terça-feira, 31 de março de 2009

Manchetes do Painel do dia

Não leia o PIG, procure outras fontes
Economia russa vai encolher 4,5%

A economia da Rússia deverá encolher 4,5% este ano em função da desaceleração global, projetou o Banco Mundial. A estimativa ficou bem acima da retração estimada pelo governo russo, de 2,2%. Segundo o banco, o país vai ser particularmente atingido pela queda do preço do petróleo, pois é um grande produtor. A situação econômica se agravou de forma tão rápida e inesperada, que o banco sugere redirecionar o foco da política anti-crise para programas de ajuda à população, como o aumento do seguro-desemprego e da previdência social. Isso evitaria um significativo aumento da pressão social, argumenta o Banco Mundial.
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Obama anuncia plano de ajuda às montadoras

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deve revelar em breve detalhes de um plano de ajuda às montadoras General Motors e Chrysler. O comitê de ajuda às montadoras disse que ambas não terão condições de cumprir as metas de reestruturação financeira estabelecidas anteriormente, quando receberam recursos públicos. Comenta-se que Obama não vai transferir novas quantias nem decretar a falência das montadoras. O comitê de ajuda apenas comentou que irá garantir capital às montadoras apenas para as próximas semanas.
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Produção industrial japonesa cai 9,4%

A queda brusca na demanda externa e interna por automóveis e eletro-eletrônicos japoneses fez a produção industrial no país despencar 9,4% entre janeiro e fevereiro, informou o governo. O dado é preliminar, mas mantém a seqüência de cinco meses de produção em queda, sendo que janeiro apresentou o declínio mais acentuado, 10,2%. O forte ritmo de queda pode aumentar a pressão sobre o já impopular governo do primeiro-ministro Taro Aso. Com isso, sua equipe se veria forçada a expandir o novo pacote de incentivo fiscal, que está sendo preparado para combater os efeitos do agravamento da recessão.
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Nações ricas bateram recorde de doações em 2008

As nações ricas doaram mais recursos para o desenvolvimento mundial do que nunca em 2008, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O montante da ajuda oficial aumentou 10,2% para US$ 119,8 bilhões, a mais alta quantia registrada até agora, disse a organização. Os EUA foram os maiores doadores, com o auxílio líquido subindo 16,8% para US$ 26 bilhões no ano passado, e o Reino Unido foi o terceiro maior doador, elevando o seu montante em 24,1%, para US$ 11,8 bilhões.
Clique aqui para ler mais na BBC NEWS.

Primeiro-ministro britânico defende New Deal global no G20

O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, quer estabelecer uma agenda ousada para a reunião do G20 no próximo dia 2 de abril, exortando os governos a se inscrever em um “New Deal” global. “Precisamos de um New Deal global - um grande acordo entre os países e continentes do mundo - para que a economia mundial não só se recupere, mas… que o sistema bancário seja baseado nos melhores princípios…”, disse Brown em uma pré-reunião de cúpula dos líderes europeus no mês passado.
Clique aqui e leia a integra Na CNN MONEY
PIG"partido da Imprensa Golpista"

Retornando


Olá amigos (as) leitores (as), depois de um pit stop para calibragem e reabastecimento, estou retornando a este espaço que é meu e de todos nós. Num primeiro momento até pensei em escrever um calhamaço de justificativas por minha ausência no blog e na interação com meus leitores (as), mas, pensando melhor resolvi poupar todos desta protelação. O importante é que estou de volta ao teclado para falar sobre a pauta de sempre, política, economia e vigoroso combate à imprensa corporativa e golpista. Portanto amigos (as) “volvemos a la lucha”. Gracias a todos vocês que sempre aqui voltaram pra ler o mesmo texto, a partir de agora retomamos nossa periodicidade.

sexta-feira, 20 de março de 2009

E o povo vota contra seus proprios interesses


Na medida em que a decadência cresce nas sociedades, a linguagem cai também na decadência. As palavras são utilizadas para distinguir, não para iluminar as ações: ‘destrói-se uma cidade em nome de sua libertação’. Usam-se as palavras para confundir; e então, em tempo de eleições, o povo solenemente vota contra os seus próprios interesses”.Gore Vidal no seu livro, editado em 2004,“Imperial America: Reflections on the United States of Amnesia”.A propósito de: Fogaças, Yedas, reeleição de Fogaças, Fogaças para governador, bancadas do concreto, Ponta do Melo, torres + torres, orlas invadidas, falta de merenda escolar, viatura policial sem rádio, policial sem colete, parceiros que proferem "ela é sem-vergonha!", gravações autorizadas pela Justiça onde se ouve "ela é sem-vergonha" (e tudo fica por isso mesmo, e ela nem pisca, nem retoca a maquiagem), saúde pública abandonada, desejo irreprimível de comprar objeto voador, grosseria, mau humor, burrice, dengue, febre amarela, dívida em dólar, capitulação ao Banco Mundial (com auxílio do PT), anomia administrativa, roubo de 44 milhões de reais, secretário da Casa Civil admitindo que o financiamento dos partidos aliados é por via das estatais (e nada acontece, judicialmente), pedágio mais caro do País, bebê japonês, educação enlatada em conteiners, arrogância, cartinhas bregas a jornalistas amestrados, casa nova e nos devendo explicações convincentes, mais mau humor, mais burrice, chinelo de dedo, blusa de oncinha, imprensa bombachuda a soldo da especulação imobiliária mais desavergonhada, gente que não levanta o traseiro gordo da cadeira por menos de cem mil reais, e as práticas das maiores bandalheiras em nome da democracia e do progresso.
Progresso e democracia para quem, cara pálida?

domingo, 15 de março de 2009

Sobre focos


Considerando-se que o líder espiritual e chefe de Estado da Igreja Católica Apostólica Romana é um contumaz acobertador de pedófilos, o que mais me impressionou no episódio de excomunhão pernambucano não foi o fato de lideranças católicas considerarem algumas palavras sem sentido mais importantes do que uma vida humana, mas sim o fato das pessoas ainda se preocuparem com o que a Igreja pensa sobre os fatos do mundo. A única coisa que isso diz sobre nossa espiritualidade é que ela precisa confessar-se com urgência.Porém, uma vez que a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) deve estar preocupadíssima com o destino dos fetos abortados, já que Joseph Ratzinger recentemente acabou com o limbo - local à margem do Paraíso onde ficavam as almas de crianças, bebês e fetos que morreram sem o batismo, mais os homens de bem que viveram antes da vinda de Jesus - por decreto, alcanço minha solidariedade a esses magnânimos teólogos. Não é nada fácil, simultaneamente, estar em contato com Ele e lidar com uma doutrina que tem os pés na realidade mundana.Como se vê, Ele deu a Ratzinger tanto o poder de, em nome da humanidade, perdoar os crimes de seus pares quanto o de acabar, por decreto, com suas prováveis criações.Bem, mas se Deus existe e criou x e x tem um estatuto ontológico, então nenhum decreto humano seria capaz de acabar com tal estatuto. Se isso fosse possível, ou bem x só teria existido nos pensamentos mundanos, ou bem Deus não teria sido muito sábio, pois embora onipotente - já que poderia ter criado o homem de tal modo que fosse esse capaz de revogar por decreto uma sua criação -, não teria dado grande mostra de sabedoria ao criar algo que, depois, precisasse ser extinto, ainda mais pelo homem, um ser que ouve funk. A menos, claro, que ele quisesse que isso se desse assim, pois estamos tratando de um ser onipotente, como se disse. Como se sabe, mesmo por linhas tortas Ele escreve certo, pois Perfeito.Bem, como não podemos penetrar nos desígnios divinos - o que não autoriza especulações sobre a sabedoria ou não de Seus atos - e não temos acesso epistêmico a todas Suas criações, ao menos nos consola saber que é bastante provável que os fetos abortados "tenham sido confiadas à misericórdia de Deus", como reza agora a boa doutrina.Mas, do que é mesmo que estávamos falando? Ah, sim, de uma menina de nove anos estuprada continuamente desde os 6 por um membro de sua família e grávida de 4 meses. Nada, enfim, que mereça qualquer atenção.
Marcelo Duarte, via la vieja bruja
(No retrato, a obra "A descida ao limbo", de Andrea Mantegna, 1431/1506)

sábado, 14 de março de 2009

"Especialistas" do passado dão pitaco sobre o futuro


Mídia brasileira continua olhando para trás

A mídia brasileira procede como se a presente crise do sistemão fosse mesmo a marolinha lulista, como se tudo fosse voltar ao normal em poucas semanas. Não é e não vai. O que está acontecendo agora no mundo conhecido é definitivo – saibamos todos. Nada será como antes. Ninguém sabe bem como será, mas o presente está rompendo com o passado e forjando um futuro diferente, para o qual deveremos ter outros olhos e outros sentidos para perceber e experimentar.Ligo a televisão e vejo o ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, na qualidade de “especialista” dando pitacos furadíssimos sobre o futuro da economia brasileira. Na TV Globo, oito e meia da noite. Inacreditável.Maílson como “especialista” sobre o futuro. Inacreditável. Esse é o padrão da mídia brasuca.Você assiste e lê diariamente no rádio, na TV, nos jornais, os velhos cães comedores de ovelha da ditadura, do governo Sarney (caso de Maílson), do governo Collor e do Farol de Alexandria virem a público – com a face mais amadeirada da paróquia – darem sua palavra de “especialistas” sobre o futuro. Gente que ajudou a montar tijolo por tijolo a fortaleza hegemônica do capital financeiro no País. Hoje, quando os fundamentos do sistema começam a ruir no mundo todo, eles seguem sendo ouvidos e prestigiados pela mídia, como se tudo fosse um leve resfriado infantil.Esses “especialistas” – todos – , inclusive os comentaristas das emissoras, as velhas raposas já sem focinho, como a inefável Mirian Leitão, fazem parte do passado. Não têm a mais mínima responsabilidade e conhecimento para falar do presente e do futuro.Nos primórdios do que hoje é a decadente indústria automotiva, lá pelo final do século 19, proliferavam, tanto nos Estados Unidos, quanto na Inglaterra, as pequenas oficinas que montavam de forma improvisada os veículos movidos a motor de explosão. Os carros vinham, então, com dois assentos, um para o condutor, outro para o mecânico. O comprador casava com o mecânico. Cada carro era único, mesmo aquele “fabricado”pela mesma oficina-montadora. Henry Ford viu isso e não se conformou. Tratou de padronizar a produção, com engenho e método. Adotando os ensinamentos cartesianos do engenheiro Frederik Taylor, funda o paradigma da produção seriada de mercadorias, revolucionando o sistema e criando a sociedade de consumo tal como a conhecemos.A mídia brasileira não se deu conta que os paradigmas e conceitos com os quais opera estão obsoletos. Continua “fabricando automóveis” com os velhos mecânicos da manufatura artesanal.Enquanto o Financial Times dedica uma página inteira ao pensador Slavoj Zizek, o New York Times tem como colunistas semanais, Nouriel Roubini e Paul Krugman, a TV Globo está ouvindo e dando credibilidade a Maílson da Nóbrega, velho taifeiro de terceira classe dos banqueiros tupinambás.Coisas da vida.

domingo, 8 de março de 2009

Sobre mulheres e seu (?) dia

No dia de hoje se você ligar a televisão vai assistir homenagens às mulheres, hoje em todos os jornais, rádios não se fala de outra coisa, amanhã esquecem a data e contabilizam os lucros. Na verdade estes veículos de comunicação baseados na orientação capitalista comercializaram a data, notem que todos os anos é o mesmo conteúdo a mesma pantomina é só trocar o ano da publicação. O importante neste dia e alertar mulheres e homens para a reflexão do que de fato significa a luta histórica das mulheres. Vivo numa cidade que ostenta o maior índice de violência contra a mulher, num dos rincões do estado mais atrasado, conservador, machista e oligárquico. Aliás, esta semana com a agressão que sofreram dezenas delas proporcionadas pelo aparato do estado, fica difícil falar em flores, entretanto me entregaram no dia de hoje um lixo de um encarte na forma de jornal “cor de rosa”, que nos leva do nada a lugar nenhum. Anúncios pagos que enchem os bolsos dos donos de jornais e rádios e que alivia a consciência de alguns. Hoje muitos “maridos” e namorados provavelmente levarão suas companheiras para almoçar ou jantar, talvez lhe alcancem o café na cama, muitos trarão flores, “entidades” promoverão homenagens, distribuirão troféus e diplomas. Sabe o que isso muda na vida destas mulheres amigo leitor? Nada, absolutamente nada. Amanhã recomeça a rotina do desrespeito, da desvalorização da falta de solidariedade que historicamente lhes é imposta por uma sociedade machista, discriminatória, excludente e preconceituosa. Esta é a reflexão a ser feita. Espero que esta data não se torne como as noites de natal, com aquele ambiente cinicamente harmonioso e solidário, que valoriza mais os presentes ofertados em detrimento do significado do dia, visto que raramente o aniversariante é lembrado. Ao contrario destas homenagens cínicas e efêmeras que se assemelham ao sujeito com dor de barriga que ao sair do banheiro se sente aliviado, quero lhes convocar para a vigilância permanente para as políticas de gênero, para a não violência de todos os matizes que são submetidas esta gente, da melhor gente que existe: gente-mulher. Fica, portanto minha saudação especial a todas as mulheres e meu reconhecimento à sua superioridade incontestável, demonstrada principalmente quando cruzamos com alguma delas grávidas.
Resgato este texto que publiquei no ano passado em meu antigo blog e recorro a Jussara Seixas para publicar o post abaixo:
Direitos da Mulher
Toda mulher tem direito a nascer e crescer com dignidade
Toda mulher tem direito ao estudo e à saúde
Toda mulher tem direito a emprego com salário digno.
Toda mulher tem direito a uma moradia digna
Toda mulher tem direito a ser respeitada, independentemente de sua cor, raça, ou religião.
Toda mulher tem direito a escolher se será ou não mãe
Toda a mulher tem direito a fazer uso de todos os métodos anticoncepcionais disponíveis
Toda mulher tem direito a amar e ser amada
Toda mulher tem direito a sorrir, rir, gargalhar, chorar
Toda mulher tem direito a revidar à altura uma ofensa recebida
Toda mulher tem direito a revidar à altura uma agressão recebida
Toda mulher tem direito a evocar a lei Maria da Penha quando for agredida
Toda mulher tem direito a escolher seu parceiro matrimonial, e a dele se livrar quando bem quiser e entender
Toda mulher tem direito a liberdade plena na escolha do que é melhor para sua vida
A todas as mulheres do mundo, feliz dia das mulheres, que esta data se repita todos os 365 dias do ano.

Os economistas e a crise


Finalmente, o presidente Barak Obama sancionou seu pacote de estímulo à economia americana, no valor de 787 bilhões de dólares. Uma semana antes, seu secretário do Tesouro, Thimothy Geithner, anunciara um outro pacote de medidas que podem chegar aos 2 trilhões de dólares, para reativar o crédito e salvar o sistema financeiro norte-americano. Mas apesar do volume de recursos envolvidos, não se sabe exatamente quando, onde e como serão gastos, nem tampouco se sabe se a sua utilização produzirá os efeitos desejados. No meio desta confusão, só existem três coisas que podem ser ditas com toda certeza: a primeira, é que apesar de tudo, os economistas e as autoridades governamentais de todo o mundo estão num vôo cego; a segunda, é que faça o que faça o governo americano, será absolutamente decisivo para a evolução da crise no resto do mundo; e a terceira, finalmente, é que apesar das incertezas, todos os governos envolvidos estão fazendo a mesma aposta e adotando as mesmas políticas de redução das taxas de juros, e adoção de sucessivos pacotes fiscais de ajuda ao sistema financeiro e estímulo à produção e ao emprego, alem de defender a re-regulação dos mercados.
Muitos consideram esta convergência uma vitória da “economia keynesiana”, mas do nosso ponto de vista, ela não tem a ver com nenhum tipo de vitória ou derrota, no campo da teoria econômica. Trata-se de uma reação emergencial e pragmática frente à ameaça de colapso do poder dos estados e dos bancos, e como consequência, dos sistemas de produção e emprego. Foi uma mudança de rumo inesperada e inevitável, que foi imposta pela força dos fatos, independente da ideologia econômica dos governantes que estão aplicando as novas políticas “intervencionistas”.Na verdade, o que se está assistindo, é uma versão invertida da famosa frase da Sra Thatcher: “there is no alternative”. Só que agora, depois de setembro de 2008, a nova convergência aconteceu sem maiores discussões teóricas ou ideológicas, e sem nenhum entusiasmo político, ao contrário do que aconteceu com a grande onda e hegemonia do pensamento liberal-conservador, dos anos 1980/90, que atravessou os planos da vida política, econômica e intelectual das sociedades capitalistas.
A teoria econômica ortodoxa não previu e não sabe explicar a crise atual, e em consequência, não tem nada para dizer nem propor neste momento. São apenas lamentos e exclamações morais, contra os “vícios privados” e os “excessos públicos”, e como consequência, as teses ortodoxas e a ideologia liberal saíram do primeiro plano, mas não morreram nem desapareceram, pelo contrário, permanecem atuantes em todos as frentes e trincheiras de resistência às políticas estatizantes que estão em curso. Uma resistência que tem crescido a cada hora que passa, dentro e fora dos EUA.
Do outro lado da trincheira, quase todos economistas keynesianos interpretam esta crise mundial, seguindo o argumento clássico de Hemry Minsky [1], sobre a tendência endógena das economias monetárias à “instabilidade financeira”, às bolhas especulativas e aos períodos de desorganização e caos provocados pela expansão desregulada do crédito e do endividamento, momentos em que se impõe a intervenção publica e a regulação dos mercados.
Apesar de suas divergências internas, a respeito de valores, procedimentos e velocidades, todos os keynesianos acreditam na eficácia, e estão propondo uma intervenção massiva do estado, para salvar o sistema financeiro e reativar o crédito, a produção e a demanda efetiva. O problema é que a teoria de Minsky explica a origem imediata da crise do mercado imobiliário americano, mas não é suficiente para entender e prever a complexidade do seu desenvolvimento posterior. Por isto, os keynesianos também não sabem o que vem pela frente, nem tem como garantir antecipadamente o sucesso de suas recomendações. Neste ponto, se esconde um paradoxo que em geral é escondido pela teoria econômica: o fato dos keynesianos compartilharem com os economistas liberais uma espécie de “erro liberal invertido” e complementar: os liberais acreditam na possibilidade e na eficácia da eliminação do poder político e do estado do mundo dos mercados; enquanto os keynesianos acreditam na possibilidade e na eficácia da intervenção corretiva do estado no mundo econômico.
Mas tanto ortodoxos quanto keynesianos, trabalham com a mesma idéia de um estado homogêneo e externo ao mundo econômico, que num caso, é capaz de se retirar e ficar na porta do mercado, cuidadoso e atento como um guarda florestal, ou então, no outro caso, é capaz de formular políticas econômicas sábias e eficazes, a cada nova crise, como um Papai Noel a espera do próximo Natal, para distribuir seus presentes. Por isto, ortodoxos e keynesianos compartem a mesma posição e a mesma dificuldade liberal de compreender e incluir nos seus modelos e recomendações, as contradições e as lutas políticas próprias do mundo econômico. Não conseguem entender, por exemplo, que na origem financeira da atual crise econômica mundial não houve um erro ou “déficit de atenção” do poder publico dos EUA, onde a desregulamentação dos mercados financeiros e as “bolhas” ou “ciclos de ativos’ cumpriram - nos anos 80/90 – um papel decisivo na financeirização capitalista e no enriquecimento privado, mas também, no fortalecimento do poder fiscal e creditício do estado e da moeda norte-americanos.
Como consequência, agora, os passivos que estão realimentando a própria crise não são uma “massa podre homogênea”, pelo contrário, eles tem nome e sobrenome, individual, corporativo, partidário e nacional e envolvem interesses contraditórios que estão travando uma luta ferrenha em todos os planos e instancias nacionais e internacionais. O estado e o capital financeiro norte-americanos foram sócios no fortalecimento do poder político e econômico americano nos década de 80/90, e agora se defenderão à morte a cada novo passo e a cada nova arbitragem que imponha seu enfraquecimento dentro e fora dos EUA. Por isto, agora não existe nenhuma solução técnica segura, nem existe nenhuma possibilidade de um acordo político à vista, entre os grupos de poder norte-americanos e entre as grandes potencias. Esta crise começou como um tufão, mas deverá se prolongar e aprofundar na forma de uma “epidemia darwinista”.

José Luis Fiori no Le Monde Diplomatic Brasil

Avestruzius

Hals

sábado, 7 de março de 2009

Pastoral da Terra dá um "pito" em Gilmar Mendes o Supremo (?) presidente


“Ai dos que coam mosquitos e engolem camelos” (MT 23,24)
Nota Pública sobre as declarações do presidente do STF, Gilmar Mendes
A Coordenação Nacional da CPT diante das manifestações do presidente do STF, Gilmar Mendes, vem a público se manifestar.
No dia 25 de fevereiro, à raiz da morte de quatro seguranças armados de fazendas no Pernambuco e de ocupações de terras no Pontal do Paranapanema, o ministro acusou os movimentos de praticarem ações ilegais e criticou o poder executivo de cometer ato ilícito por repassar recursos públicos para quem, segundo ele, pratica ações ilegais. Cobrou do Ministério Público investigação sobre tais repasses. No dia 4 de março, voltou à carga discordando do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, para quem o repasse de dinheiro público a entidades que “invadem” propriedades públicas ou privadas, como o MST, não deve ser classificado automaticamente como crime.O ministro, então, anunciou a decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do qual ele mesmo é presidente, de recomendar aos tribunais de todo o país que seja dada prioridade a ações sobre conflitos fundiários.Esta medida de dar prioridade aos conflitos agrários era mais do que necessária. Quem sabe com ela aconteça o julgamento das apelações dos responsáveis pelo massacre de Eldorado de Carajás, (PA), sucedido em 1996; tenha um desfecho o processo do massacre de Corumbiara, (RO), (1995); seja por fim julgada a chacina dos fiscais do Ministério do Trabalho, em Unaí, MG (2004); seja também julgado o massacre de sem terras, em Felisburgo (MG) 2004; o mesmo acontecendo com o arrastado julgamento do assassinato de Irmã Dorothy Stang, em Anapu (PA) no ano de2005, e cuja federalização foi negada pelo STJ, em 2005.Quem sabe com esta medida possam ser analisados os mais de mil e quinhentos casos de assassinato de trabalhadores do campo. A CPT, com efeito, registrou de 1985 a 2007, 1.117 ocorrências de conflitos com a morte de 1.493 trabalhadores. (Em 2008, ainda dados parciais, são 23 os assassinatos). Destas 1.117 ocorrências, só 85 foram julgadas até hoje, tendo sido condenados 71 executores dos crimes e absolvidos 49 e condenados somente 19 mandantes, dos quais nenhum se encontra preso. Ou aguardam julgamento das apelações em liberdade, ou fugiram da prisão, muitas vezes pela porta da frente, ou morreram. Causa estranheza, porém, o fato desta medida estar sendo tomada neste momento. A prioridade pedida pelo CNJ será para o conjunto dos conflitos fundiários ou para levantar as ações dos sem terra a fim de incriminá-los? Pelo que se pode deduzir da fala do presidente do STF, “faltam só dois anos para o fim do governo Lula”… e não se pode esperar, “pois estamos falando de mortes” nos parece ser a segunda alternativa, pois conflitos fundiários, seguidos de mortes, são constantes. Alguém já viu, por acaso, este presidente do Supremo se levantar contra a violência que se abate sobre os trabalhadores do campo, ou denunciar a grilagem de terras públicas, ou cobrar medidas contra os fazendeiros que exploram mão-de-obra escrava?
Ao contrário, o ministro vem se mostrando insistentemente zeloso em cobrar do governo as migalhas repassadas aos movimentos que hoje abastecem dezenas de cidades brasileiras com os produtos dos seus assentamentos, que conseguiram, com sua produção, elevar a renda de diversos municípios, além de suprirem o poder público em ações de educação, de assistência técnica, e em ações comunitárias. O ministro não faz a mesma cobrança em relação ao repasse de vultosos recursos ao agronegócio e às suas entidades de classe.
Pelas intervenções do ministro se deduz que ele vê na organização dos trabalhadores sem terra, sobretudo no MST, uma ameaça constante aos direitos constitucionais.
O ministro Gilmar Mendes não esconde sua parcialidade e de que lado está. Como grande proprietário de terra no Mato Grosso ele é um representante das elites brasileiras, ciosas dos seus privilégios. Para ele e para elas os que valem, são os que impulsionam o “progresso”, embora ao preço do desvio de recursos, da grilagem de terras, da destruição do meio-ambiente, e da exploração da mão de obra em condições análogas às de trabalho escravo. Gilmar Mendes escancara aos olhos da Nação a realidade do poder judiciário que, com raras exceções, vem colocando o direito à propriedade da terra como um direito absoluto e relativiza a sua função social. O poder judiciário, na maioria das vezes leniente com a classe dominante é agílimo para atender suas demandas contra os pequenos e extremamente lento ou omisso em face das justas reivindicações destes. Exemplo disso foi a veloz libertação do banqueiro Daniel Dantas, também grande latifundiário no Pará, mesmo pesando sobre ele acusações muito sérias, inclusive de tentativa de corrupção.
O Evangelho é incisivo ao denunciar a hipocrisia reinante nas altas esferas do poder: “Ai de vocês, guias cegos, vocês coam um mosquito, mas engolem um camelo” (MT 23,23-24).
Que o Deus de Justiça ilumine nosso País e o livre de juízes como Gilmar Mendes!
Goiânia, 6 de março de 2009.
Dom Xavier Gilles de Maupeou d’AbleigesPresidente da Comissão Pastoral da Terra