sexta-feira, 29 de junho de 2012

Datafolha: fotos, símbolos e caricaturas


O Datafolha entregou os números que as manchetes da Folha, sobre a aliança PT/Maluf, cuidaram de induzir cuidadosamente durante os sete dias que antecederam a sondagem. O intervalo cobre o período que vai da publicação da polêMmica foto do encontro entre Lula, Haddad e Maluf, selando o apoio do PP ao candidato petista, e a ida à campo dos pesquisadores. Aos resultados: "64% dos petistas rejeitam apoio de Maluf", diz, cheio de gula, o jornal da família Frias, em título de seis colunas, da edição desta 4ª feira. Mas a pesquisa revela também nuances não previstas e pouco destacadas pelo jornal. Em parte, porque sujam a narrativa maniqueísta da 'desilusão petista' mas, sobretudo, pelo que revelam da correnteza submersa, a comprimir o favoristimo quebradiço e engessado de José Serra.

"64% dos petistas rejeitam apoio de Maluf", diz, cheio de gula, o jornal da família Frias, em título de seis colunas, da edição desta 4ª feira. Mas a pesquisa desta seman do Datafolha revela também nuances não previstas e pouco destacadas pelo jornal. Em parte, por certo, porque sujam a narrativa maniqueísta da 'desilusão petista' mas, sobretudo, pelo que revelam da correnteza submersa, a comprimir um favoristimo quebradiço e engessado de José Serra. Por exemplo: a) para 50% dos entrevistados pelo Datafolha, o apoio de Maluf (do qual podem até não gostar) é indiferente ou benéfico a Haddad; b) 36% votariam no candidato indicado por Lula; c) só 21% sabem que esse candidato é Haddad; d) a defasagem de 15 pontos, mais os 6% atribuídos ao petista pelo Dafolha reduzem a 10 pontos a distancia atual entre Haddad e Serra; e) Serra não sai do degrau de 30% de votos, mas evolui com desenvoltura no quesito rejeição --ela já era alta e saltou de 32% para 35%, num intervalo inferior a duas semanas, em julho. A de Haddad, ao contrário, é baixa (12%) e estável
.

Fotos, símbolos e caricaturas

Muitos gostariam que a foto polêmica em que Lula e Haddad posam ao lado de Maluf simbolizasse a essência daquilo que o PT, Lula e Maluf representam para a história política brasileira. Uma gigantesca engrenagem foi posta a serviço dessa tese. A pesquisa do Datafolha faz parte desse mutirão. Egos foram atiçados. Durante dois dias seguidos, após a divulgação da polêmica fotografia, martelou-se a sentença irrecorrível: a imagem era o ultra-som de uma degeneração terminal que destruía por dentro o principal partido progressista brasileiro e sua liderança máxima.

Uma técnica usual na mídia consiste em blindar 'denúncias' contra qualquer arguição vitaminando-as através de uma implacável imersão da opinião pública em declarações reiterativas.

No caso da foto, o esforço anestesiante ganhou um reforço imediato de grande impacto: a deputada Luiza Erundina, ela mesma um símbolo de retidão e dignidade na política, reagiu à pressão do rolo compressor renunciando ao posto de vice na candidatura Haddad à prefeitura de São Paulo. Seu gesto e sucessivas declarações a uma mídia sequiosa foram incorporados à espiral condenatória dando-lhe um torque quase irrespondível nas primeiras 48 horas pós 'flagrante fotográfico'.

Aos poucos, porém, surgiram fissuras. O PT e Lula estão presentes na história e no imaginário do país há quatro décadas. Ambos são filhos do capitalismo brasileiro, cuja principal singularidade foi assentar a supremacia de uma elite indigente na mais desigual estrutura de distribuição de renda (e de poder) existente no planeta. O PT decidiu, e conseguiu, assumir o governo dessa sociedade com a promessa de transformá-la.

O compromisso de torná-la mais justa, inclusiva e democrática, dentro dos marcos institucionais disponíveis (o que não o exime de ampliá-los, por exemplo, no acesso à comunicação) levou-o a um mergulho no moedor de carne de concessões e recuos impostos pela exigência da governabilidade, ao preço, entre outros, de um certo grau de desfiguramento orgânico e partidário. Ainda assim, o partido obteve um voto de confiança das grandes maiorias para testar a sua aposta em 2002, 2006 e 2010.

Há resultados eloquentes que explicam a renovação desse pacto eleitoral. São avanços conhecidos; alguns, objeto de controvérsia quanto à consistência estrutural; outros, ainda por demais tímidos para reverter desequilíbrios aterradores, como o acesso e a qualidade da saúde e da escola pública. Mas a percepção vivenciada e majoritária da população concede a Lula e ao PT que o Brasil é hoje, após 10 anos sob seu comando, o país menos desigual da sua história de 500 anos --380 dos quais em regime de senzala e casa-grande. O recuo da taxa de pobreza no país, de fato, foi notável no período: uma redução da ordem de 15 pontos percentuais, caindo de 39% da população, em 1999, no fim do segundo governo tucano, para 23,9%, em 2009, no crepúsculo do ciclo Lula. A renda domiciliar per capita dos 10% mais pobres cresceu 7%ao ano entre 2001 e 2009;entre os 10% mais ricos a taxa foi de 1,5%. Tudo somado, 30 milhões de brasileiros deixaram a pobreza brava nesse meio tempo.

Teve um custo. Não se espere querubins egressos dessa descida ao inferno implícita numa aposta de transformação progressiva da senzala em cidadania, sem ruptura abrupta com a casa-grande. O desfibramento intrínseco da militância a partir dessa experiência, ancorada mais em eleições e acordos de cúpula do que em mobilizações --exceto nos momentos críticos-- produziu um legado de paradoxos de peso histórico ainda não totalmente mensurável. Inclui-se nessa contabilidade de perdas e danos, por exemplo, a esquizofrênica dualidade de um PT que defende a democracia participativa , mas tem dificuldade de vivenciá-la internamente.

Maniqueísmos religiosos ancorados em símbolos fáceis não ajudam, porém, a entender e nem a intervir na história. Nenhum partido de esquerda passou pelo teste do poder impunemente. O desgaste está implícito num aparelho de Estado quem longe de ser 'imparcial', está organizado para dinamitar projetos que afrontem a lógica dominante e premiar, em contrapartida, políticas 'amigáveis e quadros 'complacentes'. Po risso o Banco Central --'independente'-- funciona e as políticas sociais, assim como os investimentos públicos em educação, saneamento, saúde e habitação tem dificuldade para deslanchar. Lula deixou oito anos no comando desse paradoxo com 80% de apoio popular, marca inédita, exceto talvez se comparada à catarse em torno de Vargas, após o suicídio em 1954.

O PT , sim, o partido desfibrado, burocratizado, espelho da sociedade que representa, cuja vida interna e inquietação intelectual às vezes lembram o eletrocardiograma de um morto, é o preferido por cerca de 1/3 dos brasileiros -- tem 28% das preferências; o PMDB vem em seguida com 6%; o PSDB, apesar da superexposição que a Folha --e o Datafolha-- lhe concede, de forma sempre isenta, obtém ralos 5% da aceitação. Os dados, extraídos de um levantamento recente feito pela Vox Populi, indicam ainda que 70% dos brasileiros enxergam no PT um partido moderno e comprometido com os pobres; 66% veem nele um partido que busca políticas que atendam ao interesse da maioria da população (apenas 16% discordam disso e enxergam no partido a força ultrapassada -- 'degenerada'-- que as perguntas do Datafolha desta 4ª feira buscam induzir e calcificar).

Voltemos à fotografia polêmica. Martelada em 48 horas de bombardeio intenso, a imagem teve o apoio reiterativo da sempre digna deputada e socialista Luiza Erundina, para assumir a dimensão de um testamento ejetado do fundo da cova petista.

A esférica blindagem em torno dessa tese enfrentou, após o desconcerto inicial, uma avalanche de fissuras em blogs e sites progressistas (leia por exemplo a enquete realizada pelo blog do Emir, nesta pág). O que se constatou, então, é que a aliança com o PP, embora questionada na forma --o que foi reafirmado pelo Datafolha-- não fora percebida como uma renúncia ao espaço ocupado pelo PT na história brasileira. Mais que isso. Embora a contragosto, a mídia foi obrigada também a reconhecer certas nuances entre o 'símbolo definitivo' que saboreou com gula inicial e a visão da própria deputada Luiza Erundina. Passado o gesto abrupto, a ex-prefeita de São Paulo tirou uma a uma as escoras da versão que ajudara a construir. Mais atenta ao uso de sua credibilidade, matizou em divergência de forma uma reprovação que não se estendia nem ao candidato,nem a campanha e tampouco à aliança com o PP.

Erundina, a exemplo dos 70% que enxergam no PT e em Lula referências antagônicas às forças e projetos que acompanham Paulo Maluf, sabe que ambos são imiscíveis historicamente, ainda que interações secundárias possam ocorrer no jogo eleitoral. Erundina sabe, ademais, que Lula não trocou a sua história por 90 segundos, como regurgitaram sebosamente os editoriais e colunistas de sempre. Lula foi em busca de um fator essencial a um candidato ainda desconhecido por 55% dos eleitores de São Paulo. E não só para adicionar-lhe 90 segundos de exposição, mas para evitar que esses 90' fossem para o candidato Serra, que ficou irritadíssimo com Alckmin por ter 'deixado escapar o Maluf',como confidenciou ao Terra Magazine um tucano capa preta menos hipócrita.

Lula raciocinou com base na matemática dos confrontos diretos: "tirar 90' do Serra e acrescentar 90' a Haddad significa virar 3 minutos". Foi isso. "Virar 3 minutos" em troca de um cargo subalterno no plano federal, sob o comando rígido de Dilma Rousseff. "Não muda uma vírgula", disse o secretário geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, "na hegemonia da aliança. Tampouco no programa de Haddad para São Paulo". Justiça seja feita, a recíproca é verdadeira;e significativa: a foto não reflete igualmente o presente, o passado ou o futuro do próprio Maluf que --os críticos da aliança afirmam, com razão--, continua sendo quem sempre foi. Seria esse diagnóstico válido apenas
a um dos lados da equação?

A imagem, na verdade, é caricata; acentua aspectos reais do jogo eleitoral ao qual o PT aderiu há mais de três décadas-- com os resultados medidos pela pesquisa Vox Populi. Mas não tem a força simbólica que o dispositivo midiático conservador pretende atribuir-lhe, para jogar a pá de cal da 'desilusão' petista que o Datafolha busca agora colher com o senso de oportunidade de um engajamento conhecido.

A ante-sala do julgamento do chamado 'mensalão' -- empurrado em rítmo paraguaio pela mídia conservadora para coincidir com a campanha municipal deste ano-- explica em boa parte esse esforço de reportagem em torno de uma fotografia de dimensões elásticas. Uma, pouco destacada, é que ela acrescenta ao PT 90 segundos de fôlego para se defender de uma previsível identidade narrativa, a emendar o noticiário do Jornal Nacional sobre o julgamento do 'mensalão' e a campanha tucana na TV. É esse esforço de vida ou morte para não perder São Paulo e não enterrar Serra na urna de mais uma derrota para o partido de Lula, que deu à imagem a densidade de um símbolo de significado incontestável, que ela de fato não tem.

Saul Leblon no Blog das Frases

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A SENSATEZ ESTÁ À ESQUERDA

A escassa disponibilidade de tempo, lógica e bom senso para evitar o pior levou Paul Krugman, um moderado, ao ponto de apelar para o instrumento de um manifesto global de economistas, no qual adverte: "Como resultado de suas ideias erradas, muitos políticos ocidentais estão impondo sofrimento em massa aos seus povos.

Mas as ideias que eles defendem para lidar com as recessões foram rechaçadas por quase todos os economistas depois dos desastres de 1930. É trágico..." http://www.manifestoforeconomicsense.org/

O gesto de Krugman indica que não há mais tempo , nem espaço, para qualquer solenidade na crise. Nesse momento, a Espanha --secundada pela Itália-- implora, esse é o termo, aos gerentes do euro,em Bruxelas, por uma linha de recursos para salvar seus bancos, sem que isso signifique o funeral do Estado, imolado em endividamento insustentável.

A lógica da ortodoxia que alimenta a grande de depressão do século XXI, retruca seu mantra: 'Se os bancos necessitam socorro, a sociedade pagará por eles'. Será longa e áspera a noite do século XXI, avisam autoridades do centro à periferia. A crise se espalhou. Sombras ofuscam a China, invadem o Brasil. Dos Brics ricocheteiam de volta à UE, sangrando empregos e exportações.

Onde está a sensatez?

A sensatez está à esquerda, expressa, por exemplo, no enunciado simples e reto do Syriza -- 'Se não crescermos, não pagaremos". Mas a sensatez é demonizada pelo terrorismo ortodoxo, o mesmo que levou à vitória dos yes men em 17 de junho,na Grécia. No dia seguinte, lá estavam os mercados usando a conquista de Atenas para devorar Madrid, até o osso; condição na qual Rajoy se apresenta agora aos pés de Bruxelas. O descarnado suplicando ao açougueiro, que chance ele tem?

Leia mais na Carta Maior

Cancelado o encontro de Blogueir@s do RS

O segundo encontro de blogueir@s do Rio Grande do Sul, que seria realizado nos dias 29 e 30 de junho (sexta e sábado) no plenarinho da Assembleia Legislativa, foi cancelado. O motivo foi o cancelamento da vinda de alguns dos palestrantes que participariam das três mesas de debate. A organização avisa que está trabalhando para realizar o evento em uma nova data que será informada assim que for definida.

Paraguai e o golpe do colonialismo interno

O conceito de “colonialidade do poder” elaborado originalmente pelo peruano Aníbal Quijano em 1992 e ampliado pelo argentino Walter Mignolo em 2010 é fundamental para entendermos os processos de dominação e opressão que ocorrem nas sociedades pós-coloniais. Ele pressupõe que o fim do processo histórico da colonização não significou o fim das relações de colonialidade que seguem controlando a economia, a autoridade, a natureza, os recursos naturais, o gênero, a sexualidade, a subjetividade e o conhecimento. Na década de 90, um grupo de intelectuais intitulado “Modernidade/Colonialidade” trouxe a América Latina para o debate pós-colonial, anteriormente dominado pela atenção aos contextos africano e asiático. Ora, a América Latina foi, de fato, a primeira experiência colonial para a conformação do sistema-mundo moderno capitalista nos termos de Immanuel Wallerstein. E mais do que isto: somos um continente que sofreu e sofre de colonialismos sobrepostos: externo, regional e interno.

Apoiadores de Lugo fazem manifestação em frente à sede da tevê pública do Paraguai,
 em Assunção. Foto: Norberto Duarte / AFP

O Paraguai é um país que se enquadra nas três categorias. Colonizado por espanhóis e prejudicado sistematicamente pelas várias formas de imperialismo internacional e subimperialismo regional, o Paraguai contemporâneo está na periferia da periferia do sistema internacional e na periferia da América Latina. Sendo uma nação bilíngue e mestiçada, a grande maioria dos paraguaios resiste linguisticamente ao preservar a língua materna e indígena guarani. O país possui cerca de 40% de sua população vivendo em áreas rurais e 50% do PIB paraguaio provêm da agricultura. A informalidade econômica atesta a precariedade das condições de trabalho. Na fronteira territorial com o Brasil, há disputas de terras com os chamados brasiguaios e fluxos de contrabando.

Caudilhismo e autoritarismo são velhos conhecidos na política paraguaia. Institucionalmente são as forças que historicamente representaram o colonialismo interno. O conceito de colonialismo interno se aplica a nações soberanas que após a independência reproduzem internamente o colonialismo de que foram vítimas externamente. Na América Latina as populações indígena e afrodescendente formam historicamente “os condenados da terra”, para usar a expressão de Franz Fanon. A ideia de colonialismo interno denuncia a persistência de estruturas econômicas, políticas, jurídicas e culturais que inferiorizam a grande parte da população colonizada.

Neste contexto, a construção das instituições políticas reflete de forma muito especial a colonialidade do poder. O Paraguai é um país historicamente instável do ponto de vista da política institucional, sendo as elites partidárias da Asociación Nacional Republicana – mais conhecida Partido Colorado – e do Partido Liberal Radical Auténtico representantes de uma oligarquia fundiária conservadora e de setores médios urbanos e rurais mais liberalizados, respectivamente.

Quando, em 2008, este último apoiou a eleição de Fernando Lugo pela Aliança Patriótica pela Mudança – uma coligação de vários partidos de esquerda e centro-esquerda – rompia-se no Paraguai a hegemonia governamental colorada de mais de 60 anos ininterruptos. Fernando Lugo, um ex-bispo católico associado ao pensamento da Teologia da Libertação, representou pela primeira vez a eleição de um presidente da República mais vinculado aos setores populares e organizados da sociedade paraguaia. Não por acaso, a suposta conivência com os movimentos sociais do campo serviu como justificativa para o mau desempenho de suas funções – um artigo muito subjetivo e relativo da Constituição paraguaia que possibilitou seu impedimento.

Ele foi constitucional, no entanto, com vocação claramente golpista. Em menos de 48 horas, o presidente do Paraguai eleito de forma democrática foi destituído sumariamente do seu cargo pela Câmara e Senado, sem apoio popular, direito à defesa, acusação substancial e discussão pública. Assim como o golpe militar ocorrido em Honduras em 2009 e a tentativa frustrada em 2010 no Equador, o golpe constitucional no Paraguai serve de alerta para todas as cidadãs e cidadãos latino-americanos que lutam cotidianamente pela democracia. Revela-nos que paradoxalmente seu funcionamento não é garantido pelas próprias instituições políticas que lhe dão suporte – um balde de água fria nas teorias neoinstitucionalistas.

O processo contínuo de construção da democracia no Paraguai e na América Latina depende, sobretudo, da de-colonização do poder em todas as suas manifestações de colonialismo sobreposto. Não, nós não nos esquecemos da nossa diferença colonial. E é justamente ela que nos unifica.


Por Luciana Ballestrin  professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Na Carta Capital

Programação do #2BlogProgRS


Programação #2BlogProgRS

Mesa 1: Nada além da ConstituiçãoSexta-feira, 29 de junho, às 19h
Representante da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
Altamiro Borges, presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé
Marco Weissheimer, editor do site RS Urgente

Mesa 2: Redes sociais como plataforma de ativismo políticoSábado, 30 de junho, às 10h
Ney Hugo, Coletivo Fora do Eixo
Enrico Canali, cicloativista, organizador do I Fórum Mundial da Bicicleta
Rute Vera Maria Favero, idealizadora do blog Ong da Rute, organizadora do Twitter Mix, professora na UFRGS.

Mesa 3: Alternativas de organização da blogosferaSábado, 30 de junho, às 14h
André de Oliveira, jornalista do Coletivo Catarse
Renato Rovai, presidente da Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom), editor da revista Fórum

segunda-feira, 25 de junho de 2012

WikiLeaks: golpe no Paraguay era planejado desde 2009 e EUA sabia


Despacho sigiloso da Embaixada dos EUA em Assunção, dirigido ao Departamento de Estado, em Washington, já informava, em 28 de março de 2009, a intenção da direita paraguaia de organizar um 'golpe democrático' no Congresso para destituir Lugo, como o simulacro de impeachment consumado na última 6ª feira. O comunicado da embaixada, divulgado pelo WikiLeaks em 30-08-2011 (http://wikileaks.org/cable/2009/03/09ASUNCION189.html) O comunicado da embaixada, divulgado pelo WikiLeaks em 30-08-2011 (http://wikileaks.org/cable/2009/03/09ASUNCION189.html) mostra que já então o plano era substituir Lugo pelo vice, Federico Franco, que assumiu agora. O texto enviado a Washington faz várias ressalvas. Argumenta que as condições políticas não estavam maduras para um golpe, ademais de mostrar reticências em relação a seus idealizadores naquele momento. Dos planos participavam então o general Lino Oviedo (ligado a interesses do agronegócio brasileiro no Paraguai, que agora pressionam Dilma a reconhecer a legitimidade de Federico Franco, simpático ao setor) e o ex-presidente Nicanor Duarte Frutos. Em seu governo (2003-2008), o colorado Nicanor Duarte Frutos foi duramente criticado por vários governos latino americanos por ter permitido o ingresso de tropas norte-americanas no territorio paraguaio para exercícios conjuntos com o Exército do país; foi em seu mandato também que os EUA tiveram permissão para construir uma base militar na zona da Tríplice Fronteira,com gigantesca pista de pouso, supostamente para combater narcotráfico e o terrorismo islâmico.Os EUA foram o primeiro país a reconhecer o governo golpista, ainda na noite de 6ª feira.


O despacho da Embaixada dos EUA em Assunção divulgado pelo WikiLeaks

Reference ID Created Released Classification Origin
09ASUNCION189 2009-03-28 20:24 2011-08-30 01:44 SECRET Embassy Asuncion

VZCZCXYZ0000
OO RUEHWEB

DE RUEHAC #0189/01 0872024
ZNY SSSSS ZZH
O 282024Z MAR 09
FM AMEMBASSY ASUNCION
TO RUEHC/SECSTATE WASHDC IMMEDIATE 7716
INFO RUCNMER/MERCOSUR COLLECTIVE PRIORITY
RHMFISS/HQ USSOUTHCOM MIAMI FL PRIORITY
RHMFISS/USSOCOM MACDILL AFB FL PRIORITY
...id: 199404
date: 3/28/2009 20:24
refid: 09ASUNCION189
origin: Embassy Asuncion
classification: SECRET
destination: 07ASUNCION910|08ASUNCION535|08ASUNCION598|08ASUNCION611|09ASUNCION188
header:
VZCZCXYZ0000
OO RUEHWEB
DE RUEHAC #0189/01 0872024
ZNY SSSSS ZZH
O 282024Z MAR 09
FM AMEMBASSY ASUNCION
TO RUEHC/SECSTATE WASHDC IMMEDIATE 7716
INFO RUCNMER/MERCOSUR COLLECTIVE PRIORITY
RHMFISS/HQ USSOUTHCOM MIAMI FL PRIORITY
RHMFISS/USSOCOM MACDILL AFB FL PRIORITY
----------------- header ends ----------------
S E C R E T ASUNCION 000189
SIPDIS
STATE FOR WHA/BSC MDASCHBACH
E.O. 12958: DECL: 03/23/2029
TAGS: PGOV PREL MARR PINS PA
SUBJECT: PARAGUAYAN POLS PLOT PARLIAMENTARY PUTSCH
REF: A. 08 ASUNCION 00611
¶B. 08 ASUNCION 00598
¶C. 08 ASUNCION 00535
¶D. 07 ASUNCION 00910
¶E. 09 ASUNCION 00188
Classified By: DCM Michael J. Fitzpatrick; reasons 1.4 (b) and (d).
--------
SUMMARY
--------
¶1. (C) SUMMARY: Rumors persist that discredited General and
UNACE party leader Lino Oviedo and ex-president Nicanor
Duarte Frutos are now working together to assume power via
(mostly) legal means should President Lugo stumble in coming
months. Their goal: Capitalize on any Lugo mis-steps to
break the political deadlock in Congress, impeach Lugo and
assure their own political supremacy. While many predicted
political shenanigans in March during the traditional social
protest season that accompanies the opening of Congress,
little has come of it (largely because Lugo has been careful
not to provide the political or legal rope with which to hang
him, thus depriving Oviedo and Duarte the numbers in Congress
for their supposed "democratic coup"). But that could change
quickly here. Mid-March outrage over multi-million dollar
subsidies for sesame growers via a discredited NGO was
considered as a possible ground for impeachment before Lugo
walked away from the program (though the controversy
continues). For a president already facing many challenges
-- internal political struggles, corruption, and the
perception that his own leadership style is ineffective --
Lugo must now also worry about making a mis-step that could
be his last. END SUMMARY.
------------------
DOWN, BUT NOT OUT?
------------------
¶2. (S) Paraguay's two-most controversial politicians --
cashiered General and UNACE party leader Lino Oviedo and
discredited ex-president Nicanor Duarte Frutos -- simply
refuse to go away. After using the first six months of the
Lugo administration to quietly lick their electoral wounds
the duo are now positioning themselves to assume power should
President Lugo stumble in coming months. Sensitive reporting
(and other Embassy contacts) indicate that Duarte and Oviedo
would like to create circumstances which could lead to a
constitutional change of government (ref A). An
Oviedo-Duarte partnership began long before President Lugo's
inauguration last August. As President in 2007, it was
Duarte who used his control of the Supreme Court to free
Oviedo from jail. (NOTE: Oviedo was serving time for
involvement in the 1999 assassination of Vice President Luis
Argana and the subsequent Marzo Paraguayo massacre of unarmed
student protesters (ref B). END NOTE). Duarte incorrectly
assumed that if Oviedo ran for president, he would split the
opposition vote, thus ensuring a win for his own Colorado
puppet candidate, Blanca Ovelar.
¶3. (C) In return for Oviedo's freedom, his political party
UNACE supported Duarte's constitutionally dubious Senate bid
(ref C). Senate President Enrique Gonzalez Quintana swore in
Duarte last August in his private chambers after failing
several times to get a quorum for that purpose. However, the
Senate rejected Gonzalez Quintana's unilateral act and swore
in Duarte's substitute in early September (ref D).
¶4. (C) Oviedo also suffered a political setback last
September, when the military's congressional liaison, General
Diaz, informed President Lugo that Oviedo, Duarte and others
had invited him to a meeting at which they then discussed the
possibility of a coup. Lugo immediately exposed the meeting,
further damaging Oviedo's "democratic credentials." Oviedo
since has become Lugo's principal political adversary,
instructing his "troops" in UNACE party to oppose all
Congressional initiatives and reforms Lugo pursues, and
refusing to meet with Lugo. There is no deeper political and
personal divide in Asuncion today that that between Lugo and
Oviedo. And the distaste and distrust are as mutual as they
are deep.
------------------
A FARFETCHED PLAN
------------------
¶5. (C) Duarte's and Oviedo's shared goal: Find a "cause
celebre" to champion so as to change the current political
equation, break the political deadlock in Congress, impeach
Lugo and regain their own political relevance. Oviedo's
dream scenario involves legally impeaching Lugo, even if on
spurious grounds. (With a two-thirds vote, the Chamber of
Deputies may bring impeachment proceedings against the
president. Like in the United States, the Senate tries
impeachments, again requiring two-thirds vote to convict).
The presidential baton would thus, in this scenario, pass to
Vice President Federico Franco, who would be
constituitionally required to call vice-presidential
elections within 90 days. Given the institutional collapse
and political fratricide reigning now within the Colorado
Party, Oviedo would be the obvious leading candidate.
Meanwhile, Duarte, having regained his Senate seat via
Supreme Court maneuvering, would assume the Senate presidency
and become number three in the line of presidential
succession. The Liberal Franco would be President, but
Oviedo and Duarte would control Congress -- and the courts.
Farfetched? Perhaps. But not entirely unprecedented in
Paraguayan politics.
---------------------------------
BACK TO REALITY: THE HARD NUMBERS
---------------------------------
¶6. (C) Throughout January and February, post heard increased
reports of a possible "constitutional" plot against Lugo
after Congress returned to session in March. However, Oviedo
and Duarte have not had the public excuse -- much less the
numbers in Congress -- for their supposed "democratic coup."
In order to bring impeachment charges in the lower house,
Oviedo/Duarte need 53 votes. Assuming the support of all 30
Colorados (not an easy assumption in light of divisions in
the Colorado Party between Duarte and his former Vice
President Luis Castiglioni) and 15 UNACE deputies,
Oviedo/Duarte today fall at least eight short of the votes
they need to bring impeachment charges. The environment in
the Senate is similar: Oviedo/Duarte need 30 votes to convict
but have only 24 in the best case scenario (15 Colorado
senators -- six of which are led by Luis Castiglioni -- plus
9 UNACE senators).
-------------------------------
NO BASIS (YET) FOR IMPEACHMENT
-------------------------------
¶7. (C) Several of Embassy's key political contacts conclude
that Lugo's best defense against impeachment is that most
political actors prefer working with him to the alternative:
Vice President Federico Franco. (BIO NOTE: Franco is known
for being an old-school Liberal party politician with an
oversized ego and a difficult personality. END NOTE).
Additionally, Congress cannot vote to impeach Lugo without at
least superficial political or legal grounds. Lugo has been
in office only seven months, and the situation is not ripe
for impeachment. Instead, despite rumblings about Lugo's
mild-mannered leadership style and his failure to set out a
national agenda, public support for the Lugo administration
remains high. The Bottom Line: Given the nightmare scenario
of General Oviedo and Nicanor Duarte Frutos jointly running
the show, the general political consensus here -- among
rationalists, anyways -- remains strong: For all foibles,
President Lugo remains Paraguay's least worst option.
-------
COMMENT
-------
¶8. (C) COMMENT: As history demonstrates, nothing is
impossible in Paraguay. But politics here can turn on a dime.
Witness Nicanor's masterful 2007 orchestration of Oviedo's
release from military prison -- and the clearing of all
charges -- just hours before the 2008 electoral campaign
registration deadline. Lugo is now confronted by sudden
political clashes after the announcement of USD 8 million in
sesame subsidies to a discredited campesino-run NGO. Lugo
immediately walked back the announcement, for fear (in part)
of providing legal basis for impeachment, even as he still
pursues subsidies for suffering sesame farmers. Campesino
leaders seem to currently have the upper hand, thus forcing
Lugo's Agriculture Minister to seek to quit. But this is far
from over. For a president already facing many challenges --
internal political struggles, corruption, and the perception
that his own leadership style is ineffective -- Lugo must now
also worry about possible impeachment charges. There is no
doubt that Oviedo and Duarte are bent on regaining leadership
roles in Paraguayan politics (and, ahem, economics). As
Defense Chief Admiral Benitez recently told Ambassador (ref
E), "Oviedo has been plotting since the day he was born."
Rumors and conspiracy theories are indeed the lifeblood of
Paraguayan politics, and should be viewed as the norm. It is
when the rumors stop that we really should start worrying.
END COMMENT.
Please visit us at http://www.state.sgov.gov/p/wha/asuncion
AYALDE
=======================CABLE ENDS================

MERCOSUL VETA GOLPISTA NA CÚPULA DE MENDOZA

Em comunicado neste domingo, Argentina, Brasil, Uruguai e demais associados do Mercosul anunciaram a decisão de suspender o Paraguai de imediato e, portanto, impedir o dirigente golpista Federico Franco de participar da XLIII Reunião do Conselho do Bloco e da Cúpula dos chefes de Estado que acontece a partir desta 2ª feira,Mendoza, na Argentina. No encontro estava prevista a passagem da Presidência pro tempore do Mercosul à República do Paraguai, leia-se, ao presidente democraticamente eleito, Fernando Lugo. A decisão é o desfecho de um cerco regional crescente ao golpe que destituiu Lugo, na última sexta-feira, um simulacro de impeachment, em rito sumário, que durou menos de 30 horas. Já no sábado, em entrevista à TV Pública de seu país, Cristina Kirchner fora enfática quanto a posição de seu governo --'Argentina no va a convalidar el golpe de Estado en Paraguay'(veja aqui:
http://www.telam.com.ar/nota/29325/ ). No mesmo dia, a Casa Rosada retirou seu embaixador em Assunção, assumindo a liderança do rechaço regional à derrubada de Lugo. Horas depois, o Brasil adotaria atitude parecida, seguido pelo Uruguai. Neste domingo Chávez fez o mesmo e cortou o envio de petróleo ao Paraguai. O comunicado do Mercosul adianta que novas represálias poderão ser adotadas em Mendoza.

COMUNICADO DO MERCOSUL DENUNCIA A RUPTURA DA ORDEM DEMOCRÁTICA NO PARAGUAI:

La declaración de los estados partes del Mercosur y estados asociados sobre la ruptura del orden democrático en Paraguay, dice lo siguiente:

"La República Argentina, la República Federativa del Brasil, La República del Uruguay, la República Bolivariana de Venezuela, el Estado Plurinacional de Bolivia, la República de Chile, la República de Colombia, la República del Ecuador y la República del Perú considerando que, de acuerdo a lo establecido en el Protocolo de Ushuaia sobre Compromiso Democrático en el Mercosur suscrito el 24 de julio de 1998, la plena vigencia de las instituciones democráticas es condición esencial para el desarrollo del proceso de integración deciden:.

1.-Expresar su más enérgica condena a la ruptura del orden democrático acaecido en la República del Paraguay, por no haberse respetado el debido proceso.

2.- Suspender al Paraguay, de forma inmediata y por este acto, del derecho a participar en la XLIII Reunión del Consejo del Mercado Común y Cumbre de Presidentes del Mercosur, así como de las reuniones preparatorias, que tendrán lugar en la ciudad de Mendoza, entre el 25 y 29 de junio de 2012.

3.- Considerar, a nivel de Jefas y Jefes de Estado en la Reunión Cumbre del Mercosur del día 29 de junio, ulteriores medidas a ser adoptadas".


Lugo: exceção ou o golpismo ainda lateja na América Latina?

O Senado paraguaio concluiu nesta sexta-feira o enredo do golpe iniciado no dia anterior e aprovou, por 39 votos a favor e quatro contra, o impeachment do presidente da República, Fernando Lugo. De olho nas eleições de abril de 2013, a oligarquia, a Igreja e a mídia (leia a entrevista com o Presidente do Equador, Rafael Correa, nesta pág) queriam a destituição do ex-bispo eleito em 2008, cuja base de apoio é maior no interior (40% da população vive no campo), sendo porém pouco organizada e pobre (30% está abaixo da linha da pobreza). A pressa evidenciada no rito sumário da votação, questionável até do ponto de vista jurídico, tinha como objetivo impedir a mobilização desses contingentes dispersos, pouco contemplados por um Estado fraco, desprovido de receita fiscal e acossado por interesses poderosos. O torniquete histórico que levou à destituição de Lugo ainda expressa a realidade estrutural de boa parte da América Latina.

Quando o Parlamento concluiu a votação havia do lado de fora pouco mais de dois mil manifestantes contrários ao golpe (número que dobrou à noite), mas vigiados por um aparato repressivo de escala equivalente.

Lugo recebeu a notícia no Palácio de governo. A determinação dos golpistas ignorou solenemente a pressão internacional: dirigentes da Unasul advertiram pouco antes da votação que o organismo poderá não reconhecer um governo resultante da ruptura democrática consumada.

Ex-bispo da linha progressista do catolicismo latino-americano, Lugo foi eleito em 2008 pelos extratos mais pobres que formam o grosso da população paraguaia. À frente de um aparelho de Estado fraco, com receita fiscal inferior a 12% do PIB, seu governo transpirava a fragilidade de quem não conseguia atender as urgências da base social, mas tampouco desfrutava da complacência de uma oligarquia poderosa, sedimentada em 61 anos de poder 'colorado' --sendo que desses, 34 só de ditadura do general Stroessner.

Conflitos sociais insolúveis marcaram a presidência do religioso adepto da Teologia da Libertação que não reprimia os movimentos sociais, buscando canalizar suas demandas para um esforço de organização dos excluídos. Com a proximidade das eleições de abril de 2013, a oligarquia paraguaia decidiu implodir essa dinâmica incômoda. Antecipou a sua volta ao poder através de um atalho expresso: um impeachment golpista processado em 24 horas.

O torniquete enfrentado por Lugo, infelizmente, não representa uma exceção no cenário da América Latina. Estado fraco, baixa receita fiscal, desequilíbrios sociais explosivos (2,5% da população tem 80% das terras), uma organização popular insuficiente, elites intransigentes (um programa similar ao Bolsa Família foi rejeitado pelo mesmo Congresso que derrubou o Presidente e resiste ao ingresso da Venezuela no Mercosul) e uma mídia golpista formam um padrão ainda disseminado.Um dia antes do do impeachment o jornal Valor Econômico, de insuspeita lealdade as 'livres mercados', dedicou ao Paraguai uma coluna crítica sugestivamente intitulada "O paraíso do Estado mínimo". Nela arrola dados do torniquete fiscal/social/conservador que 24 horas depois asfixiria a experiência de um governante avesso a esse redil histórico.

Com pequenos ajustes locais, versões semelhantes dessa sinuca feita de Estado mínimo e exclusão social máxima repetem-se na Bolívia, Guatemala, Honduras, Peru, El Salvador, Equador, Nicarágua etc.

A fragilidade das políticas públicas na América Latina --agravada pelo ciclo neoliberal,que ainda encontra defensores no Brasil demotucano-- é proporcional a esse engessamento, proveniente de uma carga fiscal média que não excede a 18% do PIB (ela alcança 35% no Brasil e vai a 40% na União Européia, pré-crise). Mesmo a receita diponível provém de uma base que acentua desigualdades em vez de corrigi-las: na média da região, mais de 50% da arrecadação é baseada em impostos indiretos, pagos de forma linear por toda população com efeito socialmente nulo ou regressivo. Para efeito de comparação, na UE (pré-crise) 40% do resultado tributário origina-se de impostos diretos; o restante provém de tributos indiretos e segurança social.

Vincular a solução dos problemas sociais da AL a uma gradual evolução rumo a uma estrutura tributária mais justa equivale a apostar em uma reforma agrária ancorada em acordo de cooperação pacífica entre latifundiários e trabalhadores sem-terra. Enquanto se espera pelo milagre, o espaço para políticas sociais redistributivas persiste acanhado, ao passo que as tensões e a insatisfação popular crescem atiçando o apetite golpista.

Não por acaso, ao ser informado do andamento do impeachment na sexta-feira, Rafael Correa, Presidente do Equador, ele mesmo vítima de uma tentativa golpista, em setembro de 2010, advertiu: " Se isso for bem sucedido abre um precedente perigoso na região". A ver a capacidade de resistência do povo paraguaio e a reação internacional nas próximas horas.

Leia mais no Blog das frases do Saul Leblon

Vikings, mas não machistas

A bela jornalista Thôra Anórsdóttir, candidata
 a presidente na Islândia, e seu marido dono de casa.
O feminismo avançado da ilhota viking é exemplo
para o mundo. Foto: AFP
O futuro presidente da Islândia poderá ser uma mulher. A bela Thôra Anórsdóttir, de 37 anos, vedete da tevê, está em primeiro lugar nas pesquisas de intenções de voto na Presidencial no sábado 30. Até aí, claro, nada de extraordinário, visto que em vários países, inclusive no Brasil, mulheres são e foram chefes de Estado.

Mas a Islândia, país de apenas 320 mil habitantes, é um caso particular no quesito de mulheres poderosas. E os vikings não parecem dar a mínima.

O premier responde por Jóhanna Sigurdardóttir, a primeira lésbica assumida a ocupar o posto na história do mundo. Progressista, é casada, e da forma mais legal possível, com uma poetisa. Juntas têm seis filhos adotivos oriundos de famílias menos favorecidas. Desde 2011 há mais ministras que ministros no gabinete. Quase 50% dos deputados são mulheres.

O bispo é uma bispa, a primeira na história do país.

Após ter recebido uma avalanche de e-mails e cartas, Thôra resolveu se candidatar à Presidência. Os remetentes queriam uma rival que pudesse ganhar do atual presidente, Ólafur Ragnar Grimsson. Aos 69 anos, Grimsson está no poder faz 16 anos.

Thôra, que se diz apartidária, hesitou. Estava grávida de seus terceiro filho com Svavar Halldórsson, também ele homem de tevê. Mas apesar de não ter nenhuma experiência no mundo da política, resolveu se candidatar em março.
O marido, terminada a licença-maternidade de Thôra, ficou em casa a tomar conta dos filhos.
Na Islândia, país de vikings, o machismo não tem vez?

Svavar não parece se preocupar com o que pensam seus conterrâneos de um dono-de-casa. Ele alega abertamente não saber consertar um automóvel. Por outro lado, uma briga de bêbados da qual participou foi negativa para a campanha da mulher. A mídia do país o tratou como um homem das cavernas embriagado.

Thôra sustena que a Islândia não é uma utopia onde mulheres e homens são considerados iguais. Ainda há quem a critique por ter se candidatado grávida. Homens ainda ganham em média mais que mulheres. E por que seu marido é criticado ao ficar em casa a cuidar das crianças e do bebê?

Com a provável vitória de Thôra, esse último passo rumo ao fim do machismo, miúdo em relação a outros países, também será dado. E assim outros homens como Savavar poderão dizer sem receios que são donos-de-casa.

Por Gianni Carta na Carta Capital

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Nós, os ‘puros’


Deu-se estes dias que chegamos a um encruzilhada inaudita. Assim, os que ousaram se alinhar ao sentimento de Luiza Erundina, de repúdio à ligação do PT e de Lula a Paulo Maluf, passaram a ser chamados de “puros”. Assim mesmo, entre aspas, para que fique claro a conotação de que, uma vez puros, são também tolos, tristes sonhadores, idealistas cuja atitude pueril não só transgride as regras do jogo como, no fim das contas, subverte a ordem de uma guerra santa. Em meio ao jihadismo estabelecido nas eleições paulistanas, de demônios tão nítidos quanto malignos, a atitude de Erundina contra a aliança da esquerda com um bandido procurado pela Interpol, com o cúmplice ativo dos assassinos da ditadura militar, com o construtor da vala comum do cemitério de Perus, com a representação do pior da direita, enfim, tornou-se um ato de traição, de purismo político, de angelical perversão.
Ato contínuo, os mesmos que dias antes haviam comemorado a chegada da deputada do PSB à campanha de Fernando Haddad passaram, de uma hora para outra, a demonizá-la, curiosamente, pelo viés de um purismo atávico e infantil. Erundina, a louca idealista, a tresloucada individualista capaz de destruir os planos de redenção da esquerda por causa de uma foto, uma imagem de nada, um instantâneo sem relevância nem simbolismo, apenas o registro banal de um líder da resistência a se confraternizar com chefe da escória. Ah, os puros, como são tolos! Justo quando deles se exige fortaleza e dedicação, aparecem esses sonhadores cheios de escrúpulos e regramentos éticos.
De toda parte, então, passaram a rugir leões do pragmatismo político, militantes de uma realpolitik feroz, implacável, a pregar a irrelevância dos puros, dos tolos da ética, quando não de sua influência nefasta sobre os jovens e, claro, do enorme desserviço prestado à democracia e ao admirável mundo novo que se anuncia. Os puros, dizem, nunca ganham eleições. E se não o fazem, portanto, que não atrapalhem os que as querem ganhar a qualquer custo. É preciso impedi-los, portanto, de se mostrar em público. É preciso calá-los, desqualificá-los, torná-los ridículos, patéticos em sua fraqueza.
Nem que para isso seja preciso transformar em traidora uma brasileira digna, com 40 anos de vida pública inatacável, uma heroína da resistência, uma política que passou a vida levando assistência a favelas e cortiços, uma parlamentar que dedica seus mandatos a defender a democratização da comunicação e o resgate da memória dos que foram seqüestrados, torturados e mortos pelo regime ao qual serviu Paulo Maluf.
Este mesmo Maluf contra o qual os puros, os tolos e os sonhadores da política, vejam vocês, tem a ousadia de se voltar.


Por Leandro Fortes, via Facebook

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O campo político brasileiro


Há duas décadas que o campo político nacional no Brasil se polariza em duas frentes: aquela liderada pelo PSDB e a liderada pelo PT. Desde que os tucanos, levados por FHC, se aliaram ao então PFL e assumiram o modelo neoliberal, o espaço à direita do campo politico ficou ocupado pela aliança liderada pelo PSDB e que tem tido no atual DEM (e secundariamente pelo PPS). No outro polo, o PT ocupa o espaço à esquerda, em aliança com outros partidos como o PSB, o PC do B, o PDT e outras forças, como a força posneoliberal. As oscilações se deram pela adesão do PDMB e outros partidos de centro e de direita, ao bloco governante.

A correspondência a essa polarização é aquela que se dá entre dois projetos de país. O PSDB mantem uma visão centrada no mercado, no Tratado de Livre Comércio com os EUA e no Estado mínimo. Mesmo se não propõe claramente uma alternativa baseada nessas posições – a campanha de Serra a presidente oscilou todo o tempo entre continuidade com o governo Lula e oposição radical a esse governo -, são os eixos das posições tucanas, em que as denúncias fazem parte da tônica anti-estatal –em que o Estado seria a fonte fundamental de corrupção.

O PT dirige um bloco politico que faz o Brasil transitar do neoliberalismo herdado ao posneoliberalismo. Da Alca passamos à sua negação e à prioridade dos projetos de integração regional (Mercosul, Banco do Sul, Unasul, Conselho Sulamericano de Defesa, Comunidade de Estados da America Latina e o Caribe) e das relações Sul-Sul. Da proridade do ajuste fiscal à prioridade das políticas sociais. Do Estado mínimo ao Estado indutor do crescimento econômico e garantia dos direitos sociais.

Todo o cenário politico é sobredeterminado por essa polarização, de que o desenvolvimento do Brasil depende.

Por Emir Sader, no Blog do Emir

Eurocopa y la "mano de dios"

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Três equívocos

A cobertura de nossa “grande -imprensa” da atualidade política gira em torno de três equívocos. Por isso, mais confunde que esclarece. Os três decorrem da implicância com que olha o governo Dilma Rousseff, o PT e seus dirigentes. A mesma que tinha em relação a Lula quando era presidente.

Há, nessa mídia, quem ache bonito – e até heroico – ser contra o governo. E quem o hostilize apenas por simpatizar com outros partidos. Imagina-se em uma espécie de cruzada para combater o “lulopetismo”, o inimigo que inventaram. Alguns até sinceramente acreditam que têm a missão de erradicá-lo.
Não é estranho que exista em jornais, revistas, emissoras de televisão e rádio, e nos portais de internet, quem pense assim, pois o mundo está cheio deles. E seria improvável que os empresários que os controlam fossem procurar funcionários entre quem discorda de suas ideias.
Até aí, nada demais. Jornalismo ideológico continua a ser jornalismo. Desde que bem-feito e enquanto preserve a capacidade de compreender o que acontece e -informar
o público. O problema da “grande imprensa” é que suas antipatias costumam levá-la a equívocos.

Como os três de agora. Vejamos:

O desespero de Lula
Pode haver suposição mais sem sentido do que a de que Lula esteja “desesperado” com o julgamento do mensalão?

Ele venceu as três últimas eleições presidenciais, tendo tido na última uma vitória extraordinária. Só ele se proporia um desafio do tamanho de eleger Dilma Rousseff.
Hoje, em qualquer pesquisa sobre a eleição de 2014, atinge mais de 70% das intenções de voto, independentemente dos adversários.

Seu governo é considerado o melhor que o Brasil já teve por quase três quartos do eleitorado, em todos os quesitos: economia, atuação social, política externa, ecologia etc. (sem excluir o combate à corrupção).
O mensalão já aconteceu e foi antes que galvanizasse a imagem que possui. Lula tem, portanto, esse conceito depois de passar pelo escândalo. O ex-presidente não tem nenhuma razão para se importar pessoalmente com o julgamento do mensalão. Muito menos para estar “desesperado”.

O que ele parece estar é preocupado com alguns companheiros, pois sabe que existe o risco de que sejam punidos, especialmente se o Supremo Tribunal Federal for pressionado a condená-los. Solidarizar-se com eles – e fazer o possível para evitar injustiças – não revela qualquer “desespero”.

A batalha paulista
Não haverá um “enfrentamento decisivo” na eleição para prefeito de São Paulo. Nada vai mudar, a não ser a gestão local, se José Serra, ou Fernando Haddad, ou Gabriel Chalita sair vitorioso.
Como a “grande imprensa” está convencida de que Serra vai ganhar – o que pode ser tudo, menos certo –, a eleição está sendo transformada em um “teste” para Lula, o PT e o governo Dilma. Ou seja, quem “nacionaliza” a disputa é a mídia. Apenas porque acha que Haddad vai perder. Se Serra vencer, o PSDB não aumenta as chances de derrotar Dilma (ou Lula) em 2014. Caso contrário, terá sua merecida aposentadoria.

O melhor que os tucanos podem tirar da eleição paulista é a confirmação da candidatura de Aécio Neves. Quanto ao PT e ao PMDB, vencendo ou perdendo, saem renovados. No médio e no longo prazo, ganham. Por enquanto, a mídia está feliz. Cada pesquisa em que Haddad se sai mal é motivo de júbilo, às vezes escancarado. Quando subir, veremos o que vai dizer.

É a economia, estúpido!
Sempre que pode, essa mídia repete reverentemente a trivialidade que consagrou James Carville, o marqueteiro que cuidou da campanha à reeleição de Bill Clinton.
Lá, naquele momento, foi uma frase boa. Aqui, não passa de um mantra usado para desmerecer o apoio popular que Lula teve e Dilma tem. Com ela, pretende-se dizer que “a economia é tudo”. Que, em outras palavras, a população, especialmente os pobres, pensa com o bolso. Que gosta de Lula e
Dilma por estar de barriga cheia.

Com base nesse equívoco, torce para que a “crise internacional” ponha tudo a perder. Mas se engana. É só porque não compreende o País que acha que a economia é a origem, única ou mais importante, da popularidade dos governos petistas.

Nos últimos meses, a avaliação de Dilma tem subido, apesar de aumentarem as preocupações com a inflação, o emprego e o consumo. E nada indica que cairá se atravessarmos dificuldades no futuro próximo.
Lula não está desesperado com o julgamento do mensalão. Se Serra for prefeito de São Paulo, nada vai mudar na eleição de 2014. As pessoas gostam de Dilma por muitas e variadas razões, o que permite imaginar que continuarão a admirá-la mesmo se tiverem de adiar a compra de uma televisão. Pode ser chato para quem não simpatiza com o PT, mas é assim que as coisas são.

Marcos Coimbra na Carta Capital

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A crise, a corda e o pescoço


A palavra crise dissimula o violento conflito de interesses que redesenha a geografia e a posse da riqueza no processo de derrocada econômica que se esboça na zona do euro nesse momento. Não há faixa de neutralidade no trânsito nervoso do dinheiro que ela provoca. A chantagem dos mercados contra a soberania democrática do povo grego, por exemplo, já produziu a ruína vaticinada por quem sabe materializar suas profecias.

Fugas diárias de US$ 1 bilhão vem desidratando o sistema bancário do país, num cotejo cercado de pânico e ameaças para impedir a vitória da esquerda unida, a Syriza, nas urnas do próximo domingo. Quem não se lembra do que acontece no Brasil, no interregno que antecede o voto, quando uma candidatura progressista roça a porta do poder?

Tudo aquilo de que a mídia nativa é capaz nessas situações deve ser multiplicado agora pela tensão da desordem neoliberal. O produto expressa o peso das marteladas desferidas contra o discernimento de uma população ao mesmo tempo ansiosa e temerosa de assumir o comando do próprio destino.

A hemorragia cambial desidrata também a Espanha, fustiga a Itália e já se insinua em latitudes ao sul. Em maio a conta financeira do Brasil registrou a maior saída líquida de capitais desde a crise de 2008, US$ 5,4 bi; na Argentina, Cristina Kirchner faz o que a soberania recomenda nessas circunstâncias: impõe controles crescentes à saída de dólares, sob protestos das manchetes de sempre. Nenhuma delas tem a dignidade de arguir: quem ganha com a liberdade cambial que sanciona a fuga de capitais em meio a maior crise desde os anos 30? As taxas de juros pagas pelos governos de cada país são um bom indício da resposta.

O deslocamento em massa dos capitais em busca de qualidade e segurança, sanciona, de um lado, a extorsão rentista sobre Estados pobres e economias cambaleantes; de outro, permite que o núcleo central do capitalismo financie o gasto público a um custo negativo. Enquanto a Espanha só consegue captar a mercado pagando juros recordes de 6,8% ao ano, a Alemanha da inflexível Angela Merkel saboreia o bilhete premiado .

No final de maio, pela primeira vez na sua história, a Alemanha vendeu títulos da dívida a juro zero. Foram ofertados 4,5 bilhões de euros em papéis de dois anos rendendo irrisórios 0,07% ao ano ao investidor . A procura por segurança nas burras germânicas foi quase o dobro da oferta.

Da mesma forma,nos EUA, o Tesouro consegue financiar o déficit público mastodôntico de US$ 1,5 trilhão/ano -- feito de gastos militares, subsídios à banca e algum verniz social-- pagando taxas de 1,4% a.a (a inflação é da ordem de 2%). Há, portanto, cifras e circuitos que dão conforto a rigidez ortodoxa de frau Merkel, responsável pela ruína de muitas nações.

No sábado, por exemplo, a gerencia do euro aprovou um socorro 'generoso' à combalida Espanha. O volume do regalo, sintomaticamente, é idêntico ao total de capitais evadidos do país desde janeiro. Em termos líquidos, tudo se passa como se os mesmos US$ 150 bilhões que voaram para serem remunerados a taxas negativas nos centros do euro, saíssem de lá agora para fornecer oxigênio aos bancos espanhóis, a um custo de 4% ao ano, pagos pelo Estado; quer dizer, por toda sociedade, enforcada duas vezes pelo seu próprio dinheiro.

Por Saul Leblon no Blog das Frases

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Palmo e meio e o ultimo ditador guasca


Primeiro editorial CORREIO DO POVO  06/02/1983

Palmo e meio

Tenho estado a escrever sobre fatos e pessoas de minha vida. Quem já viveu tantos anos reúne acervo considerável de lembranças. Meus temas, até aqui, pelo seu fundo nostálgico foram o que se poderia chamar de remembranças. Hoje, vou relatar uma lembrança. Uma pequena história. Mas, nem por isto, menos verdadeira. Afinal, o que é pequeno também existe, e, às vezes, as circunstâncias põem o que é intrinsecamente insignificante em posição de causar transtornos e até desastres. O argueiro no olho, o famoso grão de areia no sapato, o urubu que é sugado pela turbina do jumbo – seriam exemplos do cotidiano e não despiciendas.
Algum tempo antes de terminar o tempo do senhor Sinval Guazelli na governança de nossa pobre província do Rio Grande, fui convidado pelo ilustre então comandante do III Exército para um almoço no seu quartel general. O general Fernando Belfort Bethlen desejava, com sua oficialidade de alto escalão, conversar um pouco sobre temas da atualidade e do interesse geral. Ali compareci, levado pelo portador do convite, que era o jornalista encarregado do setor militar no Correio do Povo. Foi para mim oportunidade de convívio muito amável e extremamente proveitoso com pelo menos seis generais e outros oficiais de elevada hierarquia. Falou-se de tudo: desde história do Brasil, nas suas diferentes fases, até a segunda guerra mundial, passando pela Transamazônica, Carajás, Democracia, reservas minerais, guerra atômica, etc.
Terminado o almoço, já de pé, na hora do cafezinho, o general Bethlen manteve comigo o seguinte diálogo:
- Desejamos conhecer sua opinião sobre o vice- governador Amaral de Souza para suceder o sr. Sinval Guazelli no próximo período.
- Como assim? Minha opinião? Não conheço essa pessoa o suficiente para dar uma opinião, isto é, para emitir um conceito. Não tenho opinião. Poderia, quando muito, dar uma impressão.
- E qual seria essa impressão?
- Sinceramente, a de que lhe falta um palmo e meio.
- Como? Em que sentido?
- Em todos os sentidos. Para ser honesto, é o que eu posso dizer.
E a conversa terminou por aí. O resto foram as despedidas com as amabilidades de preceito.
Como personagem em causa não foi submetido ao teste de uma eleição direta, mediante a qual existisse a possibilidade de consenso amplo, não sei se minha impressão, que depois se tornou opinião consistente seria, ou não, aprovada pelo grande número. Não sei. Para mim, o que se viu não deixa dúvidas.

Breno Caldas


Segundo editorial CORREIO DO POVO  - 11/02/1983

Palmo e meio

O ilustre senhor governador não gostou da nota "Palmo e meio" que aqui publiquei no domingo último. Pois eu gostei. E muita gente também. Tanto assim que recebi inúmeras manifestações de aprovação e apoio, vindas de todas as áreas.
Fui informado que S. Exa., na segunda-feira, reuniu luzido grupo de assessores e companheiros para com eles deliberar sobre o que deveria ser feito “face à insólita coluna publicada sob o título ‘Palmo e meio’”.
Depois de longa e laboriosa deliberação, o augusto Plenário resolveu que o Governo do Estado interpelasse “judicialmente o signatário da referida coluna a fim de, esclarecida o exato significado da mesma, constatar se com substancia simples deselegância do signatário, alguma insinuação ou declaração pela qual tenha de responder judicialmente, caso em que serão tomadas as medidas cabíveis.
Desculpem a xaropada da transcrição, ainda que parcial. Não me animei a reproduzir a íntegra do pífio documento, que sei partejado com muito esforço e esmero literário e jurídico. Não atino com o que ali seja pior: se o fundo ou a forma. De qualquer maneira, a peça é bem reveladora do fraco teor de seus autores. Que, afinal – vejam bem – são quem nos governa.
Desgraçadamente.
Em juízo, voltarei ao assunto, quando convocado.
Não foram revelados detalhes da histórica reunião realizada no Piratini. Mas vazou que, lá pelas tantas, após o episódio relatado a seguir, o senhor governador proclamou resoluto:
- Eu assumo a responsabilidade! Eu mandei agir contra a Caldas Junior!
Alguém versado em história e nas sutilezas do idioma francês – um professor, possivelmente – teria sentenciado com sabedoria irretorquível: “Le petit caporal est devenu le grand Napoleon. Nous avons ici notre propre Napoleon!” Com ar triunfante, olhos postos no semblante levemente enrubescido do amo, traduziu, logo, para entendimento daqueles que foram apanhados de surpresa, ou não tinham bem avaliado a profundeza do conceito. Babou de gozo.
Lisonjeado, mas discreto, o condestável fechou os olhos mansamente. E nos seus ouvidos chegaram apenas insinuados os acordes viris da Marselhesa sob cujo estímulo rememorou num ápice, as gloriosas campanhas recentes, no Japão, na China, na Gália, a batalha de Paris, e, por fim, a luta ingente pelo fuso horário nas praias desoladas do Hawaí.
Então, despertou num frêmito: Formez vous batallions! Marchons! Marchons!

Breno Caldas

Ingleses patéticos

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Vamos continuar ampliando o consumo da população brasileira, afirma Dilma

Presidenta Dilma Rousseff durante cerimônia de assinatura de contrato de financiamento entre o Banco do Brasil e o governo do estado do Rio de Janeiro para obras de infraestrutura urbana. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR


A presidenta Dilma Rousseff afirmou hoje (13), durante cerimônia de assinatura de contrato de financiamento entre o Banco do Brasil e o governo do estado do Rio de Janeiro para obras de infraestrutura urbana, que o governo continuará a estimular a consumo das famílias como forma de combater os efeitos da crise econômica internacional.
“Nós vamos continuar ampliando o consumo da população brasileira, sim. E mais, esse mercado é um mercado ainda incipiente do ponto de vista do crédito. Temos uma das menores taxas de endividamento das famílias se comparadas com os outros mercados internacionais. Agora, por favor, não nos compare com aqueles países que estão com desemprego de 54% na faixa jovem porque nós não somos um país que não esteja gerando emprego, nós geramos emprego”, disse.
Segundo a presidenta, ainda há espaço para estímulo ao consumo pois a população brasileira ainda tem uma demanda reprimida.
“O Brasil tinha e tem consumo reprimido. Me espanta a mim aqueles que dizem que o momento do consumo no Brasil passou. Ora, como pode ter passado se esse país tem uma demanda reprimida, tem milhões e milhões de brasileiros que não têm acesso não só a moradia, que nós providenciamos com o Minha Casa, Minha Vida, mas não têm acesso a vários bens de consumo e que vão ter acesso”, afirmou.
Dilma voltou a defender a política de conteúdo nacional nas compras governamentais. Segundo ela, o governo tem como objetivo gerar empregos no Brasil e por isso continuará a priorizar o conteúdo nacional.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Resistir: o mercado não fará isso por nós

O governo Dilma acelera o passo na direção que em Lula enveredou a partir da crise de 2008: colocar o mercado, a banca e os recursos públicos a serviço do país para protege-lo do duplo naufrágio europeu-norte americano.

O vagalhão provocado pela submersão de 34% do PIB mundial ruma de encontro às economias da Ásia e América Latina em duas ondas sobrepostas: a retração em cadeia do comércio internacional, onde a singular coordenação do FMI recomenda que todos os países exportem mais e importem menos, o que fará todo sentido quando a Terra estreitar laços econômicos com Saturno; e a fuga de capitais para qualidade e segurança.

Títulos alemães e americanos mesmo pagando juros negativos tem a preferência da manada. De toda a manada, razão pela qual pagam cada vez menos. Papéis do Tesouro dos EUA com prazo de 10 anos, por exemplo, valem 1,4% ao ano para uma inflação da ordem de 2%.

Trata-se de uma corrida contra o tempo; deles e nossa. Os capitais aceitam receber menos do que aplicam porque precificam uma deflação de ativos superior a essa perda. A liquidez que tem em mãos -- direitos teóricos sobre a riqueza,como ações de bancos europeus, por exemplo--, não vale o que está impresso na face.

A bolha que começou a explodir em 2008 no mercado imobiliário norte-americano tem uma verruga correspondente dentro de cada um desses papéis: a montanha somada de todos eles alcança 10 vezes o PIB mundial; as espirais derivadas desse Everest equivalem a 460 vezes a riqueza global tangível. Então é preciso correr. A dança das cadeiras deixará trilhões sem assento quando a música parar. A batuta da Espanha e da Grécia ensaia o gran finale.

Dilma tem pouco tempo, mas dispõe paradoxalmente de mais espaço que teve Lula para agir. O tempo é dado pelo vagalhão econômico internacional que avança aos saltos e pode disparar se a banca afundar na Espanha ou a Grécia romper com a ortodoxia dia 17; já o espaço é uma variável política. Dilma tem um espaço de legitimidade para agir inversamente proporcional à credibilidade do discurso neoliberal.

Colunistas órfãos reclamam da ausência de oposição no país e torcem para que Veja acerte ao menos uma parceria contra o PT --seja com Cachoeira, Serra ou Gilmar Mendes. Iludem-se ao achar que as coisas mudariam radicalmente assim.O buraco é mais fundo. A lezeira da oposição deve-se a trinca estrutural em seu alicerce ideológico.

Foi isso que propiciou a margem de manobra para Dilma romper a lógica rentista na esfera dos juros e alterar o lacre inviolável que a poupança oferecia à banca. E nada aconteceu; ou melhor, os depósios em poupança aumentaram na semana seguinte.

Em março de 1999, no governo FHC, a taxa básica de juro do país, a Selic, era de 45% (21,6% em termos reais); hoje é de 8,5% (uns 3% reais). Se ficar em 8%, em média, até 2014, o Estado brasileiro terá economizado R$ 56 bilhões --uns três anos de Bolsa Família. Dilma está tratorando a banca privada para obriga-la a reduções correspondentes no spread e nas tarifas que subiram 17% no primeiro trimestre e renderam mais de R$ 17 bilhões em 2011.O emparedamento conta com a força do setor financeiro estatal que saiu na frente no corte das taxas e na expansão do crédito: em abril a oferta de crédito na esfera pública foi 25% superior a abril de 2011; nas instituições privadas a variação foi de 13%.

O estímulo do crédito não é desprezível, mas insuficiente. As vendas do varejo vitaminadas também pelas desonerações de IPI crescem há tres meses seguidos; em maio registraram o maior salto mensal desde agosto de 2007 (4,1%). Nem por isso, o país está protegido da retração mundial. A contaminação do efeito manada aqui se dá pelo decisivo canal do investimento.

O país cresceu apenas 0,2% no primeiro trimestre e uma das razões --além das perdas na agricultura por razões climáticas--, foi o baixo desempenho da formação bruta de capital fixo ( mede o acréscimo de galpões e máquinas no sistema produtivo). A participação dessa alavanca de crescimento ficou em 18,7% do PIB no primero trimestre; foi de 19,5% no mesmo período em 2011.

A natureza pró-cíclica do capital privado, uma espécie de 'maria vai com as outras' que acentua e acelera o ciclo de queda assim como turbina de forma irresponsável a fase de alta --bolhas financeiras são a expressão máxima dessa ciclotimia-- explica em grande parte essa retração e deixa uma advertência no ar.

A retomada vital do investimento -- única variável capaz de engendrar um cinturão de resistência efetivo à crise mundial-- não virá espontaneamente dos mercados. Eles não farão isso pelo Brasil, como não fizeram pelos EUA nos anos 30 e não fazem hoje pela Europa, em que pese a insistência de Ângela Merkel na receita da 'contração expansiva', baseada em arrocho nos direitos e salários 'para abrir espaço à iniciativa privada'. O Estado terá que assumir um papel hegemônico na retomada do investimento brasileiro se o governo quiser de fato proteger o país do vagalhão em curso.

Turbinar o investimento público implica, entre outras medidas corajosas, reduzir o superávit destinado ao pagamento de juros ao rentismo ocioso;mas, também, simplificar os trâmites para a licitação transparente de obras públicas e mesmo assumir a coordenação direta das empreiteiras.

O dispositivo midiático conservador perdeu a prerrogativa de impor interditos, mas não perdeu a pose. Os mesmos editorialistas que festejavam o desmonte promovido pela agenda do Estado mínimo na era tucana reclamam agora dos atrasos nas obras do PAC decorrente, em grande parte, de um cerco asfixiante de burocracia e preconceito que ajudaram a implantar. O Estado brasileiro, da forma como se encontra manietado, está programado para não fazer. Dilma que afrontou e venceu dogmas tão poderosos como o dos juros tem credenciais e espaço para romper mais esse torniquete.Só não tem muito tempo para decidir.

Por Saul Leblon na Carta Maior

quarta-feira, 6 de junho de 2012

É preciso descer do pedestal para entender a Nova Classe Média

A Nova Classe Média valoriza cada vez mais a
qualidade dos produtos que consome .
Foto: Agência Brasil
Em dez anos, algumas mudanças econômicas colocaram o Brasil num patamar evolutivo. Muitos brasileiros, antes considerados de baixa renda, conseguiram acesso ao crédito através de empregos formais que contribuíram para o aumento da renda familiar. Essa rede de mudanças permitiu a este cidadão dar boas vindas a um estilo de vida mais consumista. Os sonhos são hoje possíveis de serem concretizados.

O que esse brasileiro percebeu é que pode tornar a sua vida mais confortável através de bens de consumo que podem ser adquiridos de imediato sem torrar todo seu orçamento. O crédito possibilitou essa virada e consolidou o que chamamos de Nova Classe Média Brasileira.
Também conhecida por Classe C, a NCM representa a maioria de consumidores em todas as categorias de consumo: móveis e eletrodomésticos, alimentação e bebidas, roupas e calçados, entre outros.

O acesso a serviços também tem a liderança deste novo consumidor, que pode agora ser visto em ambientes nunca antes frequentados, como nos saguões dos aeroportos, shoppings, cinemas e academias. E essa presença impactante de consumidores com códigos diferentes contribuiu não apenas para movimentar a economia do país, mas para gerar incômodo da antiga classe média (Classes A e B) que viu seu espaço, antes exclusivo, invadido por uma superpopulação que antes “não existia” na prática.

Além do preconceito causado pelo aumento do número de pessoas em lugares antes restritos, a elite também demonstra preconceito em relação às diferenças cognitivas existentes entre as classes sociais.

Realizamos uma pesquisa online no segundo trimestre de 2011 que comprova isto: 55,3% da elite afirmou que deveria haver produtos diferenciados para ricos e pobres e 48,4% acredita que a qualidade dos serviços piorou com o maior acesso a população.

E esta mesma fatia social que repudia a chegada da classe C é aquela que está à frente das grandes empresas e agências de publicidade, o que torna mais difícil ainda atingir este público, pois para isto é preciso ter humildade e quebrar esta barreira.
Os empresários precisam enxergar que há tempos a classe C deixou de ser um nicho de mercado e olhar pra ela com outros olhos, até porque ela representa 53,9% da população brasileira. São 104 milhões de consumidores ignorados, sendo que os próprios comerciais de tevê são destinados para o público A/B.

O grande erro é achar que a Nova Classe Média deseja ser como a elite. Esse cara deseja sim melhorar de vida, mas não se espelha no rico, que considera perdulário, e sim no vizinho, que acabou de comprar um carro, por exemplo.
Outro equívoco é querer empurrar produto baratinho e vagabundo para este consumidor.
A Nova Classe Média valoriza cada vez mais a qualidade dos produtos que consome e não se importa de pagar um pouco a mais para garantir isto. É um mercado que trabalha muito bem com a relação de custo benefício, até porque, na hora de lavar a roupa suja, o que conta não é o preço do sabão em pó, mas a sua eficácia e durabilidade, e isso a dona de casa da Classe C sabe muito bem.

Estes aspectos comportamentais fazem toda a diferença para elaborar estratégias acertadas de negócios, e por isso acredito que é preciso descer do pedestal e entrar em contato com a realidade desse público, que nós aqui do instituto Data Popular chamamos de Brasil de Verdade.
Por, Renato Meirelles, novo colunista do site de CartaCapital, é sócio-Diretor do Data Popular, que completou em 2011 dez anos em pesquisa e consultoria nas classes C, D e E. Comunicólogo com MBA em gestão de negócios pela ESPM, foi colaborador do livro Varejo para Baixa Renda, publicado pela Fundação Getúlio Vargas e autor do livro Um jeito fácil de levar a vida – O Guia para Enfrentar Situações Novas Sem Medo, publicado pela editora Saraiva. É colunista de diversas revistas e editor do site brasildeverdade.com.
No Data Popular, conduziu mais de 200 estudos sobre o comportamento do consumidor de baixa renda no Brasil, desenvolvendo projetos de pesquisa, posicionamento de marca e inovação para empresas como: C&A, Itaú, P&G, Gol, Positivo Informática, Rede Globo, Rede Record, Banco Ibi, Living Construtora, Pernambucanas, Casas Bahia, portal Terra, Febraban, Sadia, Camargo Corrêa, entre outros.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Analista do Morgan Stanley sugere que Brasil construa pontes em vez de eliminar pobreza

Artigo do indiano Ruchir Sharma na revista
Foreign Affairs diz que Bolsa Família
 reduziu desigualdades à custa de crescimento.
 Foto: Divulgação
O Brasil tem a tendência de limitar seu próprio crescimento por ser “viciado” em proteger seus cidadãos com benefícios sociais custosos, como o Bolsa Família, o que torna o país vulnerável à inflação. A polêmica análise é do economista indiano Ruchir Sharma, chefe de mercados emergentes do banco de investimentos Morgan Stanley, em um recente artigo publicado na revista norte-americana Foreign Affairs. O texto, uma adaptação do livro Breakout Nations — In Pursuit of the Next Economic Miracles (Nações em Ascensão — Em Busca dos Próximos Milagres Econômicos, em tradução livre), mostra como, mesmo em meio à grave crise provocada pelos exageros do neoliberalismo, esta ideologia continua sendo difundida.

Em seu texto, Sharma afirma que durante os dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) o Brasil se tornou um exemplo de mercado emergente responsável no campo financeiro e capaz de incluir 30 milhões de pessoas classe média, reduzindo a desigualdade de renda com programas como o Bolsa Família. O dinheiro destas iniciativas veio, prossegue Sharma, da alta nos preços das commodities e, com a tendência de queda nos valores destes itens, os programas sociais se tornaram inviáveis, passando a sacrificar o crescimento do País. “O Brasil precisa entender que poderia bancar essa iniciativa [a redução da pobreza e da desigualdade] somente graças a um período de vasto crescimento global que começou em 2003″, diz em um trecho do artigo. Em outra parte, o economista é mais incisivo (chega a definir o Bolsa Família como, talvez, o mais generoso programa de bem-estar social entre os países emergentes): “A assistência reduziu a desigualdade, mas à custa do crescimento.”

A análise neoliberal do indiano atrela os gastos do governo na área social (40% de acordo com seus critérios) com os problemas da indústria. Segundo Sharma, a verba usada para gastos sociais é oriunda do aumento de impostos que deixa as empresas com menos dinheiro para investir em treinamento, tecnologia e equipamentos, comprometendo assim a produtividade da indústria. Para Sharma, até mesmo políticas como acesso gratuito à educação e saúde, além do “alto” salário mínimo do país, fazem do Brasil um país “muito conservador”, sendo necessário cortar gastos com o bem-estar social, simplificar os impostos e modernizar o sistema de pensão e de segurança social.

Sharma conclui seu pensamento dizendo que é preciso aproveitar o capital estrangeiro que entra no País por causa das altas taxas de juros para investir em infraestrutura crítica para a exportação e não para sustentar programas de distribuição de renda. Segundo o analista, o Brasil deve seguir o exemplo da China: abertura para o comércio global, com baixos níveis de juros para fornecer capital barato e financiar rodovias, pontes e portos. Ou seja, fica a mensagem de que é mais importante construir ferrovias e pontes, por exemplo, que eliminar a pobreza.

Textos como o de Ruchir Sharma mostram a resiliência da ideologia neoliberal, apoiada, em grande parte, na desfaçatez de muitos de seus adeptos. O Morgan Stanley, para quem Sharma trabalha, foi um dos gigantes do sistema bancário norte-americano fortemente afetado pela crise de 2008. No auge da crise, o banco chegou a registrar queda acima de 50% em suas ações da bolsa. O Morgan Stanley só foi salvo graças a um procedimento considerado um pecado pelos neoliberais, a intervenção do estado. Afundada, a instituição precisou deixar o status de banco de investimento e virar uma “holding de bancos” para ter acesso aos empréstimos concedidos pelo FED (Banco Central dos EUA). No total, recebeu empréstimos de mais de 100 bilhões do governo americano. A última trapalhada do Morgan Stanley foi ser subscritor da oferta pública do Facebook, cujas ações sofreram vertiginosa queda dias depois do IPO.

Para entender o texto de Sharma, é preciso compreender a natureza de seu autor. O indiano escreve como um analista de banco, cujo objetivo é lucrar e não administrar um país. Por isso, como boa parte dos neoliberais, defende a aplicação de um receituário de corte de gastos a qualquer preço, mesmo que isso sacrifique a população de baixa renda e não leve em conta que o dinheiro injetado na economia por programas de redistribuição de renda contribua para incentivar o comércio, a gerar empregos e movimentar a economia.

Por Gabriel Bonis na Carta Capital