terça-feira, 27 de agosto de 2013

“No PT só tem ladrão.” Como o PiG protege os tucanos

Mas, o Fernando Henrique não se aposentou ?
 
Diálogo com o Afonso, motorista do táxi que leva o ansioso blogueiro ao decente novo terminal, o 4, de Guarulhos.

- Senhor Paulo, é verdade que o filho do Lula é dono da Friboi ?
- Paulo, basta Paulo, Afonso. Não, o filho do Lula não é dono da Friboi. É mais fácil o Toni Ramos ser o dono da Friboi do que o filho do Lula.
- E o Lula, ficou rico ? É verdade que ele tem um jatinho ?
- Não, Afonso, o Lula não ficou rico. Ele não tem jatinho. Ele pode ate andar de jatinho, mas não é dele. Agora, me diz uma coisa, Afonso: onde é que você ouve essas coisas ?
- Lá na Igreja.
- Você não lê jornal ?
- Não, senhor.
- Revista ?
- Não, Paulo.
- Vê televisão ?
- Novela não dá tempo. Chego em casa tarde. Às vezes o jornal nacional pra ver os gols. O Domingo Espetacular, porque o Fantástico não muda. É sempre a mesma coisa. Só tem aquele medico que é bom.
- O dr Drauzio Varella …
- É, acho que é esse.
- E como você se informa, tem noticias…
- Com os amigos, no ponto. Na Igreja. Na CBN … Na Jovem Pan …
- E do que vocês falam ?
- Ah, do transito. Ninguém aguenta mais.
- E como se resolve isso ?
- Bom, com faixa exclusiva contra nós é que não dá …
- Mas, ajuda quem anda de ônibus, Afonso.
- É. Só tem um jeito. Metrô. Mas os políticos não fazem porque demora muito.
- Você está sabendo da roubalheira do metrô ?
- Não… quem roubou ? O Maluf ? O Maluf não pode ver uma obra …
- Não, não foi o Maluf. No metro foi o pessoal do trensalão.
- O que é isso ?

(Segue-se uma breve exposição sobre tucanos, atraso do metrô e trensalão.)

- Mas, engraçado, o Alckmin, o Cerra falam sempre a mesma coisa, com a mesma cara … parecem uns santinhos.
- Pois é, Afonso. E o Fernando Henrique ?
- O que é que tem ele ? Ele se aposentou, não é isso ?
- Mais ou menos.
- Ele também roubou ?
- Calma, Afonso. Não seja leviano. Você conhece a rua Rio de Janeiro, em Higienópolis, não é isso ?
- Claro. Coisa fina !
- Pois é, Afonso. Você sabia que o Fernando Henrique comprou um apartamento de 450m2 na rua Rio de Janeiro com o salário de professor e de
- Presidente da Republica ? E comprou do mesmo banqueiro que operava as contas do trensalão ?
- Com o salário ?
- Bom, o que mais ele pode ter, Afonso ?
- Ué … pode ser herança.
- Não, herança ele não recebeu. Só se foi do Roberto Marinho…
- Quem ?
- Não. Deixa pra lá.
- Interessante. Ali em Higienópolis o apartamento deve valer uma nota.
- E você sabia que a filha do Cerra é sócia do homem mais rico do Brasil ?
- É mesmo ?
- E o que ela sabe fazer ?
- Boa pergunta, Afonso. O homem mais rico do Brasil deve saber.
- Mas, e o Cerra, senhor Paulo ? Ele faz pose de honesto.

(Segue-se breve resumo do livro Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr.)

- E você nunca tinha ouvido falar em Privataria…
- Nunca, senhor Paulo. É impressionante ! Político não presta !
- E em quem você vai votar pra Presidente, Afonso ?
- Em qualquer um, menos no PT.
- Na Dilma.
- Qualquer um, menos nela.
- Por que Afonso ?
- Porque no PT só tem ladrão.
Pano rápido.
 

Por Paulo Henrique Amorim no Conversa Afiada

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

‘Mais Médicos’: eles agem como Bush em Nova Orleans

Há oito anos, no dia 26 de agosto de 2005, o furacão Katrina chegou aos EUA.

No dia 29 atingiu Nova Orleans. Desencadearia uma espiral de devastação que associou desabamentos, inundações, afogamento, fome, sede e saque.

Pretos, pobres, velhos e crianças foram as principais vítimas do desastre que custou 1.800 vidas.

Muitas poderiam ter sido poupadas se o socorro tivesse a agilidade requerida nessas horas.

O governo Bush demorou quatro dias para reagir.

O presidente republicano sequer visitou o local logo após a tragédia.

Com uma semana da passagem do Katrina, inúmeras áreas continuavam isoladas.

O abandono cuidou de eliminar muitos dos que sobreviveram à tormenta.

A palavra caos nunca esteve tão associada à ausência de governo como em Nova Orleans.

Tropas para conter saques e violência chegaram logo. Mas continuou faltando suprimentos, médicos, remédios e gente especializada em atuar em situações limite.

A popularidade de Bush vergou sob o peso dos mortos.

Não era uma guerra, não cabiam desculpas patrióticas.

Novas Orleans deixou patente a inadequação social de uma governo que se evocava um anexo dos mercados.

Em meio ao desespero, Fidel Castro ofereceu ajuda. Cuba se propôs a colocar 1.600 médicos experimentados em catástrofes para atuar em Nova Orleans.

‘Em 48 horas’, prontificou-se o governo cubano.

Bush não respondeu.

Fidel insistiu. Cuba providenciaria todo o equipamento necessário e 36 toneladas de medicamentos.

Silêncio.

Dias depois, um porta-voz da Casa Branca dispensou a oferta.

Há um ciclone de abandono e isolamento médico cujo vórtice atinge cerca de 3500 municípios brasileiros.

A demanda para atender à emergência é superior a 15 mil médicos.

As inscrições validadas pelo programa Mais Médicos resolvem 10% dessa defasagem.

Cerca de 4 mil médicos cubanos foram contratados pelo governo brasileiro para mitigar a emergência, em um acordo mediado pela Organização Pan Americana de Saúde.

Os primeiros grupos a desembarcar neste final de semana, em Recife e Salvador, receberam do conservadorismo local o mesmo tratamento seboso e deselegante endereçado por Bush a Fidel, durante o Katrina.

A exemplo do republicano, o conservadorismo brasileiro prefere ver a pobreza morrer doente a ter um médico cubano prestando assistência emergencial nas áreas mais carentes do país.

Se dependesse dos gásparis, elianes, tucanos e assemelhados o Katrina da carência médica continuaria a devastar o Brasil miserável.

Enquanto a hipocrisia conservadora pontifica elevadas razões humanistas para recusar a ajuda emergencial de Cuba.

A verdade, porém, é que o ‘Mais Médicos’ caiu na simpatia da população.

A reação foi oposta ao que pretendia a resistência corporativa ao programa.

Descaradamente elitista, o boicote criou uma referência pedagógica dos interesses em disputa neste caso.

Hoje, o ‘Mais Médicos’ conta com o apoio de 54% da população, no que diz respeito à vinda de profissionais estrangeiros.

Diante do revés, o conservadorismo acionou a sua tropa de elite.

As mesmas gargantas que vociferam contra o ‘Custo Brasil’, o salário mínimo e toda a herança de leis trabalhistas trazida do ciclo Vargas, agora discursam em defesa dos direitos e salários dos cubanos.

Alguns, os mais afoitos, já acalentam uma saia justa diplomática, diante de eventuais ‘desertores...’

Veteranas da crônica conservadora evocam Castro Alves e falam em ‘aviões negreiros’.

O degrau promete não ser o último da desfaçatez.

A má fé ideológica tem gordura para queimar.

Mas não só isso.

Há uma real dificuldade de ir além da lógica plana e rasa, fruto do comodismo cevado na ausência de debate real no jornalismo, ambiente no qual foram adestrados os vulgarizadores mencionados.

Ouvir os cubanos, por exemplo, para quê se a concorrência também não o fará?

Uma reportagem de fôlego em lugares e países onde acordos semelhantes já funcionam?

Desnecessário, pelo mesmo motivo.

Uma visita às escolas de medicina cubanas, para discutir a suspeita de baixa qualificação de que são acusados seus formandos?

Idem, ibidem.

Sonega-se aos protagonistas do acordo brasileiro qualquer possibilidade de motivação solidária, competência profissional e discernimento do seu papel no mundo, distinto dos critérios exclusivamente pecuniários que movem o corporativismo branco aqui e alhures.

Médicos, cu-ba-nos?

É mais fácil desdenha-los, como fez Bush, mesmo que isso tenha custado a chance de sobrevivência de muitas das 1800 vítimas fatais em Nova Orleans.

Fazem o mesmo os nossos ‘bushs’.

A usina plana e rasa da emissão conservadora impede que se discuta em profundidade qualquer tema. Desde problemas na esfera da saúde pública, até impasses e desafios reais da construção do socialismo no século 21, dos quais Cuba é um exemplo.

E não é preciso recorrer a Marx para aquilatar o ônus desse entorpecimento.

O economista Paul Krugman, a quem os nossos ‘bushs’ não podem acusar de ‘petismo’, escreveu, a propósito da visão conservadora sobre saúde pública, algumas linhas que caem como uma luva no debate brasileiro sobre o ‘Mais Médicos’. Pergunta: quem, na indigência do nosso colunismo, seria capaz de articular um raciocínio não previsível e nuançado, como esse?

(...) “A relação médico-paciente já foi considerada especial, quase sagrada. Agora, políticos e supostos reformistas tratam o atendimento médico como se ele fosse uma transação comercial igual à compra de um carro (...) A medicina, afinal de contas, é uma área em que decisões cruciais – decisões de vida ou morte – devem ser tomadas. Para que esse arbítrio ocorra de maneira inteligente, requer-se um vasto conhecimento técnico dos profissionais do setor. Como se isso não bastasse, as escolhas dos médicos são frequentemente feitas enquanto o paciente está incapacitado, sob muito estresse ou quando a ação precisa ser imediata, sem tempo para discussões, muito menos para a pesquisa de preços.(...) É por isso que existe a ética médica. É por isso que os médicos são tradicionalmente vistos como uma categoria especial, da qual se espera um comportamento de padrão mais elevado do que a média dos demais trabalhadores. Há um motivo sobre por que assistimos a séries televisivas que retratam médicos – e não gerentes administrativos – como heróis. Sugerir que essa realidade possa ser reduzida a um simples comércio – que os médicos sejam meros “fornecedores” vendendo serviços a “consumidores” de saúde – é, com o perdão do trocadilho, uma ideia doentia. O fato de essa noção equivocada ter se tornado dominante é sinal de que há algo de muito errado não apenas nessa discussão, mas também nos valores da sociedade ... “ (Paul Krugman; NYT 22/04/2011)

Leia também, abaixo, dois textos extraídos do dossiê sobre Cuba, produzido em 2011 pelo Instituto de Estudos avançados da USP (IEA).

Um olhar para a saúde pública cubana’ foi escrito pelo jornalista cubano José A. de la Osa, especializado na área científica. O texto bastante informativo traça um panorama do ensino médico, da pesquisa, das descobertas e avanços técnicos na ilha, de onde provém os profissionais que agora vão trabalhar no Brasil. O preconceito conservador, sugestivamente, dispensa-se de consultar esses dados antes de proferir sentenças nutridas em ignorância e frivolidades.

Cuba: a sociedade após meio século de mudanças, conquistas e contratempos” é outro exemplo de consistência, da qual se ressente o colunismo conservador ao criticar as dificuldades da revolução cubana. O artigo traça um panorama denso e crítico do quadro atual cubano, sem concessões à conveniência ou à visão direitista. O sociólogo Aurelio Alonso, autor do trabalho, é professor adjunto da Universidade de Havana e subdiretor da revista Casa de las Américas.
 
Originalmente publicado no Blog das Frases por Saul Leblon

domingo, 25 de agosto de 2013

A maioria destes "coxinhas", estão clinicando por aí. Talvez bêbados ou desfazendo do pobrerio atendido. Lembram disso?

É possível desmilitarizar a polícia brasileira?

Considerada uma das causas da violência policial, estrutura militar só pode ser superada com união dos governos estaduais e federal
Violência policial no Brasil é uma das mais elevadas no mundo,
em grande parte devido ao treinamento militar de agentes que
consideram civis como inimigos da sociedade
 
O dia 13 de junho de 2013 ficou marcado pela desproporcionalidade com a qual a Polícia Militar reagiu aos cerca de 5 mil manifestantes que pediam a revogação do aumento de 20 centavos no preço do transporte público de São Paulo. A avenida Paulista, no centro da cidade, foi palco de cenas de violência policial que culminaram na agressão de jornalistas, manifestantes e pessoas que passavam pelo local. Aquele foi um ponto de virada das manifestações. Após a reação truculenta, os protestos ganharam força e se espalharam pelo Brasil. Em São Paulo, a polícia evitou novos conflitos, mas em cidades como Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre e Rio de Janeiro a postura agressiva se manteve. Um comportamento que reabriu o debate sobre a desmilitarização da polícia, cujas ações transparecem a impressão de que o civil, seja manifestante ou suspeito de crime, é um inimigo da sociedade.
 
Essa mentalidade, sustentam estudos, provém do treinamento policial em moldes militares típicos das Forças Armadas, que visam eliminar “invasores externos”. Na sociedade civil, não haveria espaço para tal lógica. “A polícia não se vê como uma entidade para defender os direitos dos manifestantes, mas os encara como parte do problema”, afirma Maurício Santoro, assessor de direitos humanos da Anistia Internacional no Brasil. “Os policiais frequentemente usam uma linguagem bélica, de encarar o protesto como uma luta e o manifestante como o outro lado”, afirma.
 
A militarização também estaria por trás dos elevados níveis de violência cometidos por policiais no País. Segundo o 5º Relatório Nacional sobre os Direitos Humanos no Brasil, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, entre 1993 e 2011 ao menos 22,5 mil pessoas foram mortas em confronto com as polícias paulista e carioca. Uma média de 1.185 pessoas por ano, ou três ao dia, um número elevado para um Estado que não utiliza execuções sumárias e pena de morte em sua legislação.
 
A USP aponta ainda que o número inclui apenas os casos registrados como “auto de resistência”, aqueles nos quais o policial alega ter atirado em legítima defesa. Os episódios classificados como homicídio doloso e lesão corporal seguida de morte não foram computados, indicando que o número de civis mortos por policiais no período é ainda maior. “É a tradição brasileira de pensar a segurança pública de forma agressiva, com pouca ênfase na prevenção e fiscalização. É uma forma de controle da população pobre, tratando problemas sociais como problemas de polícia”, critica Santoro.
 
Um indicador utilizado para calcular o uso desproporcional da força por agentes da lei é medir a razão entre o número de mortes civis para cada perda policial. Quando a quantidade de civis mortos é dez vezes maior que a de policiais, há indícios de que a polícia esteja abusando do uso da força letal.
 
E, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, esse cenário acontece ao menos em três Estados: Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo.
 
Em 2010, a Bahia registrou a morte de seis policiais (civis e militares) em serviço contra 305 civis vitimados em confronto com a polícia ou resistência seguida de morte – 51 vezes mais. No ano seguinte (oito policiais e 225 civis mortos) a relação caiu para 28,1 civis assassinados para cada policial vitimado.
 
Em São Paulo, o cálculo também indica uso excessivo de força letal. Em 2010, o estado perdeu 25 policiais, enquanto matou 510 civis (20,4 vezes mais). Em 2011, a diferença caiu: 28 agentes contra 460, uma média de 16,4 civis assassinados para cada agente.
 
No Rio, foram 20 policiais mortos em serviço em 2010, contra 855 civis (42,7 vezes mais). No ano seguinte, foram 12 policiais contra 524 civis (uma razão de 43,6 civis por policial). “A estrutura militarizada tem um treinamento e cultura de guerra, de combate ao inimigo. Uma policia cidadã é feita para prender e encaminhar as pessoas ao julgamento, não para aniquilação como fazem as Forças Armadas”, afirma Túlio Vianna, doutor em Direito do Estado e professor da UFMG.
 
O que fazer diante da situação?
 
Uma das soluções apontadas por analistas e organizações civis para reduzir a violência policial é a unificação das policias Civil e Militar em apenas uma estrutura funcional. A separação destas forças e suas funções está, entretanto, prevista no artigo 144 da Constituição, segundo o qual as polícias civis são responsáveis pelas funções de “polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares” e as polícias militares farão a “polícia ostensiva e a preservação da ordem pública”.
 
Unificar as duas polícias, acreditam analistas, aumentaria a coordenação e eficiência na solução de crimes. Além disso, daria recursos extras para uma inteligência integrada, devido ao corte de despesas com a manutenção de duas estruturas. Para Luís Antônio Francisco de Souza, professor da Unesp e coordenador científico do Observatório de Segurança Pública, a desmilitarização não significaria, porém, extinguir a Polícia Militar. “É preciso mantê-la, mas desvinculá-la das Forças Armadas ao retirar seu caráter militar e devolver a estrutura civil à organização, extinguindo patentes e atual estrutura de hierarquia interna.”
 
A integração das polícias, defende Souza, também daria aos secretários estaduais de Segurança o poder de definir todos os aspectos do setor. “O comando da PM decide todo tipo de operação. Sem essa centralização, os mais de 100 mil policiais paulistas poderiam ter mais flexibilidade em atuar em função das necessidades locais”, diz.
 
Desde a definição do papel da PM na Constituição, os casos de abuso policial se acumulam. O massacre do Carandiru, quando a polícia invadiu o presídio paulista durante uma rebelião e matou 111 presos, e a Chacina da Candelária, na qual policiais assassinaram oito jovens que dormiam nas ruas do centro do Rio de Janeiro, são dois dos exemplos mais marcantes. “A militarização gera violência contra os policiais, criados em uma cultura de humilhação hierárquica. Logo, o soldado transfere essa violência a alguém abaixo dele. E a população sofre com essa cultura de violência institucionalizada”, diz Vianna, da UFMG.
 
A lógica de tratar o civil como inimigo atingiu inclusive os policiais civis. Em outubro de 2009, a PM usou camburões, tropa de choque, gás lacrimogêneo e gás de pimenta contra colegas da corporação Civil de São Paulo que reivindicavam um aumento de salário em uma passeata próxima ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
Pressão externa
Em meio aos inúmeros casos de truculência da PM brasileira, o Conselho de Direitos Humanos da ONU recomendou em maio de 2012, por sugestão do governo da Dinamarca, a abolição do "sistema separado de Polícia Militar, aplicando medidas mais eficazes (...) para reduzir a incidência de execuções extrajudiciais". O governo brasileiro respondeu alegando que não poderia fazer a mudança por conta da questão constitucional.
 
Em julho deste ano, a organização internacional Human Rights Watch escreveu uma carta ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), apontando o elevado número de suspeitos mortos por policiais e cobrando que os casos fossem investigados, devido ao “claro padrão de execução de vítimas”. Segundo a entidade, relatos de mortes em resistência à prisão do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP, da Polícia Civil) na cidade de São Paulo em 2012, mostram que a polícia transportou 379 pessoas a hospitais após os incidentes e 95% delas (360) morreram.
 
A ONG também demonstra preocupação com as operações das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota, da Polícia Militar). De acordo com a carta, entre 2010 e 2012, a tropa matou 247 pessoas em incidentes de resistência no Estado, enquanto feriu apenas 12.
 
Desmilitarização
 
Em 2009, o Ministério da Justiça realizou a 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública para discutir as diretrizes da política nacional do setor. Com a participação da sociedade civil, trabalhadores da área de segurança pública e representantes da União, Estados e municípios foi aprovada uma proposta de desmilitarização das polícias.
 
A proposta pedia a transição da segurança pública para “atividade eminentemente civil”, além da desvinculação da polícia e corpos de bombeiros das forças armadas, a revisão de regulamentos e procedimentos disciplinares, a criação de um código de ética único, respeitando a hierarquia, a disciplina e os direitos humanos. E também submeter irregularidades dos profissionais militares à justiça comum.
 
Para Souza, da Unesp, mesmo que o debate sobre a desmilitarização tenha ganhado força nos últimos anos, a realidade mostra o oposto. “Enquanto se discute o tema, a militarização retornou em ações em São Paulo, como Pinheirinho e a Cracolândia, e nas UPPs do Rio. As Forças Armadas fazem atribuições de polícia em missões de pacificação nos morros do Rio e o Exército faz segurança em grandes eventos. Parece que temos uma remilitarização da segurança publica.”
 
Para desmilitarizar a PM e uni-la à Polícia Civil, como defendem especialistas em segurança pública, seria necessária uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). Esse caminho é complexo e demorado. Uma PEC precisa de aprovação em dois turnos na Câmara por, no mínimo, 308 dos 513 deputados em cada turno. Após aprovada, a medida seguiria para o Senado. Também seriam necessárias duas votações com aprovação mínima de 60%, ou 49 dos 81 senadores.
 
Em uma eventual mudança constitucional, o governo federal precisaria apoiar os estados na desmilitarização, defende Santoro, por meio de uma cooperação com o Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos. “Os estados mais organizados conseguiriam, mas seriam poucas as unidades federativas com dinheiro e pessoal qualificado para fazer as mudanças sozinhas”, diz.
 
Apenas a mudança legislativa não seria, porém, o suficiente para diminuir a truculência policial. Seria preciso mudar o treinamento das polícias e reforçar uma flexibilização da formação do policial – com a diminuição dos conteúdos militares e estímulo para a realização de cursos de especialização – algo que já vem sendo feitos em algumas polícias na última década. “A desmilitarização trará um tratamento humanizado ao policial, reconhecendo os direitos", diz Vianna. "Eles vão mudar a cultura e respeitar mais a população civil em longo prazo. As novas gerações de policiais serão treinadas em uma nova mentalidade.”
 
O artigo é do Gabriel Bonis na Carta Capital

A mídia e a direita latino americana brigam com a verdade


Na Argentina, não é diferente o tratamento que a mídia dá aos fatos. Lá como aqui, toda notícia é carregada com o viés negativo e contra o governo. Pois lá como aqui, a direita reacionária e a mídia comercial vão cada vez mais pro fundo do poço. O que lhes restou foi apenas torcer e rezar contra o País. #NãoVoltarão




segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Mídia e mercados: é hora de tirar uma lasca do Brasil

O capital parasita – leia-se, rentistas, especuladores e a república dos acionistas sem pátria – acha que chegou a hora de tirar uma lasca do Brasil.

Um pedaço do pré-sal, talvez. Ou um naco das reservas em dólar. Quem sabe um escalpo extra da população para atingir ‘a meta cheia’ do superávit fiscal.

Os preparativos para o assalto começaram há algumas semanas; deixaram os rastros de sempre nas manchetes nada sutis do jornalismo ‘especializado’.

A interpretação que a mídia e consultorias oferecem para o salto do dólar nesta 6ª feira, quando a moeda norte-americana avançou 2% e beirou R$ 2,40, inclui-se nesse esforço de achacar a nação por asfixia.

O jornal Valor Econômico foi originalmente um veículo conservador com apego à exatidão útil aos mercados.

Rasgou a fantasia este ano; hoje é mais um clarim estridente dessa ordem unida de achacadores.

Para se credenciar, limou a redação da competência heterodoxa de que dispunha e despediu a seriedade.

Ajustou-se.

Agora é o porta-voz dos administradores de carteiras.

Uma gente sôfrega que se move por impulsos irrefletidos em relação ao próximo e ao distante; sejam eles a sorte da economia ou os destinos da sociedade.

É desse circuito algo reptiliano que saltou o bote desfechado esta semana contra o pré-sal.

Coube ao Valor atribuir ao governo aquilo que a ganância parasitária pleiteia: abdicar dos 30% cativos da Petrobrás no pré-sal.

Um balão de assalto.

A república dos acionistas gostaria de ‘realizar’ depressa o valor potencial das maiores reservas de petróleo descobertas no planeta nos últimos 30 anos.

O nome do atalho é petroleiras internacionais.

O método: remeter in bruto o óleo, sem refino.

E gerar caixa. Somas elevadas.

A república dos acionistas ganharia duas vezes.

Se a Petrobrás deixa de gastar como investidor universal da exploração, com pelo menos 30% em cada poço, como manda a lei, sobra mais para distribuir dividendos aos detentores das carteiras.

Que ganhariam de novo se o petróleo fosse bombeado direto para fora do país, sem alimentar impulsos industrializantes, sem expandir polos tecnológicos, sem engatar cadeias de equipamentos com elevados índices de nacionalização e prazos mais largos.

Entre os favorecidos nessa elipse do interesse nacional, figura a família Marinho, dona do jornal Valor, juntamente com os Frias, e um dos maiores acionistas da Petrobras.

Transitamos, como se vê, no campo da injeção de interesses direto na veia do noticiário.

Nesta 6ª feira foi a vez do ataque especulativo contra o câmbio.

O chamado ‘over shoot’ do dólar – uma desvalorização abrupta e pronunciada-- vem sendo urdido em ladainha, há várias semanas, pelo mesmo noticiário especializado .

A esperança, confessa, é que o ajuste cambial --que o país precisaria fazer para devolver competitividade a sua indústria e refrear o déficit externo-- desembeste. E ocupe o lugar do tomate no jogral do ‘descontrole dos preços’ , lubrificando a defesa do choque redentor dos juros .

O conjunto atenderia ainda à determinante política do mutirão conservador.
Qual?

Decretar o necrológio do governo Dilma e disso injetar algum oxigênio às candidaturas anêmicas da oposição.

Fatos.

As moedas emergentes – todas elas – perderam valor no mundo nesta 6ª feira.

Motivo: a expectativa de uma mudança de ciclo econômico mundial, com a recuperação dos EUA.

O BC norte-americano pode apertar um pouco menos o espirrador de liquidez por lá, se a recuperação, de fato, acelerar o passo de forma consistente (hipótese ainda controversa).

Se isso acontecer, os juros norte-americanos tendem escalar níveis capazes de gerar uma fuga de investidores do resto do mundo, Brasil inclusive.

Os juros futuros dos títulos do Tesouro dos EUA flexionaram nessa direção na 6ª feira.

Mas não há fuga de investidores do Brasil, por enquanto.

Nem há razões para tal. Ao contrário.

A brasileira foi uma da raras economias ocidentais cujo consumo de massa se manteve em expansão durante a crise. Ademais de ser dotada de um robusto pacote de investimentos pesados. E de um fiador de futuro de liquidez inquestionável: os bilhões de barris do pré-sal que os patriotas do jornalismo e dos mercado querem capturar de qualquer jeito.

O que fez a ganancia infecciosa nesta 6ª feira foi aproveitar a onda externa e ‘antecipar’ o cenário de uma fuga, precificando-o nas cotações do dólar.

O que eles querem?

Querem que o governo atue para apagar o fogo da avidez, dando um pedaço das reservas de US$ 380 bi à fome descabida aos mercados especulativos.

É agora ou nunca.

A verdade é que o mote do descontrole econômico, alardeado como a contra-face ‘estrutural’ dos protestos de junho, não pegou.

Fanhosas apresentadoras de refogados na TV foram para o sacrifício, pendurando legumes no pescoço.

O ridículo lhes cai bem, mas não prosperou: em julho, houve deflação de alimentos.

O custo da cesta básica caiu em 18 capitais. A indústria cresceu. O PIB se arrasta, mas estamos longe do alarmismo inscrito no noticiário.

A popularidade da Presidenta Dilma desenhou uma inflexão de alta em agosto. Segundo o Datafolha, ela vence qualquer adversário no 2º turno.

O conservadorismo, ao contrário,mimado pela mídia, não tem nenhum candidato de fôlego.

Seu núcleo duro foi atropelado pelas revelações de corrupção sistêmica no metrô de São Paulo.

Se é para tirar uma lasca do país, há que ser agora, na turbulência que o ajuste de ciclo internacional provoca nos portfólios especulativos.

Depois pode ficar tarde.

Um jornalismo rudimentar no conteúdo, ressalvadas as exceções de praxe, mas prestativo na abordagem, reveste esse assalto com uma camada de verniz naval de legitimidade incontrastável.

A crise mundial açoitou impiedosamente a sabedoria excretada dessa endogamia entre o circuito do dinheiro especulativo e o noticiário conservador.

Para dizê-lo de forma educada, a pauta dos mercados autorregulados revelou-se uma fraude datada e vencida. De um mundo que trincou e aderna, desde setembro de 2008.

Todavia, nada se colocou em seu lugar.

O governo, ao que parece, continua a acreditar que vencerá a luta pelo desenvolvimento armado de ferramentas exclusivas do paiol economicista.

Deixa, assim, o campo livre para o mercado fazer política.

Tirando uma lasca do Brasil, em nome de interesses que a mídia equipara aos de toda a sociedade.
 
 
Por Saul Leblon no Blog das Frases

sábado, 17 de agosto de 2013

O deslize pró-golpe de Zuenir Ventura

 
 
Ainda mantenho alguns velhos hábitos, como ler jornais impressos. No caso, é um hábito que eu deveria ter abandonado há tempos, em prol do bem estar espiritual.
 
Mas tenho a desculpa de ser blogueiro de política e, portanto, preciso de combustível diário em termos de notícias, opinião, editoriais. E os jornalões são a melhor referência para o que pensam as elites.
 
Triste constatar, por outro lado, que mesmo as figuras mais independentes acabam por se contaminar pelo ambiente reacionário.
 
Zuenir Ventura, em sua coluna de hoje, intitulada “O direito à liberdade de expressão” traz argumentos sensatos (na verdade, óbvios) para se discutir os limites das manifestações.
 
No entanto, não posso deixar passar em branco que Zuenir, ao se referir a um triste passado, faça a seguinte afirmação: ”
 
Como já vi um filme parecido, em que a “violência revolucionária” levou à prisão, ao exílio e à tortura uma parte do que havia de melhor numa geração (…)
 
Ora Zuenir, o que levou os jovens de outrora à violência revolucionária foi o arbítrio, o insuportável arbítrio. E o que os levou à prisão, ao exílio e à tortura, foi o mesmo arbítrio, somado à cumplicidade das empresas de mídia, como aquela para a qual você escreve.
 
Pode parecer bobagem pegar no pé do Zuenir por causa de uma frase, mas é de frase em frase que se falseia a história e se prepara o povo para ser enganado outra vez.
 
Por: Miguel do Rosário

sábado, 10 de agosto de 2013

FHC defende Cerra: Esta corrupção, não !

Agora, a outra, a Privataria, aí ele já não sabe …

 
O FHC, o Tartufo, o Catão do DNA, deu trepidante entrevista ao Globo em que diz:

“Os governadores Mario Covas, Gealdo Alckmin e José Serra são pessoas que não entram NESTE (ênfase minha – PHA) campo de corrupção… Quando começam a misturar as águas, não é bom … (dá) a impressão de que é parecido com o que os outros fizeram.”

Um jenio !

Melhor que o Ataulfo (*), que considerou o mensalão (o do PT, que começa a revisto) roubalheira “federal” e o propinoduto tucano – veja a nova denuncia mortifera da IstoÉ – uma reles “roubalheira estadual”…

O que o FHC quis dizer quando diz que “NESTE” campo o Cerra não entra ?

Que o Cerra entra no CAMPO da Privataria ?

Da ambulância superfaturada ?

De que vive o Cerra ? – pode o FHC explicar ?

E a filha do Cerra, que se associou ao homem mais rico do Brasil numa sorveteria ?

Onde ela arrumou a grana para se associar ao Jorge Paulo Lehmann, esse padrão impoluto de empresário bonzinho ?

Paulo Henrique Amorim no Conversa Afiada

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Metrô SP: o cartel planeja a sociedade

A coisa goteja de forma dolorosa no noticiário conservador, que resiste em expelir o que sabe como quem guarda uma pedra no rim.

Machuca mais segurar ou botar para fora?

Difícil.

A Siemens, uma das grandes fornecedoras de equipamentos do metrô de São Paulo, já decidiu.

E contou tudo, ou quase tudo, sobre a pré-definição ilegal de cotas e preços entre ‘concorrentes’ nas grandes licitações tucanas.

A acomodação desse condomínio de interesses lesou o cofre público com um sobrepreço ora aventado em torno de 30%.

Durante década e meia.

Período no qual a rede metroviária da capital avançou a passo de preguiça para somar 74 km de trilhos: 1/3 da mexicana, que começou junto.

É possível que o curso das investigações elucide os nexos entre uma coisa e outra: a lerdeza operacional tucana e o conluio de seus governantes com o oligopólio.

Por ora, a pergunta que aflige a atividade renal do colunismo da indignação seletiva é de natureza mais ampla:

'Uma lambança dessa ordem, assentada no aconchego de três governos sucessivos do PSDB – Covas, Serra e Alckmin – teria prosperado, por tanto tempo, sem a parceria orgânica de altos escalões?'

A ver o empenho investigativo da artilharia que sempre atuou a plenos pulmões em ocasiões em que o seu alvo eram reputações progressistas.

Duas ou três coisas precisam ser ditas enquanto isso.

Elas remetem ao núcleo duro desse enredo: a união estável entre cartel e política nos dias que correm.

O oligopólio flagrado sob as asas do PSDB em São Paulo é a forma hegemônica de planejamento no mundo atual.

Uma modalidade de ‘intervencionismo' às avessas.

Uma forma de planejamento privado; do capital contra a sociedade.

É disso que se trata.

Cada vez mais, grandes corporações substituem a concorrência pelo rateio clandestino de mercados, bem como de cotas em uma licitação, formando neste caso um cartel de preços.

O ilícito assegura lucros robustos de oligopólio a cada um dos participantes.

Imperasse a livre concorrência, os preços desabariam.

O lucro seria da sociedade.

No caso de São Paulo, os cofres públicos, e os passageiros do metrô, pagaram o sobrepreço do butim.

Invariavelmente, esse arredondamento financeiro inclui a comissão daqueles que deveriam zelar pelos interesses da sociedade, mas aderem ao desfrutável complô contra ela.

Paradoxalmente, esse talvez seja o ingrediente mais barato do enredo em questão.

Mais grave é o assalto que os seus protagonistas praticaram, simultaneamente, ao longo de anos, contra o discernimento crítico da sociedade.

Estamos falando da catequese da livre concorrência contra tudo o que exalasse o mais tênue aroma de regulação da economia pelo interesse público.

No jogral que nunca desafina, lá estavam os titãs das privatizações; a turma do choque de gestão; os liquidacionistas da era Vargas; os pregoeiros do câmbio livre; os trovadores do Estado mínimo; o pelotão antigasto público; os áulicos das finanças desreguladas; os vigilantes do ‘superávit cheio’; os algozes do BNDES; os prosadores da desindustrialização virtuosa (laissez passer); os mariners do ‘custo Brasil’; os doutores da purga da produtividade (‘tarifa zero’); os droners das ‘incertezas dos mercados...

Tudo modulado pelo diapasão da vantagem inexcedível dos mercados autorregulados na alocação de recursos para gerar riqueza ao menor custo, com maior eficiência.

Eis que, todos juntos, são apanhados na peculiar lubrificação de um comboio antagônico à livre concorrência em São Paulo.

Demolidor, mas não tão original assim.

E esse é o ponto a reter da grande fraude por trás das outras menores, como essa do assalto ao metrô.

Na realidade, as ditas ‘economias de mercado’, acalentadas no discurso tucano, debatem-se hoje estruturalmente com o assalto da escala capitalista, que capturou todas as instancias da sociedade e, por decorrência, a própria soberania de governos e nações.

‘Globalização’ é o nome fantasia desse agigantamento do capital que desafia partidos, urnas e povos, subtraindo-lhes o direito de comandar o próprio desenvolvimento.

Não é um discurso.

Há um indicador que mede esse emparedamento: a ‘razão de concentração de mercados’.

Ela indica o quanto um setor da economia é dominado pelos seus quatro maiores atores corporativos.

Nos EUA, por exemplo, o mercado de lâmpadas é 88,9% dominado pelo quarteto do setor.

E daí?

Um caso clássico na literatura econômica remete à decisão do cartel dos fabricantes de lâmpadas, em 1924, de limitar em 1000 horas a vida útil de seus produtos.

Já então, a tecnologia permitia esticar esse prazo a 2.500 horas.

A ganância não se restringe mais a fabricantes de lâmpadas.

Ela se tornou infecciosa, açambarcando boa parte da economia, desde a produção de cerveja, sucrilhos, aviões ou vagões de metrôs.

E não só na esfera produtiva.

A exemplo do que acontece no resto do mundo, o cartel mais poderoso no Brasil, hoje, tem nome e endereço conhecidos.

Chama-se Febraban, reúne os grandes banqueiros do país, administra os spreads cobrados da população e arregaça os caninos quando o Estado interfere no seu negócio.

O ganho econômico auferido dessa forma é facilmente identificável em exemplos como os da obsolescência das lâmpadas, o custo do crédito ou o ‘plus’ no caso do metrô.

Mas existe algo ao mesmo tempo mais significativo e menos transparente a ligar todas essas manifestações.

Trata-se da pertinência emergencial do planejamento econômico na sociedade contemporânea.

A escala atingida pelas grandes concentrações oligopolistas não pode mais ser ativada racionalmente sem planejamento.

O risco é a autodestruição produtiva, de um lado; ou a espoliação da sociedade, de outro.

Quem fará esse planejamento é uma das grandes questões da luta democrática em nosso tempo.

Ela permeou a disputa presidencial em 2002, 2006 e 2010.

Permeará igualmente a de 2014.

A reação irritada dos tucanos contra o CADE, que investiga o abuso do poder econômico contra a sociedade, nas licitações de São Paulo, resume o lado do PSDB nessa disjuntiva histórica.

Ao tucanato conceda-se o mérito da coerência.

O Estado mínimo que tem no PSDB um centurião canino é o regaço histórico dessa modalidade de planejamento do capital contra a sociedade.

Ou da sociedade a serviço do capital.

O caso do metrô, devidamente investigado, poderá revelar uma pedagógica ilustração dessa mecânica que desautoriza o cuore neoliberal.

Nos seus próprios termos.

A ver.
 
Saul Leblon no Blog das Frases
 
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domingo, 4 de agosto de 2013

E Deus criou o gay

O papa Francisco curva-se à vontade divina, ou por outra à verdade dos fatos, se quiserem à normalidade
 
Inspirador? O papa que nos surpreende a cada dia ouviu a lição
de Martini
 
Em um mundo órfão de grandes lideranças, ocorre-me de súbito a figura do papa Francisco. Tem jeito para exceção. CartaCapital já o definiu como renovador e reformador. A se confirmar a rota tomada neste começo de pontificado, logo nos defrontaremos com um estadista.
 
Sou católico não praticante desde os meus 11 anos de idade, após ter desempenhado com competência, faço questão de sublinhar, a complexa tarefa de coroinha em missas faladas em latim na Igreja de San Rocco, em San Remo, a serviço de Don Borfiga, o pároco, santo homem no altar do templo miúdo e gracioso no alto de uma subida íngreme. Eu vestia uma batina vermelha e um roquete saído da agulha de crochê da minha avó materna, e pisava degraus de mármore com leveza bailarina ao transferir o missal de um lado a outro. Ao cabo da função, ao ganhar a sacristia, dizia “prosit” com alguma solenidade, para enlevo do bom pároco.
 
Logo passaria a figurar na categoria dos agnósticos e nem por isso deixei de me aproximar de belos personagens eclesiásticos e de admirar outros a lhes conhecer a vida e a obra. O papa João XXIII, digamos, ou o cardeal Carlo Maria Martini, capaz, antes de morrer, de denunciar o atraso da Igreja Católica em relação aos temas éticos, à família, à sexualidade, à juventude.
 
É o pensamento de Martini que Bergoglio parece compartilhar de várias formas. A visita ao Brasil ofereceu ao papa Francisco a oportunidade de provar seu carisma e a qualidade dos seus propósitos. Ao cabo, ainda no avião que o levava de volta a Roma, deu uma entrevista especialmente reveladora aos jornalistas companheiros de viagem. Entrevista subversiva, porque subverte aquilo que soava como doutrina da Igreja e agora abre o caminho para reformas profundas.

A começar pela questão do homossexualismo. “É preciso distinguir – diz o pontífice – entre o fato de que uma pessoa é gay e o fato de que se organiza um lobby a favor. Lobby nunca é bom. Mas se uma pessoa é gay e busca o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?” E sobre o banco do Vaticano, o Instituto para as Obras da Religião, tornado lavanderia mafiosa, admite não ter ainda uma solução final. Não exclui a possibilidade de fechá-lo de vez, mas, se não for assim, terá de caracterizar-se por transparência e honestidade.
 
O pontífice aponta erros e pecados cometidos pela Igreja, a presença de monsenhores que merecem a cadeia, a corrupção reinante em setores da Cúria, inferior moral e intelectualmente ao nível de outros tempos. Faz o elogio da misericórdia a respeito dos divorciados e lembra que os ortodoxos permitem uma segunda união matrimonial como se fosse bom exemplo. Será este um assunto no próximo outubro para a reunião com os oito cardeais chamados a compor uma espécie de conselho consultivo, também nascido de uma ideia defendida pelo cardeal Martini, colegiado de sábios para assessorar o papa. Que reconhece, assim, sua falibilidade.
 
Declarações deste naipe prometem uma guinada de certa forma revolucionária. Há quem enxergue em Bergoglio um ator consumado e um político astuto. Nada disso o diminui, mesmo porque é de clareza cegante a necessidade de uma mudança radical dentro da Igreja Católica, atolada em escândalos e tramoias, permitidos, quando não incentivados no caso do IOR, por João Paulo II. Os mesmos escândalos e tramoias que levaram Bento XVI a renunciar com uma insólita confissão de impotência. Bergoglio indica ter as sobras de energia e as ideias claras e corajosas de que careceu seu predecessor.
 
Há uma frase-chave nas pregas das falas de Francisco, “temos de nos acostumar a ser normais”, pronunciada em seguida à informação de que carrega na mesma bolsa o breviário e o barbeador, pois tem o hábito de usá-los diariamente. A entrega à normalidade significa aceitação da verdade inexorável dos fatos. Só para focalizar um fato específico: se há homos e héteros, um católico não poderá deixar de atribuí-lo à vontade do criador. Se quiserem, escrevo Criador, com “c” grande. Avisei, porém: sou agnóstico.

P.S: recomendo a leitura da coluna de Wálter Fanganiello Maierovitch que aprofunda a análise deste começo do pontificado de Francisco
 
O texto é editorial da Carta Capital por Mino Carta

sábado, 3 de agosto de 2013

Qualquer semelhança, não foi mera coincidência

 
(tomando apenas esses dois exemplos)

Muitas pessoas se recusam (algumas por incapazes, mesmo; e outras por má-fé) a tentar entender o porquê de Brasil e Uruguai terem, hoje, presidentes presos e torturados pelas ditaduras de ontem.
...
Onde foi que erramos, se perguntam.

Ambos carimbados como comunistas e terroristas. Ainda hoje muitos pensam assim.

A pergunta correta a ser feita, no entanto, é: onde foi que eles acertaram?

O máximo que posso fazer é arriscar alguns palpites:

- Acertaram em ter a convicção de que uma luta só vale à pena se feita em benefício de todos, e não apenas de uns poucos;
- Acertaram em não abandonar suas convicções, ao longo do tempo, em prol das facilidades que o sistema poderia lhes oferecer;
- Acertaram, acima de tudo, porque sabiam que nós, brasileiros e uruguaios, um dia acertaríamos nas nossas escolhas.

Onde foi que erraram?

Erraram - e seguem errando - em um erro primário: pensarem que são superiores a tudo.

Dilma e Mujica são presidentes porque são como nós somos. Porque querem o que queremos.

É simples, mas tem quem não entenda!
 
 

A verdade sobre o Tucanoduto - O Trem Bola