sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Quem projetou e criou o Ceitec?

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Foi o governo Olívio Dutra, depois de fazer uma opção política estratégica para o estado

O jornal Zero Hora faz uma matéria na edição de hoje (página 26) sobre a primeira fábrica de chips da América Latina, o Ceitec - Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada - uma empresa estatal, ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, da União Federal.

A matéria carrega visível má vontade com o governo que projetou e criou o Ceitec, o governo Olívio Dutra (1999-2003). Ocupando 90% do espaço de uma página, ZH consegue não informar - ocultar mesmo - que os governos petistas estadual e municipal de Porto Alegre, então, em parceria com a Motorola, conseguiram viabilizar a implantação de uma unidade de alta tecnologia no Rio Grande do Sul, em detrimento de uma montadora de automóvel, com tecnologia obsoleta, ambientalmente insustentável e exigente de incentivos estatais que exorbitavam o limite da responsabilidade de governantes responsáveis com a isonomia orçamentária. Aliás, o Ceitec simboliza a opção moderna que busca a autonomia tecnológica do estado, face à opção dependente, subordinada e obsoleta da montadora insustentável. Esse embate, a meu ver, pode ter resumido e sintetizado o governo petista de Olívio Dutra no Rio Grande do Sul. Trata-se de um patrimônio político que deve ser resgatado pelo PT/RS, como afirmação de projetos que olham para o futuro e não para o passado. A politização deste tema é tarefa permanente para os petistas, especialmente agora que se preparam para retomar a direção administrativa do estado.
O texto de ZH ainda zomba do atual presidente da estatal, Cylon Gonçalves da Silva, afirmando que este teria pedido desculpas a uma plateia na Fiergs pelo fato de a Ceitec ser "uma repartição pública". A fotografia de Silva, que ilustra a matéria, não poderia ser pior, mostra-o de boca aberta, com ar acuado de quase pânico. Os signos gritam. A subjetividade ouve.

Alguém poderá alegar que isso são detalhes pouco percebidos pelo leitor, blablablá... Não são detalhes ingênuos e desprovidos de astúcia. Ao contrário, são relevantes porque portadores de um discurso de desconstituição subjetiva, tanto do governo Olívio (por omití-lo do mérito do projeto inovador e modernizante), quanto dos futuros governos Tarso e Dilma, pela ameaça que estes podem representar ao ultraliberalismo desestatizante defendido por ZH e materializado na Ceitec.

Os editores do jornal sabem que certo leitorado não se interessa por determinados blocos de assuntos, mas não deixa de repassar as páginas e fixar os principais elementos gráficos-ilustrativos, motivo suficiente para absorver signos não-verbais habilitados a lhe aportarem um sentido (complementar e conclusivo ao texto). Assim, o texto escrito é somente parcela incompleta da comunicação. Esta se completa, ou seja, se preenche de sentido, quando combinada com as imagens, referências gráficas, fotografias, diagramação, e até fotografias/imagens da matéria vizinha.

Nesta toada, prevejo (mas quero estar errado): a RBS vai dar muito trabalho ao futuro governo Tarso Genro. Temo que este não esteja preparado, como não esteve o governo Olívio Dutra, e muito menos o Partido dos Trabalhadores - ontem, hoje e sempre.


Texto inconfundível do sociólogo gaúcho Cristóvão Feil no Diário gauche

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