As três manchetes da montagem aí ao lado bem poderiam ser tema de uma discussão sobre jornalismo comparado, para os jornalistas que, condescendentemente, lêem este blog escrito por um leigo.
A Agência Reuters está muito longe de ser dilmista ou esquerdista. Ao contrário, fala para o mundo dos negócios, que precisa ficar bem informado. Já os patrióticos O Globo e Folha, embora defendam também os interesses do “mercado” – eu um dia ainda vou ter uma epifania e ver este ser incorpóreo -, cumprem a penosa missão de serem máquinas de propaganda para classe média.
Para eles, portanto, é preciso anunciar que o caos nos espreita ali na esquina, que o dragão da inflação prepara suas labaredas e o fantasma do desemprego ronda os lares, inquieto.
E aí, de burros, não conseguem dar o recado que a turma do “mercado” quer. Isto é, dizer aos diretores do Banco Central: a economia está aquecida, podem subir os juros sem risco de recessão.
Vejam só:
“(…) como o mercado de trabalho segue forte, a demanda por crédito pode continuar forte e ofuscar parte do efeito das medidas do governo, disse o Barclays Capital, em relatório.”
“Acreditamos que os últimos dados sobre o mercado de trabalho reforçam a necessidade de o Banco Central de elevar a taxa Selic por 50 pontos na quarta-feira, disse o HSBC, em relatório.”
Ora, um estudante de economia de segundo ano saberia que, diante de uma retração deste nível (ou do nível que as manchetes querem fazer crer), de 65%, a medida correta seria afrouxar os juros, não subi-los.
Quem escreveu isso faltou à aula sobre o New Deal de Roosevelt e jamais ouviu falar sobre Keynes e suas políticas econômicas anticíclicas.
E também não leu o Estadão de domingo, que trouxe uma matéria sobre a pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral – não, não é um órgão comunista, mas da conservadoríssima Universidade Católica de Minas - que diz, literalmente:
“Se no passado era o trabalhador que corria atrás das empresas para conseguir um bom emprego, hoje são as empresas que fazem qualquer negócio para contratar ou manter um funcionário. De acordo com pesquisa feita pela Fundação Dom Cabral com 130 companhias, responsáveis por 22% do Produto Interno Bruto (PIB), 92% das empresas estão com dificuldade para contratar profissionais.”
Mas, certamente, este pessoal levou a sério o artigo de Fernando Henrique Cardoso e sua aula de marketing: “é preciso persistir, repetir a crítica, ao estilo do “beba Coca Cola” dos publicitários.”
Como era mesmo aquela frase do Goebbels? Ah, sim: “Uma mentira muitas vezes repetida, torna-se verdade”.
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