domingo, 22 de agosto de 2010

O ‘AMIGÃO' VISTO PELO RETROVISOR

Em outubro de 2002, em momento igualmente desfavorável como candidato de FHC contra Lula, Serra que hoje se apresenta como o novo amigão do peito do Presidente da República, dizia coisas distintas sobre o adversário.

 A tese da ‘inexperiência’ e do ‘despreparo’ para chefiar o país ,agora endereçada contra Dilma Rousseff, era recorrente na boca do tucano e da mídia que o apoiava.

Em vez da ‘mulher inexperiente, que nunca foi eleita para nada’, o alvo era o metalúrgico ‘ que nunca administrou nada’, como alardeava a matraca conservadora do candidato e de sua entourage.

Liderar sindicatos e conduzir greves históricas, como se sabe, pertence ao universo do nada na visão do conservadorismo nativo, que já nasce póstumo graças a uma vocação inata para mandar e ser obedecido. Inclui-se entre os clássicos dessa visão da casa-grande, o episódio-síntese da cordialidade do serrismo em relação a Lula.

Em plena campanha, o herdeiro de conhecido jornal de São Paulo, em almoço na sede da empresa, apontaria seu dedo magro e deselegante para Lula a ponto de causar constrangimento no próprio pai, então diretor do veículo e hoje falecido. Apoplético, o filho que atende pelo diminutivo, desautorizou o candidato-operário a postular a presidência entre outras coisas por não ter diploma universitário e não falar inglês.

Ontem, como hoje, mídia e o candidato tucano operavam na cadência de um jogral.

Se o petista vencesse as eleições --como de fato venceu e gerou 14 milhões de empregos até agora-- o Brasil, de acordo com a pregação do tucano, seria palco de uma inevitável tragédia econômico financeira, associada a devastadora desestabilização política.

Segundo o ‘amigão’, Lula na presidência cindiria o Brasil, a exemplo do que já ocorria, segundo ele, na Venezuela. Índio da Costa era só um aspirante a picollo balilla, mas o udenismo lacerdista já maturava no arsenal político de Serra, a inocular na classe média o veneno de um apartheid social cevado a uma dieta de medo, mentiras e arrogância.

Com Lula, alardeava o serrismo, haveria uma argentinização da economia. O desemprego e a inflação explodiriam. Ao jornal Gazeta Mercantil , o tucano ardiloso gotejava em 9 de outubro de 2002 o mesmo bordão que agora martela contra Dilma: "Precisamos mostrar quem está mais preparado e mais cercado de forças políticas capazes de garantir a governabilidade".

Diante da escalada terrorista, dias depois, o saudoso economista Celso Furtado faria um desabafo incomum para um homem público conhecido pelo estilo reservado e austero. Aspas para as atualíssimas observações do grande economista brasileiro ao site de campanha do PT, em 13-10-2002. 'O Serra está aperreado.

Como ele vê que todos os apoios vão para o Lula, ele se destempera, diz coisas descabidas, tenta juntar fatos sem nexo. Mistura tudo, Brasil, Venezuela, descontrole cambial e eleições.
Um pouco mais de seriedade. O Brasil precisa de seriedade.

Existe uma expressão francesa para definir esse comportamento [de Serra]: aux bois, quer dizer, ladrando a torto e a direito. Enfim, o sujeito está no sufoco, fala qualquer coisa. É o fim de festa'.

Carta Maior; 22 -08

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