quarta-feira, 14 de julho de 2010

Para ZH, miséria vai acabar por geração espontânea


Má-fé e texto ruim


Essa matéria de Zero Hora dá uma rima pobre: foi redigida com o dedão do pé e com má-fé. Certamente inspirada na abiogênese aristotélica, ou seja, a obsoleta noção da "geração espontânea".

Me explico: antes de Louis Pasteur, segunda metade do século 19, se acreditava que a vida das moscas, por exemplo, resultava de ambientes sujos e infectados. As moscas e os vermes provinham espontaneamente da putrefação e da falta de asseio, diziam. Muitos ainda pensam assim, até hoje. Outros, já ouviram falar que não é bem assim, mas ainda acreditam no mito da geração espontânea, agora aplicada às esferas da vida social, da atividade econômica, e sobretudo nas obras e políticas públicas.

Pois bem, o texto de ZH - precariamente escrito, repito - foi redigido sob inspiração da abiogênese. Dá a entender à classe média, que ainda lê o jornal da Azenha, que a pobreza vai acabar de forma espontânea, naturalmente, sem a intervenção intencional e política do agente público, o Estado. Atenuante: pelo menos não afirma que o mercado vai acabar com a pobreza no Brasil, embora pense exatamente isso.

O Ipea - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, vinculado à presidência da República - publicou ontem o estudo chamado "Dimensão, Evolução e Projeção da Pobreza por Região e por Estado no Brasil", objeto da matéria de ZH, mas que faz questão de desfocar a responsabilidade do governo Lula na implementação de políticas públicas que favorecem a presente situação retratada pelos pesquisadores do Ipea. ZH trata do tema, mas o faz de forma a encobrir o êxito do lulismo na questão social. Consulta um certo professor Sabino Júnior da Ufrgs que - pasmem - atribui o fato aos esforços do RS ter equilibrado as contas públicas estaduais. Já para o outro consultado por ZH, o pesquisador da FEE/RS, sociólogo Salvatore Santagada, "os programas sociais de distribuição de renda, a previdência para idosos e portadores de necessidades especiais e a participação de mais pessoas no mercado de trabalho foram os responsáveis pelo aumento na renda" - o que repõe a verdade no contexto da matéria, mas ainda não anula a intenção expressa dos editores de confundir o leitor quanto ao papel do Estado a a correta política do presidente Lula no âmbito social.

Neste sentido, o documento do Ipea (aqui) é cristalino nas suas conclusões: "(...) Ganha maior relevância o papel do Estado – em suas distintas esferas governamentais e concomitantemente às instituições da sociedade civil – na execução de uma política nacional de desenvolvimento que possibilite ao País enfrentar todos os problemas de ordem social. Por meio de políticas de Estado, não apenas de governos, o Brasil protagonizaria um novo padrão de desenvolvimento capaz de torná-lo a quinta economia do mundo, não mais desassociada dos necessários avanços sociais".

Mas quem garante que Zero Hora quer de fato informar e esclarecer os seus minguantes leitores?

A postagem é do Sociólogo gaúcho Cristóvão Feil no imbativel Blog Diário Gauche

Fac-símile parcial da página 18 do jornal Zero Hora, edição de hoje.

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