terça-feira, 30 de julho de 2013

A hora da tosquidão

Os homens gostam mesmo é de futebol, de filmes de pancadaria e do enlevante momento em que uma BBB lhe esfrega à cara as protuberâncias do derrière


Esses polifacetados sujeitos que constituem o gênero masculino, sempre tão ricos em interesses, de tanta sofisticação no cultivo de sua Weltanschauung e de sua Kunstfertigkeit, não fazem jus ao que se espera deles quando se trata de disputar com a patroa a posse do controle remoto da tevê. É o que indicam mapas de audiência do Ibope em território canarinho neste primeiro semestre de 2013. Aqui, os homens gostam mesmo é de futebol, de filmes de pancadaria e daquele enlevante momento em que uma BBB, uma Fazendeira, uma Paniquete venham a lhes esfregar à cara as protuberâncias do derrière.

Os dados se referem à tevê aberta, mas não é que eu consiga ver nossa virilidade exposta à prova nos canais de assinatura diante dos saraus aristocráticos de uma Downton Abbey, de concertos sinfônicos ou mesmo de debates políticos que obriguem ao uso de mais do que uma centena de neurônios.

Por outro lado, a última coisa que gostaria de fazer é transformar escolhas televisivas num julgamento moral. Pode ser que Vin Diesel não seja um Marlon Brando, mas que futebol na tevê pode ser eletrizante não há dúvida, em especial quando está em campo aquele timão irremediavelmente vencedor (Corinthians X São Paulo, na Recopa, foi a melhor audiência da Globo em julho, perdendo só para Amor à Vida).

O recorte homem-diferente-de-mulher aparece com nitidez nas emissoras a cabo, pagas e por assinatura. O Multishow com Big Brother, a Fox Sports com a Libertadores, o SporTV com clássicos regionais vêm impregnados pelas urgências da testosterona. Mas nada parece tão revelador de possível mudança na audiência quanto a gradual invasão do público másculo no horário em que donas de casa pilotam panelas do jantar. Os xerifes balofos do crepúsculo dão boas-vindas àqueles que, diante da tevê do boteco, babam a ânsia da truculência com a espuma da cerveja choca.

por Nirlando Beirão          Na Carta Capital

sábado, 27 de julho de 2013

Trocando de lugar – os estereótipos de gênero

Estudantes canadenses produzem vídeo no qual invertem os “papéis” femininos e masculinos em anúncios para mostra como a propaganda perpetua representações equivocadas
Da Redação
Sarah Zelinski, Kayla Hatzel e Dylan Lambi-Raine, alunas do curso de estudos de gênero da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, tiveram uma ideia criativa para expor a forma como a publicidade explora massivamente os estereótipos de gênero. As estudantes canadenses produziram um vídeo no qual invertem o papel de homens e mulheres em anúncios reais.
 
Quando acaba de apresentar os anúncios originais, o vídeo pergunta se o espectador achou os mesmos “ridículos”. Após o questionamento, são apresentados os anúncios com os “papéis” invertidos. O resultado é a sensação de que os estereótipos de gênero estão de tal forma culturalmente enraizados que o ridículo de explorá-los só se torna evidente com a inversão dos “papéis”.
 
O vídeo, intitulado ‘Representations of gender in advertising’ (‘Representações de gênero na propaganda’), ainda apresenta estatísticas quanto aos números da violência de gênero no Canadá e os relaciona com a representação da mulher nos anúncios publicitários.
 
“Algumas campanhas retratam a mulher como altamente sexual e submissa. E o homem, como dominante e agressivo”, diz Sarah Zelinsky.
 
Confira abaixo o vídeo.



Pescado na Revista Fórum


sexta-feira, 26 de julho de 2013

Mídia e religião: muito além da cobertura da visita do Papa

Proselitismo religioso na TV é algo marcante não apenas esta semana, mas uma tendência histórica da mídia brasileira, que desrespeita a diversidade de credos e afronta a laicidade do Estado.
 
      
Missa transmitida pela TV Barriga Verde, de Santa Catarina.
Desde o desembarque do maior líder da Igreja Católica em solo brasileiro, na última segunda-feira (22), as principais emissoras de televisão aberta do país têm dedicado grande parte das suas programações a conteúdos sobre cada passo do Papa Francisco. Pela tela das TVs, o Brasil parece ter parado, e nada que não tenha relação com o cotidiano do argentino Jorge Mario Bergoglio merece destaque nos grandes meios. Os telejornais praticamente se transformaram em extensões da assessoria de imprensa do Vaticano; os programas de variedade e entretenimento resumem-se ao papel de retratar hábitos e curiosidades da passagem do primeiro papa latino-americano pelo Brasil.
 
Enfim, uma série de informações desprovidas de senso crítico que abandonam o jornalismo e o interesse público e escancaram uma relação íntima entre mídia e religião no Brasil.
 
A cobertura da presença do Papa Francisco no Brasil pelas principais emissoras, em si, já é algo preocupante, pois, ao privilegiar e conceder tamanho espaço a um determinado segmento religioso, vai na contramão da laicidade do Estado. Porém, a intimidade entre mídia e religião em nosso país guarda outros aspectos, muitas vezes pouco percebidos e discutidos, que vão muito além das notícias sobre o Papa.
 
O primeiro é que a ocupação da programação de emissoras de rádio e TV por conteúdos religiosos não é algo restrito aos dias da visita papal. Missas, cultos evangélicos, pregações, sermões e sessões de “descarrego” são alguns ritos religiosos presentes com frequência nas manhãs, tardes, noites e madrugadas de diversos canais. Levantamento feito pelo Intervozes e divulgado pela Folha de S.Paulo mostra que cerca de 140 horas semanais da TV brasileira são preenchidas com programação religiosa. CNT e Gazeta são algumas das emissoras que transmitem celebrações religiosas diariamente. Mas o caso mais emblemático, sem dúvida, é o do Canal 21 de São Paulo, vinculado ao Grupo Bandeirantes, que arrenda 22 horas diárias de sua programação para a Igreja Mundial do Poder de Deus.
 
Com emissoras de maior audiência como Rede TV e Bandeirantes não é muito diferente. A primeira vende 46 horas semanais de sua grade para diferentes igrejas. Já a emissora da família Saad tem 31 horas por semana exclusivas para programação religiosa. Tal prática de arrendamento das grades de programação viola flagrantemente a legislação em vigor, diante do silêncio do Ministério das
Comunicações, a quem caberia a fiscalização do setor.
 
Não satisfeitos com o espaço na programação de vários canais, segmentos religiosos têm ainda sob o seu controle a propriedade de quase uma dezena de estações de TV: Canção Nova, TV Século XXI, TV Aparecida, RIT, Rede Gospel, Rede Mulher e Rede Família, entre outras. Vale lembrar que esse não é um fenômeno recente do sistema de mídia brasileiro, mas que nos últimos anos vem ganhando proporções significativas. Um marco histórico da penetração de segmentos religiosos nos meios de comunicação aconteceu nos anos 90, com a compra da TV Record pela Igreja Universal do Reino de
Deus em 1990 e a entrada em funcionamento da Rede Vida de Televisão, ligada à Igreja Católica, em 1995.
 
Falando em Rede Vida, o atual presidente do grupo é o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, principal anfitrião do Papa no Brasil. E aí é que a relação mídia e religião ganha outros contornos. O mesmo Dom Orani Tempesta é o atual presidente do Conselho de Comunicação Social, órgão consultivo do Senado Federal previsto na Constituição de 1988. O Conselho, que ficou desativado por sete anos, é o principal espaço nacional de participação social no setor das comunicações, tendo como atribuições realizar estudos, pareceres e recomendações sobre a liberdade de manifestação do pensamento, criação, expressão e de informação; sobre as finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas da programação das emissoras de rádio e televisão; e sobre a propriedade das empresas jornalísticas e de radiodifusão, dentre outros temas. Ou seja, o representante da sociedade civil brasileira no maior posto do Conselho de Comunicação Social do
Congresso brasileiro é um arcebispo da igreja católica.
 
Nem mesmo a única emissora de TV pública de caráter nacional está isenta de conteúdos religiosos. Duas horas das manhãs de domingo da TV Brasil são ocupadas com programação católica, sendo uma hora destinada à exibição ao vivo da Santa Missa da Arquidiocese do Rio de Janeiro, que tem como líder supremo o já citado Dom Orani Tempesta.
 
Em 2012, o Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (que administra a TV Brasil), decidiu, após consulta pública aberta à população, substituir a transmissão dos programas religiosos por conteúdos informativo-culturais sobre religiosidade e diversidade de credos. Dom Orani – principal anfitrião do Papa Francisco no Brasil, presidente da Rede Vida de Televisão, presidente do Conselho de Comunicação Social e diretor do programa Santa Missa – utilizou então o espaço público da televisão para pedir aos fiéis que enviassem cartas e e-mails à Presidenta Dilma Rousseff contra a decisão do Conselho Curador da EBC. Não precisou nem mesmo Dilma se manifestar. A Justiça Federal do Distrito Federal concedeu uma liminar mantendo a transmissão da missa dominical na TV pública.
 
Enfim, quando o assunto é mídia e religião, ainda estamos distantes de respeitar a laicidade do Estado e promover a diversidade de credos no Brasil. Proselitismo religioso na televisão é algo marcante não apenas esta semana, mas uma tendência histórica da mídia brasileira, que tem como consequências a construção de privilégios para alguns segmentos religiosos e a publicização de discursos tradicionalistas, em defesa de uma moral cristã. Em risco está a liberdade de expressão do conjunto da população brasileira e a convivência democrática entre os que se identificam ou não com determinadas crenças e ainda com os que não professam qualquer religião.
 
 
*Paulo Victor Melo é jornalista, membro do Conselho Diretor do Intervozes e mestrando em Comunicação e Sociedade na Universidade Federal de Sergipe

Nem Lula, Dilma ou Josés...


quarta-feira, 24 de julho de 2013

MANIFESTO DOS 'HOMENS BONS' E DE BENS DA NAÇÃO - Maldito Partido dos Trabalhadores!

Maldito PT

Receberam uma taxa Selic de 25% ao ano e hoje ela está em 8,50% ao ano. Receberam uma dívida pública na casa de 60% do PIB e hoje ela está em 35% do PIB. Receberam uma taxa de desemprego de 12% e hoje ela está em 5,5% (pleno emprego). 
 
Receberam um salário mínimo equivalente a 56 dólares e hoje o salário mínimo ultrapassa o valor de 300 dólares. Receberam um país falido, quebrado e devedor do Clube de Paris, do FMI e do Banco Mundial, e tiveram a petulância de quitar todos esses débitos, tornando o Brasil credor (não mais devedor) dessas instituições. 
 
É um absurdo! 
 
Até 2003 o Brasil era o paraíso na Terra, hoje virou essa desgraça que todo mundo está vendo. O PT já foi longe demais! Onde isto vai parar? Onde já se viu essa palhaçada de pleno emprego, de distribuição de renda, de dissídios da classe trabalhadora acima da inflação, de inflação controlada e menor do que a existente nos nossos governos tucanos? 
 
E essa tal de política nacional de valorização do salário mínimo, de cotas disso e daquilo, de construir dezenas de universidades e centenas de escolas técnicas? 
 
Não é possível, isso tem que parar! 
 
Viram o índice de Gini, que mede a desigualdade social? Está hoje no menor patamar em 53 anos! Desde o ano de 1960 não se via uma queda tão grande na desigualdade social... Isso é um abuso e um absurdo completo!
 
O que esses comunas malditos do PT pretendem? Querem transformar o Brasil numa União das Repúblicas Socialistas Soviéticas?! 
 
Chega, isso não pode continuar! 
Não será essa praga de gafanhotos vermelhos que interromperá a histórica trajetória que nós, os homens bons da nação, planejamos e executamos há mais de 500 anos.
 
Por Diogo Costa, no facebook

sábado, 20 de julho de 2013

Meus 20 centavos sobre Julho/2013: O ocaso da política brasileira

Poucos devem ser os que ainda realmente se sentem representados pelo Poder Legislativo. Congresso, Assembleias e Câmaras, Brasil afora, há já algum tempo dão repetidas most...ras de que estão completamente dissociados do povo que elege seus membros.

E não importa o lado. De uma forma ou de outra, conseguem desagradar a gregos e a troianos. Inúmeras são as situações e estão tão presentes na memória de todos, que sequer é necessário fazer um rol.

Não temos mais partidos. PT, PSDB, PPS, DEM, PP, PDT, PSD, PTB, PSB e sigam até as 32 siglas que temos, transformaram-se em estruturas de suporte para pessoas. O que se vê, nesses tempos de pré-eleição, são nomes. Mais nada. E não importa o lado, seguem desagradando a gregos e a troianos. Digladiam-se como se o Brasil fosse um grande Coliseu. E, pior de tudo, pensam que estão agradando.

Há anos mantêm a reforma política ardilosamente em banho-maria. Sabem que, em assim agindo, estão se protegendo e mantendo o domínio da vontade popular. Sabiam! Até junho.

O que não foram capazes de saber, por estarem totalmente fechados em si e afastados do povo, é que, também há anos, desenvolve-se a percepção de que eles não mais representam o que o povo quer. A percepção de que estão lá apenas por si ou por seus partidos, mas não mais para representar.

A história nos dá vários exemplos do que acontece quando o sentimento de representação acaba nas pessoas. É só uma questão de tempo.

Não foi o passe livre (apenas um estopim), ou situações pontuais, como a PEC37 ou, ainda, o uso das redes sociais que fizeram o povo ir para as ruas.

A única mensagem capaz de unir de forma espontânea as pessoas e levá-las às ruas, com muito pouca “convocação”, foi a percepção de que tinham um sentimento em comum: para esses pessoas – e mesmo para os que ficaram em casa – o que as uniu foi o sentimento de que não são mais representados. E, de forma muito natural e como era de se esperar, a percepção amplia-se para o Poder Executivo.

Os sinais estão claros, só os políticos seguem cegos a eles. O ocaso se aproxima. E de forma inexorável, não apenas porque o povo queira, mas, e mais importante, porque eles, os políticos, seguem cavando a sepultura desse modelo de política que temos.

O povo não precisa ir a Delfos para saber o que está acontecendo no Brasil. Ao povo caberá apenas empurrá-los para dentro da sepultura já cavada!

A história só se repete porque os homens nada aprendem com a história.
 
 
O texto é de Luiz Afonso Alencastre Escosteguy
 
Você pode ler mais textos dele aqui
 

terça-feira, 16 de julho de 2013

Jornalismo da "crise" e anti-PT



O Presidente do PT, Rui Falcão sendo "inquirido" por jornalistas raivosos do grandes jornalões
e portais de notícias numa emissora Tucana. Fica evidente o ódio petista na fala destes celetistas.
É um misto de deboche e raiva, sentimento que impera nas redações do jornalismo brasileiro nestes últimos 10 anos. 

domingo, 14 de julho de 2013

Os limites do governo (Reforma Política)

 
Para oferecer serviços públicos gratuitos e de qualidade, é preciso uma reforma tributária realmente de esquerda, mas que não pode ser feita dentro do atual modelo de governabilidade
 
É na impossibilidade de realizar uma reforma realmente de esquerda
 dentro do atual modelo de governabilidade que esse modelo encontra a expressão do seu fim
 
Um mês após o início das manifestações nas principais cidades brasileiras ficam claros os limites da capacidade de ação dos governos. Contrariamente ao que muitos gostariam de nos fazer acreditar, os protestos tinham alguns objetivos bastante claros. Há de se desconfiar da pretensa humildade daqueles que se dizem ultrapassados pelos fatos, daqueles que começam seus comentários afirmando: “Tudo isso é muito complexo”. O apelo à complexidade é, muitas vezes, estratégia para não enxergar aquilo que, por ser muito óbvio, virou opaco.

Além das discussões sobre a crise de representação política, as manifestações ocorreram porque o ciclo de desenvolvimento permitido pelo lulismo se esgotou sem que o governo pudesse apresentar à opinião pública um segundo ciclo de ações capazes de aprofundar a construção da igualdade econômica. Lula não é Dilma. E, três anos após o início do governo dela, não havia avanço significativo algum em relação aos marcos de combate à desigualdade propostos pelo antecessor.

Quando as manifestações surgiram impulsionadas pela consciência da péssima qualidade dos transportes públicos, assim como por demandas relacionadas à educação e saúde, ficou claro que, intuitivamente, a população esperava de Dilma políticas efetivas para constituição de um sistema de serviços públicos gratuitos e de qualidade. Sem tal sistema, o desenvolvimento brasileiro seria como uma árvore sem frutos: bonita a distância, mas estéril.
 
Três anos se passaram e nada foi feito nesse sentido. Mesmo colocada contra a parede pela população, a presidenta apresentou um conjunto pífio de propostas que não parecem fazer parte de um plano ordenado. O governo agiu como quem procura combater uma enchente usando balde e pano de chão.
 
Para conter a revolta diante dos serviços de transporte público, ouvimos a promessa de criação de um fórum de discussão entre as várias instâncias dos governos. Nada de concreto sobre a proposta de tarifa zero, nem sequer, digamos, o desejo de testar sua viabilidade implantando-a de maneira experimental em algumas cidades ou em algumas regiões metropolitanas, como o prefeito de São Paulo poderia propor em articulação com o governo federal.
 
No quesito educação, vimos a mera reapresentação da proposta de 100% dos royalties do pré-sal. Como esse dinheiro cairá somente daqui a oito anos e como ainda não temos ideia alguma de quanto será, a única coisa possível de se dizer é que se trata de uma manobra diversionista. O governo agiria de maneira mais séria se apresentasse modificações no orçamento do ano que vem, aumentando radicalmente os gastos com a educação por meio do aumento do piso mínimo dos salários dos professores. Ele deveria ainda discutir a federalização do ensino, o que lhe permitiria investir na construção de escolas e bibliotecas, além de criar o ensino integral e definir currículos mínimos.
 
Por fim, instada a propor algo no campo da saúde, a presidenta só foi capaz de reapresentar a ideia de contratar médicos estrangeiros. Por mais que a iniciativa seja válida, não ouvimos nada sobre melhora das condições de trabalho nos hospitais federais ou sobre o aumento do financiamento do sistema de saúde.

No fundo, tais silêncios apenas demonstram que uma verdadeira discussão sobre a construção de um segundo ciclo de políticas de combate à desigualdade passa necessariamente por uma reforma tributária. Não é possível falar seriamente em serviços públicos em um país no qual os ricos pagam apenas 27% de Imposto de Renda, não há imposto sobre grandes fortunas e onde o imposto sobre herança é ridículo. Mas tudo o que o governo fez até agora foi apresentar desonerações que em muito pouco colaboraram para o desenvolvimento social.
 
Isso não deve nos estranhar, já que uma reforma tributária realmente de esquerda não pode ser feita dentro do modelo heteróclito de alianças e governabilidade próprio ao lulismo. É nessa impossibilidade que o modelo encontra a expressão de seu fim.
 
O artigo é do professor Vladimir Safatle na Carta Capital

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Bob Fernandes / Espionagem da CIA, FBI, DEA, NSA...e o silêncio no Brasil

Ah, a CIA espionou o pré-sal? Que coisa, hein, Dr. Bernardo?


Vejam que coisa!

O Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, admitiu hoje, no Senado, que  há “a possibilidade de vazamento de informações estratégicas do governo brasileiro, como, por exemplo, dados sobre os leilões de exploração do petróleo do pré-sal”.

Não diga, Ministro! Será? Não será isso uma injustiça com um país que nunca fez nada mais grave que bombardear e  invadir outros em busca de petróleo?

É só o senhor olhar para a pressão de seus novos amigos da mídia para que se abra totalmente o pré-sal às empresas multinacionais, que não querem que a Petrobras seja a única empresa operadora neste estratégico mar de petróleo.

Dr. Paulo, por que é que o senhor acha que a Marinha está toda empenhada no Projeto Amazônia Azul, buscando se equipar de naves e de comunicações para defender nossas bacias petrolíferas? É porque eles querem brincar de barquinho?

E nos não precisamos de uma rede de fibras óticas como a da Telebras, operada por uma empresa pública, que garanta tráfego de dados no Brasil, não é? Tanto que o senhor colocou esse projeto na gaveta ou andando a passos de cágado manco.

Mas agora o senhor diz:
- Se vai mandar e-mail secreto ao colega, pode tirar o cavalinho da chuva: a cópia já vai para lá (em referência aos Estados Unidos).
O senhor se diz espantado  com “a possibilidade de empresas brasileiras terem tido qualquer participação nisso e a história de que teria havido no Brasil uma base de coleta de dados”?
Que empresas brasileiras, Dr. Bernardo, se são as multis que controlam nossas telecomunicações, aquelas mesmas que o senhor disse que eram competentes e capazes de funcionar com segurança?

Telecomunicações não eram estratégicas, mas apenas uma questão de mercado e consumidor, não é?
Ah, mas a Anatel vai tomar providências drásticas. Anote o número do protocolo:dois-zero-um-três-zero-zero-um-seis-ponto-nove-cinco-oito- quatro…

É por isso que este caso tem de ser tratado pelo Itamaraty e pela Defesa. O resto é “me engana que eu gosto”.
Por: Fernando Brito
Leia mais no Tijolaço

segunda-feira, 8 de julho de 2013

A classe médica brasileira tem medo de quê?

Em artigo, médico colombiano escreve sobre as dificuldades para atuar no Brasil e critica a postura reativa da categoria à vinda de profissionais cubanos
Cerca de 200 médicos se concentraram em frente ao Ministério da Saúde e ao Palácio do Planalto para protestar contra a "importação" de profissionais estrangeiros sem prova de revalidação
 
A exploração por parte do capital é uma novidade para o grêmio médico no Brasil. Recentemente um dos setores mais conservadores da sociedade viu sua condição de profissão liberal ser extinta pelos operadores dos planos de saúde que exploram a mais-valia obtida através da prestação dos serviços.
 
Assim, aqueles que foram selecionados através de provas excludentes nas escolas de medicina e que sonham algum dia virar burgueses estão hoje na rua para lutar por reivindicações trabalhistas. Sim, os médicos agora fazem parte da classe trabalhadora, mesmo que não tenham consciência dessa nova relação com os meios sociais da produção.
 
No site dos Conselhos Regionais e do Conselho Federal de Medicina aparecem destacados apelos mais apropriados para sindicatos que para órgãos fiscalizadores de uma profissão, hipertrofiando sua função secundária de zelar “pela valorização do profissional médico”.
 
Mobilizações para exigir aumento dos honorários pagos pelos planos de saúde e campanhas para promover carreira de Estado são pautas frequentes nesses órgãos durante os últimos meses. Isso demonstra que os temas trabalhistas ganharam uma notoriedade insuspeita dentre os médicos.
 
Mas a última dessas batalhas do grêmio médico é, de longe, a mais complexa: o convite a médicos estrangeiros para trabalhar no território nacional. Esse assunto é particularmente sensível porque atinge ao mesmo tempo o status outorgado pelo ingresso às escolas médicas, posturas políticas, questionamento da liderança e o temor de concorrentes novos no mercado de trabalho.
 
O ingresso às escolas médicas no Brasil acontece através de um penoso processo que visa excluir aqueles provenientes de camadas com menores recursos e oportunidades. Na visão oposta, trata-se da seleção dos “melhores”, como se nessa lógica inversa a qualidade de um médico fosse garantida pela seleção que teve para entrar, e não pela formação adquirida dentro da escola médica.
 
Os médicos estrangeiros representam um desafio a esse paradigma: muitos países têm processos de seleção muito mais acessíveis para o ingresso. A seleção real acontece dentro da escola de medicina.
 
Os alunos são constantemente avaliados, reprovados e jubilados, se necessário, durante o processo de formação médica. Diferentemente do que acontece no Brasil, entrar na escola de medicina não significa que o aluno será médico seis ou sete anos mais tarde.
 
A ênfase em outras latitudes é dada ao resultado final da educação; mais que o exame de ingresso, a avaliação crucial está na saída. Aqui, só o Conselho Regional de Medicina de São Paulo, CREMESP, avaliou os formandos de forma obrigatória em 2012. Menos da metade dos médicos foi aprovada nesse exame.
 
Mas não há consequências. O exame documentou a falsidade do mito de seleção dos “melhores”, inclusive com um terço dos egressos de faculdades públicas reprovados, mas o mito permanece intacto. As paixões exacerbadas contra médicos brasileiros formados no exterior, particularmente em Cuba, estão relacionadas ao fato de eles encontrarem um atalho para ultrapassar a barreira de entrada nas faculdades de medicina.
 
A seleção de candidatos brasileiros para ingressar nas escolas de medicina para estrangeiros em Cuba foi canalizada no Brasil por movimentos sociais e partidos políticos ligados à esquerda. A ascensão do governo comandado por Luiz Inácio Lula da Silva foi a esperança dos egressos de Cuba que queriam regularizar sua situação no país.
 
A resposta dos médicos não se fez esperar: as portas desses que não foram submetidos à seleção das faculdades brasileiras foram fechadas pelas próprias faculdades via revalidação.
Com algumas exceções, as universidades públicas, obrigadas por lei a atender essas revalidações, se omitiram, não respondiam ou criavam penosas vias sacras para quem ousasse seguir em frente com o processo.
 
Os médicos formados no exterior formaram um curioso bando de peregrinos que se encontravam em cada estado que finalmente voltava a receber a documentação ou realizava uma prova. A pressão dentro dos próprios aliados de esquerda do governo fez com que os ministérios da Saúde e da Educação criassem uma alternativa à qual podiam se adequar às universidades públicas para padronizar a revalidação.
 
O viés da primeira edição do exame, em 2010, foi vergonhoso. Chamado de Revalida, o exame acontece em duas etapas, uma teórica e outra prática. O nível de dificuldade foi tão grande que só dois, entre mais de 600 inscritos, formados em diferentes escolas médicas do mundo, foram chamados para a segunda fase. Os organizadores reconheceram que o nível de exigência foi além do necessário e prometeram reformular o exame.
Não existe nenhum critério para estabelecer algum grau de isonomia, como testar previamente o nível de dificuldade das perguntas em formandos de escolas brasileiras ou fazer um exame de igual teor ao realizado pelo CREMESP em 2012.
 
Cabe anotar que a peregrinação para os que queiram fazer o Revalida continua: por exemplo, o exame não é oferecido no estado de São Paulo porque nenhuma universidade pública paulista aderiu a ele, mas o CREMESP obriga ao formado no exterior a ter seu diploma revalidado por esse exame numa norma prescrita para atender o clamor de seus fiscalizados nas ruas.
 
Nesse panorama, aparece um novo elemento: a distribuição desigual dos médicos na geografia nacional atinge níveis insustentáveis e se transforma em elemento político. Os médicos do Brasil, assim como os dos Estados Unidos ou outros países, se desinteressam pelo serviço nas cidades do interior e nas periferias das grandes cidades.
 
Há muitas razões para esse desinteresse: a formação médica acontece em ambientes tecnologicamente complexos muito diferentes da realidade desses locais carentes de recursos; as possibilidades de retorno financeiro parecem ligadas a especialidades que demandam mais recursos técnicos; e o atrativo natural que exercem as grandes cidades em sociedades individualistas em detrimento da vida bucólica do interior pode ser contada entre outras causas.
 
Mas a realidade da falta de atendimento médico fala mais alto. Os prefeitos se organizaram para pressionar por uma solução que trouxesse dividendos eleitorais e finalmente o governo comprou a causa.
 
Houve várias tentativas. Inicialmente o governo ofereceu aos médicos recém-formados dinheiro e pontos a mais para os disputados exames de acesso à residência médica no programa Provab.
 
O estamento médico criticou a iniciativa, colocando argumentos como o de que o uso de pontos no exame seria uma chantagem para deixar um médico recém-formado abandonado à sorte no interior e sem nenhum tipo de supervisão.
Talvez estejam certos.
 
O problema pode ser deixar os pacientes abandonados a um médico recém-formado que não tem capacitação adequada para esses locais de atenção básica de baixa tecnologia. Locais em que a medicina cubana é especialista.
 
A medicina em Cuba usa um modelo diferente ao brasileiro. Está fundamentado em atenção básica e prevenção, com médicos acessíveis morando nas mesmas comunidades e um avanço tecnológico quase congelado após a queda da Cortina de Ferro.
 
Combinação contrastante que consegue atender a maioria de pacientes e obter excelentes estatísticas de saúde, comparáveis a qualquer país desenvolvido, a custo muito mais baixo. Mas, para a minoria dos pacientes, aqueles casos que requerem maior tecnologia, a receita pode ser insuficiente. A formação em grande escala de médicos permitiu que o país criasse as chamadas “Missiones” internacionais, que levaram atendimento médico a regiões carentes e remotas em dezenas de países.
 
Nos últimos anos, a exportação de serviços médicos se tornou a primeira fonte de divisas da ilha, principalmente pelas ações na vizinha Venezuela. A solução parece conveniente para todas as partes, médicos cubanos que estão dispostos a trabalhar no interior do Brasil e nas periferias para ajudar seu país e a população, que veria fim em sua espera por atendimento médico e estaria disposta a votar por quem fez isso acontecer. Mas há um obstáculo a vencer: a resistência do grêmio médico brasileiro.
 
Como vimos antes, os médicos brasileiros estavam ocupados em questões trabalhistas com seus principais empregadores, os planos de saúde e o governo. Em sua nova condição de classe trabalhadora, relativamente bem paga, mas trabalhadora, sua condição de fonte de ideias e de liderança dos tempos de classe média se extinguiram sob sua nova classe.
 
Em papel reativo, os médicos não conseguem elaborar contrapropostas para solucionar os problemas de falta de atendimento de saúde que sofre a maior parte da população.
 
A sua única resposta é que não trabalham no interior porque não tem plano de carreira nem condições de trabalhar. Uma continuação do repertório trabalhista anterior. Nenhuma proposta real para contrastar com as ideias do governo, que continua na liderança através de uma organizada campanha de mídia para angariar apoios e anunciando que estenderá os convites também a médicos espanhóis, portugueses e argentinos.
 
A própria presidenta empenha sua palavra de trazer os médios como parte de sua estratégia para melhorar a saúde e acalmar as manifestações que tomaram conta do país.
 
O ministro da Saúde promete que as vagas só serão oferecidas a estrangeiros após serem recusadas por médicos brasileiros, promessa de quem tem certeza da recusa. As vagas, há tempos, aguardam por médicos brasileiros que as ocupem. Nesse cenário saem os médicos às ruas para protestar.
 
Os médicos estrangeiros a serem importados são o principal alvo em um protesto com pesado caráter trabalhista, de proteção de mercado. Porque a pior ameaça que os cubanos representam é que podem dar certo. Porque os cubanos podem demonstrar que a população não necessita de grandes hospitais de alta tecnologia, mas de médicos acessíveis que estejam ao seu lado.
 
 
*Ricardo Palacios é médico, formado no exterior com o diploma devidamente revalidado no Brasil, foi consultor temporário para projetos de pesquisa da Organização Mundial da Saúde e agora estuda Ciências Sociais na Universidade de São Paulo". As opiniões expressadas neste artigo não representam a posição de instituição alguma
 
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terça-feira, 2 de julho de 2013

A restauração em marcha: ‘A rua já deu o que tinha que dar’

 
Dos partidos da oposição, o único que aceitou o convite da Presidenta Dilma para conversar sobre o Brasil e a reforma política foi o PSOL.

Demotucanos e assemelhados declinaram.

Os campos se definem em relação às ruas.

Caminha-se para um realinhamento da cena política brasileira.

Se a conversa Dilma/PSOL abrir espaços para um aggiornamento à esquerda da governabilidade, algo de inestimável importância terá acontecido nos dias correm.

Alegam PSDB, Demos e PPS não ter sobre o que conversar.

Faz sentido.

Dilma pretendia ouvi-los sobre a convocação de um plebiscito para estreitar a aderência do sistema político às ruas.

‘Ora direis ouvir as ruas’, replicam demotucanos em sua esférica coerência.

Ouvir as ruas é tudo o que o credo neoliberal entende que não deva ser feito nessa hora; em qualquer hora.

A escuta forte da sociedade soa como dissonância chavista aos ouvidos congestionados pela cera secular conservadora.

A democracia para esse sistema auditivo é um ornamento.

Um adereço nos colóquios dos salões elegantes. Um caramelo, após o cafezinho.

Nos dias que correm, a democracia é a citação de rodapé da judicialização da política.

Sobretudo, a democracia destas siglas gêmeas deve lubrificar a obediência da sociedade aos livres mercados.

É o oposto do que pensa a tradição socialista: a democracia cresce justamente quando escapa aos limites liberais e se impõe como força normativa aos mercados.

Ganha relevância assim.

Quando assume o papel de contrapeso histórico aos apetites rapinosos do dinheiro grosso.

É democracia de fato ao romper a película liberal para se tornar, também, democracia social.

O extremo oposto conservador entende que ouvir as ruas é algo que só cabe em doses módicas.

Com o dinheiro a cerzir as amarras entre o presente e o futuro.

De quatro em quatro anos.

Nunca em ciclos curtos, ou de crise, quando o mais aconselhável são as elites – no limite, os quartéis - assumirem a tutela da vontade popular.

Consultas regulares à cidadania e tudo o mais que possa tornar volátil o mando e o comando devem ser execrados.

Volatilidade é uma prerrogativa dos capitais.

Irrepartível.

À política cabe a tarefa de calcificar o poder e embalsamar a sociedade.

Editoriais de O Globo, Estadão e Veja, ademais de centuriões da mesma extração, uivam a rejeição ao plebiscito e à Constituinte.

O que lhes interessava das ruas, as ruas já deram.

O Datafolha, no calor da Paulista, recompôs a chance de um 2º turno em 2014.

A narrativa tratou de ofuscar o ruído de longo curso, subjacente ao desabafo da hora: se candidato, Lula levaria de 1ª, com 46% dos votos.

A Folha entendeu; e tanto que escondeu o tropeço na primeira página. E pisoteou a informação nas entrelinhas internas.

É preciso desfrutar a ‘colheita’, crua, se necessário, para não desperdiçar a janela de oportunidade.

Interesses que operam no sentido de subtrair fatias de poder à democracia estão satisfeitos com o saldo.

Há mais de 30 anos tem sido hábeis em interditar o debate das grandes escolhas do desenvolvimento.

Para isso, escavaram fossos intransponíveis entre a soberania nacional e a supremacia das finanças desreguladas no circuito global.

Assim se assegurou a hegemonia do poder extra-ruas.

Por que abririam mão dele justamente agora, em pleno divisor de ciclo, quando linhas de passagem terão que ser erguidas em direção a um novo projeto de desenvolvimento?

O ‘não’ ao convite de Dilma encerra a solidez de uma coerência histórica.

A contrapartida cabe à esquerda.

A sorte do país e o destino de sua democracia dependem, em grande parte, do desdobramento concreto que o diálogo simbólico entre Dilma e o PSOL produzir na unificação da agenda progressista brasileira.

Não apenas para articular a reforma política. Mas para democratizar o crucial debate sobre o passo seguinte da luta pelo desenvolvimento.

A ver.
 
Por Saul Leblon no Blog das Frases
 
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