sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O livro, a bolinha de papel, o rolinho de durex. E as férias

Continuamos a condenar qualquer tipo de agressão com qualquer tipo de objeto. E também qualquer tipo de manipulação de informações
Celso Marcondes

Continuam na pauta os dois grandes casos da semana: o do tumulto no Rio de Janeiro que levou Serra ao hospital e o relato da PF sobre a quebra do sigilo fiscal dos tucanos. Ontem publiquei o artigo “O livro e a bolinha de papel” (clique aqui) que mostrava a semelhança entre os dois casos – a manipulação da grande imprensa. Hoje, depois de assistir aos telejornais noturnos e ler os jornais do dia, é preciso, urgentemente, atualizar e retificar o que disse antes. De novo, vejamos caso a caso:
Caso 1 – o tumulto no Rio – O Jornal Nacional da Globo apresentou uma matéria de quase 10 minutos de duração com o objetivo de rechaçar a apresentada na véspera pelo SBT – que a sustentou no seu telejornal de quinta-feira – e que tinha causado furor na internet durante todo o dia. Surgem na tela imagens praticamente indecifráveis gravadas pelo celular de uma repórter da Folha de S.Paulo (uma cinegrafista amadora, faltou dizer). Elas sugerem que o candidato foi atingido por um segundo petardo, desta vez “algo transparente”, um rolinho de durex, talvez. Ou uma bolinha de adesivos. Em seguida, surge na tela um renomado especialista, para atestar sorridente que “não havia nenhuma dúvida”, tinham acontecido dois fenômenos distintos, o da suposta bolinha e o do suposto rolinho (ela exibia então nas mãos um rolinho de fita crepe para ilustrar melhor para os incautos telespectadores). O resto da história é a mesma: Serra vai para o hospital e faz tomografia computadorizada, suspende sua agenda carioca e o médico diz que não houve lesão, mas recomenda 24 horas de repouso. Detalhe: na sua explicação, para mostrar o lugar da agressão, indica a parte da calva atingida pela suposta bolinha de papel – mas isso, como eu já disse, é só um detalhe.
Na mesma noite, Serra gravou seu programa eleitoral e no dia seguinte, quinta, estava em campanha na cidade de Ponta Grossa, evidenciando um total desrespeito à recomendação do médico de César Maia. Mas isso é outro mero detalhe.
Na internet hoje já circulam várias mensagens e reproduções quadro a quadro (frames) do vídeo do jornal Folha de S.Paulo questionando a veracidade da edição apresentada pela Globo. Mas, crédulos que somos, vamos dar razão a Serra e a tevê líder de audiência: daqui pra frente nos referiremos ao caso como o “escândalo da bolinha de papel e do rolinho de durex”. Apenas acrescentamos uma observação: que, se ocorrer novo caso semelhante, a Globo convoque também os legistas Badan Palhares e George Sanguinetti para colocar suas versões. E que alguém do seriado americano CSI seja convidado como mediador do debate.
De qualquer forma, bolinha ou rolinho, qualquer agressão tem que ser condenada. Manipulação de informações e engajamento disfarçado na campanha também.
Caso 2 – a confissão de Amaury Ribeiro Jr. – De novo, o JN, traz as novidades. Desta vez, informa que o jornalista estava de férias quando os sigilos foram quebrados e que o deputado petista Rui Falcão teria roubado os dados do seu computador. Para responder às atualizações da Globo sobre o fato, amplamente reverberadas hoje pelos jornais, apelo aos artigos de Leandro Fortes e Sergio Lirio, colegas da Carta, que você pode ler aqui.
Apenas dois acréscimos, que roubo da Folha de S.Paulo de hoje, na página A8. Está lá escrito.
“O jornalista disse que a investigação começou em 2000 e foi retomda em 2007, quando trabalhava no jornal “Estado de Minas” e ‘teria tomado ciência de que um grupo clandestino de inteligência estaria seguindo o então governador Aécio Neves’. Amaury disse que foi informado que se ‘tratava de grupo que trabalhava para Serra, sob comando do deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ)’. Itagiba nega. Aécio refuta ter pedido apuração”.
E mais uma, a última, da Folha de hoje, na página A9:
Sob título “Jornal nega ter pago viagens de Amaury” leio uma matéria que publica a nota do jornal mineiro dizendo que “nenhuma viagem do jornalista no período em questão foi custeada pelo jornal”. Logo em seguida, a Folha esclarece que ”nos meses seguintes (e durante as férias), quem mandou emitir os bilhetes e quitou essas despesas foi um funcionário do jornal que intermedeia as compras em agências de turismo”.
Aí também sou obrigado a fazer nova retificação em relação ao artigo de ontem: não foi o Estado de Minas quem pagou, mas o funcionário do jornal que intermedeia as compras em agências de turismo. Completamente diferente, não é, caro leitor?

Celso Marcondes é jornalista, editor do site e diretor de Planejamento de CartaCapital.
Leia também:
-  A violação da lógica. Por Leandro Fortes
- Quebra do sigilo fiscal: Ribeiro Jr. agia em nome do jornal Estado de Minas. Por Sergio Lirio

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