dizer tudo que quero, rápido, fagueiro, impulsivo e traidor. Pra você que acessa o Blog todo dia, acrescenta meu endereço do Twitter, lá passo o dia inteiro falando. Me tornei um traidor de mim. Estou de penitência, "casi me olvido de vivir", mas, prometo que voltarei ao meus textos, farei sim replicações de pessoas fantásticas que leio e sigo. Lhes peço, paciência com minhas insanidades, infidelidade e principalmente por ter retornado as malditas planilhas contábeis. Entretanto, faz-se imperativo dizer: A causa é nobre. O salario não.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

PSDB vai lançar “Oscar de FHC”. Agnelli é pule de 10

Num primeiro momento, nem eu acreditei. Entretanto, de tanto saltitar nas redes sociais e nos veículos do PIG, me convenci que era sério. Leiam o que escreve o Dep. Federal Brizola Neto.


Pelo twitter, me enviam a coluna “Radar Político”, do Estadão: Depois de esconder ex-presidente, tucanos resolvem criar ‘Prêmio FHC’ . A nota diz que vão premiar “gestores públicos e organizações não-governamentais que se destacarem em iniciativas consideradas inovadoras na área de gestão e políticas públicas”. Se o que eles consideram inovador é seguir as velhas práticas coloniais que Fernando Henrique impôs ao país, desconfio que o ex-presidente da Vale, Roger Agnelli, não tem adversários para ganhar o troféu.
Vai ser assim uma espécie de prêmio de “homem de vendas” do ano, sendo que o que é vendido é o Brasil. Aliás, na minha boa-vontade, sugiro que o troféu do prêmio FHC seja uma estatueta de Joaquim Silvério dos Reis, aquele mesmo que a gente aprendeu na escola.
Ah, e pra não perder o hábito, a nota do Estadão ressalta que o agraciado levará um prêmio em dinheiro. Dinheiro público, do Fundo Partidário.
Como diz o José Simão, o Brasil é o país da piada pronta. E piada de mau gosto.

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terça-feira, 5 de abril de 2011

Fim do mundo será em 21/05/2011

Grupo anuncia ''fim do mundo'' 
Integrantes da Family Radio circulam por Minas e Rio e fazem propaganda até em ônibus
Bruno Boghossian / RIO - O Estado de S.Paulo
Um novo alerta apocalíptico chegou ao País com um aviso: o fim pode estar mais próximo do que se imagina. Um grupo de picaretas cristão dos Estados Unidos (Nota minha: de onde mais poderia ser?), com representantes em Belo Horizonte, está rodando o Brasil para divulgar a tese (?) de que o juízo final está marcado para 21 de maio - e não para 2012, segundo a popular profecia feita pelos maias (Nota minha: os maias não têm nada a ver com isso).

Com propagandas até nas traseiras de ônibus, evangélicos da Family Radio fazem malabarismo com números e datas da Bíblia para garantir que há provas de que o mundo vai acabar nos próximos meses. No Rio, um grupo vestido de branco circulou pelas ruas do centro com placas que alertavam para o fim do mundo. Há semanas, ônibus regulares circulam com os enigmáticos dizeres "21/05/2011: Deus vai trazer o dia do julgamento".

A previsão bíblica foi interpretada pelo americano Harold Camping, responsável pela Family Radio, que tenta emplacar um apocalipse pela segunda vez em sua carreira de profeta. Nos anos 1990, ele publicou um livro em que dizia haver "alta probabilidade" de Cristo voltar à Terra em 6 de setembro de 1994 para julgar os homens. Um grupo se reuniu em uma cidade da Califórnia para esperar o evento.

A sede brasileira da Family Radio fica no bairro de Nova Gameleira, em Belo Horizonte, tendo como atividade principal a divulgação da tese do fim do mundo. Um site em português explica passo a passo a matemática feita por Camping: o juízo final começaria 7 mil anos depois do grande dilúvio, que teria acontecido em 4990 a.C. (Nota minha: como o tal dilúvio é uma impossibilidade física e, portanto, nunca ocorreu, qualquer data poderia ser descrita como 7 mil anos após o grande dilúvio)
Criticado por cristãos americanos, o grupo já foi chamado de seita e Camping acusado de ser "falso profeta". A sede brasileira da Family Radio não respondeu aos e-mails enviados pelo Estado na manhã de ontem.

Leia mais em: Esquerdop̶a̶t̶a̶
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sexta-feira, 1 de abril de 2011

A Ditadura brasileira ainda viva – a cidadania torturada


Aos quatro anos de idade, Edson Teles entrou em um prédio na Rua Tutóia, no bairro do Paraíso, em São Paulo para encontrar os pais, que não via há alguns dias. Simpáticos nomes o da rua e o do bairro. Edson ouviu a voz da mãe chamando seu nome, mas, quando se virou, não reconheceu o rosto e o corpo que portavam aquela voz. Em seguida, encontrou o pai, em outra sala, sentado em uma cadeira aparentemente normal para uma criança. Mas havia cintas de couro nos braços da cadeira. Era 1972, e Edson visitava os pais no DOI-CODI, centro da repressão da Ditadura Militar brasileira. “Meu filho perguntou 'por que o pai é verde?' e minha filha perguntou por que eu estava azul”, contou anos atrás a mãe de Edson, Maria Amélia de Almeida Teles.

Na última semana, em um seminário em Porto Alegre, Edson desabafou: “me envergonho de ser brasileiro. Oferecemos o Brasil para ser paraíso dos torturadores. Se torturarem em nome do Estado, aqui são anistiados”. E Edson e sua irmã Janaína não são um caso raro. Muitas crianças viram seus pais serem torturados pelo Estado brasileiro que, entre 1964 e 1985, impôs a seus cidadãos o fim da cidadania e de qualquer possibilidade de dignidade. Socos e pontapés eram carinhos. A violência vinha através de choques elétricos por todo o corpo, afogamentos, fuzilamentos simulados. Homens e mulheres, muitas vezes nus, eram pendurados em paus-de-arara, humilhados de todas as formas, reduzidos a nada. E se Edson e Janaína não são um caso raro, e tampouco a tortura a que foram submetidos seus pais foi um caso raro, também não foi a tortura a única forma pela qual cidadãos brasileiros foram agredidos por seu próprio Estado.

Assassinatos e sequestros também eram comuns. Sim, hoje ainda são. Mas, naqueles anos, quem cometia esses crimes era o Estado, e os cometia como Estado, não apenas através de indivíduos que corrompiam as instituições. O Estado e seus agentes eram os criminosos, os assassinos, sequestradores, torturadores. Brasil nunca mais. Muitos cidadãos brasileiros foram obrigados a fugir do país. Deixaram para trás seu lugar e seus familiares, amigos, colegas. Deixaram para trás toda uma vida para começarem a construir outra longe daqui.

O silêncio, para os militares e civis que referendaram o Golpe de 1964, era a causa pela qual lutavam. Gritos? Permitidos apenas nas salas de tortura, e apenas gritos de dor. Parte significativa da imprensa apoiou a Ditadura de seu início até as portas de seu fim, quando percebeu que, ou abandonava o moribundo, ou morreria junto. A outra parte da imprensa, porém, a parte séria, viu muitos de seus representantes torturados, desaparecidos ou acuados. O fetiche do silêncio.

Derrubada a democracia que se aprofundava no governo João Goulart, os golpistas não queriam mais saber de política, apenas de poder. Um professor falando sobre política em aula poderia ser denunciado por um aluno como terrorista. A mesma coisa em conversas de bar ou de qualquer lugar. O risco de tortura, assassinato ou “desaparecimento” sempre iminente. Se antes a política já era afastada do povo, em 64 o Estado tirou do povo o direito de se aproximar da política.

Com a chamada “abertura democrática” da década de 1980, não acabou-se verdadeiramente com a Ditadura. Até hoje suas sobras contaminam a vida dos brasileiros. A herança da Idade das Trevas tupiniquim está no autoritarismo e na violência policial, na despolitização popular, na agressividade da direita, na ignorância, no conservadorismo moral preconceituoso, racista, machista e homofóbico. Esses resquícios sobrevivem também no imaginário demente de alguns políticos e alguns militares que anseiam pela reinstitucionalização de todos esses absurdos.

Continuam dominando importantes setores do país as pessoas que financiaram e apoiaram de diversas formas a Ditadura Militar. Grandes empresários, destacados políticos, graduados militares. Os donos da comunicação brasileira também entram nesse bolo. É por tudo isso que, enquanto nossos países vizinhos agem para limpar a sujeira deixada por suas respectivas ditaduras – sem varrer essa sujeira para baixo do tapete –, aqui o silêncio segue imposto.

É para punir os responsáveis pelo massacre da cidadania brasileira que é necessário revisar a Lei da Anistia, assinada em 1979, que, ao mesmo tempo em que beneficiou quem lutava por um Estado democrático, absolveu automaticamente as pessoas que, em nome do Estado brasileiro, cometeram todos os tipos de crime. A tortura e o assassinato em nome do Estado foram permitidos, o que configura uma arbitrariedade e um desrespeito aos brasileiros representados por esse Estado. Os cidadãos que lutaram contra a Ditadura Militar já foram fortemente punidos das mais diversas formas ainda durante aquele período. Os representantes dessa Ditadura, não. Além disso, a Lei da Anistia foi aprovada pelos opositores ao regime com uma arma na cabeça. Da mesma forma que obtinham confissões através da tortura, os governantes de então impuseram sua própria imunidade como condição para deixarem o povo brasileiro ser re-empoderado minimamente.

A abertura imediata de todos os arquivos da Ditadura Militar e a ampla divulgação de seu conteúdo, assim como o trabalho de resgate histórico do que vivemos, é outra obrigação do Estado brasileiro. Os cidadãos têm o direito de conhecer sua própria história, a história de seu país. Se o Estado é uma instituição da sociedade, e esta é formada pelo conjunto dos indivíduos, o Estado somos nós, e nós temos o direito de conhecer a verdade e o dever de lutar por esse direito. Para que não corramos o risco de retornar àquela situação de terror precisamos saber detalhadamente o que nos levou a ela o que a manteve por tanto tempo. Só assim, com a punição dos gerentes da nossa Idade das Trevas e com o direito à verdade, poderemos realmente encarar de frente as heranças daquele tempo que ainda nos assombram.


Alexandre Haubrich, jornalista, editor do blog Jornalismo B (http://jornalismob.wordpress.com/ / http://twitter.com/jornalismob / http://twitter.com/alexhaubrich)