Três Tigresas
Tristes
O que o
jornal Zero Hora fez com as três candidatas – nominalmente de esquerda –
à prefeitura de Porto Alegre não se faz nem com cães sarnosos.
Esvaziou-as ainda mais dos seus ralos conteúdos políticos e preencheu-as com a
palha seca da frivolidade e do decadentismo de espetáculo.
Transformou-as em três tigresas
tristes de papel. Nivelou três vidas dedicadas à luta política ao denominador
comum do caderno feminil Donna – que edita o olhar feminino canalizado
para o consumo de moda, comésticos e mundanidades da hora. Na mesma linha
mercadológica do concurso de beleza juvenil promovido pela RBS Eventos
chamado “Garota Verão”, onde meninas são objeto de apreciação espetacularizada
dos seus dotes físicos, e veículos privilegiados da venda de mercadorias e
formação retrô de imaginários romantizados e fantasiosos do papel social da
mulher.
Rosário
(PT), Luciana (PSOL) e Manuela (PCdoB), hoje, estão sendo rebaixadas no diário
da RBS: de mulher-sujeito que cada uma é, ficam irremediavelmente reduzidas a
mulher-objeto, submetidas a um processo de pasteurização e liofilização que visa
apresentar-lhes como produtos exóticos
(mulheres-que-fazem-política-e-de-esquerda), mas inofensivos à ordem passiva da
classe média guasca.
"Luciana e Rosário não se
aventuraram pelas mais de 2,5 mil páginas de ‘O Capital’, de Marx. Manuela
tentou, mas confessa que não entendeu.” - tranqüiliza o jornal.
Postagem originalmente publicada no Diário Gache em Março de 2008
Fac-símile de parte da
matéria publicada hoje em
Zero Hora.
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