“Medir, senhora, é comparar”.
O professor Julio Cesar de Mello e Souza, ao encarnar Beremiz Samir, o famoso “Homem que Calculava” usou esta frase para um “início de conversa” sobre matemática.
O Índice de Desenvolvimento Humano, que a nossa imprensa divulgou como sendo um retrato perfeito do nível de desenvolvimento de 187 países é exatamente isso: uma comparação.
E, sendo uma comparação, exige que ela seja feita em bases semelhantes para todos, o mais aproximadamente possível. E nem sempre – ou melhor, nunca, na prática – se conseguem dados colhidos nas mesmas épocas e condições, ainda mais em escala global.
É dever de qualquer autor que promove comparações esclarecer que dados e de quando são os utilizados em algo que, essencialmente, compara países.
Não há nada demais em que sejam usados dados de datas diferentes quando: a) dados mais recentes não estão disponíveis e b) isso seja devidamente ressalvado por quem divulga a comparação.
Quem não participou da divulgação do IDH não pode dizer se foi ou não feito este esclarecimento, embora seja inacreditável que não o tenha sido.
E o que se apontou ontem aqui é o reverso disso.
Mas fere o bom senso que, três anos após uma crise que afundou o mundo desenvolvido, que provocou, segundo organismos da própria ONU, queda de PIB de muitos países – que não se recuperaram delas até agora – perda de renda e emprego, um país que todos apontam como um dos que mais enfrentou e superou este quadro tenha um avanço mais do que modesto nos critérios do IDH.
Não é que o IDH esteja “errado”, mas é preciso que se esclareça o que motivou, por exemplo, a utilização de dados de 2004 (PNAD 2005)no cálculo da desigualdade, quando os de 2008(PNAD 2010), da mesma instituição, o IBGE, estavam disponíveis. Reproduzo a página do próprio site do IDH para que todos confiram.
Toda medida é relativa e ninguém está colocando em dúvida a honestidade do PNUD, que é o órgão da ONU que elabora o IDH. O que está sendo questionado é como se pode medir alguma coisa com mudanças de critérios feitas a todo o momento.
A maneira com que se usa isso para “chegar a conclusões” sobre o desempenho de políticas públicas é lamentável e incoerente.
Reproduzo, aí ao lado, a manchete do G1 de um ano atrás, quando aconteceram mudanças metodológicas em seu cáculo. Éramos, então, o 73º colocado no ranking, com índice de 0,699, como você vê no título de um ano antes. Agora, com uma nova rodada de “mudanças metodológicas” passamos a um IDH de 0,718 e à posição 84! Aí se refazem os cálculos e chega-se á conclusão de que estávamos em 85º!E em 2009, veja na ilustração, com outra metodologia “mais antiga”, o Brasil ocupava a 75ª posição no ranking, com IDH de 0,813, um indicador que, mesmo melhorando, nos fazia cair cinco posições em relação a 2008.
Tres metodologias em três anos?
O que aconteceria, por exemplo, se o IBGE mudasse, a cada edição, os critérios de suas medições? O que é estranhável é que não ser esclarecido o que mudou, como mudou, que dados foram utilizados e de quando. Já basta que o IDH coloque no mesmo “saco” países como a China e o Principado de Andorra, com seus 70 mil habitantes, dois quais menos de 30 mil nasceram lá
Mas mudando de metodologia a cada ano e fazendo isso sem advertir quem recebe seus números, índice nenhum pode ter credibilidade.
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Olá, eu tentei encontrar o Apendix 1 que você publica, mas não encontro em publicação nenhuma. pode me indicar a fonte? Obrigada.
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