sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Colunista da Folha infla números e levanta suspeitas descabidas. É no que dá a falta de rigor…


Na sua coluna de hoje na Folha de S.Paulo, a jornalista Eliane Cantanhede diz que 2.512 sites e blogs teriam sido “agraciados” com investimentos publicitários do governo federal no ano de 2010. A jornalista errou. Na verdade, esse número refere-se à rubrica “outros” – ou seja, outros veículos além das TVs, rádios, jornais e revistas –, que compreende uma variada gama de mídias, como outdoors, busdoors, painéis eletrônicos, cinemas, painéis em metrôs, terminais rodoviários e ferroviários, aeroportos, carros de som, além de portais, sites e blogs.
No caso da Secom, os investimentos em publicidade na internet em 2010 foram de R$ 3.948.284,98 e alcançaram apenas 71 veículos – menos de 3% do total equivocadamente citado pela colunista, portanto. Registre-se ainda que 88% desses recursos foram aplicados em dez dos maiores portais do país, a saber: MSN, Uol, Globo.com, Terra, iG, Yahoo, Abril, Estadão, Valor Online e Folha.com.br. Nenhum deles pode ser incluído na categoria dos chamados “blogs sujos”. Estão mais próximos daquilo que alguns batizaram de “massa cheirosa”.
Segue abaixo o quadro de investimentos da Secom até 20 de dezembro de 2010. Para evitar novos erros e avaliações apressadas, tomamos o cuidado de separar o segmento “internet” da rubrica “outros”:
Originalmente publicado no Blog do Planalto

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Histórico e mensagem de fim de ano.


Hoje, lendo textos antigos que escrevi aqui, no antigo blogue e em alguns jornais ao longo do tempo, senti necessidade de relatar esta trajetória e deixar uma mensagem de final de ano, um "bota fora".
Histórico
Quando retornei do Rio de Janeiro para Livramento em 2006, resolvi criar uma pagina na internet, chamava-se Ponto de Vista (mesmo nome de minha coluna no jornal de papel) era hospedada nos EUA e acabei por perder todo o conteúdo, os caras sumiram. Passei a escrever no Blog da UOL(clique aqui pra ler), quando mudei pra Porto Alegre (2009) passei a usar este espaço que de certa forma se tornou um repetidor de textos alheios. Entretanto, esta história de escrever (Baita pretensão), vem de mais tempo e os motivos continuam os mesmos. Explico: Em 1985, eu e alguns malucos nos juntamos em Livramento e resolvemos criar um jornal independente pra se opor aos jornais chapa-branca e golpistas da cidade na época, A Platéia, Folha Popular e JS, surgia então o Correio Santanense. Todos trabalhavam por doação, jornalistas, chargista, diagramador, palpiteiros como eu e afins. Durou alguns anos, soube que depois venderam a marca e o que seria o Correio Santanense hoje circula com outro nome. Não sou jornalista, nunca tive pretensão de ser, na época tinha escritório de contabilidade e plantava arroz. Nosso objetivo na época é atualíssimo, é praticamente o que fazemos hoje nos blogues. Gosto de dar meus pitacos, encher o saco da mídia, entretanto, faço quando quero e posso. Não tenho compromisso com ninguém, não sou voz de ninguém, não tenho vinculo e não sigo orientações de nada e ninguém.
Mensagem
Até a última hora, achei que não ia escrever esse artigo de despedida de ano. Uma solução ia pintar, eu pensava. "Um ano tão legal!" dizem os leitores com quem me encontro ou que me escrevem que eu estava quase parando, escrevendo pouco. Naturalmente que o ritmo diminuiu, cheguei a montar uma retrospectiva política e financeira para publicar, mas ficou muito numero parecia uma tabuada, os resultados positivos são incontestáveis, todos sabemos. Então decidi que a mensagem tinha quer mais intima, mais leve ...assim como tomar um chope na Sarandi ou numa conversa de balcão. Algo para meus leitores, aqueles de todo dia que me honram com seus cliques.

O que mais me impressionou nestes anos de blog foi à intimidade criada com alguns leitores, num grau como nunca tivera antes. Escrevi coisas, fiz confissões que jamais faria em papel impresso. É bem verdade que nada explosivo, nenhum filho fora do casamento, nenhuma aventura, nenhum crime. Mas, de qualquer maneira, os papos às vezes eram ferrenhos, opiniões e posições assumidas geram “tremores” que considero salutar. Em que outro lugar eu contaria minhas peripécias para acabar com a barriga de chope? E ao mesmo tempo dar pitacos em questões de economia e política? Sempre vigilante com a “mídia” conservadora e arcaica. Observando seus erros mais grosseiros e enaltecendo posições corretas. Não me perguntem por quê. A hipótese mais provável é que a gente escreve aqui como se estivesse respondendo ao e-mail de um amigo(a)
Há leitores de quem nunca vi a cara, de quem nem a idade sei e que se tornaram amigas ou amigos _ de fato, com sinceridade. Sabem tudo sobre mim, dão palpites na minha vida, me fazem confidências, declarações de admiração, de ódio, muitos xingamentos impublicáveis.  Acho que vou sentir falta até do Abstrato, (anonimo) o mais cretino dos comentaristas – ô, raça! -, pra você ver como tenho mesmo uma impressionante capacidade de deletar o que de ruim existe nas coisas boas que vão ficando pra trás. Acredito que, com o tempo, minhas ex-mulheres vão virar pessoas perfeitas (cruzes), tamanha facilidade tenho para esquecer as crises e o que é ruim, acredito que é assim que devemos tratar nossos algozes, além é claro de reprovar os comentários.
Chatos, muito chatos, são só estes momentos inevitáveis em que velamos uma bela história que se acaba como o ano que se vai. Sábado será a dia de se despedir do melhor presidente que o Brasil já teve. Não obstante, teremos a posse da primeira mulher presidenta, melhor ainda, eu e creio a maioria de vocês ajudaram a elegê-la Entretanto amigos, o Ano Novo está ali na esquina nos aguardando e as coisas boas que nos aguardam são do tamanho dos sonhos e da esperança de todos e cada um de vocês. Desejo de fato um excelente ano a todos nós e acredito veementemente que 2011 será excepcionalmente bom e realizador para todos nós.
Não se percam de mim!
Voltarei depois de curar todas as ressacas possíveis

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Lula, o velho Brasil e o novo brasileiro


Por Alexandre Haubrich

Como tudo na vida e na morte, o governo Lula chega ao seu final sem acabar verdadeiramente. A herança fica. Tudo o que é feito se reproduz infinitamente no universo, cada uma de nossas pequeninas ações diárias se encadeia com as ações alheias para construir o instante seguinte e, em uma projeção gigantesca mas realista, para construir todo o futuro do universo. Quando um presidente deixa o cargo para uma sucessora do mesmo partido escolhida pessoalmente por ele, é claro que essa sequência de acontecimentos não poderia ser menos relevante. Por isso, o governo Lula, mais do que a maioria das coisas, acaba sem acabar. Mas, de todo modo, troca-se o governo.

Em oito anos como presidente da República, Lula levou o Brasil ao menor índice de desemprego da história do país, a um índice de analfabetismo baixo, tirou milhões de pessoas da pobreza absoluta, fez o Brasil tornar-se um país respeitado politicamente nos países nortistas, que sempre nos viram de cima. Continuam nos vendo assim, mas agora nós nos vemos no mesmo nível. Nosso Norte é o Sul, e o Norte deles já é um Norte quase envergonhado da ideia fixa de superioridade.

O Brasil melhorou. Todos os índices sociais tiveram melhoras, os econômicos também, assim como a política externa, que transformou-se, finalmente, em real política externa brasileira, não um braço da política interna norte-americana. O país ganhou corpo. Mais gente foi incluída em tudo. Educação, saúde, trabalho. A dívida brasileira diminuiu, assim como a inflação. O Brasil deixou de ser credor do FMI. As privatizações cessaram, o Estado cresceu.

O PAC, mesmo com problemas, fez andarem obras que se arrastavam há anos. Trouxe investimento em infraestrutura, trouxe emprego, deu porte e cara de porte ao país. O Bolsa Família, mesmo com problemas, fez andarem as pessoas que mal se equilibravam em pé por causa da fome que retorcia estômagos e torcia membros e distorcia cabeças. O Minha Casa Minha Vida, mesmo com atrasos, trouxe moradia a centenas de milhares de famílias, e fez com que, nos próximos momentos, um milhão de famílias passem a ter um teto sobre suas cabeças.

No dia em que Lula pisou no Palácio do Planalto, o povo teve esperanças. No plural mesmo, porque foram muitas as esperanças. Um metalúrgico pobre, migrante da região mais pobre e mais esquecida do país, pouco ligado à lida política, tenta por anos e anos e anos comandar um dos maiores países do mundo. E, uma hora, depois de tanto tentar, consegue.

O primeiro pensamento que deve ter chegado à cabeça de nove em cada dez brasileiros pobres, que ainda são tantos, é: “agora alguém vai olhar para mim”. Sim, porque chegou lá alguém que conhecia as realidades mais duras entre as duras realidades dos mais sofridos entre o sofrido povo brasileiro. E Lula, mais do que todos os outros presidentes que o Brasil já tivera, realmente conhecia tudo isso. E, mais do que todos eles, olhou para o povo.

Parte da velha elite foi apartada do poder pelo voto popular. A elite branquinha e limpinha, ideologicamente nascida e forjada nas universidades européias e norte-americanas, teve de amargar oito anos de governo de um sujeito barbudo, com a pele meio escurecida, um ex sujo de graxa e suor, que nunca chegaram às canetas e aos aparelhos de ar condicionado dos governantes anteriores. O eterno terno de Fernando Henrique Cardoso foi substituído pelo novo terno de Lula. Esse novo terno não fez de Lula um “novo rico”, deslumbrado e com memória curta. Lula não esqueceu o uniforme e o capacete de metalúrgico, não esqueceu a fome e o analfabetismo, mas deu um jeitinho para manter tudo isso conciliado com o terno novo, com o cabelo arrumado e com a fartura do poder. A conciliação de tudo com tudo o mais foi a tônica do governo Lula.

Parte da velha elite econômica foi substituída pelo que se transformou rapidamente em uma nova elite política, enquanto parte da velha elite política e econômica foi mantida no poder através da conciliação do PT com os caciques que há gerações comandam os mais diversos cantos do país. Nomes como Sarney, ACM e Calheiros, para ficar só nos mais óbvios, estiveram sempre próximos ao governo petista. Até Collor teve seus momentos. O PP esteve no governo desde seu princípio, assim como o PMDB. Dessa forma, a tal conciliação esteve presente desde a formação de governo e, é claro, havia de estar presente também nas ações governamentais.

Ao mesmo tempo em que muita gente ascendeu à classe média e muitos outros evoluíram de miseráveis para apenas pobres, nunca antes na história desse país os banqueiros lucraram tanto. Ao mesmo tempo em que o Estado se fez mais presente, nunca antes na história desse país tivemos tantos cargos de confiança.

Ao mesmo tempo em que Lula olhou para os pobres e para a pobreza, o petismo intransigente de determinados sindicatos, centrais sindicais e movimentos sociais esvaziou a disputa política e a luta pela politização do povo, tão necessária ao desenvolvimento humano, constante e democrático de qualquer país. Com algumas lideranças cooptadas pelos privilégios do poder e com parte das bases cooptadas pelo fortalecimento dos programas sociais, a luta política à esquerda ficou restrita a nichos muito localizados e enfraquecidos.

Lula prendeu almofadas às mãos dos lutadores da luta de classes. Sobraram os pés, apenas, e apenas por isso ainda há esperança de reafirmarem-se os embates. Também reside, essa esperança, na fragilidade do nó dado às almofadas e na ânsia de liberdade das mãos.

As cordas que amarraram as almofadas às mãos não suportam o sistema que as impõe. Lula reacomodou as classes, aplicou no Brasil uma forma um pouco mais humanizada do capitalismo, mas é preciso entender que este nunca poderá ser tão humanizado e humanizador quanto é preciso para que a preocupação com o homem supere a preocupação com o capital. O dinheiro, o lucro, a vitória a todo custo e a superação dos outros homens seguem e seguirão como objetivos máximos. O homem lobo do homem. E, em um sistema capitalista, para um comer o outro precisa ser comido. Para um subir, outro precisa descer. Dessa forma, sempre haverá o miserável e sempre haverá o bilionário. E este sempre terá todos os privilégios sobre aquele. O que o governo Lula fez foi reduzir minimamente a diferença entre um e outro, e diminuir essa diferença mais do que esse pouco-ou-quase-nada não é viável em uma lógica capitalista.

Dando a ilusão da aproximação entre pobres e ricos, o governo Lula torna-se o bombeiro da luta de classes. As contradições, em vez de se acirrarem, são reduzidas apenas o necessário para que os mais pobres estejam conformados com sua situação de mais pobres, ou, no máximo, esperançosos de, pelo trabalho, tornarem-se ricos. A cultura do individualismo não foi apagada, e essa tentativa nem foi feita. O símbolo total é a chegada de um nordestino-pobre-metalúrgico à presidência. Deu a falsa impressão de que, com trabalho, “se chega lá”. Mas lá aonde? Lula foi uma exceção, como volta e meia aparece. Mas o que não foi explicado ao povo é que essa ascensão social não passa de um mito. A ilusão de que basta o trabalho duro para que se chegue a posições melhores é a reprodução do velho mito criado pelas elites para manter o povo submisso: trabalhe para mim e um dia serás como eu. A chegada de Lula à presidência criou a mentira de que a luta individual oferece a vitória. E a vitória, para o povo, não é política, mas econômica. O governo nada fez para desmentir esse símbolo.

A importância da coletividade e da união entre os trabalhadores foi esvaziada. O embate político entre dominados e dominantes não esteve nem perto de se dar, pelo contrário. Se no governo anterior, de Fernando Henrique e do PSDB, o acirramento das contradições entre ricos e pobres, entre governo e movimentos sociais, fez com que a politização tomasse caminho, com que o povo se indignasse e com que a margem de trabalho conscientizante da esquerda aumentasse, a reacomodação social promovida no governo petista apagou o incêndio sem reconstruir o que está queimado há 500 anos.

As melhorias sociais aconteceram, mas foram tímidas e, sem uma nova cultura, uma nova lógica, um novo sistema, não poderiam deixar de sê-lo. A educação continua horrível, a saúde nem se fala. As ruas continuam grandes e sujas mansões de pobres, as filas continuam o único remédio para os doentes, os hospitais continuam depósitos de cadáveres, as estradas continuam fábricas de cadáveres, os livros continuam artigos de luxo, as pessoas continuam se alimentando de lixo.

É claro que ninguém poderia esperar que todos os problemas criados em 500 anos fossem resolvidos em oito. Mas pouco foi feito para realmente resolver qualquer um deles, o sentido principal foi remendá-los. Na educação, por exemplo, o foco maior foi o ensino superior. Criaram-se muitas Escolas Técnicas, diversas Universidades Federais. Mas a quantidade de vagas foi ampliada sem ampliar-se a qualidade, incluindo o espaço físico. O Prouni reverteu para empresas de educação verbas que poderiam ser aplicadas em mais universidades públicas.

No campo, lucros crescentes para os grandes produtores, e quase nada de redistribuição de terras. Movimentos como o MST foram enfraquecidos pelas razões já citadas, e a Reforma Agrária necessária em nenhum momento esteve por acontecer. Reforma Urbana, então, menos ainda. As empreiteiras lucraram como nunca, e os sem teto continuam se multiplicando.

Veículo oficial do discurso das elites capitalistas, do agronegócio, das elites políticas e dos interesses dos países nortistas, a mídia hegemônica brasileira foi um dos elementos que, nas diversas eleições que Lula e o PT perderam até a vitória em 2002, contribuíram para manter qualquer faísca de esquerda longe do poder. E essa mídia não foi sequer questionada em momento algum, com exceção de alguns discursos do presidente, que em nenhuma medida concreta resultaram em oito anos. Eleição após eleição, dia após dia a mídia dominante descarta a esquerda e molda cabeças contra o PT. E, dia após dia, o governo passou tentando acomodar-se com essa imprensa. De novo a conciliação e, como nos outros casos, a mansidão segue partido apenas de um dos lados. O outro, às vezes silencioso, às vezes não tanto, segue atacando. Ainda que a verba publicitária do governo federal tenha sido melhor distribuída, também não podemos esquecer a quantidade recorde de rádios comunitárias fechadas.

A ânsia desenvolvimentista fez com que o meio ambiente ficasse relegado a segundo plano. Se é verdade que tivemos dois ministros do Meio Ambiente bem intencionados, também é verdade que o espaço político dado a eles foi insuficiente. Diminuição do desmatamento na Amazônia, mas negociações com desmatadores. Avanços nas negociações internacionais, mas obras do PAC com licenciamentos ambientais questionados por técnicos, hidrelétricas do Rio Madeira e Usina de Belo Monte em andamento.

Politicamente, o governo fez uma acomodação de partidos da direita e da centro-direita e de oligarquias as mais diversas, mantendo com Lula a lógica que se reproduz no Brasil, em formas variáveis, desde o século XVI. Conchavos, corrupção, trocas de favores. E o povo apartado do poder político, sem voz. Conferências da sociedade organizada, como a Confecom (Comunicação), pouco foram ouvidas. Experiências anteriores do próprio PT, edificantes, politizantes e democratizantes, como o Orçamento Participativo, não foram reproduzidas. Não houve repressão violenta aos sindicatos e movimentos sociais, é verdade, mas o enfraquecimento deles foi feito de outras formas. Os arquivos da Ditadura Militar que assassinou tantos, torturou tantos outros e reprimiu tantos tantos outros seguem em segredo.

A política externa foi um dos grandes méritos do governo Lula. Por oito anos, o complexo de vira-lata foi deixado de lado, e o Brasil conquistou o respeito de todos. Mesmo sob forte pressão da direita (incluindo aí importantes setores da mídia), deixamos de ser submissos aos mais ricos e de submeter os mais pobres. Foi de forma solidária que negociamos com os países que sofrem mais, e foi de forma altiva que nos posicionamos frente aos exploradores internacionais históricos. De forma amigável conversamos com países oprimidos e isolados pelo imperialismo econômico, político e cultural. Lula fortaleceu os laços com a África, dando um passo importante no longo caminho a ser trilhado pela verdadeira independência daquele continente; e fortaleceu os laços latino-americanos, entendendo, juntamente com outros governantes vizinhos, que apenas com a América Latina forte e unida podemos resgatar nossas raízes culturais e alcançar nossa independência tardia.

Porém, também na política externa nem tudo são flores. Enquanto Cuba enviava milhares de médicos ao Haiti, enviávamos soldados. Somos parte fundamental da missão da ONU que mantém ali um governo que derrubou o presidente eleito. E não é só no Haiti que há resquícios da direita na política externa brasileira. Lula regozija-se por ter passado de devedor a credor do Fundo Monetário Internacional. Ao conceder empréstimos ao FMI, o governo brasileiro legitima a política deste órgão e do Banco Mundial, que, como já fez com o Brasil no passado recente, sufoca os países pobres e impõe a eles cartilhas importadas do “american way of life” e adaptadas para manter esses territórios na subserviência eterna. Romper com o FMI era o grito pré-2002. Reacomodar foi a prática a partir de lá.

Carismático, popular, Lula tornou-se um mito, um semideus. É respeitado e temido pelos adversários, é adorado e amado pelos aliados. Com seu jeito simples e verdadeiro, Lula tornou-se a imagem do novo brasileiro. Em alguns anos, talvez vejamos camisetas com seu rosto pelas ruas do Brasil, os filmes sobre sua vida talvez se multipliquem – e com mais qualidade do que o que já foi feito –, bonecos barbudos cheios de acessórios – bonés, capacetes, ternos, macacões – logo deverão estar em todas as lojas de brinquedos. Os 83% de aprovação com que se encerra o governo não mentem. Por seus programas sociais, por sua grande máquina de propaganda, por sua trajetória inacreditavelmente vitoriosa e por seu carisma pessoal, Lula é um herói. Inverossímil, um extra-terrestre que chegasse hoje a Terra classificaria como “ficção científica” um livro que contasse a trajetória de Lula. Já a quantidade de seres humanos que conhecem e admiram Lula é maior do que a quantidade de homens que conheceram qualquer outro presidente brasileiro.

O governo Lula foi o mais popular da história do Brasil e esteve inserido no contexto de guinada à esquerda na política latino-americana. Lula, como presidente e estadista, foi um gênio político. O Brasil melhorou, internamente e em sua postura em relação aos demais países. Porém, nem acertos nem erros devem ser ignorados pela história desses últimos oito anos, que recém começa a ser escrita, e que não cabem em tão poucas palavras, pela grandeza do tempo e pela grandeza dos acontecimentos. O certo é que, em oito anos, as mudanças foram significativas, e o Brasil melhorou. Se essa melhora será o freio ou o impulso de avanços mais profundos, somos nós quem decidiremos.

Alexandre Haubrich é jornalista, editor do blog Jornalismo B

Ano Novo, putz

Tá conseguindo ler?Tá se fazendo de ceguinho(a)?
Clica na imagem 1 ou 2 vezes pra ler

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Veja: má vontade e preconceito conduzem à cegueira

Brasília, 27 de dezembro de 2010.

Sr. Editor,
Apesar de não surpreender a ninguém que haja acompanhado as edições da sua revista nos últimos anos, o número 52 do ano de 2010, dito de “Balanço dos 8 anos de Lula”, conseguiu superar-se como confirmação final da cegueira a que a má vontade e o preconceito acabam por conduzir.
Qualquer leitor que não tenha desembarcado diretamente de Marte na noite anterior haverá de perguntar-se “de que país a Veja está falando?”. E, se o leitor for um brasileiro e não integrar aquela ínfima minoria de 4% que avalia o Governo Lula como ruim ou péssimo, haverá de enxergar-se um completo idiota, pois pensava que o Governo Lula fora ótimo, bom ou regular. Se isso se aplica a todas as “matérias” e artigos da dita retrospectiva, quero deter-me especialmente às páginas não-numeradas e não-assinadas, sob o título “Fecham-se as cortinas, termina o espetáculo”. Ali, dentre outras raivosas
adjetivações (e sem apontar quaisquer fatos, registre-se), o Governo Lula é apontado como “o mais corrupto da República”.
Será ele o mais corrupto porque foi o primeiro Governo da República que colocou a Polícia Federal no encalço dos corruptos, a ponto de ter suas operações criticadas por expor aquelas pessoas à execração pública? Ou por ser o primeiro que levou até governadores à cadeia, um deles, aliás, objeto de matéria nesta mesma edição de Veja, à página 81? Ou será por ser este o primeiro Governo que fortaleceu a Controladoria-Geral da União e deu-lhe liberdade para investigar as fraudes que ocorriam desde sempre, desbaratando esquemas mafiosos que operavam desde os anos 90, (como as Sanguessugas, os Vampiros, os Gafanhotos, os Gabirus e tantos mais), e, em parceria com a PF e o Ministério Público, propiciar os inquéritos e as ações judiciais que hoje já se contam pelos milhares? Ou por ter indicado para dirigir o Ministério Público Federal o nome escolhido em primeiro lugar pelos membros da categoria, de modo a dispor da mais ampla autonomia de atuação, inclusive contra o próprio Governo, quando fosse o caso? Ou já foram esquecidos os tempos do “Engavetador-Geral da República”?
Ou talvez tenha sido por haver criado um Sistema de Corregedorias que já expulsou do serviço público mais de 2.800 agentes públicos de todos os níveis, incluindo altos funcionários como procuradores federais e auditores fiscais, além de diretores e superintendentes de estatais (como os Correios e a Infraero). Ou talvez este seja o governo mais corrupto por haver aberto as contas públicas a toda a população, no Portal da Transparência, que exibe hoje as despesas realizadas até a noite de ontem, em tal nível de abertura que se tornou referência mundial reconhecida pela ONU, OCDE e demais organismos internacionais.
Poderia estender-me aqui indefinidamente, enumerando os avanços concretos verificados no enfrentamento da corrupção, que é tão antiga no Brasil quanto no resto do mundo, sendo que a diferença que marcou este governo foi o haver passado a investigá-la e revelá-la, ao invés de varrê-la para debaixo do tapete, como sempre se fez por aqui.
Peço a publicação.
Jorge Hage Sobrinho
Ministro-Chefe da Controladoria-Geral da União
Originalmente publicado no Blog do Planalto

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Voltando

Agora que todo mundo se empanturrou de peru, panetone, rabanadas e que vai passar a semana inteira comendo as sobras disso, agora que você mal consegue abrir os olhos com dor de cabeça e ressaca por culpa da azeitona, agora que passou aquelas 24 horas de coração fraterno lendo passagens bíblicas, que novamente o Roberto Carlos e a Xuxa encheram nossos ouvidos, então agora ....começamos nossa caminhada ao final do mundo, quero dizer.,final de ano. É momento de retornar ao teclado, fazer retrospectivas de tudo e de todos, interpretar as notícias e os fatos sobre outra ótica. Mesmo com Papai Noel sendo crucificado como protesto ao consumismo e comercialização da data, o comércio não deixou de bater recordes de vendas, nem a atitude bizarra da Zero Hora on-line fazendo matemática tétrica atualizada dos assassinatos do feriado e dos que morriam no transito evitou que morressem dezenas de pessoas nas estradas. O bom de ver nesta semana é a cara dos arrependidos que entraram na onda consumista e se atolaram em dívidas. Gente que vai passar anos pagando prestações natalinas. Bem feito, já disse que Papai Noel odeia pobre.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Clubes de futebol em 2010

Clica na imagem para ampliar.Colorado não precisa

Cuidado, Tucanos voando

Clique na imagem para ampliar

Imprensa e o poder

Existe uma frase do Paulo Henrique Amorim que virou chamada em seu blog que diz o seguinte: Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil”. Esta frase sintetiza em parte meu pensamento sobre determinados setores da imprensa. A historia recente nos mostra a proximidade de sempre da “imprensa” com o poder, em todas as esferas e instâncias. O maior explícito neste sentido foi à última campanha presidencial quando parte da grande imprensa entrou na campanha anti-lula e que gerou esta frase do PHA. Aqui no estado não é diferente, aliás, nunca foi; o grupo RBS e aí se inclui jornais, rádios e tv se construiu desta forma e sempre tiveram seus candidatos, numa postura conservadora que virou rotina atacar a esquerda. Enfim, todos sabem que os candidatos conservadores (?) sempre estiveram ligados a esta “imprensa” e sempre as beneficiaram, nas cidades do interior esta postura sempre é mais disfarçada, pois em sua maioria rádios e jornais sobrevivem do dinheiro público, ou seja, da propaganda institucional, portanto estão sempre de acordo com o governante de plantão (ordenador de despesas), seja em câmaras de vereadores ou no executivo. Desta relação entre a mídia e o poder já surgiram varias interpretações, alguns chegam a rotular a imprensa como terceiro poder, outros deliram ao ponto de enxergar na imprensa, palanque eletrônico num viés eleitoral capaz de lhe dar visibilidade para um público imaginário. Não obstante, a política e seus atores estabeleceram uma reação comercial com esta chamada “imprensa” em que fala ou aparece quem “paga” contrariando a lógica de quem e o que é notícia. Desde muito tempo minha relação política com a “mídia” tem-se dado de forma diferente e desconfiada, entretanto muitos políticos provincianos preferem seguir duas linhas ao meu ver equivocada nesta relação: Primeiro aquela que dialoga  com a persuasão, por raciocínio, e que posso classificar como rácio-propaganda, que seria a correta, no entanto não sabem escolher seu questionador ou oponente, e segundo a relação por sugestão, ou seja aquela que deflagra o medo(represália) como complemento positivo e o entusiasmo como delírio e burrice(falácia). Dito isso amigo leitor, desconfie sempre quando algum candidato a qualquer coisa na vida entupir seus ouvidos nas emissoras de rádio ou quando você não agüentar mais ver sua cara no jornal. A grande vantagem que existe com relação à imprensa escrita, é que o público consumidor de jornais tem opinião formada, senso crítico e discernimento (a maioria), portanto são pessoas difíceis de manipular através da informação embutida, produzida por editores de política (?) na maioria das vezes de forma amadora e sem conteúdo. Os grandes efeitos que a mistificação das massas pela propaganda política consegue, via de regra é feita através do velho e poderoso rádio AM, entretanto nada consegue desbancar o trabalho de divulgação feito na base, nos fundões, nas grotas e dialogando com as inteligências representadas em associações de classe, de moradores, trabalhadores, empregadores e lideranças bem intencionadas. Este é o caminho, não confundam projeção política com visibilidade midiática, e subserviência ao terceiro, quarto ou quinto poder que se sustenta com dinheiro público, ou mesmo o único poder na visão miupe de alguns. 

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

PRONASCI

Livramento na "rota" de boas notícias federais

Jorge Seadi

O Brasil e o Uruguai vão ter uma ligação ferroviária a partir de maio do ano que vem. O acordo para a operação do ramal foi feito na reunião do Mercosul que se realiza em Foz do Iguaçu, no Paraná. A ligação será entre as cidades de Cacequi e Livramento, no Rio Grande do Sul, entrando no Uruguai por Rivera, disse o assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. Ele ressaltou que esta ligação entre os dois países “vai ter uma relevância muito grande do ponto de vista econômico”.
O assessor especial da Presidência revelou também que os problemas de taxas da produção da Usina de Itaipu foram tratados com o Paraguai. O governo paraguaio pediu que o Brasil pagasse mais pela energia produzida por Itaipu. A proposta está no Congresso Nacional do Brasil. A expectativa de Marco Aurélio Garcia é que o Congresso aprove o reajuste no começo da próxima legislatura.
Com informações da Agência Brasil
Pescado no Sul21

Falsa surpresa, outra verdadeira e a revelação

Registro neste derradeiro mês de 2010 uma falsa surpresa, outra verdadeira e uma revelação. A surpresa que não houve vem do WikiLeaks e é de amplo raio. O WikiLeaks­ demonstra apenas no plano mundial o baixo QI da diplomacia americana e, em perfeita afinação em relação ao Brasil, que os representantes de Tio Sam aqui sediados baseiam seus despachos na leitura de Veja, Estadão, Folha e Globo. Seria esta razão de espanto? De maneira alguma, está claro. E seria verificar que Washington, como informa o ­WikiLeaks, faz lobby contra a lei do pré-sal a favor das irmãs do petróleo?
O petróleo é deles? – Telegramas confidenciais remetidos pelos diplomatas americanos para o Departamento de Estado mostram profunda contrariedade diante das mudanças introduzidas pelo governo Lula nos sistemas de exploração do nosso petróleo. E surge em cena uma certa Patricia Pedral, diretora da Chevron no Brasil. Ela acusa o governo de fazer uso “político” do modelo, mas não perde as esperanças. “As regras sempre podem mudar depois”, teria afirmado, o que também implica confiança no poder de persuasão das irmãs petroleiras e do próprio Tio Sam. Os métodos deste poder são bastante conhecidos, passam pela chantagem e pelo tilintar dos dólares.
Surpresa? Nem pensar. Segundo dona Patricia, em novembro do ano passado ela teria recebido de José Serra a garantia de que, eleito, mudaria as regras. Não sei até que ponto dona Patricia é confiável. Pergunto, de todo modo: se a promessa de Serra existiu, cabe espanto? Obviamente, não. Eleito em lugar de Dilma Rousseff, ele faria a vontade da sua turma e da mídia nativa. O tucanato é assim mesmo. É do conhecimento até do mundo mineral que Fernando Henrique sonhou em privatizar a Petrobras até onde fosse possível. Difícil é imaginar que Serra presidente deixaria por menos. Vejam só do que nos livramos.
O escândalo é outro – Surpresa autêntica é proporcionada por um livro publicado, O Escândalo Daniel Dantas. Poderia ser da autoria dos advogados do banqueiro orelhudo, e não nos deixaria de queixo caído. Dá-se que quem escreve, e não há defensor de Dantas habilitado a realizar trabalho melhor, é um jornalista, Raymundo Rodrigues Pereira, de hábito empenhado em nobres causas, a me merecer desde sempre amizade como indivíduo e respeito como profissional.
Raymundo me presenteou recentemente com seu livro e com uma coletânea de ensaios sobre a obra de um criador de cinema que ambos admiramos, John Ford. Eu já estava informado a respeito do conteúdo de O Escândalo Daniel Dantas e cuidei de não lê-lo para evitar que ventos malignos soprassem entre o fígado e a alma. Disse apenas ao velho amigo e companheiro de algumas aventuras: “Concordamos quanto a Ford, discordamos quanto a Dantas”. No livro ele aponta Carta­Capital como uma publicação que perseguiu Dantas injustamente e eu fingi ignorar.
Na Folha de S.Paulo, de 10 de dezembro, entrevistado por Frederico Vasconcelos, ele volta à carga. Diz que por trás das reportagens publicadas contra o banqueiro do Opportunity – e no caso de CartaCapital, segundo ele teriam sido cem, número talvez exagerado, mas pouco importa – “estavam os fundos de pensão, a canadense TIW, a Telecom Italia e Luiz Roberto Demarco (ex-sócio de Dantas)”, conforme relata Vasconcelos. Ou, por outra: CartaCapital prestou-se a um jogo sujo, não se esclarece a que preço. Vale soletrar o contrário: o orelhudo, que assim chamamos por sua comprovadíssima obsessão no uso desbragado do grampo, tentou amansar CartaCapital por meio de polpudo contrato de publicidade, obviamente ineficaz. Que fazer, a gente não está à venda.
Não me permito ilações sobre as razões de Raymundo e até que ponto ele se dispôs a servir aos interesses de amigos chegados ao orelhudo. Diante da grave ofensa, cometida contra esta revista e vários honrados jornalistas, declaro meu suspanto, misto de susto e espanto, como diria o próprio Raymundo, desta vez entregue a um gênero de jornalismo que sequer posso classificar como de péssima qualidade. Não há dúvidas de que ele conversou longamente com seu herói e apaniguados. Não procurou, contudo, os vilões, os profissionais que ofende, a começar por Rubens Glasberg, dono de um arquivo completo a respeito de Dantas e suas façanhas.
Não há uma única, escassa reportagem de CartaCapital que não tenha sido baseada em documentos irrefutáveis para provar as inúmeras mazelas dantescas e as condenações que colecionou, em Cayman, em Nova York, em Londres, por uma corte internacional. E é muito estranho que jornalistas, mercenários segundo Raymundo, processados pelo orelhudo, cinco vezes Glasberg, duas vezes o acima assinado, incontáveis Paulo Henrique Amorim, tenham saído vencedores destes embates judiciários.
Papai Noel a risco – E agora a revelação, que devemos agradecer à revista Veja: Papai Noel existe. Trata-se de um milagre. Metido naquelas fartas roupas de lã, botas e capuz, arrastado para o trópico a bordo de um trenó puxado por renas à espera da neve impossível, ele resiste impávido ao nosso verão. Na minha infância, celebrava-se Jesus Menino, que, como todos, veio ao mundo nu. Em um Natal desses, Papai Noel bate literalmente as botas. Coisas de um país onde há quem gostaria de privatizar a Petrobras e acha DD um capitalista exemplar.

Artigo de Mino Carta na Carta Capital

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A barbárie como espetáculo

Mídia comercial trata como guerra a crise na Segurança Pública, lucra com a espetacularização e cria falsas dualidades

Por Leandro Uchoas, do Rio de Janeiro*
Entre tantos protagonistas na crise da Segurança Pública fluminense, um se destacou: a mídia comercial. As emissoras de TV e rádio e os jornais de grande circulação conseguiram criar uma realidade à parte. Nela, os oficiais da polícia que mais mata e que mais morre no mundo tornaram-se heróis. A população acuada nas comunidades, com risco de ser atingida por balas perdidas, foi retratada como um conjunto de cidadãos grato à chegada “das forças do bem”. O pânico ganhou contornos de lucrativo espetáculo, transmitido ao longo de tardes inteiras. A cobertura televisiva assemelhou-se à transmissão de conflitos como o do Iraque. E a linguagem escolhida também foi a da guerra. Poucas vezes o jornalismo brasileiro esteve tão próximo da ficção.
A barbárie dos traficantes, e a reação policial, foram chamados pelos veículos de “Guerra do Rio”. Cláudia Santiago, do Núcleo Piratininga de Comunicação, critica a opção linguística. “Guerra de quem contra quem? Uma guerra na qual os inimigos são os traficantes das favelas, não por coincidência pobres, negros e candidatos a uma vida curtíssima. Não se lê nenhuma linha sobre os grandes chefes do tráfico: banqueiros, juízes, chefões políticos e militares, advogados”, acusa. Todo o linguajar midiático emprestou expressões da guerra. Inocentes assassinados pela polícia viraram “baixas civis”. A Vila Cruzeiro se transformou no “bunker do tráfico”. A data em que a polícia invadiu a favela tornou-se o “Dia D” – referência à chegada dos aliados à Normandia, na Segunda Guerra, decisiva para a derrota da Alemanha nazista.
A tomada do Complexo do Alemão foi retratada como uma vitória inédita, ponto de virada na história da cidade. E com cenas cinematográficas. As bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro, levantadas no alto do conjunto de favelas, lembraram a chegada do homem à lua. “O triste é que este espetáculo midiático faz com que muita gente de bem torça pelo extermínio destes jovens, como torcem pelo Rambo nos filmes de Hollywood. O fato é transformado em um grande espetáculo para ganhar a adesão das pessoas. E ganha”, lamenta Cláudia. O apoio à ação policial, considerada de sucesso pelos jornalistas e por boa parte dos comentaristas ouvidos pelos grandes veículos, aparentemente, encontrou eco junto à população do Rio.

Militarização legitimada

“A cobertura da TV privilegia a dramatização. E afirma-se que esse vai ser o ponto de inflexão daqui pra frente. Um equívoco. Lamento que esses grandes veículos estejam com essa posição”, criticou Ignácio Cano. Sociólogo vinculado ao Laboratório de Análise de Violência da Uerj, Ignácio é um dos estudiosos de Segurança Pública mais frequentemente ouvido em períodos de crise. Para José Cláudio Alves, vice-reitor da UFRRJ, “amplia-se muito a lógica militar quando a execução sumária, elevada à categoria de política pública, é legitimada pela mídia.”
Outra fonte histórica dos grandes veículos é Luiz Eduardo Soares, ex-secretário, nacional e estadual, de Segurança Pública. Pela primeira vez, o intelectual desligou o celular, para não atender a jornalistas. “Não posso mais compactuar com o ciclo sempre repetido na mídia: atenção à segurança nas crises agudas e nenhum investimento reflexivo e informativo realmente denso nos intervalos entre as crises”, escreveu, em artigo. E em outro trecho: “todo pensamento analítico é editado, truncado, espremido – em uma palavra, banido –, para que reinem, incontrastáveis, a exaltação passional das emergências, as imagens espetaculares, os dramas individuais e a retórica paradoxalmente triunfalista do discurso oficial”.
Por fim, no mesmo artigo, o sociólogo critica a falsa dualidade criada pela mídia, entre policiais e traficantes. “Não existe a polaridade. Construí-la – isto é, separar bandido e polícia – teria de ser a meta mais importante e urgente de qualquer política de Segurança digna desse nome”. Segundo Soares, não há ação de criminosos, no Rio de Janeiro, da qual estejam ausentes segmentos corruptos da polícia. Seria justamente essa interpenetração entre tráfico – ou milícia – e polícia que faz com que a ilegalidade permaneça viável. Além disso, o abismo de força bélica entre as duas forças em conflito, polícia e tráfico, também é atenuado quando se usa o termo “guerra”. O poder de fogo dos policiais é muito maior.
Saques e diáspora
Um bom exemplo da cobertura ficcional do conflito foi a invasão policial da Vila Cruzeiro. O chamado “Dia D” foi celebrado pelos veículos. A polícia teria obtido grande vitória ao ocupar uma favela onde o poder público não entrava há três anos. Segundo os jornalistas, a população estaria aliviada, recebendo os soldados com louvor. E a polícia estaria fazendo uma varredura na comunidade, atrás de drogas e armas. Isabel Cristina Jennerjahn esteve na comunidade e trouxe um relato bastante distinto – embora reconheça que a sensação local, em grande parte, era mesmo de alívio. Integrante da Rede de Movimentos e Comunidades contra a Violência, ela relata que boa parte dos moradores está indo embora da favela.
Segundo Isabel, algumas casas teriam sido saqueadas pela Polícia Militar (PM) e o Bope estaria impedindo familiares de traficantes mortos de buscarem seus corpos na mata – assassinatos esses não veiculados pela TV. Os jornais de domingo, dia 28, preferiram divulgar um projeto do prefeito, Eduardo Paes (PMDB), anunciando o desejo de urbanizar a favela. Movimentos e ONGs desconfiam que no Complexo do Alemão esteja havendo casos semelhantes. A diáspora foi ainda maior ali do que na Vila Cruzeiro. Teme-se que bandidos desarmados tenham saído normalmente, passando pela barreira policial, como os outros moradores. “Vão haver novamente assassinatos, e não vai haver investigação”, suspeita José Cláudio. Também há críticas contra a decisão dos veículos de não citar nomes de facções do tráfico.

Extraido do site da Carta Capital

domingo, 5 de dezembro de 2010

Clàssico brega, corno e desesperado



Pra desopilar de milongas bueníssimas e de pajadas memoráveis, uma
musiquinha brega de minha época.
Chora um pouquinho vai,não custa nada.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O maior problema de Livramento


Semana passada, dois estudantes de Santana do Livramento, curso de Gestão Pública, Unipampa, escreveram num trabalho a seguinte frase: “Livramento não é um conjunto de problemas, mas um conjunto de possibilidades”. Concordo. Gostei da frase-resumo.
Depois, fiquei pensando: “O maior problema de Livramento é o desânimo que domina o coração e a mente dos que há muito deixaram de acreditar em sua cidade”.

Culpa disso? A culpa é do ET. O ET de Livramento é o falecido frigorífico Armour. O ET-Armour chegou dos céus, pousou na cidade, chupou vacas e ovelhas e, depois, foi embora. Ainda hoje há santanenses olhando para o céu, esperando que alguma outra empresa-ET venha para a cidade. Enquanto um ET não chega, apenas reclamam. Empurram a vida com a barriga.

Minha esperança é outra. Não acredito em ETs. Acredito na criatividade e coragem dos santanenses que acreditam na vida, que trabalham em seus pequenos e médios negócios. E há muitos. Acredito nos estudantes santanenses e de outras cidades que estão aqui na Unipampa com os olhos cheios de esperança, homens e mulheres, jornalistas, políticos empenhados em várias áreas, cidadãos ativos de várias profissões e os que se dedicam integralmente aos estudos.

O maior problema de Livramento, repito, é o desânimo alimentado por alguns como se fosse gado de invernar.

Há muitos jovens de todo o Brasil vindo morar em Livramento. Sofrem um verdadeiro martírio para conseguirem alugar um apartamento. Pedem fiador, garantias. Meu Deus, parece que há santanenses que não consideram a vinda de jovens para estudar em sua cidade como uma possibilidade, mas como um problema! Em Livramento, há várias casas abandonadas, com herdeiros que nem sabem o que seja trabalhar, que somente esperam pela morte de seus familiares para dividirem a herança.

Ora, mas por que não transformam suas casas em locais para acolherem os jovens que aqui chegam para estudar? E com preços de aluguel que sejam coerentes com a boa imagem que nós gaúchos ainda temos de sermos acolhedores. Jovens que aqui chegam para estudar não deveriam ser explorados por gaúchos desalmados, mas acolhidos por gente que abre suas casas para alugar quartos a preços humanos, civilizados.

A matemática das casas é estranha: há muitas casas vazias, muitos estudantes procurando quartos para alugar, e pouca gente investindo em acolhida humana e financeiramente viável. As imobiliárias fazem a parte delas, como podem. E os proprietários de imóveis? Muitas mães, brasileiras como você, que trazem seus filhos para estudarem aqui, ficariam gratas se as pessoas de bem desta cidade acolhessem (a pagamento) tais jovens para residirem em suas casas. Além do quarto teriam uma senhora que os ajudasse a superar as saudades de casa.

Escolhi viver em Livramento faz mais de um ano. Gosto da cidade. Tenho muitos amigos, gente daqui. Gente que trabalha com a esperança numa mão e a criatividade na outra. Mas há, também, a turma dos desmaiados. Gente que espera um parente morrer para ganhar um dinheirinho, em vez de lutar com criatividade por uma cidade melhor.

Em Livramento, há cidadania ativa, mas há, também, cidadania morta, ou desmaiada, zumbis que se arrastam pela cidade esparramando o pus da indiferença.

“Livramento não é um conjunto de problemas, mas um conjunto de possibilidades”. Os dois estudantes têm razão.

Que ninguém se iluda: não vai chegar nenhum ET salvador em Livramento! A maior riqueza da cidade já está aqui. É a inteligência criativa dos cidadãos ativos desta magnífica gaúcha, fronteiriça, para sempre gloriosa, Sant’Ana do Livramento, cidade muito maior e muito mais bonita e rica do que seus eventuais pequenos problemas passageiros.

Surrupiado do blog do Fabio Régio ,doutor em sociologia e professor da Unipampa

Entenda como e por que Serra afundaria o Brasil na crise mundial



Não esqueçam disso. Jamais, este é o tipo de debate que considero superado em meus churrascos.
De forma "peremptória", lhes digo: Esta cambada, antes de ser golpista, é inépta.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Quem são os traíras que votaram contra a Petrobrás

Os 71 traidores da Pátria que votaram contra o Pré-sal para os brasileiros
Itagiba, Gabeira e Rodrigo Maia, os melhores amigos do Cerra


Por 204 votos a favor, 66 contra, 2 abstenções e 3 obstruções, os deputados aprovaram na noite desta quarta-feira (1º) o projeto do marco regulatório do pré-sal, que institui o modelo de partilha e cria o Fundo Social.

Os 71 traidores (66 contra + 2 abstenções + 3 obstrução) votaram contra o povo brasileiro ficar com uma parcela maior da riqueza, e entregá-las para os estrangeiros. Por isso o voto dele significa que foi um voto de lesa-pátria e de lesar o povo brasileiro.

Tucanos e DEMos são os partidos mais traidores do Brasil:


PSDB: 94% de traição (34 do contra e 2 a favor)

DEMOS: 92% de traição (22 do contra e 2 a favor)

PR: 33% de traição (7 do contra e 14 a favor)

PPS: 25% de traição (1 do contra e 3 a favor)

PV: 13% de traição (1 do contra * Gabeira, e 7 a favor)

PDT: 13% de traição (2 do contra e 13 a favor)

PSB: 11% de traição (2 do contra e 16 a favor)

PMDB: 3% de traição (1 do contra * Raul Henry,  e 37 a favor)


PTC: só um deputado presente (Paes de Lira/SP) e fez obstrução.


PCdoB, PHS, PMN, PP, PRB, PSC, PSOL, PT, PTB só tiveram votos a favor, nenhuma traição.


O levantamento não levou em conta os deputados faltosos, computando apenas os que compareceram à sessão.


Relação dos deputados traíras:


AMAPÁ:


Lucenira Pimentel /PR/AP


BAHIA:


Fábio Souto /DEM/BA

Jorge Khoury /DEM/BA

José Carlos Aleluia /DEM/BA

João Almeida /PSDB/BA

Jutahy Junior /PSDB/BA


CEARÁ:


Raimundo Gomes de Matos /PSDB/CE


DISTRITO FEDERAL:


Jofran Frejat /PR/DF


ESPÍRITO SANTO:


Luiz Paulo Vellozo Lucas /PSDB/ES

Capitão Assumção /PSB/ES (Obstrução)


GOIÁS:


Sandro Mabel /PR/GO

João Campos /PSDB/GO

Leonardo Vilela /PSDB/GO

Professora Raquel Teixeira /PSDB/GO


MARANHÃO:


Davi Alves Silva Júnior /PR/MA

Pinto Itamaraty /PSDB/MA


MINAS GERAIS:


Marcos Montes /DEM/MG

Vitor Penido /DEM/MG

Ademir Camilo /PDT/MG

Júlio Delgado /PSB/MG

Eduardo Barbosa /PSDB/MG

Paulo Abi-Ackel /PSDB/MG

Rafael Guerra /PSDB/MG

Rodrigo de Castro /PSDB/MG


MATO GROSSO:


Wellington Fagundes /PR/MT

Thelma de Oliveira /PSDB/MT


PARÁ:


Lira Maia /DEM/PA

Lúcio Vale /PR/PA

Nilson Pinto /PSDB/PA

Zenaldo Coutinho /PSDB/PA


PARAÍBA:


Rômulo Gouveia /PSDB/PB

Major Fábio /DEM/PB (Obstrução)


PERNAMBUCO:


Raul Henry /PMDB/PE

Bruno Araújo /PSDB/PE

Bruno Rodrigues /PSDB/PE


PIAUÍ:


José Maia Filho /DEM/PI

Júlio Cesar /DEM/PI


PARANÁ:


Alceni Guerra /DEM/PR

Cassio Taniguchi /DEM/PR

Eduardo Sciarra /DEM/PR

Luiz Carlos Setim /DEM/PR

Alfredo Kaefer /PSDB/PR

Gustavo Fruet /PSDB/PR

Luiz Carlos Hauly /PSDB/PR


RIO DE JANEIRO:


Rodrigo Maia /DEM/RJ

Rogerio Lisboa /DEM/RJ

Andreia Zito /PSDB/RJ

Marcelo Itagiba /PSDB/RJ

Otavio Leite /PSDB/RJ

Fernando Gabeira /PV/RJ


RIO GRANDE DO NORTE:


Rogério Marinho /PSDB/RN


RORAIMA:


Francisco Rodrigues /DEM/RR

Sá /PR/RR


RIO GRANDE DO SUL:


Germano Bonow /DEM/RS

Cláudio Diaz /PSDB/RS


SANTA CATARINA:


Paulo Bornhausen /DEM/SC

Paulo Bauer /PSDB/SC


SERGIPE:


Albano Franco /PSDB/SE

Mendonça Prado /DEM/SE

Pedro Valadares /DEM/SE (Abstenção)


SÃO PAULO:


Walter Ihoshi /DEM/SP

William Woo /PPS/SP

Duarte Nogueira /PSDB/SP

Emanuel Fernandes /PSDB/SP

José C Stangarlini /PSDB/SP

Lobbe Neto /PSDB/SP

Silvio Torres /PSDB/SP

Vanderlei Macris /PSDB/SP

Fernando Chiarelli /PDT/SP (Abstenção)

Paes de Lira /PTC/SP (Obstrução)


TOCANTINS:


João Oliveira /DEM/TO


Para ver a votação completa (com os votos a favor), clique nos links:

- Votação por partido

- Votação por estado

Leia mais no blog Amigos do Presidente Lula

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A cara do governo


A reação de parte da imprensa às informações sobre a composição do governo Dilma é curiosa. Em alguns veículos, chega a ser cômica.
Outro dia, um dos jornais de São Paulo estampou em manchete que Dilma estava "montando o núcleo de seu ministério com lulistas". O que será que o editor imaginava? Que ela fosse recrutar "serristas" para os postos-chave de sua administração?
Como ensinam os manuais do jornalismo, essa não é uma notícia. Ou será que algo tão óbvio merece destaque? "Cachorro come linguiça" não é um título para a primeira página. No dia em que a linguiça comer o cachorro, aí sim a teremos uma notícia (que, aliás, deverá ser impressa em letras garrafais).
Na mesma linha, um jornal carioca achou que era necessário alertar os leitores para o fato de que "Lula está indicando várias pessoas para o governo Dilma". Em meio a estatísticas sobre quantos nomes já havia emplacado, a matéria era de franca desaprovação.
Na verdade, tanto nessa, quanto na manchete do jornal paulista, estava implícita quase uma denúncia, como se um duplo mal-feito estivesse sendo cometido. Por Lula, ao "se meter" na formação do novo governo, ao "tentar interferir" onde, aparentemente, não deveria ter voz. Por Dilma, ao não reagir à intromissão e o deixar livre para apontar nomes.
Quem publica coisas assim dá mostras de não ter entendido a eleição que acabamos de fazer. Não entendeu como Lula, seu principal arquiteto, a concebeu, como Dilma encarnou a proposta, e como a grande maioria do eleitorado a assimilou.
Tudo mundo sabe que, quando Lula formulou o projeto da candidatura Dilma, a ideia central era de continuidade: do governo, de suas prioridades, de seu estilo. Ele nunca disse o contrário e insistiu no uso de imagens que caracterizavam, com clareza, o que ela representava. Para que ninguém tivesse dúvidas, chegou a afirmar que votar em Dilma era a mesma coisa que votar nele. Foi explícito nos palanques, nas declarações, na televisão.
Dilma sempre falou a mesma coisa. Mostrou-se à vontade como representante de Lula e do governo, seja por sua lealdade para com o presidente, seja pela boa razão de que o governo era dela também. Apresentar-se ao país como candidata de continuidade nunca a deixou desconfortável, pois significava defender aquilo a que havia se dedicado nos últimos oito anos.
Isso foi bem entendido pelos eleitores. Desde o primeiro momento e até o fim da eleição, as pessoas olharam para Dilma sabendo qual era a natureza de sua candidatura. Muitas descobriram suas qualidades pessoais, mas o núcleo da decisão de votar em seu nome foi outro, como mostraram as pesquisas.
Ninguém votou em Dilma para que o "dilmismo" vencesse o "serrismo". Só quem quis que a eleição fosse essa foi o próprio Serra, que sabia que perderia se o foco da escolha se alargasse, se os eleitores olhassem para o que cada candidato representava e não se limitassem a fazer a velha comparação de biografias.
Agora, quando Dilma escuta Lula na montagem do governo, ela apenas cumpre a promessa fundamental de sua candidatura, a razão principal (para alguns eleitores, a única) dela ter sido votada. Quando dá mostras de que manterá ministros e dirigentes, faz apenas o natural. Se, por exemplo, se comprometeu durante a campanha com a preservação de determinada política, porque razão não seria adequado que o responsável permanecesse?
O governo que está sendo organizado terá a cara da continuidade, política e administrativa. Terá a cara de Lula, do PT e das outras forças partidárias que venceram a eleição. Terá a cara da atual administração, que é aprovada pela maioria da sociedade. Terá a cara de Dilma, pois é ela que o chefiará.
É isso que foi combinado com o país
Por Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

Favela cercada, usuários na praia


Enquanto a polícia e as Forças Armadas cercavam o Complexo do Alemão no fim de semana que passou, um leitor, na praia, presenciava uma cena peculiar em uma praia carioca. Ele prefere não ser identificado, mas segue o relato:
“No último domingo, 28 de novembro, fui a praia com minha família, como de costume, e me deparei com o outro lado da guerra em curso no Rio de Janeiro: o usuário de drogas. Gostaria de deixar claro meu apoio à ação do Estado, a Polícia e a reação da população, especialmente a mais pobre, que sempre foi a real vítima do tráfico.
Estávamos próximo ao posto 9, em um ponto conhecido como “coqueirão”, tradicional reduto de usuários de maconha e outras drogas. Por volta de 13h uma moça revoltada com o número de maconheiros, resolveu ligar para a polícia. Travou-se um bate boca e a moça acabou tomando um banho de areia. Praticamente todos ao nosso redor eram usuários e se manifestaram contrários a atitude da mulher. Ela só não foi agredida (embora tenha ouvido vários palavrões) porque uma família estava ao lado e a mãe se revoltou com a ação dos locais.
A polícia chegou e nada foi feito. Ninguém foi revistado e tanto a mulher quanto as duas ou três pessoas que a defenderam tiveram que sair, sob as vais da multidão. Ouvi uma moradora dizer: “que mulher maluca, onde ela pensa que está? Aqui todo mundo usa!”
Moro na zona sul e conheço várias daquelas pessoas. São todos jovens de classe média, moradores daquela região. Confesso que me senti humilhado em pensar que enquanto milhares de pessoas estão sitiados no Alemão, aquele grupo, patrocinador de toda essa loucura, curtia seu domingo de sol, como se nada estivesse acontecendo.
Saúdo mais uma vez o Governo e a polícia, mas me pergunto: como será tratada a questão do usuário? Pois, enquanto houver usuário, haverá o tráfico. Honestamente, não sei qual o tratamento deve ser dado a essa questão, não sou cientista político, advogado, nem antropólogo, mas não gostaria de ver novamente uma pessoa que chama a justiça, ser expulsa da praia por aqueles que a infringem.
Peço aos meios de comunicação que se manifestem e levem essa questão também para o debate.”

Da redação da Carta Capital