quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Quando o conservadorismo e o preconceito se mostram



Hoje li no jornal Zero Hora um artigo publicado por uma professora em que ela absurdamente questiona o direito ao voto de pessoas com baixa renda ou que estejam atendidos por algum programa social do governo, tipo o Bolsa Família, entre outros.

A professora vai além, diz que: “O indivíduo deve provar que pelo menos está tentando, insistentemente, conseguir uma atividade que lhe permita sustentar a família como milhões de brasileiros fazem a “duras penas”, e aí, sim, ter direito a votar democraticamente, no candidato de sua preferência, porque quer um Brasil melhor, para si e para os seus filhos, e não apenas votar, para não arriscar perder a vida inútil e sem obrigações que tão facilmente conseguiu”.

A professora quer negar o direito do voto ao pobre, o próximo passo será cassar o direito ao voto das mulheres, negros, índios, comunidade LGBT e daí por diante. Neste artigo ela faz a opção da volta ao “voto censitário” da época do império, e o faz de forma natural, ela realmente acredita nisso. Vomita publicamente todo seu preconceito de classe, etnia e qualquer valor republicano de iguais direitos.

Será que a professora lembra-se disso?

A primeira Constituição brasileira, outorgada por dom Pedro 1º. Em 1824, definiu as primeiras normas de nosso sistema eleitoral. Ela criou a Assembleia Geral, o órgão máximo do Poder Legislativo, composto por duas casas: o Senado e a Câmara dos Deputados - a serem eleitos pelos súditos do Império.

O voto era obrigatório, porém censitário: só tinham “capacidade eleitoral” os homens com mais de 25 anos de idade e uma renda anual determinada. Estavam excluídos da vida política nacional quem estivesse abaixo da idade limite, as mulheres, os assalariados em geral, os soldados, os índios e - evidentemente - os escravos.

Ninguém pense que a República modificou rapidamente esse quadro. Na primeira eleição de forma direta para presidente da República, em 1894, Prudente de Morais chegou ao poder com cerca de 270 mil votos que representavam apenas 2% da população brasileira da época.

A ampliação do direito de voto a um número cada vez maior de brasileiros aconteceu ao longo do século 20. O voto feminino, por exemplo, data de 1932 e foi exercido pela primeira vez em 1935.

Em mais um trecho do seu “artigo” a professora insiste na diferenciação do voto entre pobres e ricos. 

Diz ela: “Um cidadão só é cidadão de verdade se cumpre com seus direitos e deveres. O assistencialismo instalado no Brasil permite que milhões que não cumprem e nem se interessam pelos seus deveres votem, com o mesmo peso de outros tantos milhões que, além de verem cada vez mais encolhidos seus direitos, precisam cada vez mais trabalhar e produzir para cumprir seus deveres de cidadão e sustentar, não só a sua família, mas alguns milhões de outras famílias que ele nem conhece e que tampouco se interessam se é ele, também, que através de seus impostos ajuda a “pagar essa conta”.

O triste é ver pessoas se manifestando publicamente na defesa do retrocesso, defendendo a barbárie social e ainda mais degradante é ver uma professora fazê-lo. Quando deveríamos justamente defender a ampliação dos direitos e avançar nas conquistas, eis que surgem vozes deste tipo. 

Aliás, manifestação esta que não é solteira, basta ver o sentimento fascista de alguns que brotou de forma absurda neste processo eleitoral que passamos recentemente, aonde a insanidade e o desconhecimento chegou pedir a volta da ditadura militar. 

Devemos ser vigilantes e combater vigorosamente este tipo de pensamento excludente, preconceituoso e protofascista. 



Leiam aqui o artigo da "professora" na íntegra.

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